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título: balada
data de publicação: 26/08/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #roça
personagens: geraldom josefa e capataz

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra mais uma história do quadro Luz Acesa, e uma história também lá do Twitter. — Eu estou trazendo as histórias de lá pra cá, essa é uma delas, que eu contei há alguns anos aí… — E essa história se passa em Londrina, mais precisamente no dia 23 de outubro de 1982. E é a história do Geraldo, da sua esposa Josefa e de um capataz da fazenda onde eles trabalhavam ali como agricultores. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

O Geraldo e a Josefa eles acordavam muito cedo, eles trabalhavam na roça, né? Então eles acordavam super cedo mesmo, — tipo 4 da manhã — tomavam café e iam pro trabalho. Só que naquele dia, — naquele dia 23 de outubro — o Geraldo estava apreensivo, assim, ele acordou preocupado. Ele não sabia como seria o dia dele de trabalho depois da briga que ele teve com o capataz lá da fazenda. E esse capataz, ele não tirava os olhos da Josefa… Era um cara realmente muito agressivo e, assim, abusivo. Teve até uma vez que esse capataz chegou a passar a mão no corpo da Josefa, — esposa do Geraldo — e a briga aconteceu porque o Geraldo, não aguentando mais, ele tirou satisfação com esse chefe aí, que era chefe deles ali. — O Geraldo chamava de chefe dos peões. — Ele tirou satisfação com esse cara na frente de todo mundo… E agora o Geraldo não sabia o que esperar e ele estava achando que ele ia ser dispensado mesmo do trabalho na fazenda, né?

Ou na melhor das hipóteses, ele não seria demitido, mas levaria uma bronca do seu Olavo, que era o dono da fazenda… — Com alguma coisa que o capataz inventasse. — Enquanto o Geraldo estava ali na cozinha, todo pensativo, sem saber o que ia acontecer… — Porque, assim, perder o emprego implicava em sair também da moradia, que era dentro da fazenda, né? Então o Geraldo estava muito tenso, com tudo… — Enquanto ele estava ali pensando, no quarto [efeito sonoro de pessoa gritando] ele escutou a Josefa dando um grito, assim, um grito de terror. E aí o Geraldo num pulo, largou ali a caneca de café e correu para o quarto para ver o que estava acontecendo. Quando ele chegou no quarto, — pra socorrer a esposa — ele viu que Josefa estava pálida e ela tinha o lenço que ela usava na cabeça pra ir para a roça nas mãos. E aí ele sem saber, sem entender o que tinha acontecido… A Josefa contou pro Geraldo que alguém, assim, — alguém que não existia, mas que ela sentiu tudo — tinha arrancado o lenço da cabeça dela e puxado a saia dela pra baixo.

E o Geraldo não acreditou, né? E ainda reclamou que eles iam perder a hora do serviço e nã nã nã e lá foram eles pra roça. — Que eles trabalhavam. — Para alívio do Geraldo e da Josefa, eles conseguiram chegar no horário, faltando alguns minutos pra começar o trabalho. Só que tinha algo errado, algo estranho… Estava todo mundo parado, ninguém ainda com as enxadas… — Porque você pegava as ferramentas lá, tipo, num galpão, né? — E tinha um burburinho, assim, uma rodinha de funcionários. [efeito sonoro de várias pessoas falando ao mesmo tempo] E aí o que era que tinha acontecido? O capataz não tinha ido trabalhar… Aí o seu Olavo, que era o dono da fazenda, estava organizando pra mandar um outro capataz pra ali, pra substituir esse e o dia a dia da roça ali começou um pouco mais tarde, mas começou. Era um dia de muito sol e, assim, dava umas pancadinhas mínimas de chuva e eles tinham muita terra pra preparar, né? — Os trabalhadores da roça ali que o Geraldo fazia parte, era de uma roça de preparação ainda, não era uma roça já de plantio. Então, eles estavam preparando a terra… — 

E essas pessoas, esses trabalhadores junto com o Geraldo, eles notaram que numa das roças do lado, que já era uma roça de colheita, o boneco, que era tipo assim, o espantalho… — Mas não chegava a ser bem um espantalho daqueles que a gente vê em filme assim, né? — O boneco que eles tinham criado ali pra espantar os pássaros e os pequenos animais, estava com roupas diferentes. [efeito sonoro de tensão] E, assim, como eu disse, não era bem um boneco… Era uma cruz gigante de madeira e, no alto da cruz tinha um chapéu e eles enfiavam sempre uma camisa nas pontas da cruz. — Sabe assim? Pra parecer que era uma pessoa, mas era só tipo um chapéu e uma camisa, assim, como se a pessoa tivesse de braços abertos? — Então não chegava mesmo a ser um espantalho desses elaborados, mas fazia sim ali o papel de espantalho, né? E essa cruz de madeira ela ficava fincada na terra. — Então era isso, a cruz com o chapéu e camisa. Pois bem… — 

As roupas desse dia, desse espantalho, pareciam muito com as roupas do capataz… — Aquele capataz que não tinha aparecido pra trabalhar. — E aí os caras ali na roça começaram a comentar: “Mas por que o capataz vestiria o espantalho com as roupas dele?”. E o espantalho estava com uma camisa que era do capataz que ele não usava pra trabalhar, ele usava pra sair. Então, era uma camisa mais chamativa, vistosa e tal, que era certeza que era do capataz. Aí, de longe, todo mundo viu isso, assim, ficou sem entender nada… O cara não tinha aparecido pra trabalhar e eles seguiram ali o rumo de trabalho até 16 horas, que era o fim do expediente da roça. E aí todo mundo tomou o rumo ali das suas casas… O Geraldo e a Josefa eles resolveram passar numa vendinha ali pra comprar pão e dali eles seguiriam para casa. — E aí, gente… Uma coisa aconteceu… —

Quando eles entraram na vendinha, era a vendinha da dona Mirtes. Enquanto ela botava os pãezinhos ali na sacola, a dona Mirtes disse assim: “Por que o capataz não entrou com vocês? [efeito sonoro de tensão] Ele não vai querer nada?” Daí na hora o casal assustou e falou que não tinha visto o capataz o dia todo, que ele não tinha ido trabalhar… E aí a Mirtes virou para eles, assim, tranquilamente e falou: “Magina, pois vocês estavam vindo de longe e eu vi vocês três vindo juntos… Aí eu me distraí e só vocês dois entraram aqui”. [efeito sonoro de tensão] E aí o Geraldo e a Josefa os dois ficaram em silêncio ali, né? A Mirtes nem se deu conta de nada, eles saíram da venda ali apressados com os pãezinhos… A Josefa fez o caminho até a casa deles chorando… A noite chegou, né? Caiu ali a noite, a Josefa muito abatida ainda, pensando naquele episódio da manhã que tinham arrancado o lenço da cabeça dela e puxado a saia dela pra baixo… E depois aquilo que dona Mirtes falou… 

Ela muito abatida, foi se deitar e o Geraldo ficou acordado, sentado num banco na entrada ali da casa, cortando uns pedaços de fumo. Lá pelas tantas, a Josefa ouviu um grito de horror [efeito sonoro de homem gritando] que vinha do quintal. Quem estava gritando era o próprio Geraldo… Ele gritava e chorava, apavorado. E a Josefa ali, ainda tonta de sono, olhou pela janela de vidro e viu na frente do Geraldo o chapéu e a camisa daquele espantalho, aquele que estava na cruz, sabe? Balançando no ar, como se estivesse vestido numa pessoa que eles não conseguiam ver. Só viam a camisa e o chapéu. A Josefa perdeu os sentidos, desmaiou mesmo… E, quando ela acordou, alguns vizinhos já estavam lá na casa e a polícia também estava na casa. — E aí, gente, o que aconteceu? — Na mão de um policial estava o chapéu e aquela camisa que estava lá no espantalho. A camisa estava ensanguentada… E o Geraldo confessou… O Geraldo tinha matado o capataz.

A Josefa tinha visto tudo, não tinha participado do assassinato, mas ela tinha ajudado a cavar um buraco ali no quintal deles e enterrar, né? Ela ajudou a enterrar o capataz ali no próprio quintal. — E o que tinha acontecido? — Depois daquele dia de serviço que o Geraldo destratou, tirou satisfação com o capataz ali na frente de todo mundo, o capataz foi até a casa deles — do Geraldo e da Josefa — pra dispensar eles do trabalho e falar um monte, humilhou Geraldo e tudo… E aí o Geraldo com muito ódio de toda aquela humilhação, pegou um pedaço de pau, uma madeira e espancou o chefe até a morte. E aí a desgraça já estava feita, né? Eles cavaram um buraco, Geraldo e Josefa, e enterraram o capataz ali no quintal. E, como vingança, o Geraldo tinha ido até a roça de madrugada e vestido o espantalho com as roupas do morto. Ninguém reparou, mas a camisa que estava vestida no espantalho tava toda manchada de sangue. A Josefa só participou da ocultação do cadáver, inclusive o Geraldo disse ter cavado um buraco bem fundo e tal… E um detalhe macabro dessa história aí é que: Quando o Geraldo indicou para a polícia onde estava enterrado o corpo do capataz, aquela cruz lá do espantalho de madeira, uma cruz que não era grande e tal, estava fincada em cima de onde o capataz estava enterrado.

E mais: o corpo do capataz estava quase todo pra fora do buraco… A terra tava toda revirada e o capataz estava, assim, meio contorcido, meio enroscado na cruz pra fora… — Uma parte do corpo dele pra fora do buraco… — Até hoje nessa cidadezinha aí perto de Londrina, que eu não vou citar o nome, óbvio, alguns roceiros dizem já ter visto essa cruz se arrastando sozinha e tal… Esse capataz não era uma boa pessoa, era um cara abusivo, agressivo, que importunava mulheres e que parece que tinha até umas mortes nas costas, enfim, não era uma pessoa boa. E o Geraldo cumpriu pena de oito anos, a Josefa não cumpriu pena… Então essa é a história aí deles, desse cara que voltou acho que pra contar para as pessoas que ele tinha sido morto, né? Pelo Geraldo e pelo Josefa e atormentar os dois aí… Eu achei essa história muito tensa… 

[trilha]

Assinante 1: Olá, Déia, olá, Não Inviabilizers, aqui é a Janaína de Cambé, Paraná. Cambé-Paraná fica vizinha de onde? Londrina… Gente, essa história… Achei bem pesado. Uma situação horrível, né? Chegar a ponto de brigarem, do seu Geraldo assassinar o capataz, né? A dona Josefa ficou desesperada, chorando com toda a situação que aconteceu… Pois esse assassinato tem que chorar mesmo, né? Tem um cadáver no seu quintal e acontecendo essas situações com ela, né? Bem aterrorizante mesmo… Seu Geraldo podia ter conversado antes de chegar a esse ponto com o patrão dele, né? Conversado de uma maneira aí que pudesse parar esses assédios aí pra não chegar onde chegou, né? Um abraço a todos.

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, eu sou Andréia, de São Paulo. E, meu Deus, que reviravolta, que plot twist… Eu acho que ninguém esperava por esse final, né? Que eles tavam sendo atormentados justamente porque foram eles que cometeram esse assassinato. Mas, assim, não sei se todo mundo aqui conhece, mas existe essa lenda que quando a pessoa é muito ruim, a terra rejeita… Nem a terra quer essa pessoa. E, provavelmente, foi isso que aconteceu com ele, né? Mas então é isso, beijão pra todo mundo.

[trilha]

Déia Freitas: Então é isso, comentem lá no nosso grupo do Telegrama… Deus me livre aí… Parece que quando você mata uma pessoa ruim, tudo fica pior, né? Enfim, não era para ter tido um assassinato e tal, mas foi o que aconteceu. Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.