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título: pedágio
data de publicação: 04/09/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #pedagio
personagens: valdirene

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra um Luz Acesa. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Valdirene. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Valdirene quando ela era criança, ela via espíritos, então às vezes ela tava, sei lá, andando na rua, e ela via alguém que ela percebia que não era vivo e ela ficava com muito medo… Ela contou pra mãe, a mãe foi explicando pra ela o que era aquilo e, quando ela fez ali sete anos, ela parou de ver espíritos. — E aí, uma coisa que é engraçada, porque eu recebo algumas histórias onde as pessoas falam isso, que até os sete anos elas viam espíritos e depois elas pararam. Então, eu não sei aí qual a mística da idade, mas Valdirene, com sete anos, também parou aí de ver espíritos. — E a vida passou, Valdirene cresceu, Valdirene casou e Valdirene conseguiu um emprego em um pedágio. Então, pensa: Trabalhar numa cabine de pedágio não deve ser fácil, né? Além de você ter que lidar com o público muito de perto ali, você tem que dar troco… Você fica num lugar que você está numa cabinezinha exposta, então eu acho um emprego complicado, assim… E tem que ser muito valorizado, né? As pessoas aí que trabalham em cabines de pedágio.


Então, Valdirene trabalhava numa cabine de pedágio e como funcionava? Os funcionários iam até determinado ponto, e aí uma Kombi ali da concessionária da rodovia levava a galera até as cabines de pedágio, que ficavam, tipo, no meio da estrada. E aí era assim também na hora de ir embora, né? A Kombi passava, pegava a galera e deixava cada um ali no ponto que ia pegar o seu ônibus para ir para casa. Bom, Valdirene, na primeira semana, aquela tensão de aprender o serviço e tal, de aprender tudo e você tem que ficar muito focado ali para dar o troco… E ela ficou ali, né? Fez as coisinhas dela e tal, ficou prestando atenção no trampo e tal e foi passando, passou uma semana, duas, três, virou o primeiro mês… Ela falou: “Bom, estou indo bem no pedágio e tal”, e aí ela deu uma relaxada. Conforme Valdirene deu uma relaxada, as coisas começaram a acontecer… Então, primeiro, Valdirene um dia estava no pedágio e o horário dela era até 23h. E às vezes a Kombi demorava um pouco, e aí um dia ela estava no pedágio, era mais ou menos umas dez horas da noite e ela viu uma mulher passar. 


Essa mulher estava com um vestido… — Um vestido… Como é que eu vou explicar aqui? — Um vestido comprido até o pé, não era um vestido de noiva, mas era um vestido de cor clara e o vestido estava bem sujo. Na hora que Valdirene bateu o olho, ela falou: “Andréia, é como se fosse uma pessoa de carne e osso, mas eu sei que não é uma pessoa” e, quando ela viu aquela moça com aquele vestido todo sujo, andando ali por entre os carros… Ela não estava atravessando os carros, ela estava andando entre os carros e ninguém estava reparando. Ela falou: “Bom, lá vamos nós, de novo”. E aí ela ficou olhando a moça… A moça foi passando os carros e olhando dentro dos carros, parecia que ela estava procurando alguém. E ela foi seguindo, procurando e desapareceu… Numa outra vez, o carro parou no pedágio, Valdirene pegou o dinheiro e deu o troco e, quando ela olhou, o cara estava dirigindo e no banco de trás tinha uma criatura muito horrível segurando o cara pelos ombros. E aí Valdirene respirou fundo, tentou fingir que não viu a criatura, mas a criatura a viu e sorriu para ela, [efeito sonoro de riso macabro] com os dentes, assim, afiados e podres. 


Foi um dia péssimo para Valdirene e a Valdirene teve a impressão, mas ela não ficou sabendo de nada depois que, sei lá, que aquele rapaz ia morrer na estrada, alguma coisa assim. Veio na cabeça dela, que ele estava acompanhado e que alguma coisa ia acontecer, mas podia ser que não também, né? Porque ela não ficou sabendo de nenhum acidente, pelo menos até o trecho que aquela concessionária operava, porque eles ficam sabendo ali quando tem algum acidente. E aí ela estava sempre vendo uma coisa ou outra. Outra vez ela viu uma criança e ela quase teve o impulso de sair correndo para pegar, mas aí ela percebeu que a criança estava atravessando os carros. — Então, não era bem uma criança, era um espírito da criança? — E as coisas iam assim… Valdirene vendo de longe, às vezes um espírito ou outro vinha perto dela, mas nenhum espírito interagia com ela, a não ser essa criatura que sorriu pra ela. Até que um dia, Valdirene ela tá ali, terminando, fechando o caixa, vendo se não deu quebra de caixa e tal, separando e embalando dinheiro, porque tem todo um procedimento para fazer ali do pedágio. E aí ela foi rendida, entregou para outra moça que ia ficar ali no lugar dela e tal e saiu para esperar a Kombi… E a Kombi estava atrasada.


Pra você ficar ali no pedágio para tomar água e tal, você tem que ter a sua garrafinha… E ela tem uma garrafa de um litro e meio dessas de academia, e aí ela toma, enche, toma, enfim… E aí ela estava com meia garrafa d’água esperando ali a Kombi pra levar ela até o ponto de ônibus e preocupada já, que o ônibus dela sai meia noite e dez, enfim… E aí ela estava ali e, quando ela olhou para frente, ela viu um homem que vinha arrastando a perna, meio mancando e arrastando uma das pernas e vinha na direção dela, ela falou: “Ah, meu Deus, lá vem… ” e ela já percebeu que não era uma pessoa viva. E aí este homem veio direto na Valdirene, olhou para ela e só falou assim: [efeito de voz grossa] “Água… Água”. E aí a Valdirene estava com a garrafinha na mão… Primeiro que ela ficou muito assustada… Ele tinha a pele toda ferida, toda machucada, a pele do rosto, do corpo… Ele estava toda assim, com a roupa puída e arrastando uma perna. E ele falava: [efeito de voz grossa] “Água, água, água” e a Valdirene não sabia como agir, como que ela ia dar a garrafa na mão do espírito? Não ia nem pegar, né? — A assombração. —


E aí ele, olhando pra Valdirene, ele abaixou no chão e falou: “Água”, e aí ela falou: “Andréia, eu não sei como eu entendi… Eu joguei a água no chão e, conforme fez uma pocinha, ele tomou a água da pocinha… Você escutava o barulho dele tomando água e tomava com muito desespero”. E aí ela foi derrubando, jogando aquela água no chão, formando mais pocinha para ele tomar. E as pessoas que estavam ali mais longe, cada um ali perto da sua cabine, esperando a Kombi, conversando, sei lá, passando o tempo, ficaram olhando estranho pra Valdirene, porque ela estava jogando água no chão… E aí ela jogou toda a água que ela tinha e ele tomou, tomou, tomou e ficou ali deitado do lado da Valdirene e ela sem conseguir se mexer. E aí veio a Kombi, ela entrou na Kombi sem olhar para trás porque ela falou: “Ai meu Deus, esse homem vai me seguir até minha casa”, mas ele ficou lá. No dia seguinte, quando deu umas dez da noite, a Valdirene olhou para a frente da cabine dela e quem é que estava vindo? Ele… Ele veio até a cabine e pediu água. E você não tem como parar… Está passando carro, está passando carro… O que que ela fez? A cabine tem janela dos dois lados. Um lado ela tava dando o troco lá e ela correu na outra janela e jogou água no chão. E ele viu, deu a volta e foi tomar água. E aí depois a colega dela, que estava na cabine do lado, onde ela jogou água no chão, assim, bem rente para não pegar no carro da outra cabine, falou: “Amiga, o que você está fazendo?”.


E aí, no intervalo, a Valdirene contou para ela: “Olha, tem um espírito que está vindo aqui tomar água”, e aí essa história correu ali no pedágio, nesse e no outro da frente, e todo mundo, assim, assustado… Até que uma das meninas do outro pedágio ligou para Valdirene no celular e falou: “Ah, eu não acredito que você também vê…”. Ela falou: “Menina, eu vejo tanta coisa nesse pedágio que eu estou ficando louca já”. E aí elas começaram a trocar histórias… Esse homem que ia beber água só ia ali com a Valdirene e a outra menina do pedágio, que a gente pode chamar de Meire, a Meire falou que até atacada ela foi uma vez por um homem que também apareceu lá… E aí ele tentava dar soco nele e não conseguia, né? Porque enfim, espírito… — Do mal. — Não conseguia, mas atacou ela e tal… E esse cara da poça d’água ficou ali… A Valdirene trabalhou no pedágio por oito meses e ela não aguentou justamente por conta do tanto de espírito que ela via. Inclusive, eu separei algumas histórias dela depois para contar. E este homem, da poça d’água, ia todo dia… A ponto dela levar uma outra garrafa, — porque senão ela tinha que jogar a água dela para ele e ficava sem. — dela levar uma outra garrafa de água para ele.


E aí a Valdirene acha que ele deve ter morrido em algum acidente, deve ter ficado um tempo ainda para morrer, sabe assim? Ali esperando o resgate, ninguém veio e ele morreu com sede… Ele só pedia a água, só isso que ele pedia: “água, água, água”. Ele era assustador, a aparência dele, arrastando a perna… E quando às vezes ela estava ali, você não tinha como às vezes parar pra dar água na hora, ele ficava bravo… — Exigente. Queria a águinha dele na hora que ele queria, assim… — Então, aí ela ficava toda apavorada porque ela tinha que fazer o trampo dele e parar pra dar água para o bonito. E aí Valdirene saiu desse pedágio de tanta coisa que ela via. Socorro… 


[trilha]

Assinante 1: Oi, gente… Meu nome é Giorgi, falo do Rio de Janeiro. Valdirene, o que eu acredito que acontece com você é que você é médium, por isso que você acaba vendo tantas coisas. Eu também vejo algumas coisas e ouço algumas coisas e, no seu lugar, eu procurei um terreiro porque eu ficava com medo do que podia acontecer comigo, já que eu estava vendo tantas coisas estranhas e tudo mais… E eu aconselho você a procurar também, por uma questão de proteção… Não sei qual é a sua fé e tudo mais, mas pelo menos para se proteger, né? Porque a gente não sabe da intenção desses espíritos, do sofrimento deles, né? A gente não sabe nada, basicamente, então te aconselho a procurar um lugar assim para que você possa se proteger e também pra que você possa entender melhor como que isso funciona para você, viu? Um beijo. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, oi, Valdirene, aqui é a Thaís de Belo Horizonte. Dizem que até os sete anos a gente tem uma abertura maior para o sobrenatural e com sete anos é como se fosse colocado um véu que tampasse, né? Os nossos olhos, tampasse nossa visão para esse outro mundo. Eu acho que seja verdade, porque eu também via muitas coisas quando era menor e hoje em dia eu vejo em bem menos escala. Referente ao rapaz que surgia de pedindo água pra você, eu acredito sim que ele tenha morrido em um acidente… Estrada é uma coisa muito complicada, né? Existem muitos acidentes… Espero que você esteja bem com tudo isso. Sei que pode ser muito traumatizante, não sei sua fé, mas eu recomendaria procurar um terreiro ou um centro espírita. Beijo. 

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Valdirene. — Eu já vou olhar os pedágios hoje em dia de outra forma. — Um beijo, Deus me livre, e eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.