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título: a mancha
data de publicação: 04/03/2021
quadro: luz acesa
hashtag: #mancha
personagens: milena e dona olga

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Aqui é Déia Freitas do podcast Não Inviabilize, e hoje eu vou contar pra vocês uma história do Luz Acesa. E se você chegou até aqui, [efeito sonoro assustador de criança rindo] boa sorte. Eu vou contar hoje pra vocês a história da Milena e, assim, não sei o que pensar disso. 

[trilha]

A Milena, mais ou menos em oitenta e dois, oitenta e três, faz bastante tempo, ela foi fazer faculdade em Campinas, só que ela não era de lá e ela foi procurar uma pensão, um pensionato só de mulheres, porque o pai dela era super rigoroso assim, então ele não queria uma pensão mista e ela foi procurar uma pensão só de mulheres pra poder ir morar e estudar em Campinas. Tinha pensão de todo jeito, todo preço e ela acabou achando uma pensão numa senhora, Dona Olga e, na pensão da Dona Olga era uma pensão só de mulheres e tinha quatro jovens estudantes em cada quarto. Só que tinha um quarto na pensão da Dona Olga que estava vago e a Milena achou uma ótima ideia ficar nesse quarto porque ela não conhecia ninguém, ela também era muito tímida e ela falou: “Bom, melhor ficar sozinha, né? Ter mais privacidade do que ficar com mais três”. 

E aí a Milena alugou essa vaga, só que tinha uma coisa engraçada, nos outros quartos a vaga custava, vai, digamos que fosse duzentos reais por mês, naquele quarto a vaga custava trinta, é muita diferença, né? E a Milena disse que era um quarto grande e com quatro camas, ela escolheu a cama de cima do beliche, eram duas beliches, né? E na primeira noite ela dormiu e ela ficou muito inquieta assim, mas achou que fosse a novidade, né? De estar num lugar novo, dali uns três dias ela ia começar a ter aula já e no segundo dia que ela subiu na cama do beliche, ela notou que da cama de onde ela estava, na parede assim de frente pra ela, tinha uma mancha preta, como se fosse uma mancha de mofo, e a mancha não estava lá no dia anterior e a Milena meio alérgica falou: “Ai, meu Deus”. Ela chegou perto, não sentiu o cheiro de mofo, nada, tinha uma mancha preta na parede e ela voltou pra cama e deitou. Quando foi lá pra uma da manhã, ela ouviu um barulho [som de algo se arrastando] dentro do quarto e como ela nunca tinha dormido assim fora de casa, ela pensou em várias coisas, inclusive, alguém invadindo o quarto dela, sei lá, pra fazer alguma maldade com ela. 

Então o quê que ela fez? Ela virou pro lado da porta e a porta era do lado de onde estava a mancha e abriu o olho, mas assim bem pouquinho, sabe quando você cerra o olho só pra tentar ver o que tá acontecendo? E no quarto dela ela tinha deixado um abajur aceso que não fazia a sombra para o lado que estava a mancha, mas que clareava um pouco ali, ela falou: “Andréia, te juro por Deus eu vi essa mancha sair da parede numa forma assim humana”, conforme ela saiu da parede ela veio vindo na minha direção da cama e a Milena ficou tão assustada que ela desmaiou e ela não sabe se ela estava sonhando acordada, quando ela voltou de novo que ela olhou, abriu só um pouquinho do olho, a mancha já não estava lá, não estava andando na direção dela, tinha uma escrivaninha assim no quarto, né? As coisas da faculdade que ela tinha separado, os livros, os cadernos, essas coisas, estava tudo no chão e ela não escutou barulho nenhum. 

Quando amanheceu ela falou: “Bom, eu devo ter sonhado isso, né?”, na terceira noite nada aconteceu, na quarta noite que seria no dia seguinte que ela ia ter aula, a mancha não estava na parede, não tinha mancha mais nenhuma e ela falou que os colchões eram colchões finos, então meio que você sentia o estrado, sabe? Então pensa no estrado da cama, é uma madeira, um vão, uma madeira, um vão, só que quando ela estava deitada ela sentiu por baixo como se alguém tivesse na cama de baixo passando alguma coisa assim, quase que cortante por baixo do colchão dela, num dos vãos, e ela sentia nas costas como se aquilo fosse entrar nas costas dela e ela não tinha o que fazer, se ela levantasse pra descer da cama ela ia dar de cara com que tinha na cama de baixo e ela tentou, sabe quando você tenta fazer do seu corpo mais leve assim? E ela tremia, tremia, tremia, e aí ela foi virando de lado pra tentar sair de onde não se sabe o que estava pressionando as costas dela pelo colchão, e aí parou. 

E ela ficou olhando semicerrado assim com o olho, e aí da cama debaixo saiu aquela mancha, que era um vulto preto, né? Parecia uma sombra e grudou na parede. Só que ela olhava pra parede e ela não conseguia mais ver aquele escuro que estava na parede antes assim, não via mais nada e aí ela ficou tão petrificada de medo que no outro dia de manhã ela veio embora pra São Paulo e não estudou em Campinas, gente, ela não estudou. Ela veio embora e depois ela acabou fazendo uma faculdade por aqui mesmo, mas ela não ficou lá e ela falou que até hoje, às vezes, ela sonha com essa mancha, só que ela sabe que é sonho, é diferente, ela falou. E que naquele dia nas duas vezes, né? Ela viu sair, desgrudar da parede, vir até ela e depois no dia seguinte, né? Na segunda vez ela viu essa mancha sair da cama e grudar na parede. 

Seria imaginação da Milena? O quê que seria esse vulto? Seria um vulto realmente? O quê que vocês acham que é? O que seria essa mancha na parede? Um beijo, durmam bem, se possível e eu volto a qualquer dia, qualquer hora pra contar mais uma história pra vocês, um beijo. 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta] 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.