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título: ajuda
data de publicação: 18/09/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #ajuda
personagens: edinaldo

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história do Edinaldo. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Bom, o Edinaldo ele é enfermeiro numa rede de hospital… — E essa história já tem uns bons, bons, bons anos, assim… Ele já é enfermeiro há mais de 30 anos. — E essa história é quando Edinaldo estava começando, lá atrás, num hospital numa cidade muito pequena, onde o hospital e o necrotério ficavam no mesmo prédio. — Aqui em Santo André, há muitos anos, o necrotério era inicialmente na Santa Casa, hoje em dia não é mais, é na Fundação aqui, na Faculdade de Medicina de Santo André, do lado que fica o necrotério, mas teve uma época que era no hospital, era lá na Santa Casa. E, no hospital que o Edinaldo trabalhava, o necrotério era aí no mesmo prédio… — Ele entrava às seis e saía às seis da manhã. — Então entrava seis da tarde, final da tarde, noite, e saía às seis da manhã. — Era um horário que ele amava, é um horário que até hoje ele pratica, ele gosta de trabalhar no período noturno… Ele acha que é muito mais fácil para você fazer a ronda, fazer a medicação… E ele estava começando nesse horário, que era um horário, assim, pra quem estava começando, pra quem não gosta, um horário mais ingrato. 

Então, ele fez ali amizade com todo o pessoal, o pessoal de limpeza, segurança, os médicos… — Mas a maioria dos médicos, ele disse, que os médicos dormem… Tem tipo um espaço de descanso e eles ficam meio que de prontidão para se acontecer alguma coisa, mas quem faz medicação, quem passa as coisas ali é o pessoal da enfermagem, né? — Um dia, Edinaldo chegou no hospital, fez todas as coisas que ele tinha que fazer e o horário ali que ele saía, que ele fazia uma pausa, era dez para meia noite. — E aqui é bom dizer que Edinaldo nunca viu nada sobrenatural, nada, absolutamente nada… — E ele saiu para fazer a pausa dele, então ele comia ali um sanduíche que levava e tal, porque ele já jantava antes de ir trabalhar, cinco horas ele já jantava… Tipo eu, eu janto cinco horas da tarde. [risos] E aí ele comeu ali o sanduíche, tomou um pouco d’água e foi fumar um cigarro antes de voltar ali da sua pausa. E quando ele estava passando pra sair pela parte de trás do hospital ali para fumar e voltar, ele passou pelo necrotério, como ele passava sempre. E, passando pelo necrotério, ele olhou lá para dentro, estava tudo apagado… — Porque ninguém trabalha a noite no necrotério, se chega algum corpo ali, naquela parte onde ficam os corpos, ninguém fica ali… Vão botar ali numa daquelas geladeiras ali, daquelas gavetas e depois o legista de manhã, enfim, vai ver, fazer o que tiver que fazer. —


E aí ele passou, estava tudo escuro e, quando ele passou de volta, que ele fumou, a porta da metade para baixo, inox — ou alguma espécie de metal — e, da metade para cima, uma porta de dois metros, normal, dois metros e dez… Tamanho padrão de porta. Mas bem mais larga… E, no escuro, ele viu uma mulher do lado de dentro do vidro. Não era para ter ninguém ali na sala do necrotério, mas como o hospital fica aberto 24 horas, tem a ala de emergência ali do lado, o que que ele pensou? “Alguém entrou”. Quando o Edinaldo abriu a porta… — Pensa: É uma porta dupla, você abre ela no meio… Quando ele empurrou a porta para falar: “Moça, não pode ficar aí”, a pessoa sumiu. — Mas ele viu que tinha alguém do lado de dentro. Aí, na cabeça dele, pensou: “Será que eu estou viajando? Será que eu vi errado?”. E o Edinaldo saiu do necrotério ali, fechou a porta de vai e vem e, quando ele saiu e virou, [efeito sonoro de tensão] ele deu de cara com uma moça… Essa moça ela estava com uma camiseta toda rasgada, ensanguentada… Estava com uma calça jeans toda rasgada, descalça, e ela não tinha o braço direito… Era como se tivesse sido arrancado do ombro, inclusive com a manga da camiseta. E essa mulher ela olhou para Edinaldo… Ela tinha o cabelo, assim, comprido, mas preso… — Sabe quando você faz um rabo de cavalo e você está toda descabelada? — Assim, cabelo liso, meio loiro, preso num rabo de cavalo, toda descabelada… E ela chorava.

Chorava, chorava, chorava, chorava… E, com o braço esquerdo, ela fazia um gesto que o Edinaldo achava que parecia que ela estava embalando um bebê. Sabe como você faz pra lá e pra cá assim? Como se você estivesse ninando um bebê? Mas não tinha bebê nenhum, era só o braço dela ali. E aí o Edinaldo paralisado, porque pra passar pra onde ele tinha que voltar para começar o turno dele, ele tinha que passar por ela e ele não conseguia, porque ele não estava nem conseguindo assimilar essa imagem. E aí, num piscar de olhos que ele deu assim, ela sumiu… E aí Edinaldo falou: “Bom, tô vendo coisa… Estou vendo coisas, devo estar muito cansado” e voltou ali pra área dele e não conversou com ninguém a respeito, falou nada. Acabou o turno dele, ele ia passar um dia e meio, é 12 por 36, então ele ia passar um dia e meio sem trabalhar… E em casa ele ficou pensando nessa moça, aí ele pensou o quê? Falou: “Bom, quando eu chegar no meu próximo plantão, eu vou lá no necrotério para saber”, porque ele chegava as seis horas da tarde, “vou um pouco antes para saber quem é essa moça sem braço”. E aí ele fez isso… 


Quando ele chegou, ele foi lá e conversou com o assistente, não com o legista e ele: “Ah, tem uma moça que está aqui que ela está com o membro amputado e nã nã nã?” e o cara falou: “Tem, tem sim… Só que ela não foi reconhecida”. E ali naquela cidade, como não tinha tanta pessoa que morria, assim, podia ficar uns três meses lá antes que eles fizessem aquele processo para enterrar a pessoa não identificada ali, né? E ela não tinha sido identificada ainda, já tinha um processo ali que é a polícia que faz tal e ela não tinha sido identificada e nem tinha aparecido ninguém procurando por uma pessoa como ela… E aí o Edinaldo fez uma coisa que eu jamais faria, que era pedir para ver a moça… [efeito sonoro de tensão E quando puxaram ali a gaveta pra ele ver, ela tava sem roupa nenhuma… Ela não tava com aquela roupa que ele viu… Ela estava na gaveta e, em cima dela, tinha um saco plástico com a roupa que estava nela. E ali, pela roupa dobrada dentro do saco plástico, ele pôde ver que realmente era ela. — Ele tinha visto ela vestida, mas ela estava ali no necrotério nua. —


E aí aquilo foi um impacto, porque até então ele estava achando que estava vendo coisa. Então, não, ele realmente viu aquela moça. E, a partir dali, ele começou a ver essa moça andando pelo hospital… E ela chorava… Ela chorava muito. E o que o Edinaldo me disse é assim: “Andréia, em nenhum momento ela me atacou ou ela fez alguma menção de ser agressiva comigo, mas a imagem de você ver uma pessoa que não é viva andando por um hospital e chorando e ela vendo que você está vendo ela, é assustador… Porque primeiro você não sabe quando ela vai aparecer. E, segundo, você fica naquela de: “Meu Deus, será que mais gente está vendo? Ou só eu?” e assombrado… — Ele não saía mais para fumar… Edinaldo parou de fumar por causa dessa história.. Porque ele não conseguia mais passar pelo necrotério. — E aí um dia ele resolveu conversar ali com o médico que estava lá, que não estava dormindo, e ele contou pro médico. Aí o médico falou: “Olha, eu vou te dizer uma coisa, eu já vi bastante coisa, então eu acredito em você. E se ela toda hora que ela te vê, ela chora e ela balança esse braço como se se tivesse um filho, vamos procurar esse filho”, “Como é que vamos procurar esse filho? Eu não sei”. E aí o médico falou: “Você falou com o legista? Você viu isso se ela estava grávida? De repente, ela estava grávida, sei lá… Em que circunstância ela foi encontrada?”. 


E só aí o Edinaldo voltou no próximo plantão dele pra saber o que tinha de notícia… — Porque assim, no primeiro impacto ele só queria ver e depois ele não quis ir mais lá. — E aí, olha só: Essa moça ela tinha sido achada numa ribanceira. Sem carro, sem nada… Sem o braço, jogada no mato. Então, tinha uma suspeita ali de violência, de assassinato e de trauma e, assim, ninguém tinha investigado nada ainda, né? E aí o Edinaldo foi lá e contou para esse médico aqui, que a gente pode chamar de, sei lá, Dr. Renato. E aí foi lá e falou: “Doutor, então, eu descobri que ela foi encontrada assim, assim, assado e tal”, e aí olha o que o Dr. Renato falou para ele… Dr. Renato já trabalhava em outros hospitais e falou para ele assim: “Olha, faz uma busca em outros hospitais, sei lá, se tem alguma criança morta, alguma coisa assim”. E aí o Edinaldo começou a ligar, com dicas desse médico, começou a procurar… E depois, gente, de quatro semanas, o Edinaldo descobriu uma criança que foi encontrada… Mas a questão é: A criança foi encontrada há, sei lá, 400, 500 metros, não sei, de um riacho, de uma coisa assim, e também ninguém tinha ido reclamar.


Só que no meio do caminho entre onde ela foi encontrada e mais pra frente onde a criança foi encontrada, acharam uma Kombi capotada. — Agora me diz, como que ninguém ligou os fatos? Como que ninguém ligou os fatos? — O que aconteceu foi: Ela estava numa Kombi com o filho, a Kombi capotou, ela foi jogada para fora e a criança para fora lá embaixo da ribanceira, no rio e rio levou a criança… Só que a Kombi estava muito longe dela e não viram a Kombi, porque era uma ribanceira muito grande, assim… Ninguém tinha investigado isso ainda”. A criança, quando ela foi achada nesse riacho, que era lá embaixo da ribanceira, já era outro município… Então a criança foi para outro município, se não tinha ido para o mesmo necrotério que ela, né? E teve uma diferença de dias… Ela foi encontrada e a criança foi encontrada dias depois, tipo, dez dias depois… E a criança, como foi encontrada na água, tinha todo uma questão de que não dava para reconhecer, enfim e ninguém tinha ido reclamar. E aí esse Dr. Renato falou: “Vamos tentar achar a conexão, essa Kombi e tal, né?”. 

E aí ligaram na polícia dali do município deles, passaram tudo para a polícia e depois de um tempo o investigador ligou e, pela Kombi, eles conseguiram localizar a família… Tipo, muito longe, assim, sei lá, uns quatro, cinco municípios pra frente. Ninguém achava ela. Ela tinha ido fazer uma viagem com o filho, então pensa: Há 30 e poucos anos a comunicação não era como era agora, né? Já tinha celular? Não tinha… Todo mundo estava esperando ela dar a notícia e ela não dava notícia… Tipo, ela pegou uma Kombi pra ir de onde ela tava ali pra Bahia, então sei lá, ela ia demorar dez dias pra chegar e, sei lá, ia dar notícia… Então ninguém estava muito preocupado ainda. Olha isso… Então, essa moça que a gente pode dar um nome aqui, — que depois ele ficou sabendo o nome dela, a gente pode dar o nome dela aqui de Pâmela — a Pâmela tinha capotado na sua Kombi com o filho e ela tava chorando lá no necrotério, pedindo para que alguém, sei lá, localizasse o filho dela. E aí o Edinaldo só sabe até aí, né? Provavelmente depois a família juntou mãe e filho e deve ter enterrado junto, não sei… O Edinaldo só sabe até aí, que foi o retorno que eles tiveram da polícia ali, né? E essa é a história dele… Ele disse: “Andréia, depois disso, eu nunca mais vi nada… Eu tenho colegas que sempre veem alguma coisa, né? Ou sei lá, sente alguma coisa… Pra mim eu acho que foi específico essa moça, assim… Era ela. Ela queria falar comigo porque eu tava ali e resolveu”.


Ai, eu fico cabreira com história de hospital… Porque hospital é um lugar que, né? Enfim… — Aliás, você aí que tem uma história de hospital, de resgate, desse tipo de história, assim, manda pra mim que eu quero fazer um especial de histórias dessas… — E essa é a história do Edinaldo, que depois disso nunca mais viu nada… — Antes disso não viu nada, mas conhece muitas histórias de muitos colegas profissionais da área da saúde. — E que ele conseguiu ali, com a ajuda do Dr. Renato, reunir mãe e filho… E o ponto de conexão deles ali foi a Kombi. Pela placa da Kombi que eles conseguiram chegar na família da Pâmela. 

[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, aqui é Paula de São Paulo. Edinaldo, é uma história muito tensa, hein? Um homem curioso, hein? Olha, mas a só curiosidade, olha, ajudou a juntar, infelizmente, mortas mãe e filha. Olha o bem que você fez aí para uma alma que estava atormentada. Mas é isso, ainda bem que você não teve mais outras experiências sobrenaturais por enquanto… E eu adorei essa história, sabe? Era um espírito que não queria, na verdade, assustar ninguém, só queria estar junto com a sua filhinha e, no final, você e esse médico aí conseguiram juntá-las. Um grande beijo, adorei sua história e até mais. 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, aqui é Bia, de Curitiba. Gente, essa história me arrepiou inteira, do começo ao fim… Que bom que você conseguiu juntar mãe e filho, ainda bem que existem pessoas como você no mundo. [riso] Que bom que ela conseguiu te pedir ajuda e, gente, é isso, né? Mãe é mãe… Mesmo depois de morta, a mãe continua se preocupando com o filho, querendo ficar junto com ele. Quer dizer, realmente amor de mãe é um amor além da vida. 

[trilha] 

Déia Freitas: Essa é a história de hoje. Deus me livre… — Pâmela, eu entendo super, mas eu não sei se eu conseguiria, sabe? — Mas a sorte é que nenhum dos dois foi enterrado ali como uma pessoa “não identificada”. Então é isso, gente… Um beijo, Deus me livre, eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.