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título: amante
data de publicação: 22/09/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #amante
personagens: bete e mário

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei para o nosso Picolé de Limão, a nossa quarentena… Tô aqui cercada de gatos, cercada de cachorros, com Coentro Nenê me dando cabeçada, e vamos que vamos.

[trilha]

Bom, gente, hoje eu vou contar para vocês a história da Beth e, olha, polêmica. Eu até escrevi para Beth para ver se ela me respondia, porque agora quarentena, pra saber o que tinha mudado, se tinha mudado alguma coisa, mas não deu tempo dela responder ou ela não viu ainda, então, eu vou contar a história até onde eu sei, e é isso. Então vamos lá. 

A Beth ela é casada com o Mário e, assim, casamento normal, tranquilo, três filhos, os filhos já na adolescência. Então tem o de 12, um de 14 e uma de 17, então assim, os três ainda dependem do casal, ambos trabalham. Ela é professora e ele é torneiro mecânico numa empresa grande, então ele ganha muito bem. E assim, tudo corria super bem, casamento ótimo, firme, quando a Beth começa a receber uns telefonemas… Então assim, primeiro o telefone da casa, telefone fixo tocava, ela atendia, desligava. Mas hoje em dia com esse monte de telemarketing que liga, né? Esse monte de gente que liga, ela nem pensou em nada, não pensou que fosse alguém querendo falar com o marido dela ou com ela. Isso aconteceu ali uns dias, ela nem encanou com isso, nem ficou pensando nisso, até que numa das vezes que tocou, ela atendeu e caiu. Ela foi para cozinha fazer alguma coisa, lavar uma louça, tocou de novo, o marido dela estava vendo TV na sala, ele atendeu e começou a falar com a pessoa. 

E aí ele falou para ela que era um amigo e, assim, todo mundo tem celular, né? Como que o seu amigo tá te ligando no telefone fixo da sua casa? Estranho, né, super estranho, mas enfim… O amigo ligou, o marido conversou um pouco ali com o suposto cara e desligou. E aí a Beth ficou um pouco encucada, mas não muito, ela achou que, de repente, podia ter sido alguma compra que ele fez, algum crediário que ele fez e ele não queria contar para ela, ela não desconfiou de qualquer outra coisa. Telefone não tocou mais, nada aconteceu…

Dali uns três meses ela estava voltando do trabalho e uma moça, assim, um pouco mais nova que ela… Então a Beth tem mais ou menos a minha idade assim, uns quarenta e pouco, e uma moça de uns trinta e poucos parou a Beth na rua. E aí do nada a moça despejou que tinha um caso com o marido da Beth… E a Beth ficou chocada, porque primeiro aqui, né, ela foi parada na rua, então assim, ela foi pega de surpresa, né?

Ela falou para mim que nem raiva ela sentiu, ela ficou muito chocada, e aí a moça falou que era amante do marido da Beth já, há mais de dois anos e que agora ela estava passando por uma situação muito difícil e que ela precisava de ajuda e não sei o quê, e a Beth assim, ouviu só “Eu saio com seu marido, eu tenho um caso com seu marido” e o resto ela não ouviu, largou a moça falando, foi para casa. Aquela briga, aquele escândalo, o marido negando, mas não tinha muito o que negar. Aí ela meio que vinculou o telefonema, lembrou daquele telefonema e o marido acabou confessando.

Só que o marido falou para ela que não estava mais com a moça fazia um tempo e que era por isso que ela estava ligando, porque ela queria voltar, porque ela queria ficar com ele de novo e ele não queria mais, que ele amava a Beth, aquela ladainha. Não colou muito, mas assim, a Beth pensou nos três filhos, pensou na vida que eles tinham em comum, pensou em tudo e perdoou ele. Perdoou. Aí essa moça começou a ir lá no portão da Beth, falar que estava doente e que precisava de ajuda e, assim, a ajuda que ela queria era ajuda financeira, e que estava doente, que precisava de ajuda para fazer um tratamento porque ela tinha que fazer um tratamento, que isso, que aquilo… E aí, a Beth acabou cedendo e deu o dinheiro para moça. Deu o dinheiro para moça, a moça sumiu e nunca mais apareceu. 

Aí, gente, passou ali mais um ano, e ela descobre que o marido dela, descobre pelo celular que estava de caso com outra, que não era aquela, era uma outra moça. Briga, briga, briga… Beth vai lá e perdoou. — E assim, gente, eu não tenho nada a ver com isso, eu acho que a pessoa que perdoa traição se ela dá conta, se ela acha que ok, para mim tudo bem também, não tenho nada a falar, entendeu? Não é a minha vida, cada um sabe do que dá conta, mas assim, a Beth perdoava achando que ele não fosse fazer mais. Então quer dizer, vai esperar a terceira vez para ele pedir música no Fantástico, né? — Não sei o que ela estava esperando, mas ele prometeu novamente que não ia fazer e nã nã nã, e a Beth perdoou — Mais uma vez, a segunda vez que ela pegou. E provavelmente aquela moça que pediu dinheiro não devia ser a primeira, né? Não sei.

Aí eles ficaram um tempo estremecidos e depois ele levou ela para fazer uma viagem, aquela coisa, aí ficaram bem de novo. Agora, tem um tempo, ano passado, a Beth estava no mercado fazendo compra e, assim, a Beth é professora, então ela faz as coisas ali em torno da escola. Só que ela tem uma amiga que também é professora e elas foram juntas resolver não sei o que no Detran, e aí elas acabaram indo num mercado que elas nunca vão. — Eu sou assim também, quando eu vejo um mercado num bairro que eu nunca fui, eu gosto de dar uma olhadinha. Isso é coisa de gente mais velha [risos], a gente curte um mercado. — Então ela entrou no mercado com essa amiga dela, para dar uma olhadinha, ver se tinha alguma oferta, alguma coisa, né? — E eu super entendo, eu super faço isso. —

E nesse mercado que ela nunca tinha ido na vida, ela encontrou o marido dela fazendo compra com uma outra mulher abraçado. E aí, escândalo, briga, — Terceira traição, né? — aí dessa vez ela falou: “Eu não vou perdoar, não vou perdoar, não vou perdoar”, e a amiga dela estava junto e já sabia também das tretas e falou: “Olha, na minha opinião, ele é um safado, você não deve perdoar. Você não deve perdoar…” e passou. E ela separou, colocou ele para fora, ele foi morar com o irmão dele, ela ficou com as crianças. As crianças sentiram muito. Então ele vinha, de domingo… Tipo, ele vinha antes do almoço e ficava até a noite, sentava no sofá, almoçava, dormia, acordava… E assim, a Beth nada com ele, e ele aparecia para ver as crianças sempre, ela levava as crianças para escola, às vezes, ele buscava quando ela tinha aula a mais, aquela coisa…

E aí agora, gente, que vem a questão. O marido dela teve um derrame, não foi um derrame muito grave, né, foi uma coisa mais leve. Os filhos insistiram, insistiram, insistiram e ele voltou para casa. Ela perdoou novamente, eles reataram como um casal mesmo, ele fazendo ali fisioterapia, se cuidando… E ele tá meio torto ainda, talvez não fique 100% de novo, e agora [risos] a Beth acaba de descobrir que ele continua com aquela amante lá do supermercado, aquela última que ela pegou, que a mulher apareceu lá para visitar ele porque ele sumiu, que eles estavam juntos, que isso, que aquilo…

E agora a Beth tá pê da vida, os filhos querem que ela cuide do pai, né? Porque criança… — Não são tão crianças, né? Já dá para entender — E a Beth quer despachar ele para casa da amante, só que ela tá com aquela… — Pelo menos até o final do ano passado, porque quando ela me escreveu, ela estava com essa ideia na cabeça de quê “Ah, então, tudo bem, você está com ele então você cuida, então você leva ele para sua casa e cuida, porque provavelmente ele não vai ficar 100%.—

Só que as crianças não querem que ele vá, e o que ele quer? O bonito. Ele quer ficar com amante, ele quer que a amante cuide, mas também quer ficar com mulher. Ele falou que ele teve essa experiência de quase-morte e ele quer ficar com as duas porque ele gosta das duas — Gente, me poupe, né? —, e aí ele tá lá todo torto, falando com dificuldade, e quando ela tá trabalhando… Porque agora ele está na caixa, né? E provavelmente vai se aposentar. Falta pouco para ele se aposentar, então ele vai ficar na caixa um tempo, quer dizer, não volta mais a trabalhar, né?

E o quê que ele faz? Durante o dia, quando ela tá na escola dando aula, ele fica lá na casa da amante, e aí tem dia que ela tá chegando da escola de carro e o carro da amante está encostando para deixar ele lá na casa. Quer dizer, ela chega, ainda ela tem que cuidar dele, fazer as coisas para ele, e ele está vindo da casa da amante. Quer dizer, a amante topou isso, ela não topou, ela queria pôr ele para fora, mas tem as crianças e aí ele chora. E aquela coisa… São muitos anos, né? São mais de 15 anos juntos. Não, quase 20. E ela tá pê da vida, porque assim, a vida dela emperrou nisso aí, aí eu falei: “Mas e aí, você gosta dele?”, ela falou: “Olha, Andréia, eu gosto dele como pai dos meus filhos, apenas assim, eu não gosto mais dele como homem, e agora eu nem sei do quê que ele vai dar conta”. 

E parece que a amante lá gosta dele, porque a amante quer cuidar dele. Então por que ele não vai? Mas ele não quer, as crianças não querem, e ela estava nesse impasse. E aí ela me escreveu para pedir a opinião de vocês sobre o que fazer, eu despachava, gente, porque ninguém é obrigado. E ainda tem a amante que tá querendo cuidar? Deixa ela, que leva, que cuida. Mas aí a Beth fica preocupada se vai cuidar direito, eu falei: “Mas e aí, você é a mãe dele?” Se não cuidar direito também, ele não perdeu a capacidade de pensar, nada, então assim, cognitivamente ele tá perfeito. Então se ele ver que a outra não tá dando conta, ele vê o que ele faz também, né? Ele não tá incapaz, ele tá são, ele só tá com um pouco de dificuldade para falar e um pouco de dificuldade nos movimentos, mas muito pouco.

Então quer dizer, ela não tem que se preocupar com isso também, né? Pelo menos é o que eu acho. Mas ela tem todas essas questões e tem a amante que agora ela é meio que obrigada a conviver, que a mulher leva ele de carro lá e quando ela sai, provavelmente, a mulher vai buscar, né? [risos]

E é isso, gente, quê que vocês sugerem pra Beth? O que a Beth faz com esse homem traidor? Porque assim, não é a primeira vez, né? Ai, eu não aguento, não dá para mim, mas eu entendo toda a parte do companheirismo de muitos anos, dos filhos, tem uma carga aí, né? Mas é complicado, porque a Beth tá com a vida dela amarrada. Vai ficar presa nesse cara? Porque ele também não aceita que ela tenha um outro cara, tem isso ainda… Além de tudo, ele, o bonito, quer exclusividade, quer ter um harém. Então deixem aí a opinião de vocês pra Beth, lá no grupo. Um beijo e amanhã eu volto com mais uma história. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.