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título: acamada
data de publicação: 19/01/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #acamada
personagens: vânia e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra um Picolé de Limão. — E hoje história revoltante… Já vou avisando aí que, provavelmente, você vai passar raiva. — E hoje eu vou contar pra vocês a história da Vânia. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Vânia ela é professora universitária e ela casou aí com um cara — uma criatura — que também é um professor universitário. E o casamento deles muito bacana, um casamento de cinco, quase seis anos agora e eles ainda não têm filhos, não sabem nem se querem ter ainda, mas tudo bem… — Eles podem pensar nisso um pouco mais pra frente, né? Segundo aí a Vânia. — E esse cara, ele é aquele cara… Sabe professor universitário que é cooperativo com os alunos, que ajuda, que é o professor compreensivo e nã nã nã? Todo mundo ama esse cara. Todo mundo na universidade é apaixonado por esse cara. E ele tem esse discurso do coletivo e de ajudar e nã nã nã… — Enfim, né? — A Vânia sempre muito encantada com isso. E em casa ele sempre foi um cara que dividiu as tarefas… Então, assim, Vânia não tinha do que reclamar.


Até que chegamos a um domingo à noite do mês de abril deste ano. Era um dia que estava, lá na cidade da Vânia, tava chovendo e eles estavam voltando da casa da mãe desse cara… E a Vânia falando pra ele: “Olha, toma cuidado, tá chovendo e tal, né? Vamos mais devagar e nã nã nã”. Ambos de cinto de segurança. Era finalzinho ali de abril e esse cara derrapou… [efeito sonoro de carro freando bruscamente] — Aconteceu um acidente, né, gente? Não foi uma coisa proposital, nada… — Um acidente… Aconteceu um acidente, eles capotaram e foram para o hospital. O cara teve ferimentos leves e a Vânia quebrou a perna direita em quatro lugares. Então ela ficou internada um tempo, teve que fazer cirurgia e o cara sempre ali, do lado dela, né? Teve que fazer cirurgia, botou pino na perna, aquela coisa… Ficou com aquela gaiola… — Eu não sei o nome daquilo em volta da perna e tal… —


Botou aquilo, e aí teria que continuar imobilizada em casa, né? E fazendo ali o acompanhamento pra depois fazer uma fisioterapia. — Quer dizer, um processo longo, né? Isso já era ali maio. — E a Vânia ali precisando de ajuda pra tudo. Então, no começo, esse cara ele foi ok. — Então, se a Vânia precisava de uma água, enfim, ele ajudava ali e dava essa força pra Vânia. — Isso durou, gente, nem uma semana… Porque depois disso esse cara já começou a reclamar que a Vânia não se esforçava. — Gente, ela estava com aquela gaiola na perna, com a perna quebrada em quatro lugares… Não tem como se esforçar. É uma coisa que você não pode se mexer, é até uma recomendação médica que você se mexa o menos possível, né? — Então, ali ele já adiantou que não ia ajudar a Vânia com essa questão… Ela tinha que usar comadre. — Pra vocês verem como ela tava… Ela tinha que usar uma comadre pra fazer xixi, que é aquela, aquele peniquinho de deitado… Você põe deitada ali e faz xixi. —


E ele falou que ele não ia ajudar ela com a comadre, que não ia esvaziar, que não ia ajudar ela em nada… Porque ela achava que ela não estava se esforçando, que ela estava fazendo corpo mole. A Vânia teve que se virar pra contratar uma cuidadora… E à noite… — Ela não tinha como pagar duas cuidadoras, né? Ela pagava uma pra ficar com ela durante o dia e a moça ia embora. E à noite, quando ela precisava fazer um xixi ou alguma coisa que ela não conseguia pegar a comadre, ela chamava a vizinha dela… Com o cara lá no apartamento. — A vizinha até chegou a falar… Porque a vizinha não se importava ir, sabe? De ajudar. Mas ela viu que o cara estava lá, tipo, assistindo TV num dia que ele não estava dando aula, sabe?


E aí ela falou, falou: “Você não tem vergonha, não?”. E aí rolou um estresse pequeno ali entre a vizinha e o cara. E o cara quis dar os motivos dele, porque ele disse que ele está incentivando a Vânia… — Enfim, a vizinha foi para cima do cara e com toda razão, né? — De final de semana, que ela não tinha a cuidadora, ela tinha que depender das amigas, mas nem sempre todo mundo podia ir. Teve dia que ela passou frio, teve dia que ela passou fome… Porque ele realmente não ajudava. Ela chegou a pedir pra vizinha comprar fralda de adulto pra ela, porque aí ela poderia fazer xixi dela ali sem ficar incomodando ninguém. — Então, assim… Humilhação, sabe? Quando você precisa da ajuda do seu companheiro, de seu marido e ele não move uma palha. — E, na universidade, ele com todo aquele discurso de que [efeito de voz grossa] a gente tem que cooperar um com o outro, porque o mundo só vai pra frente assim… Se todo mundo for colaborativo. — Pensa… —


Ela tem vários áudios dele nesse sentido, assim, falando pra ela se virar. Ou ele lá na sala — pra ela não ficar gritando, né? — mandando mensagem pedindo uma água, alguma coisa e ele respondendo pra ela se virar, enfim… Ela tem provas de que ele foi um canalha. Ela foi se recuperando aos poucos, hoje ela ainda precisa de muita fisioterapia, mas ela já está com uma bengala, então ela consegue fazer as coisas e tal. — E agora que vem o que me deu mais ódio… — Quatro meses depois ela vai voltar a dar aulas e esse cara que está na mesma universidade que ela, quer fazer uma homenagem pra ela, dizendo que “ah, que bom que ela voltou”, Tipo “guerreirinha”, sabe? Ele quer fazer uma homenagem pra Vânia na universidade. E a Vânia ela sabe que ela pode ter a carreira dela prejudicada e ela meio que não está nem aí… Ela está querendo fazer uma apresentação no dia dessa homenagem, mostrando quem ele realmente é.


Eu acho que ela não deve fazer isso. Primeiro que ela vai se prejudicar bastante na universidade. Por mais que ela exponha ele, eu acho que tem outras maneiras de expor esse cara, sem fazer isso. E segundo que eu acho que ele pode processar ela, né? Não sei. — Pode? Acho que pode, né? — E eu acho que é pedir o divórcio… E aí, quando as pessoas perguntarem por que você se divorciou desse cara, que é tão bacana, você conta. Conta pra todo mundo, fala: [efeito de voz fina] “Olha aqui, olha aqui as coisas que ele me falava, ó… É por isso que eu separei”. — Eu nem sei se pode fazer isso também… Se alguém aí quiser comentar lá no grupo, e ela pode ou não contar pras pessoas porque ela está se divorciando… Mas acho que pode, né, gente? Você não pode contar o motivo que você está se divorciando? — Então ela está esperando esse dia da homenagem, porque ela queria fazer um PowerPoint com os áudios, com as mensagens e botar também o depoimento da vizinha. [risos] Que a vizinha falou que põe o depoimento… [risos]


E é isso, gente, a Vânia tá querendo jogar tudo no ventilador no dia da homenagem, tipo, pra ser uma coisa assim que vai viralizar na internet… Eu não sei, eu acho que vai dar muito ruim, sabe? Porque você pode ver… Quando tem aí essas exposições de homens, que as mulheres contam as coisas, elas saem mais prejudicadas. Tem que expor? Eu acho que em certos casos tem, mas num caso como esse, ele vai chorar… As pessoas já gostam dele, ele vai ser perdoado e você vai ficar aí com uma anotação aí na sua carreira acadêmica, porque você fez aí o que vão chamar de escândalo, de barraco, etc. Então, eu não sei, eu não faria… Ainda mais que você falou para mim que você tem essa pretensão, né? De crescer lá dentro da universidade e tal… E, de repente, eles resolvem mandar os dois embora. Ah, ele perdeu o emprego? Mas você perdeu também… — Nesse mundo acadêmico um sabe das coisas do outro. —


Pra você arrumar outro vai ser mais difícil que ele. Pode ter certeza… Eu acho que uma coisa você pode fazer, deixa de fazer homenagem e não vai. Não vai, mas esteja na universidade… Pra ele não mentir que você não foi porque você estava com dor, sabe? Fica na sala dos professores, sei lá… E aí vão te chamar e você fala: “Olha, eu estou me divorciando”… — Não é boa essa? Essa foi boa, hein? Fala aí. — Eu acho que é melhor do que expor o cara. Ou será que vão pensar que ele é um coitadinho? Se você ficar na sala dos professores, não, porque quem foi perguntar pra você, você pode falar: “Olha, eu estou me divorciando porque aqui ele é uma coisa e olha aqui como ele é em casa. Então eu não vou nessa homenagem”. — Será que rola, gente, fazer isso? O que vocês acham? — A Vânia quer se vingar… Ela vai se divorciar, mas ela quer se vingar, porque ela foi muito humilhada. Muito humilhada…


E a gente sabe que a maioria dos homens, eles, realmente, quando as mulheres ficam acamadas, — como é o caso da Vânia — ficam doentes, eles vão embora… E se eles não vão embora, eles te ofendem, te xingam… Eles ficam com raiva de ter que cuidar da gente. — A gente sabe disso, eu recebo muita história assim. — A Vânia falou que, inclusive, ele ia xingando ela, reclamando quando ele era obrigado a levar ela na fisioterapia, porque ela não tinha conseguido carona. Porque tem carro de aplicativo que não aceita também você com a perna esticada ali com a gaiola. Então, pra não passar por esse estresse, ela pedia carona, né? E aí foi criada uma rede ali pra ajudar, mas às vezes o cara estava em casa e podia levar ela… E não levava. E, quando era obrigado a levar porque não tinha outra solução, ia reclamando, largava ela lá, às vezes não ia buscar… E com o discursinho aí do cara legal que colabora com todo mundo, que é o bacanão da universidade. — É duro, né? – 

Então, eu queria que vocês ajudassem [risos] a Vânia a minimizar danos, sabe? Por mim, eu acho que ela só se divorcia, deixa ele fazer homenagem, não vai, fica lá na sala dos professores e quem vier perguntar você mostra, fala: “Aqui, ó, eu estava lá de cama, imobilizada, e pedia um copo d’água pra ele, ó… Ele falava pra eu me virar. Eu tive uma infecção urinária porque eu ficava segurando o xixi, porque ele não queria colocar a comadre embaixo do meu quadril e depois tirar e botar embaixo da cama… Que fosse com a urina mesmo, ele não precisava nem jogar no vaso. Ele não queria fazer isso. Teve dia que eu estava com fome e ele não me trouxe nada pra comer e eu não conseguia levantar”. Então, eu falaria, gente… 


[trilha]


Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Camila e eu falo de Betim, Minas Gerais. E, Vânia, eu sei que você passou por momentos péssimos e horríveis durante a sua recuperação, que a vontade é de fazer esse cara pagar por tudo o que ele fez com você, mas nesse momento você tem que ser calma e fria para você não fazer nada que te prejudique. Meu conselho é: Ao procurar um advogado para pedir o seu divórcio, olhe com esse advogado o que você pode fazer que não te prejudique e que você possa expor esse cara de uma forma mais sutil. Eu imagino que contar para as pessoas da faculdade, não aceitar a sua homenagem, expor para um reitor ou para um diretor que teria que aprovar essa homenagem porque você não quer que essa homenagem saia, as pessoas vão comentar sobre isso… Comente com algumas pessoas pessoalmente para que não tenha provas contra você e use todas essas provas que você tem no seu processo de divórcio, porque um bom advogado consegue usar isso a seu favor, talvez até pedir um danos morais. Boa sorte.

Assinante 2: Olá, Não Inviabilizers, oi, Déia, aqui quem fala é Mariana de São Paulo. Vânia, acabei de escutar sua história e meu conselho para você é o seguinte: Não faz esse exposed. Por mais que você queira, eu acho que isso vai te prejudicar. O que eu te aconselharia fazer é entrar em contato com um advogado sem ele saber, mostrar todos esses áudios e mensagens pro advogado, ver como que você pode ter a sua parte no divórcio boa, garantida financeiramente. Tenta tirar as calças dele nesse divórcio, tenta pegar tudo, coloca cláusula de dano moral, não sei se aplica, isso é com o advogado, mas tenta ver como você pode se resguardar o máximo possível com esse advogado e, na hora que ele quiser fazer a homenagem, você faz como a Déia falou, não vai, fica na sala dos professores e manda seu advogado subir no palco pra entregar o processo de divórcio. No meio tempo, você já começa a contar pras pessoas fofoqueiras dentro da universidade o que realmente aconteceu e deixa que a Rádio Peão corra., Beijo e fica bem. 


[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Vânia. Eu acho que você tem que fazer algo que não prejudique a sua carreira, porque esse cara não merece, entendeu? Que respingue algo em você, de toda essa canalhice dele, né? Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.