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título: acordo
data de publicação: 16/07/2021
quadro: amor nas redes
hashtag: #acordo
personagens: sueli e joão

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais uma história e hoje Amor nas Redes. Hoje eu vou contar pra vocês a história da Sueli e do João. Eles estão casados aí há mais de trinta anos, e é uma história diferentona também. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Eu já vou logo começar falando, porque eu sempre falo, que relacionamentos são arranjos, né? São arranjos, são acordos e se tá bom pra todo mundo, a gente não tem o que falar, né? — Se tá bom pra eles, tá bom pra mim, é assim que eu penso sempre. — E no caso da Sueli, algumas pessoas podem estranhar o relacionamento dela com o João. A Sueli começou a namorar muito cedo, não com o João, ela teve outros namorados e começou ali a vida dela sexual também cedo. Então ela experimentou tudo o que ela tinha que experimentar, ela alcançou o orgasmo sim… — Eu já tô falando isso agora aqui no começo porque muita gente vai poder falar: “Ah, é porque ela ainda não conheceu, nã nã nã”, não é o caso. — A Sueli é uma pessoa que ela não gosta de sexo — Não gosta. — e existem pessoas que são assim e tá tudo bem, mesmo. E no caso da Sueli ela não gosta de sexo, nunca gostou muito de sexo, o João sabia disso e eles casaram. Eles tiveram três filhos e eles fizeram um arranjo. — Qual era o arranjo? —

O João podia transar com quem ele quisesse, porque a Sueli não queria transar e os dois num relacionamento muito bom, muita parceria, muita viagem, muito companheirismo, muita risada, muita brincadeira, é assim até hoje. Só que a Sueli não gosta de sexo, não faz questão e o João gosta, e aí ela deixou o João livre nessa questão do sexo, ele podia transar com quem ele quisesse, não era um problema pra Sueli. Só que o João, por outro lado, ele fez o acordo dele com ele, como ele ama a Sueli ele não queria ter relacionamentos assim, paralelos, então toda vez que o João transou aí pela vida nesses trinta anos, ele resolveu que teria que ser com uma profissional do sexo, que aí ele remunerava, né? Ele pagava ali pelo sexo que ele teve e não tinha vínculo, então esse foi o acordo deles, gente, isso é um acordo deles e que funciona pra eles e que tá tudo certo.

E um casamento ótimo, vindo ótimo, tudo bem. Até que num vacilo aí do João uma moça que ele saía sempre e que ele sempre remunerava, ficou grávida. — A moça ficou grávida. — A moça teve o bebê. E aí assim, ela tinha alguns possíveis pais, né? Então aí galera fez o DNA e tal e o bebezinho realmente era do João. E aí essa moça falou: “Bom, no meu modo de vida, no que eu quero pra minha vida agora…” — Uma moça nova.. — “Eu não quero um bebe. Então João, você quer o bebê? Se você não quiser o bebê, eu vou botar pra adoção”. O João já com a Sueli e três filhos criados já, e assim, — Netos — eles já têm netos… Aí o João falou: “Meu Deus do céu, é um bebezinho sozinho, eu não vou conseguir”, e a Sueli já estava sabendo de tudo, sabia da gravidez e a Sueli muito esclarecida, faz terapia, então aquele bebê também não era uma questão da Sueli, era uma questão do João que ele ia resolver com a moça. Só que, a partir do momento que a moça falou que ela não queria o bebê, o João falou: “Bom, é meu filho. Então da aqui meu filho”, só que esse “da aqui meu filho” ele mora com a Sueli, né? Então Sueli teria que aceitar o bebezinho também, porque ia acabar sobrando mais pra Sueli. 

E aí a Sueli ficou meio puta ali, porque assim, nessa altura do campeonato ela não queria um bebê, voltar a cuidar de criança, tipo, até os netos dela já estavam um pouquinho maiores assim, né? E não era isso que ela queria mesmo. Aí eles tiveram ali uma tretazinha em relação a isso, mas a questão era: o bebezinho é do João, o João tinha que ver ali o que ele ia fazer. E aí ele trouxe pra casa [efeito sonoro de bebê chorando] e aí aquela coisa, né? Bebezinho é bebezinho. E aí Sueli começou ali a cuidar do bebê, a moça veio algumas vezes ver o bebê, mas assim, ela vinha e ela não queria, ela assim, meio distante assim, e o João e ela resolveram que eles não teriam mais esse acordo sexual entre ele e a mãe do bebezinho, porque mudou a relação, né? E aí a Sueli começou a cuidar desse bebezinho, se apegou a esse bebezinho. Bebezinho está com dois anos agora. — E aí é que tá. —

O João, ele teve Covid e ele ficou mal, bem mal, quase foi. Quando isso aconteceu, além do medo de perder o João, a Sueli ficou pensando que, assim, formalmente ela não é nada do bebezinho. — Nada de bebezinho… — Então se o João tivesse morrido de Covid, ela ia estar com um bebê ali que era do João, mas não era nada dela e a moça, se a moça quisesse, podia pegar de volta, enfim… — Mas a moça não quer. —E a moça também acompanhou essa história da Covid do João, e aí a moça falou pra Sueli, falou: “Olha, você não quer ver na justiça direitinho como que faz pra você ficar com o bebê?”, e aí a Sueli ficou com isso na cabeça, aí agora o João se recuperou, ele é o pai que tá na certidão do bebezinho, e a moça lá é a mãe. E agora que ele está recuperado a moça falou de novo pra ela, porque aí depois que ele recuperou, a Sueli meio que deixou essa história de lado, mas a moça falou de novo pra ela, falou: “Você não quer ver na justiça direitinho pra você ficar com o bebezinho?”

E aí agora a Sueli tem essa dúvida, ela ama muito o bebezinho, ela quer fazer isso, mas ela não sabe se é certo, se essa mãe depois não vai se arrepender… — Eu não sei como funciona isso juridicamente assim, se é certo ela fazer isso, se a moça não tá… — Porque a moça é prostituta hoje, amanhã ela pode, não ser mais e querer ficar com o bebê, e se ela vai tá tirando alguma coisa da moça formalizando essa adoção, né? Eu vou dar a minha opinião de pessoa que é neurótica de fazer tudo certinho, eu acho que você devia fazer a adoção do bebezinho. Você não precisa esconder do bebezinho quem é a mãe dele biológica… — Nem sei se é só esse termo, mas tipo… — Ou sei lá, o bebezinho vai ter duas mães, o casamento de vocês aí, o seu casamento com o João já é diferente, essa relação também de mãe pode ser diferente, pode ter duas mães, né? Você pode deixar isso aberto, mas eu acho que tem que formalizar. — Por que tem que formalizar? — Porque se o João empacota… — Você é só a babá do bebê. — Hoje você é só a babá do bebê, né? — Do bebezinho — E você formalizando, você vai ser a mãe do bebezinho, vai poder dar um suporte maior e vai poder também deixar a outra mãe do bebezinho ter acesso ao bebezinho sempre que ela quiser e vai crescendo o bebezinho, já vai crescendo sabendo dessa dinâmica, porque, gente, as crianças elas entendem… — Elas entendem, tipo… — Não minta pras crianças, elas entendem, conversa com as crianças, “Ah, tem dois, tem três anos” fala de um jeito no vocabulário e num entendimento de uma criança de três anos, mas fale, porque elas entendem sim. 

E ela vai crescer melhor, vai crescer mais saudável sabendo que ela tem essa outra dinâmica, né? E que ela não vai perder ali o amor das duas mães e que ela tem um pai também. — É a minha opinião, né, Sueli? — Já que você passou por esse medo quando o João ficou doente e ficou bem doente, eu acho que seria bom formalizar, né? E se a mãe, — Isso nem partiu de vocês — se a mãe do bebezinho falou: “Olha, vamos formalizar, é melhor”, porque ela deve ter percebido isso também, né? Que depois, se o João tivesse morrido ia ser mais difícil, então, gente, faz. Vocês têm dinheiro pra fazer, já faz, já pega um advogado aí, eu acho que é vara de família, essas coisas, não sei, é o que eu penso. Então eu acho que, sei lá, vocês têm tudo pra deixar mais legalzinha essa relação jurídica e eu gosto de ter as relações jurídicas legaizinhas. Pra vocês terem uma ideia, eu sou filha única, sou órfã, se eu morrer amanhã, o que tiver na minha conta bancária não vai pra ninguém se eu não tiver um testamento. — Então eu, há muitos anos eu tenho um testamento que beneficia minha prima Janaína, se eu morrer hoje, tudo que eu tenho, o pouco que eu tenho é da Janaína, porque se não ia ficar pra ninguém, entendeu? Se eu falasse “Ah não, não vou ver isso agora”, eu tenho um testamento… Quando o pai da Janaína morreu o que a Janaína falou? “Agora eu quero fazer um testamento também”, porque a Janaína é a mesma coisa, não tem pai, não tem mãe e é filha única, se ela morrer fica pro vento, né? E aí ela fez um testamento onde eu sou a beneficiária também, então… Sabe? 

Deixa jurídico, gente, das coisinhas de vocês, sabe? “Minhas coisinhas jurídicas”? Deixa as coisinhas jurídicas legaizinhas assim, belezinhas, porque morrer todo mundo vai. Quando? A gente não sabe, eu posso morrer amanhã, posso morrer daqui trinta, quarenta anos, mas a gente não sabe. Então se você pode arrumar suas coisas legalmente ali, arruma. Eu tenho plano funerário, sei lá, desde que eu tinha nove anos, porque o pobre precisa organizar até a morte, porque se não chega lá no dia você não tem o do caixão… — Não tem. — Essa é a real. Então, gente… E é o que eu falo pra você, Sueli, se organiza. A mãe do bebezinho já pediu isso pra você, você quer, você tá cuidando do bebezinho, você não queria, mas aí pegou o bebezinho e… Eu faria a mesma coisa, ia falar: “Ah, não quero bebezinho”, mas a partir do momento que eu peguei o bebezinho, falar: “Gente, não vou aguentar, eu quero o bebezinho”. Então formalizar, deixa tudo belezinha, sabe? Pra não ter dor de cabeça, é a minha opinião. Então vamos ver a opinião da galera lá do nosso grupo do Telegram. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Sueli, meu nome é Júlia e eu concordo que você deveria adotar esse bebezinho sim, essa criança, né? Podendo falar quem é a mãe biológica. É uma coisa que às vezes a gente acha que a criança vai achar muito confusa tal, mas a gente começa a ficar mais confuso quando a gente é um pouco mais velho. Pra crianças, às vezes, se você naturaliza isso, se você mostra que isso é uma coisa natural, a criança vai entender, às vezes a gente acha que não, mas elas entendem muito melhor do que muito adulto. E por questões mais práticas também é ótimo, pra ter um convênio pra, enfim, escola, essas coisas assim, né? Então, concordo com a Déia, eu acho que você deveria adotar sim essa criança que você já ama tanto. Um beijo. 

Assinante 2: Aqui é a Débora de Campinas, e essa história da Sueli ela pode ser resolvida de três formas diferentes. A primeira é a Sueli receber a tutela da criança, em que a mãe abre mão da tutela da criança, e a Sueli assume a tutela dela, da criança até os dezoito anos e a mãe continua com o nome da certidão. A segunda é a mãe abrir totalmente mão da criança e o nome dela ser removido da certidão, e a Sueli então adotar essa criança. E a terceira é a Sueli adotar essa criança e o nome dela ser inserido na certidão de nascimento e a criança ter então o nome das duas mães na certidão. Por que que é necessário resolver essa situação? Por questões legais, por exemplo, se um dia precisar ser tomada uma decisão médica a respeito dessa criança, a Sueli, por enquanto, não pode tomar nenhuma decisão quanto a isso, porque ela não é responsável legal em momento algum por essa criança. Então Sueli vai atrás, resolve sim, porque é a melhor coisa a fazer. 

Déia Freitas: Então, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.