título: acompanhante
data de publicação: 12/06/2025
quadro: luz acesa
hashtag: #acompanhante
personagens: júlia, renato e dona helô
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história da Júlia. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Júlia sempre foi uma garota muito pacata, muito tímida, muito na dela, assim… Começou a trabalhar ali com seus 16 anos, depois ela entrou para uma faculdade, cursou, se formou e, quando ela estava ali com seus 26 anos, Júlia foi morar sozinha. Júlia, por ser uma garota muito tímida, muito pacata, nunca gostou muito de balada, essas coisas, mas sempre gostou muito de fazer cursos, então na área dela ali, qualquer curso que surgia, a Júlia estava ali para fazer esse curso. A Júlia começou um curso que seria aí de seis meses e, na frente do lugar onde ela fazia esse curso, tinha uma senhora que vendia cachorro-quente. — A gente vai chamar aqui essa senhora de “Dona Helô”. — A Júlia comia cachorro-quente todo dia ali na barraquinha da Dona Helô, as vezes quando ela chegava, as vezes na hora do intervalo e as vezes ela comprava um cachorro quente no final ali, quando ela saía do curso, pra levar pra casa.
Essa era a vida de Júlia, uma vida muito regradinha, muito certinha, muito tranquila. Até então, Júlia nunca tinha tido nenhuma experiência sobrenatural… Nada. Júlia trabalhava num lugar, como é que eu vou explicar isso? Ela pegava um ônibus fretado e ela ia para um lugar, assim, meio afastado da cidade… Durante esse trajeto, às vezes Júlia se deparava com um ou outro acidente de trânsito. E, numa dessas vezes que Júlia estava voltando do trabalho, um trânsito, ela já preocupada que ela ia perder ali a primeira aula do curso dela e o ônibus ali fretado parado e parecia que ia demorar… Então o motorista abriu a porta para ver se ele ia um pouco ali pra ver o que estava acontecendo e algumas pessoas desceram. Júlia não desceu… Júlia reparou que do lado de fora do ônibus tinha tipo um mato, alguma coisa e tinha alguma coisa no mato olhando, ela falou: “Nossa, será um bicho? Tem um monte de gente aí fora… Que perigo”, mas ela tava meio sonolenta ali e ela não deu muita atenção e voltou a dar uma cochilada, porque era uma oportunidade boa dar uma cochilada no fretado, né?
E aí demorou uns 40 minutos de trânsito a mais, ela perdeu a primeira aula, mas não dava tempo dela comer um cachorro quente já para segunda aula, “Bom, eu como um cachorro quente no intervalo”. Quando deu o intervalo do curso, ela foi até a barraca da Dona Helô para comer esse cachorro—quente. Chegando ali na barraca, Dona Helô olhou para Júlia preocupada… — Elas sempre conversavam, davam risada, Dona Helô uma senhora muito simpática, então todo mundo gostava dela, todo mundo comprava cachorro-quente com ela… — E aí a Júlia falou: “Nossa, Dona Helô, a senhora está com uma cara… Aconteceu alguma coisa?”, e ela: “Não, não, Júlia… Como é que você tá e tal?” e conversou um pouquinho… E a Júlia tinha um amigo no curso ali que a gente vai chamar ele de “Renato”. E às vezes o Renato, que morava mais longe — Renato, um amigo dela, gay — dormia na casa da Júlia para no outro dia no trabalho ir direto, enfim, mais perto… As vezes ele estava muito cansado, enfim…
E, nesse dia, Dona Helô falou para Júlia, falou: “Júlia, hoje o Renato vai dormir na sua casa?” e Júlia falou: “Ah, não sei, ele não me falou nada, mas eu também cheguei atrasada, enfim…”. E nisso chegou o Renato ali, já brincando… Ele brincava e tentava pegar a Dona Helô no colo que ela é baixinha, né? E umas brincadeiras… E ela perguntou, falou: “Renato, hoje você vai dormir na Júlia?”, Renato falou: “Não, tia, nem vim preparado pra isso. Por quê?”, “Você podia terminar na Júlia hoje” e ela estava com uma cara tão preocupada que o Renato olhou para a Júlia, olhou de novo para Dona Helô e ele achou realmente que tinha alguma coisa… Ninguém entendia bem por que Dona Helô estava com aquela cara, mas ele falou: “Tá bom, Dona Helô, se a senhora acha que eu tenho que dormir lá hoje, eu durmo lá hoje”.
Renato não tinha levado nada, ele falou: “Bom, vamos passar numa farmácia pra eu pelo menos comprar uma escova de dente, enfim… Eu vim direto de casa, não estava pensando em ir dormir na sua casa, mas Dona Helô estava com uma cara muito estranha e eu vou sim, vou dormir na sua casa e amanhã de manhã vou direto com essa roupa mesmo”, enfim, ainda brincou, falou: “Eu viro a cueca do avesso e hahaha” e ficaram ali brincando e acabou a aula… Júlia não estava sentindo absolutamente nada de diferente, a não ser a conversa com Dona Helô que foi muito estranha. E aí eles foram ali conversando, eles pegaram um carro de aplicativo e foram para a casa da Júlia. Chegaram na Júlia, a Júlia fez um chá ali pra eles, o Renato foi tomar banho e tal e aí ia pegar um pijama da Júlia emprestado e resolveu lavar a cueca dele no banho para ver se secava até o dia seguinte, [risos] enfim… Vestiu o pijama e ali ficaram brincando, rindo da cueca dele, eles foram vendo onde pendurar para secar mais rápido, né? E aí eles se deram conta que as geladeiras de hoje não têm aquela grade atrás para pendurar roupa… — Só quem viveu sabe… [risos] Você botava uma toalha, uma coisa para secar atrás da geladeira… Era prejudicial para geladeira? Sim. Era muito higiênico? Que podia ter um pó, alguma coisa que pegava na sua roupa? Não era muito higiênico, mas a gente fazia, né? Outra época, outros germes. —
E eles ficaram ali brincando, zoando e era um apartamento de um quarto, tinha um bom sofá—cama na sala e era onde o Renato dormia quando ele dormia na casa da Júlia, no sofá—cama. Então ela arrumou o sofá cama para ele, eles conversaram um pouco e agora era de dormir, que no outro dia os dois trabalhavam cedo. Eles foram dormir ali por volta das onze e meia da noite. Júlia pegou no sono muito rápido e Renato também… Inclusive, Renato roncava um pouco e a Júlia escutou o Renato roncar. Como que era a casa da Júlia? Sala e cozinha, um corredor onde tem o banheiro e no final do corredor um quarto, de frente para esse corredor. E ela tem um abajur no corredor, num móvel no corredor… — Fico cismada? Sim, porque também tenho um abajur no corredor. Só que o dela, a luz daquele corredor acende quando você passa… É uma luz com sensor de movimento que ela pôs no abajur, enfim, um abajur com sensor.
Por que ela fez isso? Porque a kitnet dela no corredor não tem uma lâmpada, não tem onde acender a luz. — Então ela pôs esse interruptor que quando você passar, acende. — Quando foi mais ou menos umas duas e pouco da manhã, ela escutou barulhos na cozinha, que era junto com a sala e barulhos, assim, de gente vasculhando as coisas. Ela pensou: “Meu Deus, Renato?”, ela achou estranho, mas o Renato estava com ela… Então assim, um ladrão? Dificilmente, o Renato sempre muito escandaloso, teria gritado… Julia desceu da cama, colocou o chinelo e se virou de frente para o corredor…
Quando ela se virou de frente para o corredor, ela escutou um barulho de quem vem correndo e a luz automática do corredor acendeu e ela viu seu amigo Renato de quatro, mas daquele jeito que você fica com a perna esticada… — Então, pensa: As pernas esticadas e as mãos no chão, precisa ter uma boa flexibilidade, né? [risos] Se sou eu já fico meio arqueada, ia ficar horrível… Mas ele estava muito esticado, com as mãos e os pés no chão, não os joelhos, as mãos e os pés no chão… — Ele estava já se movimentando perto daquela lâmpada do corredor e, assim que a luz automática ali acendeu, ele veio andando, meio correndo pra cima da Júlia. A Júlia não teve tempo de gritar, Renato derrubou a Júlia no chão e ficou rosnando… — Julia no chão, ele daquele jeito, com os pés e as mãos no chão, rosnando… — Ele rosnava tanto que ele babava em cima da Julia e a Julia de olho fechado, sentindo só que estava caindo nela alguma água, algum líquido… — Depois ela viu que era baba do seu amigo ali rosnando. — E ela tinha que sair dali, porque o Renato não estava tocando nela, derrubou ela no chão e ficou em cima, com as pernas abertas com ela no meio, mas ele estava em pé, então ele não encostava nela e os braços também em volta da cabeça dela, mas sem encostar nela e babando… E aí ela abriu o olho e ela percebeu que, ao mesmo tempo que tinha uma cara de ódio no Renato, tinha também uma cara de desespero.
E a Júlia conseguiu se desvencilhar dali do Renato e correr e fechar a porta do banheiro. Ela escutou o Renato rosnar mais uma meia hora e andar daquele jeito pela casa e ela chorando no banheiro. E depois, de repente, silêncio… Um silêncio. Júlia foi tomando coragem e, quando ela saiu do banheiro, o Renato estava dormindo normal no sofá—cama. E Júlia ficou na dúvida se quem veio pra cima dela foi o Renato mesmo, porque ele estava roncando, dormindo profundamente… Por via das dúvidas, a Júlia entrou no quarto e trancou a porta do quarto. De manhã, Renato estranhou que a porta do quarto estava fechada… E aí a Júlia também levantou e ela não tinha nem coragem de contar pra ele o que tinha acontecido e aí o Renato falou pra ela que tinha dormido muito pesado, mas ao mesmo tempo ele tinha tido muito pesadelos com uma criatura que ele não conseguia ver muito bem, mas que ele sabia que era um demônio… Que ele estava se sentindo esquisito, enfim…
Julia também muito cabreira, já se arrumou rápido ali e eles saíram para trabalhar, cada um foi para um lado… Júlia passou aquele dia trabalhando, assim, muito preocupada e sem entender o que tinha acontecido, porque não tinha nenhum resquício no Renato de que ele pudesse fazer qualquer coisa com ela, atacar a Júlia, enfim, nada nesse sentido.As horas foram passando, ela meio que esqueceu e trocou mensagens ali com o Renato, perguntou se ele estava bem, ele falou que ele estava com muita dor de cabeça, muito cansado, parecia que ele tinha bebido muito no dia anterior e e estava com uma mega —ressaca. Conversaram ali mais um pouco por rede social mesmo e foram se encontrar no curso. Dessa vez Julia chegou ali um pouco mais cedo e falou: “Bom, vou comer o meu cachorro—quente antes de ir pra aula”. E aí ela foi ali na barraca de Dona Helô e Dona Helô começou a perguntar: E aí, como é que foi a sua noite? Foi tudo bem?” e a Júlia inicialmente falou: “Foi, foi tudo bem”, mas assim, estranha…
E Dona Helô olhando para ela assim de uma maneira mais analisando, sabe? “Quer saber? Eu vou contar para Dona Helô” e Júlia contou para Dona Helô o que tinha acontecido… E Dona Helô falou: “É, eu sabia… Eu sabia que alguma coisa ia acontecer”. E aí o Renato chegou e normalmente eles comiam ali o cachorro—quente, do lado tinha uma barraquinha de bebidas, então tinha refrigerante, cerveja, tinha tudo ali e assim que Dona Helô viu o Renato, ela falou para o Renato: “Renato, não bebe… E quando terminar a aula você vem aqui”.— Porque o Renato às vezes tomava uma cerveja… Era uma quinta—feira, eles não tinham esse curso de sexta, mas de sábado de manhã eles estudavam… Que horrível esse curso também, né? Melhor sexta do que sábado de manhã, né? — O Renato que já estava com muita dor de cabeça, muito cansado, ele falou: “Eu nem ia beber, não tô me sentindo bem e tal”. E aí eles tiveram a aula, meio que o Renato que sentou longe da Júlia, Júlia não entendeu muito bem porque e aí depois que acabou a aula, ele nem esperou a Júlia para sair junto e foi lá na Dona Helô.
Dona Helô já tinha fechado a barraca dela, coisa que era rara, porque ela vendia os cachorros—quentes também para a galera da saída… E ela tinha uma Kombi que ficava ali no estacionamento do lado do curso. E aí ela falou: “Renato, vem comigo”, o Renato foi com ela até a Kombi, ela pegou — ele não sabe se era um giz — um negócio branco, falou pra ele ficar em pé ali, de frente pra ela. Ela desenhou dele em volta dos pés dele no chão, como se fosse uma continuidade, subiu com aquilo, fazendo uma volta, sem riscar a calça dele, nada, mas como se tivesse desenhando em volta da calça dele toda de uma perna, depois fez em volta da cintura, braço, cabeça, desceu outro braço, desceu outra perna e voltou e bateu aquele giz no chão e falou: “Agora você pode ir… E não olha para trás, vai embora”. E aí o Renato foi embora, ele não olhou para trás, ele sabe o que ela fez ali, quanto tempo ela ficou ali, mas depois que ela fez isso, aí sim ele mandou mensagem para Júlia, agora já normal, do jeito que ele era felizinho e tal, e contou para a Júlia o que aconteceu.
E aí a Júlia contou para ele o que tinha acontecido a noite e ele ficou bem assustado. No dia seguinte não tinha aula e Dona Helô não ia de sábado de manhã, então agora eles só iam ver a Dona Helô terça, que o curso era terça, quarta e quinta. Quando foi na terça —feira, eles foram falar com a Dona Helô, e aí a Dona Helô contou para eles o que ela viu… — E até hoje eles não sabem que religião que ela é, o que ela faz, porque ela foi muito poucas palavras, sabe? — Quando a Júlia chegou aqui naquele dia, eu vi que ela não estava sozinha, que ela estava acompanhada e que não sei onde, de onde ela pegou isso, que ela trouxe” — Júlia acha que foi daquele acidente e daqueles olhos que ela viu no meio do mato — “Eu não sei de onde que ela trouxe aquilo, mas eu sabia que ela indo para casa sozinha com aquilo podia ser fatal”. — A palavra que dona Helô usou foi “fatal”. Fatal para mim é morte, né? — E aí ela botou o coitado do Renato [risos] no meio.
“Eu me surpreendi, porque eu achei que isso ia continuar com a Júlia, mas quando vocês chegaram aqui, eu vi que estava com o Renato. Então o que eu ia fazer com a Júlia e eu não pude fazer naquele dia que eu vi com a Júlia, porque eu tinha bebido uma cerveja, então eu não podia fazer… E aí aquele dia eu vim preparada, porque eu sabia que aquilo vinha com a Júlia, mas quando eu vi a Júlia, não estava com a Júlia, estava com o Renato”. E ela não contou para eles, então não sabe se era um demônio, se era um espírito… Ela só disse que ela tirou e amarrou: “Eu tirei e amarrei… E hoje por onde ele passar vai ser mais fácil de ver, porque vão escutar o barulho das correntes”. — Então ele está todo amarrado, seja lá o que for isso, Dona Helô prendeu ele com correntes… E não ficou pior agora com correntes? Ficou mais assustador, Dona Helô.
E aí você faz o quê? Você vê um acidente e então é melhor você não olhar pra lugar nenhum? Porque se você cruzar o olho com qualquer coisa que tenha um olho acabou pra você… Agora a Júlia acha que não era espírito de quem estava lá morto, sabe? Era alguma coisa pior, assim, era alguma coisa do mal. Não era de quem estava lá morto… Então, o que vocês acham?
[trilha]Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers. Márcia de São Paulo aqui. Querida, Júlia, que livramento, menina… Seja lá o que for, isso que a Dona Helô ajudou a retirar era realmente assustador. Me lembrou aquela história da Legião que a Déia contou, sabe? Eu espero que você fique bem, seu amigo também e, olha, muita fé na Dona Helô, hein? Poderosa. Beijo.
Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, aqui quem fala é a Mara de Campinas. Gente, eu fiquei extremamente tensa quando o Ricardo ficou em cima da Júlia… Fiquei pensando: “Meu Deus, ele vai atacar”, mas acho que também alguma força interior, né? Do laço que os dois tinham não deixou aí essa criatura ou entidade, sei lá, fazer algo com a Júlia, né? Dona Helô desde sempre muito certa de ter levado o Ricardo pra proteger ela… Que bom que no final deu tudo certo, né? Beijo grande.
[trilha]Déia Freitas: Essa é a história da Júlia, comentem lá no nosso grupo de Telegram. — Deus me livre… — Dona Helô, com corrente ficou bem pior… Sejam gentis com a Júlia. Um beijo e eu volto em breve.
[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]