Skip to main content

título: amiguinho
data de publicação: 24/04/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #amiguinho
personagens: vanessa e dona cecília

TRANSCRIÇÃO

 

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais uma história do quadro Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história da Vanessa. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


Essa história começa quando a Vanessa tinha ali seus oito anos de idade. Um dia, Vanessa chega da escola, Vanessa estudava na parte da manhã e a mãe dela dá o almoço ali… — Então, qual que era a rotina da Vanessa? — Ela chegava da escola, almoçava e depois do almoço ela tirava um cochilinho e lá pelas 15h da tarde ela fazia já a lição de casa pra ficar liberada para brincar. Então, assim aconteceu… Vanessa dormiu, tirou um cochilinho depois do almoço, às 15h da tarde ela fez a sua lição de casa e aí, ali um pouco antes das 16h ela já estava pronta para brincar um pouco e depois já tomar banho, jantar, enfim, rotina de criança de oito anos… A Vanessa gostava muito de brincar no quintal da casa dela com as plantinhas, matinho, essas coisas… — Quando eu era criança também adorava brincar com mato, com terra… Eu fazia bolo de terra e às vezes o bolo ficava tão bonito que eu experimentava um pedacinho. [risos] Taurina é foda, né? [risos] —


Então, a Vanessa gostava de brincar ali no quintal dela, tinha grama, enfim… Até que um dia ela estava brincando, era ali umas quatro e pouco da tarde, quando apareceu no quintal dela um garotinho. Se Vanessa tinha oito, esse garotinho devia ter uns seis, sete… — Ele parecia um pouco mais novo que a Vanessa. — E criança, a Vanessa não pensou assim, tipo, “como que esse garoto conseguiu entrar no meu quintal aqui de grades e muro alto”, assim, né? A não ser que fosse uma criança trazida por alguém e que a mãe dela provavelmente ia falar: “Olha, Vanessa, esse aqui é fulano, veio brincar com você e tal”, não teria outra forma de acontecer. Mas esse menininho apareceu no quintal da Vanessa e falou: “oi” e começou a brincar ali com a Vanessa. Sem falar nada. A Vanessa falou: “Meu nome é Vanessa, qual o seu nome?” e o menininho falou: “Eu não posso te falar meu nome”.


E aí eles ficaram brincando ali um tempo de terra, a Vanessa falou que foi muito bom brincar com esse menininho… E esse menininho começou a aparecer sempre… Era o novo amiguinho aí da Vanessa. — Aí muita gente pode estar dizendo: “sei lá, de repente era um amigo imaginário da Vanessa”. E sempre que esse amiguinho aparecia, esse menininho, ele perguntava se a Vanessa gostava do pai, se a menina gostava da mãe, se a Vanessa gostaria de ir embora com ele e a Vanessa sempre dizia que não, que ela gostava do pai, gostava da mãe, que ela não queria ir embora, que ela queria ficar com os pais e, no meio das brincadeiras, o menininho estava sempre chamando a Vanessa pra ir pra algum lugar. Até que um dia, a Vanessa perguntou pra esse menininho: “Mas pra onde você quer me levar, né?” e aí foi a primeira vez que ela notou um olhar diferente do menininho, porque até então ele tinha um olhar muito vazio. — Ele não olhava muito pra Vanessa e tinha um olhar estranho, mas não era assustador. —


E pela primeira vez ele olhou diretamente pra Vanessa e o olhar dele era muito assustador. E aí ele falou pra Vanessa, falou: “Bom, você só pode saber que lugar é esse se você aceitar ir comigo”. [efeito sonoro de tensão] Só que Vanessa tinha medo e ela não queria ir pra longe dos pais, então ela falou: “Não, eu não quero ir”. E nisso, gente, já tinha mais de ano que esse menininho brincava com a Vanessa. E ele sempre aparecia durante as tardes ali, na hora da brincadeira. E o tempo foi passando… Vanessa, secretamente, ela sabia que ela devia contar pra mãe dela sobre o menininho, mas ela não queria, porque ela achava que se ela contasse a mãe ia tirar o menininho dali e ela queria continuar brincando com ele. Quando ela tava pra completar 10 anos de idade, — lembrando que isso começou aos oito anos — este menininho começou a aparecer à noite no quarto da Vanessa.


No primeiro dia, a Vanessa assustou porque ela estava dormindo e ela sentiu a respiração desse menininho muito perto do rosto dela… Só que a Vanessa disse que, assim, enquanto ela estava de olho fechado, porque ela sentiu a respiração, acordou e continuou de olho fechado, com medo, não parecia que era uma criança, porque era uma respiração muito forte, ofegante e parecia que tinha até meio que um ronco assim, parecia um homem… E por isso que ela não abriu os olhos. Ela só abriu os olhos porque o menininho falou e ela reconheceu a voz. E aí ela abriu os olhos e era o menininho… E aí eles começaram a brincar à noite, só que isso cansava a Vanessa… — Porque no dia seguinte ela tinha que acordar cedo pra ir pra aula.  — E aí esse menininho um dia falou assim pra ela, falou: “Olha, já que você não quer vir comigo por causa dos seus pais, eu vou resolver isso”.


E aí a Vanessa ficou pensando: “Mas será que ele vai levar então eu e meus pais?”, foi o que passou pela cabeça dela. Só que a partir desse dia, quando a Vanessa chegava na escola, este menininho estava do lado da mãe da Vanessa com a mão, assim, como se estivesse com a mão segurando ali a lateral, a cintura da mãe da Vanessa. E aí os dias foram passando e a mãe da Vanessa foi ficando doente… — Que a gente pode chamar aqui, sei lá, de Dona Cecília. — Dona Cecília, a mãe da Vanessa, foi ficando doente e a Vanessa logo ligou o fato da mãe estar doente ao menininho estar segurando a cintura da mãe. E aí quando ela chegou e ela viu, quando a mãe já estava, assim, com dificuldade para fazer a comida, estava meio mal, ela foi para cima do menininho e a mãe falou: “Que isso, Vanessa?”, porque parecia que a Vanessa estava indo pra cima dela e ela falou: “Mamãe, esse meu amiguinho tá te fazendo mal, ele tá segurando a sua cintura”. E aí foi a primeira vez que a Vanessa entendeu que só ela via aquele menininho…


A Cecília ali, mãe de Vanessa, assustou, mas não desacreditou na filha… — Porque a Vanessa teve uma reação muito, assim, verdadeira. — E aí ela resolveu procurar uma benzedeira… E aí essa benzedeira olhou pra Vanessa, Vanessa uma criança de dez anos, a Cecília ali junto e essa benzedeira falou na frente da Vanessa pra Cecília, falou: “Você acredita em Deus?”, a Cecília falou: “Sim, eu acredito em Deus”, e aí ela falou: “Então, se você acredita em Deus, você tem que acreditar no diabo”, [efeito sonoro de tensão] e aí a Vanessa estava junto, já assustou, Cecília também assustou e Cecília falou: “Por que você está falando isso?”, ela falou: “Bom, tem um diabo, tem um demônio dentro da sua casa… Esse demônio tem uns anos que está na sua casa e ele entrou lá porque foi permitido ele entrar por meio do seu marido…”, e aí umas partes a Vanessa não lembra bem de como foi essa conversa, mas resumindo, a benzedeira diz que esse demônio entrou na casa com o marido da Cecília e que depois ele se juntou à Vanessa porque a Vanessa era que estava mais aberta e que ele estava ali para levar a Vanessa embora e, como ele não estava conseguindo levar a Vanessa, ele estava tentando levar a Cecília.


Isso uma benzedeira falou pra elas… E aí falou: “Bom, o que eu sei fazer, o que eu posso fazer é reza. Então aqui a gente vai rezar, porque aqui ele não entrou. Agora, se ele está lá fora esperando vocês, eu não sei”. E aí essa mulher começou a fazer umas rezas lá e depois foi umas semanas na casa da Vanessa ali e da Cecília e, por umas semanas esse demônio não apareceu. Até que um dia, enquanto Vanessa dormia, esse menininho apareceu no quarto da Vanessa. Só que agora ele não era mais o menininho… Ele tinha a mesma voz do menininho, ele tinha o mesmo tamanho do menininho, mas ele era uma sombra e ele estava bravo… Porque ele dizia: “O que eu fiz pra você, Vanessa? Para você querer me expulsar daqui?” e a Vanessa começou a gritar e o pai e a mãe vieram ali, a mãe acreditando, o pai não acreditando em nada…


A mãe da Vanessa, Cecília, ela continuava doente… Então ela não sabia o que era, mas se sentia muito doente. O pai da Vanessa não acreditava em nada e, às vezes, esse demônio, esse amiguinho que agora aparecia só no formato mesmo da sombra e aparecia pra assustar a Vanessa, puxava a coberta da Vanessa, puxava o pé da Vanessa, ria e corria pelo quarto… Quando ela gritava e o pai aparecia, a Vanessa nas primeiras vezes não conseguiu perceber, mas depois ela percebeu que aquele demônio ele grudava ali no pai… E o tempo foi passando, essa benzedeira sempre indo lá rezar, rezar, rezar… Até que Cecília se separou do marido… E foi só depois que ela se separou, Vanessa já estava aí com seus 11 anos e pouco, que esse demônio foi embora e, provavelmente, foi embora com o pai da Vanessa. 


Quando a Vanessa estava ali com seus 15 anos, — ela nunca mais viu esse demônio — a mãe contou que apanhava muito do pai, então ela acabou até usando isso também na questão do demônio para justificar uma época o tanto que ela apanhava, mas depois também ela percebeu o quanto esse demônio estava prejudicando a Vanessa… — E se ele vinha do pai, então aí ela se separou.— Então, olha só que curioso, ela enquanto achava que o demônio, sei lá, não fosse prejudicar a Vanessa, ela ia continuar naquele casamento, né? Mas quando ela viu que a Vanessa começou a gritar à noite… — Porque você imagina essa sombra puxando a sua coberta, te aterrorizando, sacudindo a cortina, puxando o seu pé… Já sabendo que a Vanessa, toda vez que ele convidou a Vanessa pra ir pra algum lugar esse menininho, esse amiguinho, ela disse não, então ele não conseguiu o que ele queria. E aí ele voltou a grudar no pai… Será que foi isso? —


Só depois quando ela estava adolescente, que ela soube o que o pai fazia com a mãe e eles já tinham pouquíssimo contato e o contato meio que cessou por aí. 0 E essa história, gente, vai se desdobrar para uma outra história… Vanessa agora já casada, mãe, enfim, rompida com o pai, o pai teve uma outra família, o pai casou de novo, enfim… — 


[trilha]


Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers… Que bizarro, né, véi? Eu sou Vitória, de Feira de Santana, Bahia. Pelo visto, Vanessa tem uma sensibilidade bem, bem aflorada… E eu fico imaginando o que poderia ter acontecido com ela se ela um dia tivesse aceitado, assim, por curiosidade, o convite desse amiguinho. Mas que bom que dessa história toda, pelo menos a mãe dela se livrou do embuste do pai e, pelo visto, livrou a Vanessa também. Espero que ela esteja bem hoje em dia, mas que sensibilidade, hein?

Assinante 2: Oi, Déia, oi, gente… Aqui quem fala é Jéssica do Rio. Se era um demônio que vinha com o seu pai, provavelmente ele já tinha tido contato com ele antes e ele encontrou você, em você um portal. Bom que você conseguiu romper, bom que tinha uma benzedeira, uma rezadeira, para poder quebrar esse ciclo para você e para sua mãe. E eu acho, na minha opinião humilde, tinha que ter serviço de benzedeira, rezadeira no SUS. Beijão, gente.

[trilha] 


Déia Freitas: Essa história vai se desdobrar para um outro Luz Acesa porque, sei lá, 30 anos depois, a Vanessa reencontrou aí os demônios do pai dela. [efeito sonoro de tensão] Então é isso, gente, um beijo… — Essa coisa de demônio, olha… Deus me livre… Parece que a gente fala e atrai, né? Se é que existe, né? — Então é isso, gente, um beijo, Deus me livre… Eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.