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título: herdeiro
data de publicação: 27/06/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #herdeiro
personagens: ane e herdeiro

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. E hoje eu vou contar para vocês a história da Ane. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Ane trabalhava aí numa grande indústria, de um ramo, sei lá, vou dar um exemplo aqui, uma empresa que meu tio trabalhou, que é uma fábrica, não chega a ser gigantesca, mas uma fábrica muito grande, uma fábrica que fabrica pedaços de geladeira, então a porta da geladeira, sabe do freezer? São coisas específicas. Não monta a geladeira inteira, mas algumas peças de todo mundo que quer ter um refrigerador, seja ele um freezer comercial maior ou uma geladeira doméstica, essa empresa faz determinadas peças. Então é isso, ela trabalhava numa indústria, assim, grande, de peças específicas. E a Ane trabalhava no setor administrativo, então ela sabia quem eram os donos dessa fábrica e eles não tinham só essa fábrica, eles tinham fábrica nesse ramo, tinham fábrica no ramo de celulose, papel, enfim, vários ramos. — Gente rica mesmo, estamos falando de bilhão. —

E Ane ali com seus 27 anos trabalhando no setor administrativo, classe trabalhadora e era muito raro que os donos aparecessem por lá — eram alguns irmãos e aí tinham suas esposas, enfim —, mas de vez em quando apareciam por lá e gerava sempre uma tensão, porque “ai, chegou o dono, chegou o patrão”, enfim. Até que um dia, Ane está lá fazendo as coisinhas administrativas dela, quando chega um rapaz… [música animada] Um rapaz muito bonito, ali mais ou menos da idade da Ane, ela com seus 27 para 28, ele uns 29 para 30 e o rapaz muito educado, com uma cara muito amistosa, sorridente e começou a conversar com todo mundo ali e a Ane quis saber quem era aquele moço. E aí alguém, algum gerente falou para ela: “Ele é o herdeiro, ele é filho do dono”, e aí a Ane falou: “Nossa, né? Muito bonito e tal” e ficou ali na dela, fazendo as coisas, mas olhando. E aí ele precisou de alguma coisa que era ali do departamento da Ane, ele veio, se apresentou, eles conversaram e esse moço passou a ir ali naquela fábrica pelo menos uma vez na semana. — Talvez o que ele estivesse ensaiando, fingindo que está trabalhando, sabe? É herdeiro, né, gente? Herdeiro… “Ah, vou tomar conta, o meu pai…”, nunca tinha aparecido, porque apareceu agora? Enfim. —

E foi surgindo um interesse de Ane por este rapazinho milionário e parecia também que esse cara estava interessado na Ane. Eles começaram a conversar bastante e tal, até que um dia este moço chamou a Ane para almoçar e o que a Ane pensou? A Ane almoçava lá na fábrica, no refeitório da fábrica e ele falou: “Não, eu quero te levar num lugar e tal para almoçar” e a Ane ficou meio cabreira, mas foi… De cara a roupa dela já destoava do local, ele levou ela num restaurante muito chique… — Fábrica é um reduto de fofoca. — A partir do momento que a Ane saiu no carro do chefe, comentários começaram a rolar… Uma galera incentivando e uma galera já com ranço. — É assim, toda fábrica, toda firma tem a fofoca. — E ela foi nesse restaurante, destoou muito da roupa dela, mas em nenhum momento isso pareceu importante para ele, ele não estava nem aí. — Porque acho que o rico que é rico, quer é milionário, ele não está nem aí… Você não vê aquele Mark Zuzu? Ele está sempre com a mesma roupa, sempre a mesma camiseta e a calça, tênis tem 50 igual. Tá nem aí. —


E eles tiveram um almoço muito legal, ele um rapaz muito agradável e não rolou nada, foi só realmente um almoço. — Só que lá na firma o pessoal já tava maldando. — Nesse dia eles trocaram contato, que até então eles não tinham contato e eles passaram a conversar além da fábrica. E aí eles conversavam bastante, só que era aquela coisa, né? — Pensa um rapaz que desde que ele tinha um ano de idade ele viajava o mundo… — As experiências que ele tem para contar são muito diferentes das experiências que a Ane tem para contar, mas parecia que ele estava muito interessado em também de conhecer esse lado do proletariado. — Com que intuito? Talvez somente recreativo? Não sei. — A Ane começou realmente a se interessar por ele, eles saíram uma segunda vez, dessa vez a Ane colocou uma roupinha melhor, ainda assim, ela se sentia mal — nos lugares —, mas eles começaram a sair, começaram a ficar e isso virou um namoro. Inicialmente, um namoro escondido e a Ane sempre falando pra ele: “E aí, o que a gente vai fazer?”.

Depois de um ano, ele resolveu contar para os pais. — Que ele estava namorando uma funcionária da fábrica. — Foi uma notícia agradável para os pais do rapaz? Não foi, eles ficaram bem, bem chateados e isso era nítido no semblante dele contando para Ane como é que tinha sido. Só que ele falou que ele não ia abrir mão, que ia enfrentar, aquela coisa… Começaram a namorar, ainda assim a Ane foi poucas vezes na casa… — E “casa”, quando a gente diz “casa”, é um quarteirão, né? Tanto que, para vocês terem uma ideia da casa, tinham pavilhões separados. Ele tinha mais dois irmãos e, os irmãos, nem a irmã nem o irmão do cara, também nunca gostaram da Ane. Porque a Ane é classe trabalhadora, classe C… Parecia que nem os empregados gostavam dela. Os funcionários da casa… Tinham muitos. Porque parecia que ela não pertencia ali e eles se sentiam incomodados com ela também, ela não sabe explicar, mas ela não tinha esse apoio nem das pessoas que trabalhavam aí para essa família. —


Passada ali mais um ano, Ane engravidou… — Um escândalo naquela família. — Por parte da família da Ane, a Ane só tendo o pai, a mãe tinha falecido quando ela era pequena e o pai tinha casado, refeito a vida, ela não tinha muito contato, então ela era meio sozinha, assim… Ela tinha as amigas, mas as amigas também — como ela, da classe trabalhadora — também não se sentiam à vontade naquele meio. Uma ou outra festa que a Ane chamou foi um desastre, e aí ela acabou não chamando mais também. E aí Ane engravidou, agora ela já estava ali com seus 31 para 32 anos e escândalo na família. “Bom, antes que, sei lá, ela vá no Ratinho, vamos casar eles”. A gente pensa assim: “Ah, mas será que eles fizeram um casamento de separação total de bens?”, não, foi comunhão parcial de bens. Nesse ponto, Ane pensou: “Tô boneca, [risos] tô boneca… Vou aí faturar uma grana. Mesmo se eu separar, como ele casou em comunhão parcial de bens, alguma coisa eu vou morder”. — Então eu fico pensando: Como que já casa pensando em se separar? —

Foi feita uma cerimônia pequena, porque não era de interesse da família fazer um casamento pomposo. E o casamento dos outros dois irmãos foram assim, casamentões.  — Da Ane não. — Qual era a ideia da mãe do herdeiro? Que a Ane não casasse com a barriga saliente, então foi tudo organizado muito rápido e eles iam pagar tudo, exceto o vestido da Ane. — Ninguém cogitou em como ela ia estar vestida, assim, isso era problema dela, né? — E a mãe do cara sugeriu umas maison, uns lugares para ela pesquisar o vestido, lugar que ela nem conseguia nem entrar, gente, conseguia nem entrar… Começando o vestido ali, sei lá, por, sei lá, 30, 40 mil reais. [efeito sonoro de caixa registradora] — Quem dá isso num vestido? Quer dizer, um monte de gente dá, mas enfim… — Ane teve que recorrer às amigas e a única coisa que ela pediu de presente de casamento foi isso, que a galera ajudasse ela a ter um vestido minimamente decente pro casamento. 

Eles iam morar ali naquela mansão com vários pavimentos mesmo e a Ane ela estava feliz com isso, porque enfim, ela ia morar numa mansão. Lembrando que Ane trabalhava na fábrica e isso a fofoca comendo, fofoca comendo e ela continuava trabalhando. — Muita gente se afastou da Ane na fábrica. — Quando ela se viu casada com um bilionário: “Eu não posso mais ficar trabalhando no setor administrativo”, e aí ela tentou falar com o herdeiro para pedir um cargo maior. — O que está errado, porque se você não está qualificada, não é só porque você casou com o dono que você vai para um cargo maior. Aí já é o ranço da firma toda em você e eu concordo com a firma. — E aí eu acho que ele foi falar com o pai e foi isso que foi dito pra ele, tipo, ela não tinha capacidade pra pegar nenhum cargo. E aí o herdeiro falou: “Olha, se você quiser continuar no seu trabalho, ótimo, o motorista te leva, te busca, mas não tem como a gente fazer essa promoção só porque você casou comigo… Ia ser injusto com os outros funcionários” e isso o herdeiro falando. E ela falou: “Mas eu não me sinto bem trabalhando e tal, porque agora o pessoal é meio hostil comigo, né?”.

E aí ele falou: “Olha, se você também não quiser trabalhar, fica a seu critério” e era isso que a Ane estava esperando… — Só ele falar que se ela não quisesse trabalhar, ela não precisava, porque ela não queria mais trabalhar. Até entendo porque ninguém gosta de trabalhar, isso é um fato… A gente trabalha porque a gente precisa, mas ninguém gosta de trabalhar. Então, a Ane teve a oportunidade ali de parar de trabalhar. Só que é aquela coisa, você continua sendo classe C, mesmo casada em comunhão parcial de bens com um bilionário. — Casamento organizado, vestido ali meia boca — palavras dela, tá? vestido meia boca, foi ela que disse —, casaram… Tinha bastante gente da parte dele, tinham as amigas dela… Você percebia nitidamente quem era pobre e quem era rico naquela festa. — Era nítido, assim… Teve hora que até a roda estava separada, tipo pobre pra um lado e rico pra outro, assim, parecia água e óleo, sabe? Você bateu, separou, era assim. — 

E aí eles foram para uma lua de mel na Europa, chiquérrima e, neste ponto, a Ane teve um sangramento menstrual normal e não estava mais grávida. E aí ela ficou muito mal, ficou triste, ele também ficou mal, ficou triste… Já aqui no Brasil, a mãe do cara fez uma pergunta pra Ane, assim, meio que brincando, mas fez: “Ué, tava grávida mesmo?”. — Dando a entender que talvez Ane tivesse forjado uma gravidez para se casar com o herdeiro. — Ane ficou chateada com essa frase, mas o herdeiro falou: “Não, minha mãe é assim mesmo, não esquenta e nã nã nã”. E aí contou um pouco de como era o casamento, tanto da irmã quanto do irmão… Só que os irmãos casaram com pessoas da mesma classe social deles, então é diferente. Por mais que a sogra pegue no pé, não tem ali o combo da pobreza. E isso sempre ficou muito nítido para Ane, que ela não pertencia àquele lugar. — E aí eu não sei como consegue ficar, gente, porque eu não conseguiria. — Eles voltaram da Europa, reformaram o quarto dele, transformaram, sei lá, uma parte da casa, num anexo… Ficou maravilhoso. Eles tinham agora tipo uma mansão dentro da mansão, que era só dela, tinha ali os funcionários que atendiam ela. 


A Ane acordava, gente, e já tinha o café da manhã… Sabe aquele café que tem o mamão, tem suco de laranja, tem o ovo, tem vários pães, tem vários queijos? Aquela mesa lotada de coisas, parecia que você estava num hotel, mas era a casa dela todo dia… Todo dia.  E o herdeiro ele era fitness, tomava ali uns shakes, umas coisas e a Ane começou a tomar com ele também esses shakes, essas coisas. — Então, eles tinham uma rotina muito saudável assim os dois… — O tempo foi passando… — É muito difícil, gente. Primeiro que esses dias me perguntaram por que eu não gosto de pessoas milionárias, pessoas ricas… Gente, por favor, né? Quem que gosta? Porque eles são ricos explorando a classe trabalhadora. E quando eu falo “rico”, eu não estou falando de você que tem um carro de 300 mil reais, uma casa de 1 milhão e uma casa na praia de 500 mil. Você não é rico, você é um pobre premium, entendeu? É isso que você é, um pobre premium. Porque se você parar de trabalhar, você consegue viver só disso, no mesmo patamar, gastando do mesmo jeito? Não, não vai conseguir. A gente sabe que não. Então, quando eu falo “rico”, eu estou falando desse cara, milionário, que tem indústrias. Não é uma fábrica, tem indústrias. Tem coisas em vários ramos, herdeiro, tem sei lá quinhentos imóveis. Manja isso? Isso. —

Nesse meio tempo, a Ane descobriu que este herdeiro vivia de mesada. — Mesada. — Quanto era a mesada dele? Ele tinha uma mesada de 120 mil reais. [efeito sonoro de caixa registradora] Mesada, sem fazer nada, nasceu, 120 mil. — É justo? Num mundo que a gente vive ter um jovem ganhando 120 mil reais de mesada. Não é… Não é. — Com 120 mil e ele não pagando nenhuma conta da mansão, porque tudo da mansão era ali os pais que pagavam, né? A vida da Ane era muito boa, mas era tudo dele… — Agora ela nem trabalhar não trabalhava. Eu falei: “Ane, você pagava pelo menos o seu e INSS para você se aposentar?”, não pagava… Não pagava. Recolha o seu e INSS, gente, recolha. — O tempo foi passando, Ane falou pra mim: “Andréia, não vou mentir, estava tentando engravidar sim, porque aí eu sabia que ia ter mais segurança”, mas ela não conseguia engravidar mais. Ela não conseguia… — De jeito nenhum ela conseguir engravidar. — E isso foi deixando a Anne mal, assim, porque ela queria ter um filho com o herdeiro. — Óbvio, né? Já que está ali na lama, vamos pelo menos por essa cabeça para fora, né? —

E aí tentava, tentava, tentava e nada e a Ane foi ficando obcecada em ter um filho…  Até que o cara falou: “A gente precisa separar, não quero mais”. — Poxa, ele é jovem, milionário, tem mesada de 120 mil… Esses problemas que a Ane estava trazendo, que ela não conseguia engravidar, então ficou chato pra ele. A palavra é essa. Não é nem que ele foi problemático, ficou chata, uma mulher chata… Virou uma mulher chata. “E aí vou ficar com uma mulher chata sendo que eu sou riquíssimo, sou bilionário? Não vou”. — Ane ficou em choque porque ela queria realmente engravidar dele. Não engravidou. Isso já tinham três anos de casamento e, assim, os pais sempre deixando claro que ela não fazia parte dali. Por outro lado, a Ane não conseguia acompanhar o ritmo deles, assim, porque ela não tinha dinheiro… Um exemplo: Três aniversários de casamento, aniversário da Ane e Natal, que eles passaram juntos… Ele nunca deu uma bolsa de luxo para a Ane. Nunca. Dava uma bolsa de 3 mil reais. — Bolsa de 3 mil reais não é bolsa de luxo… A gente está falando aqui de bolsa de 50, 60 mil. — Que eram coisas que ele comprava para a mãe dele de presente, mesmo a mãe dele podendo comprar, sei lá, a fábrica da bolsa… Mas para a Ane ele não dava.


E talvez ele não quisesse dar coisas para a Ane que virassem patrimônio. — Pô, meia dúzia de bolsa cada uma custando 50 paus você sai dali, vende e compra um apartamento. — Ou talvez ele achasse que ela não fosse merecedora, que é o que vem à cabeça da Ane, assim: “Ela é pobre, não tem cabimento dar uma bolsa de 60 mil, ela não vai saber nem aproveitar uma bolsa dessa”. Essa é a visão que a Ane tinha deles. — Então, me diz pra quê ficar num casamento desse? Foi bom também pra ela se separar, eu penso assim… Mas ela tomou um choque porque o projeto da Ane era ter um filho com ele, dar uma garantida na vida? Sim, dar uma garantida na vida. Talvez? Talvez. Não sabemos… — Quando eles foram se separar, a Ane conseguiu um advogado e um advogado bom que não ia cobrar ela, ia cobrar só em cima do que ela receberia. — Porque o cara tava interessado na fatia. — Acontece que o cara deve ter estudado o caso e, de repente, ele falou que não podia mais ajudar a Ane naquele caso, que ela ia ter que conseguir um outro advogado, que ele estava cheio de coisa, que ele ia pegar uma licença de saúde, inventou mil coisas.


E aí ela teve que pegar um outro advogado, teve que pagar esse advogado e, gente, o cara não tinha nada no nome dele. — Nada. — Ele era herdeiro, mas ele só herdaria alguma coisa quando os pais morressem e ainda de um jeito lá bem amarrado, pra não ficar nada pra cônjuge. — De nenhum dos três filhos. — Então, a Ane saiu do jeito que ela entrou, apenas com algumas roupas melhores e agora sem dinheiro.  — Como eu disse, ela não conseguia acompanhar o ritmo deles, que ela não tinha dinheiro, dependia, estava na aba dele 100%. Então você pede uma coisa, você pede duas, a terceira você fica meio assim de pedir, né? Se o cara não te oferece. — Ela quis meio que acompanhar eles e deu um relógio pra ele com a rescisão dela… — Por que, Ane? — Ela deu um relógio para ele que, tipo, era o relógio mais barato que ele tinha e ele usou, sei lá, uma vez. — Não era um relógio da classe social dele, manja? Ele estava acostumado a andar com o relógio de 300 mil, 400, 500 mil, tipo Faustão, e ela comprou um relógio pra ele de, sei lá, 28 mil, 30 mil, que foi um valor que ela recebeu de rescisão. Você gastou a sua rescisão num relógio pro cara… —


Eles se separaram, ela pediu o relógio de volta, ele deu o relógio de volta e ainda a família dele deu 50 mil reais. — Que não dá nem metade da mesada dele mensal, né? — Ela saiu desse casamento com um bilionário com 50 mil reais. Com esses 50 mil reais ela alugou um apartamento… — Olha só como a gente fica iludido, né? Ela foi e alugou um apartamento, um apartamentão assim, só que só o condomínio era dois paus e trezentos. [efeito sonoro de caixa registradora] — Ane? Sem trabalhar, boneca? — E aí aguentou um ano naquele apartamento e acabou o dinheiro… — Sabe quando você aluga umas casas, assim, tipo tem o quintal, várias casas e não precisa de fiador, nada, ela morava numa casa assim… — Teve que voltar pra casa que ela morava. E aí a Ane fala: “Eu acho que foi castigo, sei lá” e a Ane também tem uma cisma que ela acha que ela não engravidou porque naquele shake — que eles tomavam de manhã —, aquela vitamina, sei lá, que eles tomavam, ela acha que a mãe dele colocava alguma coisa para não engravidar. — Gente, achou difícil… É muito coisa de filme, vocês não acham? –

Ane voltou para aquela casinha que ela morava quando ela trabalhava na fábrica, arrumou emprego em outra fábrica, conheceu um rapaz também que trabalhava na fábrica e engravidou do rapaz em três meses de namoro. O rapaz da fábrica sumiu. Hoje a Ane é mãe solo, tem o filhinho dela que é a luz da vida dela. — Ainda bem que tem o filhinho, né? Não está sozinha no mundo, tem o filhinho dela. — E o rapaz também casou de novo com uma pessoa da classe social dele e tem dois filhos. Quando dá, ela stalkeia ele, até hoje, e fica imaginando ainda a vida que ela teria se tivesse com ele ou até se tivesse um filho dele. — Porque aí ele não ia deixar o filho dele morar em qualquer lugar, mesmo eles separados, né? Então é isso, assim… E aí essa história para mim só reforça realmente que não dá certo você da classe trabalhadora casar com um milionário. Você sempre vai sair perdendo. Se você sair com 2 milhões, você sai perdendo, ainda você sai perdendo. E difícil sair com dinheiro, hein? Difícil sair com dinheiro, porque os caras amarram todas as coisas deles de uma maneira que a hora que você vê, do jeito que você entrou com seu paninho de bunda, você está saindo com seu paninho de bunda. — O que vocês acham?

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Denise, eu falo de São Paulo. Ane, querida, eu acho que a grande maioria das pessoas se estivessem no seu lugar iriam agir da mesma forma, iriam pensar assim também… Porque não vamos ser hipócritas, né? Se a gente está no meio dos ricaços, a gente também quer ser ricaço e a gente se acostuma muito fácil com o que é bom. Uma das suas grandes falhas foi querer manter esse padrão de vida, sendo que você não tinha a mesma realidade deles. Mas agora, gata, é correr atrás, trabalha, tenta conquistar, tenta ser pelo menos o pobre premium, [risos] mas corre atrás do seu agora, ficou a lição… Corre pelo seu filho, corre por você e é isso, um beijo. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Bárbara, falo de Santos. Olha, Ane, que golpe furado, hein? Tenho certeza que você começou esse relacionamento de fato interessado na pessoa, tendo um sentimento e o mundo ali milionário deslumbra qualquer um e você se deslumbrou… Mas acho que te faltou estratégia [risos] para que esse seu plano desse certo, mas acho que você tem que virar essa página, deixar isso aí registrado na sua história como uma história para contar entre amigas, mas acho que fica muito, muito aprendizado aí… Que a gente sabe que a classe A não adianta, ela não vai se misturar, ela não vai procriar com a classe C. A gente sabe disso, tá bom? Espero que você esteja bem, que você tenha apoio com seu filhinho e que você seja muito feliz. Um beijo. 

[trilha]

Déia Freitas: Essa é a história da Ane, comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis. A Ane sabe sim que ela errou em algumas coisas, ela me falou: “Andréia, quando você está naquele meio, é muito difícil você também não ter uma ganância… Você nunca viu aquilo, você nunca viveu aquilo, você quer… Você quer também. Só que aí você acaba metendo os pés pelas mãos e é isso, né?”. Então, sejam gentis com a Ane, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.