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título: moça
data de publicação: 21/12/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #moça
personagens: dona mirian

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Luz Acesa. — E não estranhem aí a minha voz mais grave, mas eu ainda estou com algumas sequelas da Covid e uma delas é essa tosse que vai e vem, essa febre que vai e vem, enfim… Então eu estou com a voz mais grave e acho que vou aproveitar pra gravar um monte de Luz Acesa, que assim fica mais macabro, será? — E hoje eu vou contar para vocês a história da Dona Mirian. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha] 

A história da dona Mirian começa quando ela tinha ali por volta dos seus oito anos de idade e estava na escola. — Hoje ela já tem 60+, então tem um tempinho aí. — Dona Mirian começou a frequentar a escola… — Então vamos chamar aqui de Menina Mirian. — E, assim, era tudo muito difícil, ela tinha que andar muito para chegar na escola, mas a escola dela era uma escola boa, uma escola grande e que tinha sido recém-construída. A Mirian chegava na escola por volta ali das… — Ela não lembra se era sete ou oito horas da manhã, mas ela disse que não era tão cedo como agora, né? — E aí as crianças podiam tomar um café ali e aí iam pra aula. E ela ficava mais ou menos, ela falou, até umas 15h, não tinha um horário até meio dia, era um horário diferente. E todas as escolas eram mais ou menos assim, não tinha esse horário tipo a turma da manhã e a turma da tarde, era mais ou menos uma turma só que ia até 15h. 

E aí ela começou a estudar e começou a aprender a ler e tal, fazer desenho… Ela gostava muito de ir para escola, só que ela gostava também de brincar com as amigas dela nos corredores da escola, então correr, se esconder no banheiro, esse tipo de coisa… Um dia dona Mirian está chegando ali com os cadernos… Ela levava os cadernos amarrados, ela não tinha mochila. — Raramente alguém tinha a mochila, quando tinha era uma malinha assim, né? Nem tinha mochila naquela época, pelo menos não para aquelas crianças. — E Menina Mirian resolveu passar no banheiro antes de ir para a sala de aula, então, assim, ela estava quase atrasando porque ela falou que nessa escola se ela chegasse atrasada ela não conseguia entrar sem falar com a diretora, enfim, tinha umas coisas… Só que ela estava atrasada pra entrar na sala de aula, mas estava dentro da escola, então já estava mais sossegado… E ela resolveu passar no banheiro, nem para fazer xixi, só pra brincar com a água. — Era uma coisa muito louca, porque ela falou que onde ela morava não tinha saneamento básico, né? E na escola tinha água na torneira, enfim. —

Então ela passou pra brincar com a água e, quando ela entrou no banheiro da escola, ela deu de cara com uma moça. [efeito sonoro de tensão] Uma moça de mais ou menos uns 17, 18 anos e essa moça ela tinha cabelo castanho, mais ou menos na altura do ombro, ela estava com um vestido branco. — Como que eu vou explicar aqui? Sabe vestido de algodão que tem uns babadinhos, assim, de alça? — A Dona Mirian não sabe dizer se era bem um vestido ou uma camisola, que vinha mais ou menos até o meio da canela e esse vestido estava todo sujo, todo sujo de barro… E essa moça olhou para a Menina Mirian e começou a chorar, pedir ajuda, falou: “Por favor, me ajuda, eu não quero mais ficar aqui, por favor me ajuda”. A Mirian uma criança ali, nos seus oito anos, não sabia o que fazer… Correu para a sala de aula e não contou para ninguém, nem pediu ajuda, nada… Ficou lá assustada, sentada, enquanto a professora passava as coisas e sem contar nada para ninguém. Só que a partir desse dia, a menina Mirian começou a ver essa mulher. 

Então, quando ela ia no banheiro a mulher tava… — Essa moça, né? As salas eram no primeiro andar, — tinha um andar só, né? — mas quando ela estava perto da quadra, assim, lá embaixo, às vezes ela via essa moça passando com um vestido, aquele vestido branco todo sujo, assim, levinho e passando pelos corredores. E ela não falava isso pra ninguém… Até que tinha uma tia lá — uma tia tipo da merenda assim — e, um dia que ela tava muito assustada, que ela entrou no banheiro e essa moça começou a gritar com ela: [efeito sonoro de gritos] “Você não me ajuda… Você não me ajuda…”. E, conforme a moça ia gritando “você não me ajuda, você não me ajuda, você não me ajuda”, a voz da moça ia ficando mais grossa e com mais raiva. Então, quando ela estava lá: [voz grossa] “você não me ajuda”, a Mirian saiu correndo e encontrou essa tia da merenda. E quase chorando, acabou contando a história pra tia da merenda, que ela estava vendo uma moça com um vestido todo sujo… E a tia da merenda falou pra ela: “Fica tranquila, porque não é só você que está vendo, muitas pessoas estão vendo essa moça pela escola, só que a gente não sabe o que fazer, não sabe o que é. Então, quando você encontra essa moça, você corre”. 

Isso foi o que a tia da merenda falou para ela… “Você corre e quando você voltar para a sala de aula, você reza uma Ave Maria e pede para os anjos levarem essa moça”, foi isso que a tia da cantina ali, da merenda, falou pra Mirian… E isso durou alguns meses, assim… O tempo foi passando e essa história foi espalhando na escola, porque outras crianças e também adultos viam essa moça… Rodando pela escola e agora assombrando. Então, assim, às vezes você estava na sala de aula e você não via a moça, mas as carteiras iam tombando. Então, as pessoas deduziam que ela estava virando as carteiras. E aí as crianças assustavam, saíam correndo… Teve uma professora que teve uma crise nervosa e precisou ser afastada… — Porque ela falou que ela estava sendo perturbada por essa moça, né? — E depois de meses disso e boato na escola e pai e mãe que vão na escola reclamar porque o filho não está dormindo a noite, enfim, aquele caos. Um dia a Mirian chega na escola e a escola está fechada… Interditada. 

E, pela lateral da escola, tinham alguns carros da prefeitura e uma escavadeira. Uma parte que era um grande gramado ao lado da escola, que era para os alunos mesmo, estava sendo escavado. Mirian voltou para casa, todas as crianças voltaram para casa com um aviso de que no dia seguinte também não haveria aula. E aí o final de semana passou… Na segunda—feira, quando a Mirian acordou e foi para a escola: Haviam achado uma ossada nesse gramado da escola. [efeito sonoro de tensão] Um corpo que já estava só osso e uma camisola branca, o vestido branco da moça… A escola durou alguns anos construindo e deduziram que essa moça foi morta e enterrada no jardim da escola. [efeito sonoro de tensão] A Mirian lembra que na época isso deu no rádio, mas ela não lembra se isso apareceu em algum jornal porque ela não tinha acesso, né? — Criança pobre e tal não tinha acesso a jornal, não tinha televisão, não tinha nada. — Ela lembra da mãe dela comentando da história de ter ouvido no rádio… Então, a moça que andava vagando toda suja pela escola, derrubando carteiras, gritando, chorando e assombrando os alunos, professores, enfim, funcionários, todo mundo da escola, estava enterrada no jardim lá dessa escola. 

E a Mirian falou: “Poxa, eu nem sei se prenderam alguém, se descobriram…”. Provavelmente descobriram quem era a moça também, né? Mas ela estava querendo sair de lá, estava procurando ajuda pra ser encontrada. Então, essa é a história aí da Dona Mirian, uma história de, sei lá, 60 anos, né? Quase 60 anos que isso aconteceu. E que ela não esquece, né? Porque marcou demais as crianças e ela foi uma das pessoas que viu essa moça… E ela não sabe se isso tem a ver com a lenda da loira do banheiro, porque a moça não era loira, né? Tinha cabelo escuro. Era branca de cabelo escuro. Pelo menos naquela escola — ali no imaginário das crianças — ninguém via mais a moça, mas ficou aquela lenda de que a moça assombrava aquela escola e assombrava principalmente os banheiros ali daquela escola. 

[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, aqui é Paula de São Paulo. É uma história antiga, mas imagine o medo de todo mundo, né? Dos funcionários, das crianças… E, no final, essa moça só queria mesmo uma ajuda, estava desesperada, precisando de ajuda, que encontrassem o corpo dela, a ossada, para que ela pudesse aí seguir em paz. No final, entre trancos e barrancos, deu tudo certo pra todo mundo. Um grande beijo, espero que a senhora esteja bem e que a alma dessa moça aí [riso] esteja, depois de tantos anos, que continue em paz. Um grande beijo. 

Assinante 2: Oi, gente, eu sou a Bruna de São Paulo. Fiquei chocada, não voltava nunca mais a escola, eu ia causar na vida dos meus pais pra sair dessa escola. Será que essa moça nunca mais assombrou a escola? A Déia disse na história que nunca mais ninguém viu e que ficou a lenda na escola de que ela assombrava, principalmente os banheiros. Mas será? Nossa, fiquei muito curiosa para saber. Espero que ela tenha encontrado a luz assim que a ossada dela foi descoberta. Espero que ela tenha tido paz, porque, olha, tensa essa história. 

[trilha]

Déia Freitas: Então, essa é aí a história da Dona Mirian. Um beijo, gente… — Deus me livre. — Eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.