título: louca?
data de publicação: 04/03/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #louca
personagens: carolina e um cara
TRANSCRIÇÃO
Este episódio possui conteúdo sensível e deve ser ouvido com cautela.
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é a TV Globo e o especial “Falas Femininas”. Se você é mulher, as palavras “sobrecarga”, “trabalho doméstico não remunerado”, “assédio”, “abandono”, “manipulação psicológica”, enfim, são palavras aí que fazem parte da nossa experiência como mulher — a vida toda — e ajudam a corroer a nossa saúde mental. Ter as decisões questionadas ou mesmo ter sido chamada de louca em algum momento da vida, faz parte do cotidiano de milhares de mulheres. Ser chamada de louca é sim uma estratégia muito antiga e muito usada para descredibilizar a mulher, sempre para dizer que a mulher ou é exagerada por expressar ali os seus sentimentos, ou Às vezes quando a gente bota um limite em alguma coisa que a gente estoura e fala “não”, vem aquilo: “Você é louca, você está louca”, né? Até mesmo pra gente duvidar das coisas que a gente faz. — Para a mulher duvidar e de si mesma. —
Mesmo nas situações mais absurdas, sempre vai ter um cara para falar: “Você é louca”. Agora no dia 8 de março — amanhã — , Dia Internacional da Mulher, depois do BBB, a TV Globo vai exibir aí o especial “Falas Femininas”. O programa vai ser conduzido pelas maravilhosas apresentadoras e atrizes Thís Araújo e Paolla Oliveira. Esse especial tem como título “Louca” e vai levantar questões sobre situações que as mulheres passam diariamente. — Mas que não deixam também de ser situações absurdas. — Então amanhã, sexta feira, dia 8 de março, eu te convido aí para assistir a especial “Falas Femininas: Louca” depois do BBB na TV Globo. — E aqui também, gente, hoje a gente vai abordar esse tema. — Hoje uma história revoltante que tem todos, sabe todos os sinais, quando você gabarita tudo de um relacionamento abusivo? Então eu deixo aqui que tem gatilhos, enfim, é uma história péssima. Eu vou contar para vocês a história da Carolina. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Carolina estava aí com seus 23 anos quando ela passou num mestrado lá no Uruguai. Carolina não podia deixar passar, era uma coisa que ela queria muito. Então, com pouco dinheiro e muita coragem, lá foi Carolina, decidida a morar e estudar no Uruguai, fazer o seu mestrado, enfim… [efeito sonoro de avião decolando] Ela adorou a cidade e foi batalhando para poder ficar lá. E depois de um ano que ela estava no Uruguai, a Carolina conheceu um cara que trabalhava como caixa de uma farmácia. Essa farmácia era perto da casa dela ali, com o tempo eles começaram a conversar, se encontraram numa rede social e começaram a sair… O cara era uruguaio e às vezes tinha sim algumas diferenças culturais, o cara tinha comportamentos machistas e tinha um papinho que dizia que ele queria ter sido o único a fazer sexo com Carolina. — Que ele queria ter sido o único homem da vida dela e nã nã nã… — Que ele não gostava quando a Carolina falava ali sobre a bissexualidade dela. —
Então já veja, tem aí um sinal vermelho enorme, né? Apesar da Carolina também perceber aí essas bandeiras vermelhas, ela decidiu relevar porque o cara tratava ela muito bem na maior parte do tempo. A gente já falou sobre isso aqui, que tratar uma pessoa que está se relacionando com você bem, é o mínimo, né? Isso é o mínimo… Isso qualquer pessoa tem que fazer. Então, não pode ser uma nota para você continuar com essa pessoa, porque tratar bem é o mínimo, né? E aí quando ele tratava a Carolina mal, ele dava a desculpa de que era porque “ah, ele nunca teve carinho, ele foi criado num orfanato, acostumado a ser sozinho, então ele não sabia lidar com aquele afeto e nã nã nã” e ia descontando as coisas ali na Carolina e ela ficava com pena, tipo: “Ah, coitado, teve uma vida difícil” e foi relevando… Depois de quase uns dois anos juntos, esse cara foi morar no apartamento que a Carolina dividia com uma amiga. — Veja só… — A ideia era que o cara diminuísse os gastos dele pra conseguir fazer uma faculdade de educação física que ele queria.
Então, o que a Carolina passou a fazer? A pagar a parte dele das despesas… — Então, veja, se antes ela dividia o aluguel por dois com a amiga, agora passou a dividir por três e a Carolina passou a pagar duas partes. Então veja, para ela ficou mais pesado e ela pagando todas as despesas do cara para ele poder trabalhar na farmácia e cursar a faculdade de educação física que ele queria. — O cara começou a estudar, então ele estudava e trabalhava na farmácia, a Carolina que estava ali estudando para o mestrado, né? Estava terminando e tal, trabalhava como freelancer de casa mesmo, de home office, então além de pagar todas as despesas do cara, ela fazia também a parte dos afazeres do cara na casa. — Porque era tudo dividido em três. — Uns meses depois, o apartamento que os três moravam ali, pegou fogo… — Por conta de fiação muito velha e tal. — Nesse incêndio, a Carolina se machucou, ela teve algumas queimaduras ali nas mãos, nos pés de terceiro grau… E foi muito doloroso, muito difícil para ela se recuperar. Depois do acidente, eles passaram mais seis meses nesse apartamento, com a cozinha toda queimada, enfim, o proprietário não se mexia também para fazer nada e eles resolveram sair pra morar com um amigo da Carolina. — Um amigo da faculdade ali, de mestrado. —
Mais uma vez, despesas divididas em três e Carolina pagando aí a parte do cara. Carolina agora estava mal… Além de tudo, ela tinha que lidar com as cicatrizes — que ela ficou de queimadura —, com a saudade que ela estava da família — que fazia anos que ela não via e eles mudando de casa, enfim, ela estava sobrecarregada — e uma coisa aconteceu… A partir do momento que a Carolina sofreu esse acidente, o cara não queria sair mais com ela na rua, mas também não queria que ela saísse sozinha. — Veja… — Agora, nesse apartamento novo, o cara trabalhava, estudava e fazia academia, mal parava em casa, mal via a Carolina e sempre que a Carolina tentava mudar de ambiente, sair com os amigos e tal, ele nunca falava que não, mas ele falava que estava preocupado com ela, dela sair sozinha e nã nã nã e assim ele foi isolando a Carolina dos amigos. Ao mesmo tempo que ele ia investindo todo o dinheiro dele e da Carolina numa carreira dele de fisiculturismo.
Ele queria ali participar de competições de fisiculturismo e pra isso ele tinha que investir ali no corpo dele, nos treinos, na alimentação… Então tudo era para ele. Nesse ponto, o corpo dele foi mudando muito também, ele foi ficando bem forte e a Carolina foi se sentindo menos atraída ali por ele, né? Mas ao mesmo tempo ela: “Não, ele é o cara que eu amo, o corpo é dele, ele tem que fazer o que ele quiser aí do seu corpo e tal, né?”. Depois de meses treinando pra participar de competições, o cara participou do primeiro concurso e já entrou no pódio. — Não ganhou em primeiro lugar, mas ficou ali entre os três. — E ele tinha discurso que ele competia completamente sem esteroides — que ele não tomava nada de bomba, nada — e a Carolina acreditava nele, né? O tempo foi passando, com as competições, o trabalho na farmácia, ele estudando e fazendo estágio na academia — além de treinar, ele fazia estágio ali como personal —, o cara não tinha tempo pra mais nada, a Carolina fazia absolutamente tudo e quando ela cobrava qualquer coisinha, vinha aquele papo: “Meu, você está louca, eu faço o que eu posso e nã nã nã” e ela acordava 05h da manhã — sem precisar — pra fazer o café da manhã do cara, que tinha sempre que ser os mesmos alimentos e ela tinha que pesar os alimentos dele numa balancinha.
E aí depois disso, que o cara saía fazer todas as coisas dele, que ela ia começar ali a trabalhar. No final daquele ano — que o cara tava focando ali no corpo dele e tal —, o cara foi chamado pra competir em outro país num campeonato aí bem conhecido e, pasmem, ele ganhou. E agora a Carolina estava casada — porque estava morando junto há anos está casada — com o maior fisiculturista na categoria dele ali, sei lá, da América Latina, tipo isso… E quando o cara chegou em casa dessa competição — ele estava em outro país, ele não dava muita satisfação de que a hora que ele ia chegar e de quando ele ia voltar —, ele chegou e a Carolina estava dormindo e ele surtou porque a Carolina não estava esperando ele chegar ali acordada. — Sendo que ela nem sabia que horas ele ia chegar, né? — A relação deles já bem desgastada, só que ela bancando tudo… A Carolina sentia que sempre estava fazendo tudo pelo cara ali e nada por ela, mas quando ela cobrava, o cara prometia que ia mudar, que agora todo o foco e todo dinheiro deles tinham que estar nele, mas que depois eles iam focar na Carolina. — A gente já viu esse papo mil vezes, né? —
Mais um tempo se passou e esse amigo que dividia o apartamento com eles, avisou que mudaria… — Ele ia mudar daquele apartamento para morar com a namorada. — Então existia a possibilidade agora da Carolina morar só ela e o cara, né? Só que o aluguel ia ficar muito pesado, né? E, gente, o cara surtou, dizendo que eles não teriam dinheiro… — Porque ele não dava nada, gente, ele não dava nada… — Porque ele tinha que gastar com a carreira dele e nã nã nã, agora ele ia ter que ajudar a pagar o aluguel. — Olha… [suspiro] Não sei nem o que dizer… — E foi nessa época, que o amigo da Carolina estava mudando e tal, que lavando as roupas do cara — porque sim, a Carolina fazia tudo por ele —, ela achou uma cartela de remédio no bolso da calça dele. A Carolina achou aquele remédio estranho e foi pro Google para ver que que era aquilo e eram esteroides. Na hora, a Carolina tirou uma foto e mandou para o cara e escreveu assim: “Você tem algo para me contar?”.
O cara surtou, xingou a Carolina de tudo quanto é nome, disse mais uma vez que ela era louca e estava tirando conclusões precipitadas, que ela não sabia o que era aquele remédio, que não era para ela confiar no Google… E aí, quando ele chegou em casa, ele negou que aquele remédio fosse esteroide e era sim… E deu várias desculpas ali para Carolina, que óbvio, não acreditou muito, mas ele sempre colocando ela aí nesse lugar de louca. “Não, você tá louca…Você tá louca”. Dias depois o cara chamou a Carolina pra ver alguma besteira ali no celular e, na hora, [efeito sonoro de notificação] apareceu uma notificação de um aplicativo de pegação. Sabe quando você está vendo alguma coisa e vem aquela abinha? Ela só olhou para ele, eles discutiram e, no final da discussão, ela saiu como errada, como louca por ter tirado conclusões antes do cara explicar. — Mais uma vez: louca. — Depois de muita conversa, ele para, sei lá, para dar uma apaziguada porque ele já estava aprontando várias, ele falou que tudo bem, que ele pagaria somente uma parte do aluguel, tipo a parte que o cara pagava, mas que todas as outras contas ainda ficariam com a Carolina, porque ele tinha que melhorar, treinar, fazer a comidinha dele, essas coisas…
Só que um tempo depois, bem pouco tempo, ele chamou a Carolina de canto pra falar que ele estava precisando — e aí ele chorou —, que pra ele melhorar só tomando esteroides injetáveis e que ele não podia comprar seringas porque ele era fortão e as pessoas iam imaginar pra que eram as seringas e ele não queria que ninguém pensasse mal dele, e aí ele pediu que a Carolina comprasse as seringas pra ele pra ele tomar bomba. E quando ela tocava no assunto: “você é louca”, mesmo ele admitindo que era bomba, depois ele voltava atrás que não era, sabe assim? Tipo: Você é louca, você é louca…”. Assim que o amigo da Carolina se mudou, veio a pandemia e começou ali o lockdown. E agora eles ficariam os dois só convivendo na casa e juntos o tempo todo… A Carolina ficava a maioria do tempo assistindo TV, vendo as coisas sobre o Corona Vírus e ele treinando no terraço. E aí quando eles começaram a passar mais tempo juntos, a Carolina teve certeza que esse cara estava escondendo algo dela, porque ele nunca saía do celular. — Detalhe, gente: Todo esse tempo que eles estavam juntos, namorando e morando juntos, o cara nunca postou uma foto deles dois juntos nas redes sociais. Ô, gente… Ô, gente… Anos morando junto e o cara nunca fez uma menção de você nas redes sociais? Para. —
E esse cara ele passava a madrugada falando com alguém… E a Carolina foi stalkeando ele ali nas redes sociais e percebeu que ele comentava muito no perfil de uma menina, perguntou quem era, o cara mais uma vez falou que ela era louca, era só uma amiga que treinava com ele e nã nã nã… Depois de duas semanas ali de lockdown, algumas coisas abriram e, como o cara trabalhava numa farmácia, as farmácias ficaram abertas, então ele voltou a trabalhar, disse que precisava trabalhar em dois turnos e nisso a Carolina já, assim, em frangalhos emocional. Ela tinha crises de ansiedade, já fazia quatro anos que ela não via a família no Brasil, só estava com esse cara… E ela se sentia sozinha, isolada naquele lugar, o vírus matando geral e o cara lá vivendo as coisinhas dele, o mundinho dele. Até voltar a treinar ele voltou, na pandemia mesmo, e ele dizia que estava trabalhando dois turnos, mas não ajudava financeiramente em casa. Ele ia treinar logo depois dos dois turnos, ele nunca tava em casa… — Parece que na pandemia piorou, sabe? —
E a Carolina ficava chorando na janela ali, tentando respirar… Se sentia sozinha e sufocada, sabe? E não tinha interação social com ninguém. — Com ninguém. — Uns dias depois, o cara chegou em casa super feliz — parecia até o outro cara —, dizendo que amava a Carolina, que queria que ela ficasse bem. E nessa noite ele comprou um quebra-cabeça ali para montar com a Carolina, eles pediram pizza, assistiram um filme, tudo assim, sabe? Muito romântico… Só que no dia seguinte, o cara saiu de casa todo feliz de manhã para trabalhar e não voltou… [efeito sonoro de tensão] Quando deu onze horas da noite, Carolina começou a passar mal porque ela estava muito nervosa [efeito sonoro de chamada no celular] e tentava ligar para o cara e ele não atendia. “Bom, eu vou pedir aqui um carro de aplicativo e vou, sei lá, vou rodar a academia, farmácia, ver onde está esse cara”, porque ele sumiu… Só que quando estava saindo do prédio, ela viu ele de longe num carro com aquela moça que ela tinha comentado e que era só amiga. Na hora ela ficou olhando, assim, mas ela tinha aquela coisa dele falar que ela era louca, que ela cismava com tudo e ela falava para si mesma: “Não, eu não sou louca, gente… Não é normal, ele está pedindo para ela estacionar longe”.
E a moça estacionou longe ali, ele desceu do carro e veio na direção da Carolina. Ele perguntou pra Carolina por que ela estava seguindo ele — sendo que ela nem tava, né? — e subiu pro apartamento, sem nem deixar a Carolina responder, tipo: “Por que você está me seguindo?” e saiu andando, gente. E aí o cara falou: “Não, você tá louca, foi um mal—entendido… Ela passou no meu trabalho porque ela queria conversar comigo e ela falou sim que que gosta de mim, mas eu falei pra ela que eu gosto de você”. Nesse ponto, a Carolina até queria separar, mas ela não tinha como bancar o aluguel sozinha, não tinha como ela voltar pro Brasil porque estava tudo fechado, ela não tinha mais contato com ninguém — porque ele tinha isolado ela completamente dos amigos — e ela só ficou ali chorando, chorando e o cara falando mais uma vez que ela era louca. Só que no dia seguinte, ela ouviu uma conversa do cara no viva voz — então eu acho que o cara nem estava fazendo questão de esconder nada — com outro amigo e o amigo falando: “E sua namorada da academia?”, então, assim, o cara tava namorando aquela moça.
E a Carolina ali sofrendo, não sabendo como resolver, ficou meio que por isso mesmo. Mais um tempo, o cara saiu cedo pra treinar e trabalhar e, nisso, a Carolina vinha passando mal há dias ali e botando na conta da ansiedade tudo, né? Só que ela estava muito enjoada e ela resolveu pedir ali por delivery um teste de gravidez. — E, gente… — Carolina tava grávida… — Estava grávida agora do grande fisiculturista que, além de tudo, estava traindo ela na cara dura e que ela que sustentava ele. O cara… Quando eu falo para vocês que essa história é o bingo de todas as situações, a gente pode ir destrinchando trecho por trecho, né? Que não falha. O cara sempre disse que o sonho dele era ser pai. — A gente já ouviu isso, né? — Mas a Carolina nunca teve o sonho de ser mãe. Mais uma vez ali, ela ficou apavorada e meio que surtou… A Carolina decidiu que precisava contar para o cara logo, né? E foi lá na farmácia que o cara trabalhava — no horário que ele dizia que estava trabalhando — pra contar pra ele.
Ela chegou na farmácia no horário dele ali, mas eu ele não tava… — Ele era o caixa da farmácia. — Ele não estava ali, não estava dentro da farmácia… Quando a Carolina saiu, lá estava o cara no carro da mulher, perto ali da farmácia, aos beijos com a moça. A Carolina grávida, fez o quê? Bateu no vidro da janela sorrindo e disse: “Oi, tudo bem? Esse merda que você tá beijando aí é meu marido”. O cara saiu rápido do cara e empurrou a Carolina para longe, falando com ela ali pra ela parar de graça e a Carolina começou a gargalhar… — Gente… Se era louca que ele chamava ela, então agora ela ia mostrar a louca mesmo. — Mas ela teve ali uma crise de ansiedade de novo e o cara: “Ah, você é paranoica”. No meio da crise ali, a Carolina só pensava: “Que alívio… Eu não sou louca. Ele estava realmente estava fazendo tudo isso comigo”, sabe assim? Parece que caiu a ficha dela ali. E aí ela voltou pra casa, sem acreditar muito em toda aquela situação, sabe assim? Surreal… E o cara provavelmente voltou pro trabalho porque ele tava no intervalo ali do trampo, né? Deve ter ido dar uns beijos na menina e voltou a trabalhar.
Quando ele chegou em casa, ele jurou pra Carolina que aquilo nunca tinha acontecido antes, que foi uma única vez, que ele amava a Carolina. — Afinal, quem ia pagar as contas dele se a Carolina pulasse fora desse barco, né? — A Carolina resolveu não contar da gravidez ali naquele momento, eles discutiram… O cara contou que tinha olhado todas as conversas da Carolina no Facebook com os ex—namorados de anos atrás… — Veja só, ele acabou de aprontar, de trair, foi pego no flagra e o que ele fez? Ele tentou contornar a situação dizendo para Carolina que ela tinha conversado com ex—namorados no passado. — E ficou jogando na cara da Carolina os erros dela de outros relacionamentos, só que naquilo ele admitiu que ele controlava realmente ela, que ele olhava o celular dela. Carolina virou pra ele e falou: “Bom, tá certo… Eu te amo, mas assim não está dando certo. Vai morar em outro lugar pra gente ter um tempo?” e parecia que era tudo o que o cara tava esperando. — Ela pediu um tempo, então ela que pediu um tempo… Qualquer coisa que acontecesse ali, foi ela que pediu o tempo, né? —
Ele foi realmente arrumar as coisas dele pra mudar, mas antes de mudar, o cara enviou pra Carolina sem querer — e aí eu fico pensando: “Será que foi sem querer mesmo?” — uma foto dele na cama com aquela moça. — Gente… — Ele mandou um print da conversa dele com a Carolina e a imagem de fundo era o cara com aquela mulher sem roupa, os dois deitados juntos, assim… — Gente? — Nesse print, a Carolina viu que o número dela estava salvo no telefone com o nome do irmão do cara… — Porque se a menina visse ele atendendo a Carolina, ia falar: “É o irmão dele que tá ligando”. — Quando a Carolina viu isso, ele estava prestes a mudar e ela resolveu falar que tinha feito um teste de gravidez e que tinha dado positivo. — Achando, sei lá, que o cara ia acordar, sei lá, né? Não sei o que ela esperou também, né? — O cara que sempre quis ser pai, disse que era bom demais pra ser verdade e que agora que ela estava grávida, ela não podia mais discordar dele, não podia mais passar nervoso. — Vai vendo… — Ainda assim, depois de contar que estava grávida e esperando, sei lá, que o cara acordasse pra vida e se endireitasse, se o cara realmente saiu de casa, diz que foi morar sozinho, mas a Carolina descobriu que ele foi morar com a moça. — Ele foi morar com ela… —
E agora ela estava em outro país, sozinha, com um aluguel que ela não conseguia bancar sozinha, grávida e o cara morando com outra, felizão. — No fundo, eu acho que a Carolina pensou que quando ela falasse que estava grávida, ele ia, sei lá, mudar, se endireitar e ficar… Só que ele meteu o pé, foi embora. — Com aquele nervoso todo, agora sozinha naquele apartamento, sem saber como ia fazer para pagar as contas e tudo, a Carolina passou muito mal e acabou perdendo esse bebê. E, enquanto ela estava sangrando ali no banheiro, ela ligou pra ele pedindo ajuda e ele falou: “Não, não posso ir, não… Não posso ir” e a Carolina não se abria com os amigos porque além dele ter afastado ela de todos os amigos, ela sentia muita, muita vergonha, né? E ela achava assim: “Poxa, o que eu vou falar, né? Tipo, eu aceitei tudo” e parecia que tudo o que o cara tinha feito com ela era culpa dela. Mas depois de ter perdido o bebê, sozinha, a Carolina decidiu que tinha chegado a hora de parar com aquilo, né, gente? — Porque até então o cara ainda estava naquela de “estamos só dando um tempo”, apesar de ele estar morando com outra, né? —
A Carolina foi lá e mandou uma mensagem para o cara, dizendo que eles precisavam conversar e dessa vez meio que sabendo o que iria acontecer, né? O cara também acho que sacando que ela ia terminar porque não sei também, ela continuava apoiando ele nas coisas dele, ele chegou todo diferente com um bolo de chocolate, com pizza, abraçou a Carolina e disse: “Ah, eu te amo” e Carolina, firme, disse que estava tudo acabado entre eles… — E aí o princeso começou a chorar ali de soluçar porque ele ia perder a mamata. — Estava chorando porque ia perder a mamata. Pelo menos agora Carolina tinha sido firme e tinha se livrado do cara. Acontece que como ela ia pagar as contas agora? Para a sorte da Carolina, o cara que tinha ido morar com a namorada, não tinha dado certo — o amigo dela — e ele pediu para voltar… — A gente pode chamar aqui de “Paulo”. — O Paulo pediu pra voltar e, nossa, foi uma alegria, né? Ele voltou a morar, então, assim, teria alguém para dividir as contas, 50%, não teria mais aquele peso morto do ex dela e tudo parecia que ia muito bem…
Até que a Carolina, ela perdeu o bebê ali, ela abortou em casa e ela não foi para o médico procurar tratamento e ela deve ter ficado com algum pedacinho, alguma coisa, que infeccionou. E essa infecção se espalhou, a Carolina entrou em sepse e foi internada, ali no ápice da pandemia. O Paulo, amigo da Carolina, ligou pro ex para avisar, né? Sei lá, ele dar um apoio, alguma coisa… Ele sequer foi visitar a Carolina. Três meses depois, no aniversário da Carolina, quando ela já estava bem, já tinha saído daquela internação, mas ainda estava se recuperando, o cara apareceu dizendo que ele tinha mudado, que ele tinha entendido que o que ele tinha feito era errado, que ele queria voltar, que ele ia ser o melhor marido do mundo. Quando a Carolina disse pra ele: “Não”, “hoje não”, “por mim não”, o cara não entendeu. Tipo assim: “Você tá louca? Como assim você não quer voltar comigo?”, e aí ele passou a insistir, dizendo que eles sempre foram um casal perfeito e isso ele continuava morando lá com a outra mulher, tá? — Querendo voltar com a Carolina. —
Mas foi ótimo esse tempo longe do cara, porque aí a Carolina conseguiu se fortalecer e se manter firme ali na decisão de não voltar. O tempo se passou, Carolina se organizou e voltou de vez para o Brasil — graças a Deus — e continuou a vida dela longe desse cara. Mas pasmem, o cara até hoje envia mensagem para Carolina de vez em quando, mas ela firme ali, não voltou. — Gente, se essa história não tem todos, todos os bingos, ela é praticamente um resumo de todos os Picolés de Limão… Só faltou golpe financeiro, mas teve apoio financeiro, né? Que ela que bancava ele. O cara fez faculdade, o cara virou fisiculturista, conseguiu prêmios e tal, tudo na aba da Carolina, tudo com ela bancando. — Olha, não sei nem o que dizer… Eu acho que a gente tem que comentar essa história no grupo trecho a trecho, porque é muita coisa, é muita coisa que esse cara fez… E a Carolina — é aquilo que a gente fala — é uma mulher esclarecida, com mestrado e tudo, mas na parte emocional — como a maioria de nós aí — ainda naquelas de que “ah, mas ele me trata bem” e a gente viu que tratou bem até certo ponto, né? Depois começou com a narrativa de que ela era louca e até hoje acha que ela é meio louca de não aceitar ele de volta. “Como assim, você é louca? Eu sou o melhor marido que você vai conseguir”. É isso, história longa e me deu até dor de cabeça…
Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Valéria de Campinas, São Paulo. Tô até com falta de ar, assim… Foi uma história que me deixou um pouco triste, porque eu fiquei aqui refletindo o quanto nós mulheres nos permitimos tantos abusos. Fico feliz da Carolina ter conseguido, ainda que tenha demorado, ela conseguiu se livrar desse traste, mas olha tudo o que ela precisou passar. É muito triste os homens acharem que eles podem fazer o que eles fazem.
Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Raquel, que fala de Portugal. Carolina, você teve um relacionamento abusivo com muitas red flags. O cara te abandonou quando você estava tendo um aborto, quando você se queimou, você bancou tudo pro cara, bomba pra ele tomar, academia, faculdade… Sendo que ele trabalhava, ele devia ganhar um salário mínimo. E o aluguel, né? E as contas da casa. Ele te chamou de louca, o que acho que é a maior rede flag que eu vi desde o começo e eu só fui revirando os olhos a cada “louca” que ele falava, porque essa história me deu muita raiva. Carolina, você viveu tudo isso, infelizmente, e eu espero que agora você esteja bem, tenha se recuperado da sepse, porque sepse não é uma coisa muito fácil. Então, agora que você já está recuperada, aproveita sua vida, passeia, faz tudo que você quiser.
[trilha]Déia Freitas: Assim como aconteceu com a Carolina, o especial “Falas Femininas: Louca”, conduzido aí pelas brilhantes Taís Araújo e Paolla Oliveira, vai apresentar diversas situações onde as mulheres passam diariamente por loucas — chamadas de “loucas” — e essas situações impactam diretamente o jeito como é conduzido tudo na nossa saúde mental. É isso, vai ser um episódio e tanto, né? — Ainda mais tendo Taís Araújo e Paolla Oliveira. — É amanhã, dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, não percam aí o especial “Falas Femininas” na TV Globo depois do BBB. — Então a gente assiste o BBB, comenta e já na sequência a gente assiste aí o episódio “Louca” do especial “Falas Femininas”. — Estou ansiosa, estou aguardando. — Valeu, TV Globo, mais uma vez aí pela parceria. — Um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]