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título: a pisadeira
data de publicação: 02/02/2021
quadro: luz acesa
hashtag: #pisadeira
personagens: casal e pisadeira

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra mais uma história, mês de fevereiro, mês de aniversário do podcast Não Inviabilize, e hoje eu tô aqui junto com quem? Quem? Quem? O Telecine. Sim, o Telecine voltou. E dessa vez eu propus uma outra coisa pra eles, em vez de contar um trecho de uma história de um filme do Telecine, eu resolvi contar uma história que tem a ver com o filme do Telecine. Como é que é isso Déia? Bom, eu estava lá zapeando, tentando escolher ali um filme de terror no Telecine, quando eu vejo um filme chamado “Sono Mortal”, li ali a sinopse, a história de duas irmãs e nã nã nã, falei: “Bom, é esse, vou assistir esse. Gente, que o filme começa e vai caminhando pra um lugar muito familiar pra mim das histórias que a minha avó contava, e não é que o filme do Telecine era um filme sobre a pisadeira? Falei: “Não, eu tenho que contar a história da pisadeira”, então eu vou contar aqui pra vocês uma história sobre a pisadeira que a minha avó contava e depois vocês corram lá no Telecine e assistam o filme “Sono Mortal”, e aí depois a gente comenta lá no grupo, se não tem tudo a ver com a pisadeira. 

Só que antes é melhor eu dar um aviso, eu meio que não tenho medo de nada, mas eu sou cismada com muita coisa e a pisadeira me deixa muito cismada, a história da pisadeira eu acho muito sinistra. A minha avó contava desde que eu era muito pequena, então eu cresci ouvindo histórias sobre a pisadeira e acho que o que mais me deixa assim preocupada é o jeito que a pisadeira entra na casa da gente, então se você é como eu, uma pessoa cismada, respira, ouve de dia porque tá pesado. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A pisadeira ela é uma criatura que anda pelos telhados das casas, então pensa, ela é uma criatura quase cadavérica de cabelos brancos e longos, em alguns lugares dizem que ela tem os olhos vermelhos e os dentes podres, mas a história que a minha avó me contava é que no lugar do rosto ela tinha um buraco. A minha vó dizia que o rosto da pisadeira era a escuridão, não tinha nada ali, mas você conseguia ver a cara da pisadeira mesmo ela não tendo rosto, eu não sei se isso faz sentido, mas é assim que a minha avó contava, que a pisadeira tinha um mau cheiro, às vezes, cheiro de flor de cemitério, às vezes ela era silenciosa, às vezes, quando ela estava no telhado ela fazia um barulho de vento, então você sentia um barulho, sabe aquele, não sei se é uivo a palavra, mas vocês sabem. A pisadeira podia fazer aquele barulho também, mesmo sendo muito magra a pisadeira, ela podia ficar muito pesada em cima da gente, e ela era morna e viscosa, apesar de ter uma aparência seca. 

E como a pisadeira age? A pisadeira se alimenta de energia, ela drena energia de pessoas que vibram num padrão que ela precisa. Então se você tiver vibrando no padrão da pisadeira, ela vem e ela não precisa de nada, ela não precisa de convite pra entrar na sua casa, basta você estar vibrando na energia que ela precisa pra se alimentar. Então você tá lá, você já dormiu, ela vem, ela desce do telhado da sua casa, ela entra [som de porta abrindo] e ela fica primeiro pairando sobre você, só esperando o momento certo do seu sono pra que ela consiga se conectar e consiga drenar a energia que você tem pra ela. Você vai sentir a pisadeira muito pesada sobre o seu peito e ela vai te acordar, porque pra drenar a sua energia ela precisa que você esteja desperto e que você abra a boca, porque pela boca que a minha avó dizia, que ela sugava energia, e você vai sentir a pisadeira cada vez mais pesada em cima de você e você cada vez mais sem ar. 

E aí assim, se ela conseguir tirar de você a energia que ela precisa sem que você morra pra isso, ótimo. Ela vai te drenar e ela vai embora, talvez ela volte no dia seguinte, talvez não. Agora, dependendo, ela pode drenar sua energia e levar junto a sua alma. Então a minha avó, ela tinha muito medo de morrer dormindo, porque ela dizia que, de repente, podia não ser uma morte natural, podia ser a pisadeira. Outra coisa que minha avó dizia é que a pisadeira ela só consegue tirar sua energia se você tiver de barriga para cima, se você tiver de bruços ela não vai conseguir, daí você vai pensar assim: “Bom, então se eu dormir de bruços tá tudo bem”, [som sinistro de criança rindo assustadoramente] não, se você tiver de bruços periga a pisadeira quebrar o seu pescoço, porque aí no momento da sua morte, ela vai conseguir drenar sua energia. 

A parte que me deixa mais cismada de tudo é que a pisadeira ela fica andando pelos telhados das casas e quem vê a pisadeira? Só quem tá vibrando no padrão que ela precisa, então, de repente você tá com alguém e você olha pra cima de um telhado e você vai ver a pisadeira ali agachada andando quase que de quatro, pulando de telhado em telhado atrás de você, esperando você dormir e só você vai ver. Os animais eles podem enxergar vultos, assombrações, mas eles não enxergam a pisadeira, então nem o alerta de que a pisadeira entrou na sua casa você vai ter, você pode estar dormindo com alguém do seu lado que essa pessoa não vai ver e não vai sentir a pisadeira se ela não tiver naquele padrão de energia que você está e que a pisadeira precisa também. 

Então olha que louco isso, a pisadeira ela entra no seu quarto estando você com alguém ou não, ela drena sua energia, ela leva a sua alma ou não e ela vai embora, podendo ficar no seu telhado e voltar no dia seguinte. E aí só você, ou vai sentir o cheiro de podre, ou vai sentir o cheiro de flor de cemitério, ou vai ouvir o vento no seu telhado, é muito doido e é uma coisa que me deixa muito cismada, e é uma coisa que desde muito cedo me faz não olhar pra telhados assim. Eu só olho pra telhado se eu escutar um miado de gato, que eu sou protetora de animais e é mais forte que eu, mas fora isso, se eu tiver andando na rua assim, eu não fico marcando touca, sabe? E olhando pra telhado, não fico. E aí agora que vocês já conhecem a pisadeira, eu vou contar uma história que minha avó contava de uma moça que morava na rua dela. 

A gente tá falando aí de bastante tempo, sei lá, minha avó nasceu em vinte e sete acho, então se ela era mocinha, faz as contas. A minha avó contava uma história de uma moça da rua dela, os pais dessa moça arrumaram um noivo pra ela, então aquela coisa de: “Ah, ele é um bom moço”, é uma rua de terra, todo mundo ainda muito pobre, então o cara tinha um pouquinho mais de grana, era um bom partido, né? E aí eles ajeitaram esse casamento dessa vizinha da minha avó, que tinha mais ou menos a idade da minha avó, com esse cara. Só que ela não queria casar, a minha avó dizia que essa moça ela queria ser professora e era uma época que ninguém podia estudar ainda, né? Ninguém tinha dinheiro, ninguém estudava e ela queria ser professora, então ela não queria casar porque ela sabia que, se ela casasse, ela ia ter que cuidar e ter filhos, cuidar do marido e não ia conseguir realizar o sonho de ser professora. 

Só que os pais dessa moça muito pobres, eles precisavam que ela se casasse com esse cara pra que esse cara fosse morar lá na casa deles mesmo né, que era ali na rua da minha avó, pra dar uma força ali no orçamento e esse cara era muito apaixonado por essa moça, e aí o casamento foi arranjado. E a festa do casamento, naquela época, minha avó dizia que ninguém tinha dinheiro pra festa, né? Então era assim, casava ali na igreja e aí o pessoal já descia todo mundo a pé da igreja pra rua ali, colocava as cadeiras pra fora, meio que fechava a rua e era uma festa ali na rua. E aí tinha comida, bebida, o noivo que patrocinou a festa, então todo mundo comendo, todo mundo bebendo e o quê que a noiva pensou? Ela queria dar um jeito de escapar, mas ela não sabia como, então ela falou: “Bom, pelo menos eu vou adiar essa primeira noite aí de núpcias”, que aconteceria ali na casa mesmo, que eles iam morar lá, então eles tinham um quarto na casa. 

E aí ela começou a dar bebida pra esse noivo, e comida, e ele bebeu e comeu muito, ficou bêbado e ela ali vestida de noiva mesmo, vestido branco e tal, virgem. E esse cara ele foi ficando bêbado e ele começou a reclamar pras pessoas da festa, que tinha uma velha pulando nos telhados das casas ali da rua e olhando pra ele, e ele foi ficando incomodado e assustado, falando dessa velha e todo mundo dando risada falando que ele estava bêbado, que não tinha velha nenhuma e que era pra ele curtir a festa, nã nã nã. E aí a festa foi acabando, a noiva foi vendo que não ia ter muito jeito e aí chegou a hora deles irem para o quarto. Ele não conseguia carregar a noiva, tipo, pra entrar no quarto carregando de tão bêbado que ele estava, e ela achou ótimo aquilo porque ele estava muito bêbado e falando da velha, então ele falava pra ela: “Olha lá, ela tá no telhado, o quê que essa velha tá fazendo aqui no quarto?”, e essa moça ela só queria se livrar dele, pelo menos aquela noite. 

E aí ela conseguiu que ele deitasse de roupa e tudo, e ele estava muito bêbado e ele pegou no sono ali de barriga pra cima roncando e ela de vestido de noiva, queria ir no banheiro e o banheiro ficava fora da casa e ela foi com uma vela e não viu nada, voltou e deitou do lado dele de vestido de noiva, porque ela estava com um vestido cheio de botões e ela sabia que, se ele acordasse no meio da noite pra querer alguma coisa com ela, até conseguir tirar o vestido, talvez ele dormisse de novo. Então ela pegou no sono do lado dele vestida de noiva e ele também não tinha tirado a roupa, então ambos, né? Os dois estavam vestidos ali na cama. Lá pelas tantas da madrugada ela de costas pra ele, dormindo, assim olhando pra parede, né? Virada pra parede, ela teve a impressão de que ele tinha ficado em pé na cama e era um colchão de palha. Ela teve a impressão que ele levantou e estava em pé na cama e ela sentiu um peso assim na cama, no colchão e aí ela pensou: “Pronto, agora ele vai tentar alguma coisa comigo” e ela ficou ali quietinha, só que ela escutou que ele estava gemendo meio baixinho assim e ela ficou super com medo dele, mas pensando que ele estava querendo alguma coisa com ela, e ela ficou imóvel fingindo que estava dormindo. 

E ele gemeu, gemeu, a cama pesada, assim, ela sentia afundar e ela adormeceu de novo. Quando foi de manhã que ela acordou, ela viu que ele estava ali na cama ainda e ela falou: “Bom, eu vou ficar aqui até ele acordar primeiro” e ele não levantava. Gente, esse cara estava morto com uma cara horrorizada e o lado dele da cama tinha estourado e a palha estava toda no chão. Essa vizinha da minha avó, vestida de noiva, quando viu que ele estava morto, saiu gritando [som de mulher gritando] pela rua e rindo, [som de risadas] gritando: “Ele tá morto, ele tá morto” e rindo, toda descabelada. E aí foi juntando aquela terra no vestido dela, minha avó falou que ela estava toda cheia de terra naquele vestido branco e que ela ria, gritava assim rindo que ele tinha morrido no meio da rua. Foi uma coisa que assustou muito a minha vó, né? 

E aí que a galera foi juntar que ele tinha visto a velha em cima do telhado, aí depois quando a noiva voltou ali a si, que ela sentiu esse peso na cama, e aí todo mundo deduziu que era a pisadeira. E essa moça ela ficou marcada ali, tipo, no bairro, né? A coisa espalhou, como a noiva da pisadeira. E aí ninguém mais quis casar com ela e a minha avó disse que pra ela foi ótimo, porque ela virou professora, realmente. Ela conseguiu uma ajuda num convento que tem aqui no meu bairro mesmo, e aí ela conseguiu estudar e se formar professora que era o que ela queria. Então… Eu ficava com muito medo dessa história, mas hoje eu penso que, poxa, a pisadeira deu uma força pra ela. [risos] E aí eu tô lá assistindo o filme do Telecine e a história começa a ir pra esse sentido assim, a moça era muito atormentada, ela dormia, e aquilo que eu falei pra vocês, a pisadeira ela acorda você pra poder drenar sua energia. E aí ela era acordada, ela achava que era um sonho e não era sonho, porque você nunca sonha com a pisadeira. 

Se você tá ouvindo essa história agora e daqui uns dias você sonhar, você não sonhou, você viu a pisadeira. A pisadeira não aparece em sonho. E aí essa moça lá no filme ela via a pisadeira e ela desenhava, às vezes, a pisadeira e ela ficava muito assustada. E aí vocês vão ter que ir lá no Telecine, tem um link aqui e assistam o filme “Sono Mortal” pra gente poder comentar esse filme e comentar sobre a história da minha avó e falar da pisadeira e não encontrar a pisadeira nunca, isso é fato. E aí eu tô aqui, a minha janela da sala não tem cortina e daqui eu vejo o telhado da casa da frente, eu já olhei umas três vezes. E ainda bem que a pisadeira não tá lá, pelo menos por enquanto. Então, gente, cliquem no link do Telecine. Obrigada, Telecine por participar desse aniversário de um ano do podcast e, Deus me livre, pisadeira. Um beijo e eu volto logo.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta] 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.