Skip to main content

título: adotada
data de publicação: 05/10/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #adotada
personagens: manuela, dona alda e dona ivoneide

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei aqui pra história da Manuela, da Dona Alda e da Dona Ivoneide. Então vamos lá.

[trilha]

Manuela ano retrasado, ela já estava com vinte e quatro pra vinte e cinco anos, ela descobriu que ela foi adotada, era uma coisa que a mãe dela, a Dona Alda não quis contar quando ela era menor. Então assim, foi um choque muito grande porque ela nem imaginava e ela acabou descobrindo numa briga de família, numa festa lá, o povo bebeu e aí alguém acabou soltando essa contando pra ela. Então, a primeira coisa foi que ela ficou muito magoada, com razão, que tipo toda a família sabia e ela não, e ela não consegue entender como isso não vazou por tantos anos, porque ela foi adotada bebê, então, sei lá, ela podia ter tido essa informação antes, né?

E aí a cabeça dela deu aquela girada, tipo “de onde eu vim? quem são meus pais?”, apesar dela considerar Dona Alda como mãe, e o pai que tinha morrido como pai mesmo, mas ela queria ter esse histórico biológico dela, direito que ela tem, e aí ela foi conversar com a Dona Alda sobre isso. E a Dona Alda explicou que tinha sido uma mulher que tinha dado ela, porque não conseguia criar, e aí ela não tinha contato com a mulher mais, mas era fácil de se localizar, né? Que era a Dona Ivoneide e, que se ela quisesse, elas podiam tentar localizar a Dona Ivoneide e estabelecer esse contato. E, assim a Manuela quis… Quis conhecer a mãe biológica. Aí demorou um tempo até achar, acharam, foi tudo muito intenso, muita emoção.

Ela descobriu que ela tinha mais seis irmãos e esses seis irmãos também tinham outras famílias, tinham sido dados também pela Dona Ivoneide. Dona Ivoneide quando mais nova tinha sido muito pobre e agora ela estava casada, estava melhor de vida, era só ela e o companheiro dela e, assim, estabeleceram um contato. E estava tudo caminhando, né? Muita terapia, porque precisa e a Dona Ivoneide tratava ela com carinho, tudo… Até que um dia, [risos] a Dona Ivoneide pediu um favor pra ela, pediu pra ela tirar um jogo de panela no cartão de crédito. E assim, ela já estava chamando a Dona Ivoneide de mãe, então ela chamava Dona Alda e Dona Ivoneide de mãe. Aí ela falou: “Bom, como é que a senhora quer fazer, né? A gente vai na loja, a senhora escolhe?”, aí a Dona Ivoneide falou: “Não, pode comprar pela internet”, a Dona Ivoneide sabia mexer na internet, falou: “Ah, eu te mando o link e você compra pra mim, depois eu te dou o dinheiro” e assim foi o combinado, e na cabeça da Manuela ela não ia cobrar as panelas, ia dar de presente pra mãe, né?

Aí no link que a Dona Ivoneide mandou era uma loja que a Manuela não tinha cadastro ainda e, assim, poxa, mãe dela… — Mas uma mãe que ela tinha acabado de conhecer, né? — Ela não tinha cadastro e a Dona Ivoneide falou: “Olha, eu tenho o meu cadastro e tô aqui com ele aberto, se você quiser eu compro aqui no meu cadastro e tudo bem, né? Depois eu te pago. Já vejo aqui em quantas parcelas faz, porque aí eu posso parcelar”. — E aí, gente… — Manuela fez uma coisa que ela jamais deveria ter feito, né? Ela passou todos os dados dela do cartão, então quer dizer, o número do cartão, o nome dela, como estava escrito no cartão, a data de validade e aquele código atrás, então quer dizer, passou tudo pra mãe dela. E a mãe dela fez a compra, deu ali um mês, ela foi dar pra Manuela a parcela. A primeira parcela e a Manuela falou que era presente, que ela podia ficar com as panelas, não precisava pagar e aí a mãe agradeceu felizinha e nã nã nã, tudo certo. [riso irônico]

Na fatura seguinte tinha uma prestação, tipo… — Vai, não vou falar o nome da loja, mas tipo, Casas Pônei. — Era uma de doze de quatrocentos e poucos reais, falou: “Gente, quatrocentos e poucos reais? Doze?”, estava dando tipo, cinco mil reais de parcela, né? No total, quatrocentos e pouco. Ela falou: “Gente, eu não comprei nada, eu não comprei nada”, aí ligou na loja — E, assim, gente, não passou pela cabeça dela… — Ligou no cartão primeiro, o cartão falou: “Ó, você tem que ver na loja, mas eu já vou marcar aqui como fraude, não sei o que”, ligou na loja, a loja deu o endereço de onde tinha enviado as coisas e aí ela caiu dura, porque era o endereço da mãe dela, da mãe biológica.

A mãe biológica dela comprou um jogo de cozinha e uma máquina de lavar no cartão da Manuela sem nem perguntar, sem nada. Aí Manuela cancelou aquele cartão, perguntou se tinha mais compras, né? Não tinha, ela fez só essa compra, mas de cinco pau, né? [riso] E aí a Manuela foi questionar a mãe, falou: “Mãe, tem uma…”, tudo isso sem contar pra Dona Alda, porque senão Dona Alda ia surtar. E aí ela falou: “Olha, tem aqui uma compra, você não falou comigo, você usou o meu cartão”, gente, a mãe dela biológica surtou, aí falou pra ela assim, que ela devia agradecer muito a vida que ela proporcionou, porque se ela não tivesse dado a Manuela, a Manuela ia estar na miséria, que a Manuela agora estava bem de vida por que a Manuela não podia dar isso pra ela… Tipo, fez um discurso que assim, gente, sem a menor condição.

E a Manuela ficou chocada, porque ela percebeu que a mãe dela falou tanta coisa, tanta coisa, tipo, falando que ela tinha obrigação agora de sustentar a mãe dela biológica, né? Mas assim, sem amor nenhum, muito dura nas palavras, muito sem coração, sabe? E aí a Manuela ficou em choque, também reagiu e falou: “Você vai me pagar essas parcelas, eu não vou pagar, eu quero o dinheiro”, aí o marido que não é o pai biológico da Manuela, mas é o marido da Dona Ivoneide entrou no meio, aquelas brigaiada. E aí agora ela tá rompida com a mãe, a mãe não pagou as parcelas, já tá tipo na quarta parcela e a mãe fica agora atormentando os familiares da Manuela pra falar que a Manuela não gosta dela, tá renegando a própria mãe, fazendo uma puta chantagem, sabe? 

E a Manuela tá sem saber como reagir, ela faz terapia, tudo, mas ela tá meio perdidona assim, querendo ouvir vocês, querendo, sei lá, um conselho, né? De como lidar com isso, com essa nova família e que já vem assim, meio que cheio de mutreta, né? Meio picareta essa mãe, falei pra ela. Ela me contou mais algumas coisas que eu não vou falar aqui, mas não é porque é mãe que tem caráter, né? Às vezes não tem. E aí eu falei pra ela: “Você tem que levar isso pra terapia também, que nem todas as pessoas são pessoas boas só porque são nossos parentes, né?” Então, além de toda descoberta, de tudo que ela tá passando já um tempo, de saber dos irmãos, tudo, tem isso da mãe dela que agora tá atrás dela… Quer tipo, contato, e não só contato, ela quer… Como se diz? Ser amparada financeiramente pela Manuela porque ela viu que a Manuela tá melhor que ela de vida. 

E nem é tanto assim, sabe? A Manuela trabalha, Dona Alda que é a mãe dela trabalha, então… Ai, gente, complicado, né? Deixa lá uma palavra, um conselho, alguma coisa pra Manuela pra ela lidar aí com essa mãe dela que adora fazer um crediário [risos] em nome dos outros, e que não vai pagar não, não vai pagar. Em relação a isso, acho que a Manuela deve até esquecer porque ela não vai pagar, primeiro que ela nem tem condição, nem tem condição, tá lá com a máquina de lavar nova, tá lá com a cozinha instalada e, se deixasse o cartão ainda, se não tivesse bloqueado, capaz de mobiliar a casa toda, né? Então, [risos] gente, dá aí uma força pra Manuela e eu já volto com mais história, um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.