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título: problema seu
data de publicação: 17/10/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #problema
personagens: sara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas:  Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem tá aqui comigo hoje é a Wondery Brasil e o podcast “Exaustas”.  Apresentado pelas atrizes Samara Felippo, Giselle Itié e Caroline Figueiredo, Exaustas é um podcast que levanta temas urgentes do universo feminino, onde você é acolhida sem vergonha de expor os seus sentimentos… E é incentivada aí a contar as suas histórias. Esse podcast é um lugar seguro pra você colocar pra fora suas culpas, a sua raiva, os seus traumas, enfim… Exaustas estreou no último dia 26 em todas plataformas de streaming de áudio. — E em vídeo no canal da Wondery Brasil no Youtube. —

O primeiro episódio do podcast Exaustas abordou a sensação de exaustão e de como ela se manifesta em cada uma das apresentadoras. Samara, Carolina e Giselle se abrem aí sobre seus traumas como relacionamentos passados, lutos e também discutem o sexismo, a objetificação das mulheres e a pressão que elas enfrentam. — O que contribui e muito aí pra esse cansaço, né? — Tudo isso regado a muito humor, zombaria e risadas, afinal, compartilhar aí com outras mulheres suas dores pode realmente curar onde dói. Assistam ou apenas escutem Exaustas. — Eu vou deixar o link certinho aqui na descrição do episódio, vão lá. — E hoje eu vou contar pra vocês a história da Sara. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Sara ela era casada com um cara desde os seus 19 anos. Ela conheceu esse cara quando ela começou a trabalhar, então ela começou numa empresa e esse cara já trabalhava lá. Eles namoraram ali por uns nove meses e se casaram. [efeito sonoro de sino soando] E a Sara ela era muito, muito apaixonada por esse cara… Sabe quando você acredita em tudo o que o cara fala? Em como, “poxa, isso aqui é a minha vida”, assim, uma coisa que eu adianto pra vocês, eu já estou com 48 anos: O seu relacionamento amoroso ele não é a sua vida inteira. Ele não pode ser sua vida inteira. Ele é uma parcela da sua vida, né? Mas quando a gente está muito apaixonada, a gente tende a pensar que “meu Deus do céu, aquilo é tudo pra mim, é a minha vida”. E aí era assim que a Sara se sentia e pensava… 

A Sara trabalhava, deixava o dinheiro inteiro dela — inclusive o cartão de banco — com o cara. Tudo para ele administrar o dinheiro dela. — Gente, não há paixão no mundo, não há Cristo voltando que me faça entregar o meu cartão, o meu dinheiro, o suor do meu trabalho na mão de alguém. Que dirá um homem… — Na época ela fazia faculdade particular e casamento foi indo, ela foi fazendo a faculdade e quando faltava ali quatro meses pra Sara se formar — quatro meses, gente —, este marido da Sara chamou a Sara e falou assim: “Olha, o meu cunhado está com uma oportunidade ai, ele está vendendo o carro dele e como eu não quero financiar um carro, eu quero comprar esse carro dele”. E era um carro super velho, sabe bem velho? Que não valia a pena. Mas o cara insistiu: “Só que para eu comprar esse carro, você vai ter que passar esses últimos quatro meses sem pagar a faculdade”. — Veja isso, gente… O bonito queria um carro e para isso ele precisava do dinheiro das mensalidades da Sara. — [miados] 

Sara na hora falou: “Não”, mas depois ele foi falando: “Olha, você não quer, não quer que a gente progrida, você não vê futuro na gente, porque os meus problemas são os seus problemas, os seus problemas são os meus problemas”, sabe esse papinho? “Não, vai dar super certo, eu não quero ter dívida”. E depois de um tempo dele falando que ela não estava sendo parceira, nada, ela se cansou e cedeu, “tá bom, então esses quatro meses eu não pago a faculdade e você pega esse dinheiro e compra esse carro”. O cara comprou o carro, a Sara terminou os estudos na faculdade, os quatro meses e devendo quatro meses ela conseguiu colar o grau, a faculdade permitiu que ela fizesse tudo. E isso foi lá por 2015. Pouco tempo depois, aquele carro que era péssimo, que era velho, não parava de dar problema… — Quer dizer, agora tinha mais problema, né? — Um monte de problemas, um monte de gasto e agora que ela não tinha mais a faculdade para pagar, ele tava usando dinheiro da Sara inteiro pra pagar os gastos desse carro.

E ainda, assim, ela não ficava com o cartão dela, não sabia no que ele estava gastando o dinheiro que a Sara ganhava ali no trabalho. Sara foi levando esse casamento e, no ano seguinte ali — lá para junho de 2016 —, a Sara perdeu uma das pessoas mais importantes da vida dela, que era o avô dela. Ele estava muito doente, foi uma luta e tal, e aí o vôzinho partiu. A hora que a Sara soube que o que o avô dela tinha morrido, mesmo sabendo da doença e tudo, nossa, a Sara perdeu o chão e falou pro cara… O cara fez o quê? Nada… O avô da Sara foi enterrado e o cara nem foi junto com a Sara porque ele alegou que ele não gostava desse tipo de coisa, não gostava de velório, deixou a Sara sozinha nesse momento. No velório, todo mundo ficava perguntando: “Cadê seu marido?”, “Cadê seu marido? Por que ele não veio?”. E aí ela já estava fragilizada e tal foi se sentindo mais abandonada e, naquele velório ali, diante do corpo do avô dela, a Sara tomou uma decisão. Sara voltou para casa… Agora ela já não estava mais arrasada com ele, ela estava p da vida com ele.

E aí ela disse pro cara que ela não queria um marido só pra dividir contas — e, aliás, acho que ela estava pagando todas as contas sozinha —, que ela queria um marido que fosse parceiro de vida. — Não era ele que tinha falado que os problemas de um eram os problemas do outro e tal? Isso só valia quando era para o lado dele, né? — E aí a Sara falou que se ela não pudesse contar com ele quando ela mais precisava, era melhor ela ser solteira. E aí, veja bem, a Sara deu um dia para o cara pensar se ele ia mudar e ser parceiro e realmente estar ali no relacionamento, junto. No dia seguinte ele falou: “Quer saber? Não quero ser parceiro, não. Prefiro me divorciar de você.” E assim eles se divorciaram… A Sara saiu da casa somente com as roupas dela… Ela deixou tudo para o cara. Tudo. Aí a Sara fala que: “Ai, eu deixei porque eu não queria lembrar de nada daquele casamento”. Gente, pega e doa, pega e faz um bazar, um brechó, o que seja, não deixa… Se o seu companheiro, sua companheira foi um maldito, uma maldita com você, não deixa, não tem essa de “não quero lembrar”, pega tudo, põe fogo, não deixa… 

Porque o cara ficou com a casa inteira pra ele, mobiliada e a Sara foi morar com uma tia. Era um casamento de seis ano, a Sara agora estava com 25 para 26 anos ali e ela estava abalada, porque ela achou que o cara fosse no dia seguinte falar: “Não, eu vou ser seu parceiro” e ele falou: “Não, eu prefiro o divórcio”, parecia que tinham arrancado um pedaço do corpo dela. Então ela foi morar com algumas tias, depois ela morou com uma amiga por um ano, até que a Sara recebeu a proposta de emprego da empresa que ela tá hoje e mudou de cidade… Passou mais um tempo e eles tinham que assinar os papéis do divórcio… E foi quando a Sara conversou com esse cara sobre a dívida da faculdade dela — que ela tinha feito pra ele comprar o carro, sendo que o carro depois de um tempo, de gastar todo dinheiro da Sara naquele carro, ele vendeu o carro e ficou com o dinheiro todo para ele — e ali, naquela mesa de conciliação do divórcio, lembra que ele falava que problema dos dois era problema dos dois e nã nã nã? Quando ela falou da dívida da faculdade, esse cara falou pra Sara: “Você pra mim agora é um problema seu”. = Desse jeito… Então é: “Te vira”. —

E a Sara acabou ficando com essa dívida… — Eu não sei, ela não podia falar ali que a dívida era dos dois? Já que estava dividindo as coisas? Não entendo por que ela ficou com a dívida sozinha… Por que era a faculdade dela? — O dinheiro do carro ele já tinha torrado, então ela nem viu a cor desse dinheiro, porque foi comprado com o dinheiro dela, o carro era dela, né? E os consertos também ela que pagou e ainda assim ela não viu a cor de nada. E aí a Sara depois desse divórcio péssimo, foi procurar a faculdade para tentar fazer um acordo para pagar esses quatro meses de dívida que ela tinha ali. E, na faculdade, eles falaram que tinham vendido a dívida para uma empresa e deram o telefone dessa empresa pra Sara. A Sara tentou contato, gente, mil vezes e não conseguia… Não conseguia falar, não conseguia encontrar onde estava essa dívida comprada. Ela voltou na faculdade umas três vezes, tentando ajuda e querendo pagar e a faculdade falou: “Olha, realmente agora a gente não tem como te ajudar, porque enfim, a gente vendeu essa dívida”.

E aí isso era final de 2016 e a Sara não encontrou nada. Em 2022, 6 anos depois — é isso, né? 6 anos depois —, a mãe daquele traste, [efeito sonoro de telefone tocando] a telefonou para ela dizendo que tinha um oficial de justiça lá — porque provavelmente era um dos endereços antigos que a Sara tinha dado como referência, alguma coisa assim — e que ele estava deixando um papel lá, que depois a Sara foi buscar e era que o nome da Sara estava no Jusbrasil numa ação judicial dessa dívida. Nesse momento, a Sara ficou sabendo que a dívida da faculdade, que era na época cerca de 2 mil reais agora estava em quase 15 mil reais… A Sara ficou desesperada porque primeiro que ela não tinha nem os 2 mil para pagar se fosse hoje, né? — Como ela ia ter 15 mil? — A Sara foi atrás de um advogado e ela não conseguia pagar os honorários do advogado. E aí ele falou: “Olha, procura então a Defensoria Pública”, a Sara provou o quanto ela ganhava, que era menos de três salários mínimos e tal e a Sara conseguiu conseguiu um defensor público e esse defensor público tentou negociar ali com a empresa. 

A Sara, nesse momento, não estava nem questionando os 15 mil, mas ela queria uma forma que ela conseguisse pagar dentro do salário dela. A empresa não aceitou, queria que a Sara pagasse R$2.500 por mês, gente, da dívida… — Sendo que a dívida lá no começo era de 2 mil. E aí esse o valor… E a Sara ganha, sei lá, 2.700, como ela ia pagar uma parcela de 2.500? Não tem como… A Sara mora hoje em dois cômodos, ela paga aluguel e tem as contas dela para viver, precisa comer, não existe isso, né? — Isso passou, não teve acordo e um tempo depois, já em 2023, quando a Sara menos esperava, a Justiça bloqueou todas as contas dela. — Inclusive a conta que a Sara tinha lá, sei lá, um pouquinho de dinheiro… Tudo. — A única conta que agora Sara consegue fazer alguma coisa é a conta salário, que inclusive a Justiça disse que podia bloquear a qualquer momento. — Eu postei isso no Twitter, assim, o resumo da história da Sara e muita gente falou lá que não pode bloquear conta salário, que a Sara tinha que entrar na Justiça para passar aquele número de conta como conta salário… — A ela mal consegue dormir e mal consegue comer pensando nessa dívida e nas coisas dela… — Coisa, gente, sei lá, se ela tinha 1 mil reais na conta, foi congelado, sabe? Não era assim: “ah, ela tinha o dinheiro” e com medo que a conta salário dela seja bloqueada. —

Essa dívida já está em quase 20 mil reais e a cada mês aumenta… A Sara não consegue ver uma saída, ela se sente totalmente desesperada, assim. E, de um mês pra cá, ela não consegue falar com o advogado lá da Defensoria, ela manda mensagem, liga, mas ela não responde mais. Ela não sabe o que fazer, ela paga aluguel, mora em dois cômodos, ganha cerca de 2.700 reais e com os descontos fica até menos que a parcela que a empresa queria que ela pagasse na negociação da dívida. — E ela não vê futuro… Sabe quando você tá, assim, mal? — Sabe uma coisa que me deixa p da vida? Ontem mesmo eu postei lá no Twitter a minha indignação que um casal aí que eu espero que se separe, muito em breve, eles são milionários… Milionários, gente… Não estou falando aqui de gente que tem pouco dinheiro, não…. E eles devem na praça quase 15 milhões. E, assim, totalmente relax, totalmente viajando, totalmente fazendo coisas, totalmente tendo carros de luxo… Nem aí… E a gente, porque eu entendo, já estive no lugar de Sara… Não por causa de homem, mas porque a gente vai, enfim, os parentes vão ficando doente, a gente tem coisa pra pagar, as contas vão acumulando e o nome da gente acaba sujando, né? E eu também ficava como ela assim, ficava mal, recebia uma ligação de cobrança e meu Deus do céu, ficava mal real. 

E aí a gente vê essas pessoas ricas que não estão nem aí, porque parece que nada acontece com elas. Agora veja a Sara, uma pessoa pobre que mora em dois cômodos e teve, sei lá, uns caraminguás que ela tinha numa outra conta do banco, que podia ser para uma emergência, sei lá, mil reais, congelados… E nessa ameaça agora de, de repente, congelar outra conta dela, o salário dela. Como ela vai pagar o aluguel? Porque é assim, gente, congelou… Até descongelar é rápido? Não sei. E o aluguel do mês? E os juros depois o aluguel? É tudo muito injusto. E esse cara que agora está impune… E aí, aqui também, eu queria deixar uma outra coisa para vocês que, assim, a Sara era muito nova, ela tinha 19 anos, ficou com ele até 25, 26 anos, mas muitas das coisas que a gente permite, gente, também são responsabilidade nossa. A Sara ali por uma pressão, uma chantagem sentimental, o cara falou: “Você não é minha parceira” acabou deixando de pagar a faculdade… Era o momento ali de falar “não”, mas “Ah, mas e se ele me deixasse?”, passou seis meses e ele te deixou, te deixou ainda quando seu avô, quando a pessoa mais importante da sua vida, morreu. 

Então, eu acho que a gente tem que começar a pensar assim: Se a gente deixa de fazer uma coisa ou a gente acaba fazendo uma coisa que a gente não gostaria ou deixa de fazer uma coisa que a gente gostaria porque alguém está chantageando a gente emocionalmente e a gente não quer perder aquela pessoa, aquela pessoa a gente já perdeu… Ou a gente já se perdeu. Então, eu acho que é uma coisa que faz a gente pensar também, na nossa responsabilidade afetiva com a gente mesmo, né? “Ah, tem que ter responsabilidade afetiva nos relacionamentos com outra pessoa e nã nã nã” e com a gente? Você está com medo de ser abandonado, de ser abandonada? Você já está abandonado. Você já está abandonado… Então, para quê ficar nesse relacionamento? Termina. Vocês sabem que o meu conselho aqui no podcast é sempre: “Termina”. Então, se a Sara tivesse terminado com esse cara quando ele falou essa pataquada do carro, estava sem dívida hoje… 

Já tinha tido um prejuízo enorme, porque ela dava o salário na mão desse cara durante seis anos, o cartão do banco, não ficava com nada… Então, veja, o prejuízo já tinha sido grande, né? Então o carro ali tinha que ser aquela gotinha, de você falar: “Não, primeiro que o carro é velho”, sabe? Chamar a pessoa para o racional. “Você vai comprar só por que é do seu cunhado? Carro velho”. — O que vocês acham?

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, nãoinviabilizers, aqui é a Jess, sou advogada e falo de Santa Catarina. Sara, a sua dívida está em fase de execução, o credor vai buscar através do processo de execução meios de saldar essa dívida, buscando valores em conta que estejam em seu nome, veículos, imóveis, etc. No seu caso, o principal método que consistiu utilizado por eles é esse bloqueio em conta corrente, apesar de eles possuírem esse direito de se ver ressarcidos desses valores, a execução não pode prejudicar a manutenção da sua vida, a subsistência do executado. A lei protege valores que são destinados à manutenção da vida cotidiana da pessoa que está devendo dentro de um processo de execução. Inclusive, o entendimento mais recente do Superior Tribunal de Justiça protege até mesmo quantias até 40 salários mínimos, independente se estejam depositados em poupança ou conta corrente. Pra que seus direitos não sejam violados nesse processo, é necessário que você tenha uma orientação jurídica adequada. A Defensoria Pública faz um trabalho magnífico, mas em razão da alta demanda, acaba que demora muito a manifestação deles nesses processos. Busque núcleos jurídicos das faculdades ou até mesmo profissionais que atuem pró—bono ou com uma flexibilização de pagamento maior. Boa sorte, tá? 

Assinante 2: Olá, pessoal, é Sandra, de Santa Catarina. Sara, que situação difícil… Mas eu quero dizer para você que tem sim solução. Procura um advogado que possa te orientar, que possa te acolher e te dar as devidas orientações. Eu te falo porque aconteceu comigo… Eu tive o bloqueio do meu salário, mas consegui resolver com um advogado particular. A defensoria infelizmente não te deu o respaldo necessário e realmente é um caso que sim, poderia ter dado certo se a petição estivesse bem acertada. Eu espero que você consiga resolver isso o quanto antes. Não desanime, não, em relação a isso. E em relação ao seu marido, Sara, eu acho que você tem que buscar uma indenização, porque o que ele deixou para você, você precisa ter esse dano reparado. Força, Sara, tudo de melhor pra você. Um beijo. 

[trilha] 

Déia Freitas: As atrizes Samara Felippo, Giselle Itié e Caroline Figueiredo apresentam o podcast Exaustas, levantando temas urgentes do universo feminino e falando sobre culpas, raivas, traumas, mas com muito acolhimento e bom humor também. Os episódios saem em vídeo todas as quintas—feiras no Canal da Wondery Brasil no YouTube e na sua plataforma de podcast preferida. — Valeu, Wondery, que eu amo… Valeu, Wondery Brasil pela parceria. Boa sorte aí, podcast Exaustas, eu sei que já é um sucesso. — Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]