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título: acidente
data de publicação: 29/09/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #acidente
personagens: carmen

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E cheguei pra mais uma história do nosso quadro menos ouvido, — porque vocês são medrosos — o nosso quadro Luz Acesa. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Carmen. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Carmen se mudou pra São Paulo há mais de trinta anos, e aí todo ano ela voltava de ônibus para o Paraná — pra ficar ali um tempinho com os pais, uma semana ou duas — de férias. E ela sempre ia e voltava de ônibus. Numa dessas viagens, ela já estava voltando do Paraná e, enfim, tinha passado um dia bacana com a família e eles tinham feito um churrasco, então ela estava cansada… E, quando ela entrou no ônibus, ela viu que o ônibus não estava totalmente cheio, mas tinha bastante gente e a poltrona dela era mais lá no fundo, ela foi, sentou, era uma poltrona da janela e, na mesma direção da poltrona dela, só que do lado de lá do corredor, não na janela, mas na poltrona que dava para o corredor, tinha uma criança… Uma menininha aí. — Sei lá, de uns nove anos… — E a menininha estava sozinha. E o que a Carmen pensou? [efeito de voz fina] “Poxa, os pais estão lá pra frente, largaram a criança, a criança vai fazer barulho aqui, eu não vou conseguir dormir… Que inferno que vai ser essa viagem” e nã nã nã.

E ela pensando assim… E a criança deu uma olhadinha pra ela, sorriu [efeito sonoro de criança sorrindo] e continuou ali, sentadinha, né? E quando você vai viajar de ônibus, — se você está me ouvindo e já viajou de ônibus à noite, você sabe — as luzes são apagadas. O motorista vai na frente dirigindo com aquela portinha fechada e atrás você fica ali no escuro pra você poder dormir justamente, né? A viagem da Carmen do Paraná para São Paulo ia durar aproximadamente 7 horas, ela pegou o ônibus das 22 horas, então ela voltaria tranquila, dormindo, assim, sossegada… Em determinado momento ali da viagem, a Carmen se esqueceu completamente da criança e pegou no sono. E ela ficou assim, adormecida, ali das dez até mais ou menos uma hora da manhã. Quando foi ali uma hora da manhã, aquela criança, aquela menininha, começou a cutucar a Carmen e a chamar a Carmen… Não pelo nome, mas [efeito de voz fina] “tia, tia, acorda, conversa comigo, tia. Conversa comigo”.

E a Carmen P da vida, mas ali no ônibus falou: “Ai, meu Deus, como que eu vou perguntar quem é o pai dessa criança aqui no meio de todo mundo? Vai acordar todo mundo, enfim”. E aí ela falou pra menininha assim: “Senta aqui do meu lado, dorme também, vem aqui, dorme com a tia e tal”. E aí a menininha falou: “Não, não, tia… Conversa comigo, conversa comigo”. E, assim, chatinha a menina, sabe? E aí a Carmen com muito sono, muito sono mesmo, trocou meia dúzia de palavras ali com a menina, meio que brava assim, né? Falando: “Onde tá sua mãe? Onde ela tá sentada e nã nã nã?”. De repente… [efeito sonoro de automóvel freando bruscamente e vidro se quebrando] — A Carmen diz que foi tudo muito rápido, assim. — Ela ouviu um barulho como se fosse um… — Ela fala que parecia uma buzina de navio, mas depois ela ficou sabendo que era de um caminhão, mas na hora ela tava sonada, assim, ela achou que ela estava sonhando… —

Um caminhão — o motorista adormeceu ou teve um mal súbito — atravessou o canteiro da estrada e pegou o ônibus. Não de frente, meio que na lateral. Só que nessa, o ônibus caiu de uma ribanceira e foi rodando, gente… Rolando ribanceira abaixo. E a Carmem ela lembra que, assim, ela não estava de cinto… — Porque aquele cintinho… No ônibus tem aquele cintinho que, pô, se capotar ajuda pra caramba, né? Então, coloque aquele cintinho, aquele cintinho que você põe só assim, nas pernas, na cintura, sabe? — Ela não estava com esse cinto… Mas como ela estava acordada, ela conseguiu ir se segurando, — tentando se segurar na poltrona da frente e abraçou essa criança… — E as duas foram rodando junto com o ônibus até parar e tudo ficar escuro. A Carmem diz que, no meio daquela escuridão, ela não ouvia ninguém, nem o barulho do ônibus, da roda do ônibus, nada assim… Era como se não tivesse som nenhum.

E aí, de repente, no meio daquela confusão que ela não sabia se ela estava de cabeça pra baixo, de cabeça pra cima, como ela estava, nada, apareceu um senhor… E esse senhor… A menina estava meio que quase em cima dela, assim, meio de lado, mas estava respirando. Ela deu uma sacodidinha meio que na criança e a menininha acordou. — Só que ela estava, assim, estava meio zonza e tal… — A criança olhou pra esse senhor e voltou a adormecer, assim… E aí esse senhor virou pra Carmen e falou assim: [voz distante e com eco] “Olha, você cuida dela? Eu vou levar os pais dela comigo e eu preciso que você cuide dela”. E aí, na cabeça da Carmen, aquele cara era, sei lá, um socorro ou um carro que parou, alguém que estava ali pra socorrer, né? E aí ela conseguiu falar “cuido” e ficou ali com a menina, e esse foi tipo se afastando, assim, ela não sabia em que parte do ônibus ela estava, não sabia nada… Porque estava tudo muito escuro. 

E aí, depois disso, ela começou a escutar algumas vozes de gente pedindo socorro, [efeito sonoro de pessoas chorando] escutou um barulho que parecia de água, que ela não sabia o que era… E aí muita gente com medo que o ônibus pegasse fogo, né? — Porque tinha essa questão ainda. — E aí surgiu alguém que realmente pegou ela e a menina. Elas tinham capotado e elas ficaram numa parte que tinha uma janela, e aí alguém, por fora, socou aquela janela e tirou as duas por aquela janela do ônibus. E, quando ela saiu pela janela do ônibus — que primeiro ela deu a menininha e depois ela saiu — ela viu aquele senhor com, assim, sei lá, umas dez pessoas… E aí ela pensou: “Nossa, mas ele tá levando muita gente, né? Com ele”. E passou… E aí ela foi socorrida, a criança foi socorrida junto com ela e, daquele ônibus — que tinham 24 pessoas — das 24 pessoas, 6 morreram ali no local e mais algumas ficaram muito mal e depois morreram no hospital. Então, ao todo, foram 11 pessoas faleceram nesse acidente. 

Depois que a Carmem foi socorrida, ela não estava mal, nada, ela só quebrou o pulso, a menininha também só tinha escoriações leves e tal… — Até esse ponto da história, eu achei que a menininha fosse uma assombração, né? Mesmo que do bem, mas uma assombração. Mas a menininha não era, a menininha era uma menininha de carne e osso. — Ela ficou ali num quarto, ela não sabia onde estava a menininha, pediu informações da menininha e aí acabou sabendo que os pais da menininha faleceram naquele acidente e ela estava ali esperando ainda alguém da família dela aparecer, que já estava na metade do caminho, então ia demorar pra alguém do Paraná chegar lá. E aí, nessas de esperar, veio uma senhora que estava chorando muito e tal, e ela era avó dessa criança e ela queria muito falar com a Carmen, porque essa criança falou que foi uma tia lá que me segurou e tal, e aí falaram que tinha sido a Carmen… 

E olha o que essa senhora falou pra Carmen: Que a menininha, assim que ela entrou no ônibus, o avô dela — que já era falecido — mandou ela ir sentar lá pra trás, longe dos pais. O caminhão bateu onde estavam os pais, então provavelmente, se ela estivesse sentadinha ali, ela teria morrido. E, de madrugada, quando ela foi acordar a Carmen, foi o avô dela que mandou. [efeito sonoro de tensão] O avô dela apareceu, ela estava também meio sonada já e o avô apareceu e falou: [voz distante e com eco] “Levanta e vai lá, chama aquela moça, fala pra aquela moça ficar conversando com você”. E a menininha ainda lembrou que, lá no ônibus, ela viu de novo o avô, só que o avô já estava levando os pais dela e algumas outras pessoas embora. Então, desde que ela entrou no ônibus, o avô dela, que já era falecido, que era o esposo dessa senhora que estava falando com a Carmen, estava com a menininha… E, por tabela… — Porque eu não sei se o avô veio pra salvar a Carmen e menininha. — Mas por tabela, se ele veio salvar só a menininha, acabou salvando a Carmen, porque foi a Carmen quem segurou a menina. Eu não estou querendo aqui falar mal [risos] do senhorzinho que veio, mas eu acho que o foco dele ali era a neta, né? A Carmen foi o instrumento, enfim… Ela segurou a menina. Mas eu acho que o foco dele, além de buscar aquelas pessoas que faleceram, era salvar a neta dele ou fazer com que ela não se machucasse, enfim, né? —

E aí a Carmen ficou ali mais um período no hospital, até aparecer alguém da família dela pra libera—la. — Eu não sabia que tinha isso, né? De adulto ser liberado. — Se ela estava só com o pulso quebrado… Mas enfim… E ela não viu a menininha mais, só viu mesmo a avó da menina, mas ela falou que a avó era de carne e osso mesmo, porque a enfermeira também conversou com a avó. — Isso não significa nada, viu, Carmen? — Mas acredito que era sim. E eu o tempo todo achando que a criancinha que era o fantasma da história, mas não, era o avô dela que já, quando ela pisou no ônibus, ele já estava lá pra falar tudo o que ela tinha que fazer. E ela gostava muito do avô… Ela sabia que o avô dela tinha falecido e pra ela não foi um problema encontrar o avô no ônibus e obedecer tudo que ele falou, assim… Ela não pensou em nada, né? Segundo a avó dela, não teve medo e obedeceu o avô.

Então, quando o avô mandou que ela acordasse a Carmen, ela foi lá e acordou e não deixou mais a Carmen dormir. Que doido… Porque se a Carmen tivesse dormido, ela também tinha morrido, né? E ela que segurou a menininha. Então, essa é a história da Carmen, uma história sobrenatural, mas que ela falou que esse senhor que ela viu no ônibus tava como se fosse uma pessoa mesmo. Não tinha nada que, sei lá, que demonstrasse que ele não era vivo, sabe? — Isso que me pega… Porque tem que ter uma luz, um negócio em volta pra gente reconhecer, né? Quando vem, assim, misturado, fica complicado saber quem é quem. Quem é assombração, quem que é vivo, quem quer assaltar a gente, quem quer matar a gente, ou se é só uma assombração que vem de boa… Você não sabe… Se não tem uma luz, uma treva em volta, nada, você não sabe… Não acho legal isso, enfim… —

[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, aqui é a Raquel que fala, de Portugal. E acredito que se a Carmen não tivesse abraçado essa criança, ela teria morrido… Porque o senhorzinho salvou a neta e acabou salvando a Carmem junto. Então, acredito que ela se salvou e, se eu fosse a Carmen eu agradeceria ao mundo espiritual por ter me salvado também. [riso] Agradeceria ao senhorzinho por ter me salvado e também salvado a neta dele. E ainda bem que tudo deu certo. No final já está no meu top 10 de Luz Acesa, porque eu adoro esses espíritos do bem que vem pra ajudar as pessoas e pra salvar as pessoas. E, realmente, as assombrações não vêm com uma sinalização, podia vir, né? Com um sinalzinho: “Sou uma assombração do bem”, “sou uma assombração do mal”. É isso… Beijos. 

Assinante 2: Oi, gente, aqui é a Carolina, moro no Reino Unido. Gente, a história da Carmem… Eu fiquei impressionada, está entre as minhas favoritas do Luz Acesa, viu? Porque é muito surreal. Imagina essa criança sendo guiada pelo avô, assim, desde que entrou no ônibus e tal… E Carmen saindo aí na vantagem, né? Pelo menos se manteve acordada, conseguiu se salvar também. Eu não sou muito de acreditar nessas coisas de espírito e tudo mais, mas histórias assim, principalmente com crianças, sei lá, as vezes eu acho que criança tem uma intuição diferente da nossa, assim, eu fico me questionando se realmente não existe nada, sabe? Ainda mais considerando todos os detalhes dessa história, de como as coisas se encaixam, como que realmente aconteceu. Muito louco, muito louco… E fico pensando em como a Carmem fica lembrando dessa história, né? Beijo, gente… 

[trilha]

Déia Freitas: Então, essa á história da Carmem, comentem lá no nosso grupo do Telegram. Seja gentis com a Carmen e eu volto em breve.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.