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título: afogada
data de publicação: 07/10/2024
quadro: luz acesa
hashtag: #afogada
personagens: janice, mirela e dona rosa

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história da Janice. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]

Janice, quando ela tinha seus 28 anos, ela estava num bar, num barzinho com as amigas e ela conheceu um cara. Cara mega interessante, assim, bem do jeito que a Janice gosta, eles trocaram olhares ali, ele chegou nela, conversaram e acabaram dando uns beijos ali naquela noite e trocando o telefone. E quando a Janice tava saindo daquele bar, ela teve a impressão de ter visto esse cara que ela deu uns beijos — que eles trocaram contato e tal — com uma outra garota. Sabe quando você está conversando numa roda e tem uma moça te abraçando no cangote? Janice viu, ficou meio bolada, mas falou: “Bom, tem amiga que é assim, né? Chega, dá aquele abraço assim por trás, pega no pescoço, chacoalha” e é amizade… — Tem gente que tem essa amizade mais interativa, com muito toque, muito abraço. Não é muito a minha vibe, mas existe. — “Pode ser uma amiga, mas também só dei uns beijos… Vamos ver o que rola”. 

No dia seguinte, esse cara mandou uma mensagem para Janice e ela ficou muito feliz assim, porque ele era gato, era do jeito que ela gostava e tal e eles começaram a conversar e resolveram marcar aí pra tomar um chopp. — Agora só os dois, porque ele tava de turma e ela também estava de turma no dia que eles se conheceram. — Marcaram esse choppinho e saíram pra conversar, Janice: “Se esquentar o clima estou preparada, mas vamos ver”. E aí foram, tomaram um chopp, conversaram bastante e eles tinham muito a ver assim, um com o outro… E dali eles foram para um motel e quando eles estavam lá no motel, o cara tava deitado, a Janice estava sentada sobre ele e, na parede — tanto na parede onde Janice estava de frente —, que seria a cabeceira da cama quanto no teto, tinha espelho e Janice lá, cavalgando, de repente, ela abre o olho de relance, olha para frente, tem um espelho e ela vê pelo espelho uma moça atrás dela. [efeito sonoro de suspense] Parada lá no pé da cama. 

Um susto danado, Janice saiu de cima do cara e virou: “Meu Deus, entrou no quarto” e não tinha ninguém. A moça ela tinha um cabelo que não chegava a ser ruivo, mas era um castanho avermelhado, assim, muito marcante… E era a mesma moça que ela viu aquele dia no bar agarrada no cara. E a Janice assustou e ele falou: “O que foi, o que foi?” e ela falou: “Não, nada não, me deu uma tontura”, e aí eles continuaram ali… Agora ele por cima e tal e ela não conseguiu mais se concentrar, enfim, falou pra ele: “Vamos embora e tal” e foram embora. Só que ao mesmo tempo que ela se achava mais apaixonada por ele, tinha alguma coisa que dava medo na Janice e ela não sabia o que era. Eles saíram mais umas quatro vezes e estava virando tipo um ficante fixo — que nunca ninguém falou em namoro, nada, ela não sabia se ele tinha outras mulheres, eles nunca conversaram sobre isso, mas eles estavam saindo e pelo menos uma vez por semana eles se encontravam e ficavam juntos — e vira e mexe a Janice tinha a impressão de ver essa moça e era muito rápido… 

Acontece que no começo ela via a moça com tom de pele mais normal, mais rosadinha… E com o passar do tempo essa moça foi ficando mais pálida… E aí a Janice começou a achar que realmente tinha alguma coisa sobrenatural na história. Um dia ela comentou com ele: “Já aconteceu alguma coisa com você? Você já viu alguma aparição, algum fantasma, alguma coisa assim? Porque já tem umas vezes que a gente sai e eu tenho impressão de ver uma mulher sempre que a gente está junto”, e ai ele riu e falou pra Janice assim: “Você também?” e a Janice falou: “Por que “eu também”?” e ele falou: “Tem uns anos, eu tinha uma namorada, a gente foi para umas férias, para praia, passear e tal, e ela se afogou… A gente estava para ficar noivo, enfim, foi tudo muito triste, mas passou. Acontece que de tempos em tempos, quando eu estou com alguém, essa pessoa fala que viu uma mulher comigo. Eu acho isso uma bobagem, mas você não é a primeira pessoa que fala isso para mim… Aqui” e pegou a carteira e mostrou a foto da moça para e era a moça… 

Janice falou: “Bom, é essa moça que eu vejo… Você acreditando ou não, essa mina tá com você” — porque a Janice acredita — “Se ela tá com você só quando você está com alguém ou se ela está com você o tempo todo. Ela tá com você”. O cara riu, falou que era bobagem, e aí falou pra Janice que a família da moça culpava ele pelo afogamento… E aí a resposta que ele deu na sequência para a Janice é: “A gente estava os dois na água, a maré começou a subir, a onda começou a ficar mais forte e eu não tinha como cuidar de mim e dela… E aí eu coloquei a minha vida em primeiro lugar”, não parecia que ele tinha um sentimento… — Pensa, se você perdeu um namorado, um noivo dessa forma trágica, sei lá, não é um assunto que poucos anos depois você consegue conversar sorrindo sobre… Sei lá, né? Cada um também tem um jeito de reagir, mas a Janice achou o jeito dele estranho… — A Janice pediu o nome da moça para o cara e ele deu, falou: “Ela tem redes sociais, a família ainda alimenta as redes sociais dela. Eu acho bizarro, ela já morreu, enfim…” e a Janice começou a entrar nas redes sociais dessa moça e começou a rezar por ela e a pensar muito nessa moça. 

Acontece que, um determinado momento dessa relação, tudo deu errado, ele foi péssimo com a Janice e a Janice terminou com ele, só que ela continuou entrando nas redes sociais dessa menina e rezando pela menina e a menina começou a aparecer para a Janice. Ela não tinha mais nenhum contato com o cara, ela já tinha bloqueado ele em tudo… E agora essa moça aparecia na casa da Janice… — Janice morando sozinha num conjugado, assim, num apartamentinho pequeno. — Ela trabalhava num lugar que, na hora do almoço tinha um jardim que você podia ficar lá sentado de boa e tal e a Janice ficava lá, mexendo no celular e às vezes a moça sentava do lado dela num banco lá desse jardim, não tinha cheiro, ela só era muito pálida, muito pálida… Ela não falava nada e ela não olhava diretamente pra Janice. Eu falei: “Escuta, você não tinha medo?”, ela falou: “Andréia, eu só tinha medo quando ela aparecia de noite no meu quarto, só que ela só aparecia de noite no meu quarto quando eu rezava por ela antes de dormir”. — E aí você já viu, né? Você tá ali deitada, no escuro, você vê só a sombra… Janice, corajosa do jeito que era, acendia o abajur ali do lado da cama e lá estava a moça parada olhando para ela. —

O que você faria? Sei lá, você procuraria alguém que pediria ajuda ou pararia de rezar por ela para ver se ela sumisse, né? Sei lá, alguma coisa assim… Janice resolveu entrar em contato com a família da moça, contar história que ela namorou o cara por uns meses e que agora a moça aparecia pra ela. E ela mandou essa mensagem no Facebook da mãe da moça — que era quem alimentava a página da moça — e a mãe da moça, depois de, sei lá, uma semana, respondeu… Muito surpresa, muito assustada e pedindo um telefone para Janice. Janice deu o telefone, a mãe dessa moça — que agora aqui a gente vai chamar ela de “Rosa” — e a Dona Rosa entrou em contato com a Janice e falou: “Então, é a minha filha, a Mirela, ela morreu afogada, mas me conta direito essa história”. E aí a Janice contou tudo… A mãe da Mirela acabou falando que desconfiava que o cara tinha afogado a filha dela, né? A Dona Rosa disse: “Olha, eu acho que ele afogou a Mirela, mas ninguém tem provas, né? Porque eles estavam para ficar noivos e ela queria terminar, enfim”. — Mas isso é tudo suposição, né, gente? Se a polícia não chegou a considerar o cara suspeito, então é mais difícil provar qualquer coisa. —

E aí elas ficaram muito próximas e a Janice foi junto com Dona Rosa indo a Centro de Umbanda, Centro espírita pra tentar encaminhar a Mirela aí pra, sei lá, uma luz, uma coisa, né? Elas ficaram uns oito meses tentando tirar a Mirela de perto da Janice… Muitas vezes a dona Rosa pedia para ver a Mirella, mas ela não via… E a Dona Rosa tomava muitos remédios — por conta da filha ter morrido, ela teve uma depressão e tal — e um dia a Janice entrou em contato e a Dona Rosa tinha falecido no final de semana. — Agora ela já tinha contato com outros familiares. — Janice até então continuava indo em centro, essas coisas, mas foi quando a Dona Rosa morreu que a Mirela desapareceu. E aí a Janice acha que a Mirela deve ter ido ao encontro da mãe ou sei lá quem veio buscar… — Porque eu não acredito nisso, mas a Janice acredita em vida após a morte. Então, ela acha que quem veio buscar a Dona Rosa, de repente, conseguiu levar a Mirela também junto. E eu fico muito chocada da Janice não ter tanto medo assim, sabe? Não é uma história que ela conta apavorada…

Ela falou: “Andréia, não sou médium, nada, nunca tinha visto nada, mas não fiquei apavorada de ver o espírito daquela moça, que agora tinha largado o cara e tava com a Janice”. Então a Janice ainda prestou um serviço para esse cara, né? Tirando dele… E depois provavelmente a Dona Rosa, de acordo com o que a Janice acredita, levou aí a Mirela junto com ela para um outro lugar, sei lá… O que vocês acham?

[trilha]


Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers, eu sou a Ana, falo aqui da França. Essa história ela me deixou com um sentimento bem estranho por tudo o que a Janice comentou de como a Mirela morreu, de como esse ex dela reagiu ao falar sobre ela, rindo ou fazendo pouco caso, sobre a Dona Rosa comentando as suspeitas delas principalmente por conta da Mirela já querer se separar dele e, assim, de repente morreu… Enfim, esse sentimento bem estranho de que talvez a Mirela aparecesse como uma forma de pedir ajuda, uma forma de tentar buscar a verdade, talvez até de alertar as meninas que esse cara se relacionava, não sei… Mas foi tudo muito triste. Espero que nesse outro plano ela tenha realmente se encontrado com a mãe e agora esteja em paz. Desejo tudo de bom aí pra Janice também e que ela pare de ver fantasmas por aí. Beijão, gente. 

Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, aqui é a Paula de São Paulo. Oi, Janice, adorei sua história e eu estou impressionada com o seu sangue frio, mulher… [risos] Zero medo, né? Mas no final, assim, você fez bem a você e fez bem a pessoas que você não conhecia… Fez bem a você porque você se livrou desse cara, fez bem a Mirela, salvou um espírito aí que te assustava de noite e salvou também a Dona Rosa, que queria ver a filha, mas não conseguiu e talvez agora que ela faleceu, ela tenha voltado a abraçar a filha e que as duas estejam aí no caminho da luz. Mas é isso, Janice, um grande beijo para você. Fica bem. 

[trilha]


Déia Freitas: Essa é a história da Janice… Então, um beijo — Deus me livre, não quero ver assombração boa e nem ruim nenhuma —, eu volto em breve.


[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]