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título: amiguinho 2
data de publicação: 27/04/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #amiguinho2
personagens: vanessa, dona cecília, lúcio e pai

TRANSCRIÇÃO


[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. — E essa história aqui é continuação da história anterior, então essa história aqui é Amiguinho 2. Então, se você não ouviu ainda Amiguinho, para aqui agora, volta uma história do Luz Acesa, ouve Amiguinho e depois você volta aqui, tá? — Hoje eu vou contar para vocês a continuação da história da Vanessa. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Vanessa conviveu aí dos seus 8 até os seus 11 anos, quase 12, com um amiguinho, que era um garotinho um pouco mais novo que ela. Só que depois, ela descobriu por meio de uma benzedeira, que esse amiguinho era um demônio… Um demônio que andava com o pai de Vanessa. E aí, mãe de Vanessa, Dona Cecília começou a ficar doente e era esse demônio… Até que ela resolveu se separar desse marido. — Ela se separou ali com Vanessa com 11, quase 12. — E quando Vanessa estava ali com seus 15 anos, a dona Cecília contou pra ela que o marido batia nela e que era um relacionamento horrível, enfim… Vanessa depois de saber essas informações, ela se afastou do pai. O pai casou de novo, constituiu uma nova família e teve aí mais dois filhos. 


Vanessa tinha um contato muito superficial, por meio da vó dela — da mãe do pai — que as vezes mantinha contato e tal. E, numa dessas, ela ficou sabendo que uma das crianças do pai, o mais novinho, tinha falecido… E aí a família toda ficou mal porque a criança ficou doente… — Não foi nenhum acidente, nada. — Ficou doente e morreu. E ela era uma criança pequena, Vanessa estava ali beirando seus 20 anos, só tinha agora ficado um meio irmão dela, que tinha aí uma diferença de quase 18 anos entre eles. Então, quando Vanessa tinha seus 18, nasceu esse irmão dela — que a gente pode chamar aqui de Lúcio — nasceu o Lúcio… Quando ela tinha 19, nasceu o outro bebezinho e, quando ela tinha 20, quase 21, esse bebezinho que era pequeno faleceu, então ai só ficou o Lúcio.


Então, quando Vanessa estava com seus 21, o Lúcio estava ali com seus 2 anos, quase 3. E o tempo passou, mais 10 anos se passaram. Então, Vanessa teve um contato efetivo com o pai, assim, de dia a dia, quando ela tinha 11. Quando ela tinha 20 para 21, o irmãozinho, meio irmãozinho dela morreu e, quando ela tinha 31, então, passando aí 20 anos que ela não via o pai — Eu fiz a conta certa? É… — ela começou a ter contato aí com o Lúcio. O Lúcio queria saber da irmã, queria conversar com a irmã… E a avó — que já estava bem doente, a mãe do pai — falava: “Olha, você tem que cuidar do seu irmão, você precisa ficar mais perto do seu irmão” e sempre falando isso. E aí a Vanessa resolveu estabelecer esse contato sem que ela tivesse muito contato com o pai. — Porque ela acabou nunca resolvendo essas questões, nunca perdoou o pai por ele ter batido na mãe e tal, né? — 


E aí Vanessa começou um contato com o Lúcio, né? Às vezes o Lúcio ia lá na casa dela, só que o Lúcio era um menininho muito tímido, muito… Chegava a ser estranho. E a Vanessa foi conversando com ele, já nessa altura do campeonato ela já tinha um noivo, ela já ia casar e tinha esse irmão com essa diferença de idade, 18, 19 anos de diferença… — Então é bastante coisa, né? Então, ela começou a tratar o Lúcio meio que como filho. — E o Lúcio foi se abrindo… Até que um dia, o Lúcio conta pra Vanessa… — Ela tinha acabado de casar. — Que ele tinha um amiguinho. [efeito sonoro de tensão] Na hora, a Vanessa gelou… Ela ainda falou: “Não, vou ter esperança”, “traz seu amiguinho aqui, ele estuda com você?” e começou a fazer perguntas. E aí o Lúcio falou: “Não, ele é só o meu amiguinho e só eu vejo ele”. E aí a Vanessa ali teve certeza que aquela coisa, o que quer que fosse, aparecia também para o irmão dela.


E aí ela foi começando a falar para o Lúcio assim: “Olha, não conversa com ele, não fala que você quer ir com ele. Não fala que ele pode levar alguém ou que ele pode entrar no seu quarto” e começou a explicar para o Lúcio sem falar para o Lúcio o que era aquele amiguinho, porque o Lúcio não entendia, ele falava: “Mas ele é meu amigo, ele brinca comigo, ele conversa comigo”. Nesse meio tempo, a Vanessa engravidou e engravidou de gêmeos… Então era mais difícil agora para ela ter esse contato com o Lúcio, porque quando ela pegava o Lúcio, ela tinha que buscar e tal, e aí ela começou a pedir para o marido dela ir buscar o Lúcio pro Lúcio ficar ali, porque ela estava preocupada, né? Porque ela sabia quem era o amiguinho, o que era o amiguinho… E ela foi ali, gestação de gêmeos, então, mais difícil, ela ficava mais cansada… Com cinco para seis meses ela já foi afastada do trabalho porque realmente ela estava muito pesada, enfim, né? — Gêmeos, gente… Sabe? Você está gerando ali duas pessoas, dois seres humaninhos. —


E aí o Lúcio sempre junto com ela, mas assim, sempre daquele jeito esquisito, assim, melancólico. E aí o Lúcio um dia falou pra ela, assim, que o amiguinho tinha perguntado dos bebês e a Vanessa desesperada, porque aquela benzedeira já tinha morrido…. E aí ela falou com a dona Cecília, com a mãe dela, ela falou: “Mãe, você lembra da história que aconteceu com a gente? Está acontecendo com o Lúcio”. E a dona Cecília quase não tinha contato com o Lúcio. E aí foi lá a dona Cecília atrás de alguma benzedeira, de alguém para fazer alguma coisa. Só que ela não achava nada… Até que ela achou um centro espírita e foi lá, conversou, mas também não sentiu firmeza assim, porque ela queria que alguém fosse na casa da Vanessa quando o Lúcio estivesse lá para conversar com o Lúcio. Os bebês da Vanessa nasceram, deu tudo certo e com dois bebês ali para cuidar, muito mais coisa… Ela resolveu até sair do trabalho, porque não tinha realmente como conciliar. 


E uma coisa boa aconteceu… O Lúcio se ocupou em ajudar a Vanessa com as crianças, com os bebês. Então ele falou que cada vez que ele ficava mais com os bebês, ele ficava menos com o amiguinho. Só que agora o amiguinho, como ele não estava mais nas tardes em casa, o amiguinho começou a aparecer à noite para ele e começou a assustar ele… Como ele fazia com a Vanessa. E aí a Vanessa começou a falar para o Lúcio assim, ó: “Quando ele aparecer para você à noite, você não tenha medo. Você não pode demonstrar que você tem medo… Reza o Pai Nosso, vira para o canto e tenta dormir… Não abre o olho. O que ele falar pra você, você não responde, não presta atenção”. E assim ele foi fazendo e os anos foram passando… Quando ele estava com 14 anos, ele não via mais aquele menino, que agora era um demônio e que aparecia pra ele como uma sombra também, como aparecia para a Vanessa. 

Só que quando ele fez 14 anos, o pai começou a ficar doente… E aí agora o Lúcio via com o pai uma mesma sombra, só que ela não era do tamanho de um garotinho, ela era muito maior que o pai. Então ele começou — ali com 14 anos, adolescente, meio rebelde já — ele começou a evitar o pai, não querer nem olhar para o pai, não querer conversar com o pai. E, paralelo a isso, o que ele não sabia ainda o Lúcio, é que o pai também batia na mãe dele. O pai do Lúcio e da Vanessa cada dia ficava mais doente, mais fraco… Ninguém descobria o que esse homem tinha. E, quando o Lúcio estava ali com seus 20 anos, 20 para 21 e Vanessa estava com seus quase 39, este homem abusador, espancador de mulheres, morreu. E aí agora aqui é a pior parte da história da Vanessa… 


O pai da Vanessa e do Lúcio ele morreu num hospital. — Então, quando ele estava bem, bem, bem mal, ele foi internado, durou uns dias e morreu. — A mãe do Lúcio, nessa época, ela já… Como é que eu vou dizer? Ela já tinha largado ele de mão, assim, porque ela também apanhava muito, enfim… — Muita gente culpou ela pela doença dele, porque ela foi meio que levando a vida dela… — E, segundo a Vanessa, e segundo rumores, que o Lúcio também não confirma, ela tinha até um outro cara já. — E aí também não culpo ela… Estava ali apanhando daquele traste, né? — Então ela meio que não estava nem aí quando falaram que tinha que ir lá no hospital pra liberar o corpo, pegar a papelada pra ir na funerária e essas coisas… Ela disse que ela não ia. — E não acho que ela esteja errada, né? —

Então, essa função sobrou para os filhos, para a Vanessa e para o Lúcio. Eles resolveram ir juntos para o hospital e, lá no hospital tinha um procedimento de o corpo estava lá numa sala e os familiares podiam ficar um minuto com o corpo, antes de chegar a funerária para levar essas coisas… E eles não queriam ficar. Só que tinha os pertences do pai, as coisas pra pegar, que tava tudo lá. Então, eles resolveram entrar na sala que tava o pai esperando a funerária buscar. O pai dela estava numa maca — dessas de metal — com aquele aventalzinho de hospital, um acesso no braço e pensa, assim, gente, ó: Imagina como se fosse uma corda… Em volta da maca e do pai, tinha como se fosse um espiral, eu acho que a palavra é isso… — Um espiral, tipo como se fosse uma corda, um espiral de uma… — Não era nem uma sombra… A Vanessa não sabe…


A Vanessa falou: “Andréia, parecia uma textura de pano, mas a gente não chegou perto para saber, para pegar naquilo… “e aquilo se movimentava. Então, como se fosse uma cobra indo e voltando, assim, em volta do pai dela, com uma textura estranha e fazendo uns barulhos, assim… E aí o Lúcio já agarrou o braço da Vanessa, assim… O Lúcio ficou bem mal, bem traumatizado e essa coisa ficava circulando o pai dela na maca e eles não chegaram perto… E as coisas dele estava em cima da maca, perto da cabeça. E aí a Vanessa falou: “Eu não vou pegar, você também não vai pegar, a gente não vai chegar perto”. E aí eles saíram da sala e ficaram esperando o cara da funerária chegar para pegar o pai. Os cara da funerária chegaram, pegaram, não viram absolutamente nada de diferente e eles foram resolver as coisas, de onde enterrar o pai, comprar caixão, essas coisas… A parte burocrática, já pensando em como seria esse velório.


E eu fico pensando se esse homem, esse pai de Vanessa e Lúcio, se ele, sei lá, teria mais maldades do que bater nas mulheres que ele se relacionou, assim, por que não é muita coisa? Muito demônio, muita coisa pra um homem? Sei lá… Ou será que é porque a gente não vê e existem pessoas que estão acompanhadas assim? E aí o corpo foi para o velório… E, no velório, tanto o Lúcio quanto a Vanessa continuavam vendo essa coisa que ficava ali andando pelo caixão… — Agora pelo caixão, não mais pela maca do pai dela. — Tanto que a Vanessa falou para o marido não ir lá, não levar os bebês, sabe? Ficar em casa, não participar desse velório. A mãe da Vanessa também não foi e a mãe do Lúcio também não foi. — E elas estão corretas, espero que elas tenham feito uma festa. —


O pai tinha muitos amigos, tinha o pessoal da firma… Todo mundo gostava dele. — Porque é aquela coisa, né? O cara é um traste em casa, mas fora de casa faz o social ali, é o bacanudo. — Então tava cheio o velório dele. E a Vanessa e o Lúcio, a maioria do tempo, lá fora. Então, quando foi para fechar o caixão, eles entraram. E aí a Vanessa falou: “Olha, Andréia, não existe uma explicação para isso, a não ser que era realmente uma coisa ruim… Porque eu vi… O Lúcio não entrou na hora do caixão, ficou mais na porta, mas eu tive que entrar”, tinha que ter ali os filhos e tal, né? “Quando colocaram a tampa no caixão, aquela coisa que estava em volta do meu pai, que estava ali circulando em volta do caixão, se transformou no menininho, naquele menininho que eu via quando eu tinha 11 anos, quando eu tinha 8 anos e ficou ali do lado do caixão” e olhando para Vanessa.


E aí a Vanessa ficou petrificada porque ela falou: “Bom, agora o meu pai morreu, esse menininho vai voltar comigo, né?”. Só que aí tinha um pedaço, um pequeno cortejo para levar o caixão até onde ia enterrar e o menininho foi acompanhando, o caixão, até chegar onde ia enterrar. Os coveiros desceram o caixão e o menininho ficou em pé em cima do caixão enquanto os coveiros jogavam terra. E aí, a Vanessa com muito medo desse menino seguir ela, não esperou nem terminar de jogar terra, botar as flores em cima, nada… Pegou o Lúcio e foi embora do cemitério. Eles ficaram umas duas semanas apavoradas, assim, com medo de dormir e tal e o demônio aparecer… Só que nunca mais viram nada. — Então, aquele demônio era algo do pai mesmo, né? Que estava acompanhando o pai. —


E Vanessa acha que, sei lá, deve ter levado agora o pai para algum lugar, né? A Vanessa diz que nunca mais viu nada, — absolutamente— nada sobrenatural, assim, só essa experiência que já foi muito, né, Vanessa? Só que agora, o irmão dela que está com 30 anos, começou a sonhar com o pai. Ele não consegue lembrar o sonho, mas ele consegue ver o pai dele tentando falar com ele. 


[trilha]


Assinante 1: Olá, Déia, olá, Vanessa, oi, Lúcio, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Luana e eu falo de BH. Dessa história toda, que é sim muito apavorante, pra mim o que fica e o que destaca é que é lindo demais essa ligação entre os irmãos, Vanessa e Lúcio. Achei muito legal a forma como o Lúcio se abriu no decorrer da infância e como essa ligação se mantém para a vida toda. E então pode vir o demônio que for, mas onde tem amor, tem muita luz. E é isso, gente, um abraço…

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é Ohana de Maceió. Vanessa, fala com seu irmão pra ele fazer o fechamento de corpo. Creio eu que religiões de matriz africana fazem esse trabalho de fechamento de corpo, porque o que eu acho que está acontecendo com seu irmão e que aconteceu com você é que vocês tem uma espiritualidade um pouco mais aflorada, tanto que você mesmo falou que só você via o menininho na sua casa, só o seu irmão depois via. Então, talvez isso seja uma coisa da espiritualidade de vocês, que é aflorada. Então, o legal seria fazer esse fechamento de corpo, até você também, para evitar que outras coisas acabem chegando em vocês e ficando, né? Boa sorte. 


[trilha]


Déia Freitas: Então, ficamos assim na história… Vanessa diz que se acontecer alguma coisa, se o Lúcio falar alguma coisa… Que ela não vê nada, nunca mais viu nada de nada. E aí tem o Lúcio, né? Se algo acontecer, ela diz que ela escreve pra gente. Espero que não aconteça mais nada, que essa história de demônio acabe aqui. Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.