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título: angu
data de publicação: 14/05/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #angu
personagens: dona ivonete, namorado e família

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei para o último Picolé de Limão da semana. Quem me escreveu foi o neto da Dona Ivonete — A pedido dela, né? — e ela queria contar pra gente a história do primeiro namorado que ela teve. Dona Ivonete está com 79 anos e esse namoro aconteceu quando ela tinha 17. — Então, já faz um tempo. — Então vamos lá, vamos de história.

[trilha].

A Dona Ivonete, ela era meio tímida assim, né? Então ela nunca tinha namorado. Normalmente na época dela, ela falou que ali com 16 anos as mocinhas já começavam a fazer um cortejo na praça… Era uma cidade do interior do Paraná, então você ficava ali passeando pela praça e conhecia um rapaz ou outro, mas era só “oi”, dar risadinha… — [risos] E era isso aí. — Aí na cidade dela, chegou um rapaz de São Paulo — Pensa, gente, é praticamente um ícone. [risos] — E foi o assunto do mês… O rapaz que chegou de São Paulo, chegou com a família, era um rapaz novinho também, de 19 anos, e o pai dele tinha sido transferido, alguma coisa do Fórum lá, para trabalhar no Fórum. Então, era um rapaz que, além ser de São Paulo, ser novidade, era melhor de vida que, praticamente, a cidade toda. Então ele era o partido da cidade, né?

E aí ele foi apresentado ali na cidade, teve um bailinho e ele acabou conhecendo a Ivonete e pediu a Ivonete em namoro. — E como era o namoro na época da Ivonete, na cidade da Ivonete e na família da Ivonete? — A casa da Ivonete era só um quarto e cozinha, não tinha sala, — Porque se tivesse sala, o namoro ia ser na sala. Tipo, ela e o rapaz sentados no sofá e a mãe, pai ou um irmão mais velho sentados ali também. — Só que, como ela não tinha a sala, o namora dela era no terraço assim, na varanda. Então ela ficava sentado ali com ele na varanda e a mãe dela ficava fazendo um crochê, um tricô ali, de olho. E aí era isso o namoro dela… Só de sexta-feira, o rapaz ia lá ela de sexta-feira, duas horas por dia.

Então, ele chegava lá, sei lá, cinco e meia, seis horas e ficava até oito. — Ou sete, dependendo, né? — E era esse o namoro, ela estava super feliz… Super feliz com esse namoro… E o pai dela de olho também, né? O pai da Ivonete de olho, porque como era um rapaz de fora, — O chamado forasteiro ali — o pai dela ficou de olho, falou: “bom, eu quero ficar em cima para minha filha não se perder”. — [risos] Não consigo entender esse conceito, mas eu sei bem do que ele está falando. — E aí o namoro foi correndo, até que um dia o pai dela tava na mercearia lá tomando uma com os amigos e ele estava com um amigo e, esse rapaz — O rapazinho forasteiro — passou do outro lado da rua…

Aí o pai da Ivonete falou pro amigo: “Alá, tá vendo aquele rapaz de São Paulo ali? Tá namorando a minha filha”, ele falou: “mas como assim namorando sua filha? Ele namora a minha filha”. “Não, não pode ser, ela namora a minha filha”. E aí, gente, eles descobriram, os dois amigos, que esse rapazinho, antes de ir pra casa da Ivonete, ele namorava por duas horas na casa desse amigo aí do pai da Ivonete… A filha do cara… — Então, pensa, ele tinha dois namoros na sexta-feira. [risos] Ele namorava a filha do amigo do pai da Ivonete e a Ivonete. — Aí o pai da Ivonete falou: “ah, mas então a gente vai armar um negócio ele…”. — E o que seria essa armação? Dona Ivonete me falou que, assim, poderia ter sido uma coisa muito pior, poderia ter acabado até em morte, dependendo do caso. Ainda bem que não acabou, ainda bem que não aconteceu nada, assim, né? —

Mas o que o pai da Ivonete combinou com esse amigo? Esse rapazinho, forasteiro de São Paulo, ele chegava na casa dessa outra mocinha e ficava um tempo com a mocinha ali, jantava e ia pra casa da Ivonete… Chegava na Ivonete, ficava um tanto lá com a Ivonete e jantava na casa da Ivonete. Então, o rapazinho jantava em duas casas… E o pai de Ivonete até tinha feito uma brincadeira com Ivonete falando assim que, se eles se casassem, não ia gastar quase com comida, porque o rapaz comia igual um passarinho. Mas por que ele comia igual um passarinho? Porque ele já vinha jantado… – [risos] Já vinha comido. — E aí o pai da Ivonete combinou com esse cara, falou: “olha, você pede para sua esposa fazer um angu bem salgado, com bastante sal… E faz ele comer na sua casa pelo menos uns três pratos”… — E o que é angu? Aqui pra mim, angu é polenta. É o fubá ali com água e sal e você põe no forno e depois põe molho… Eu amo. Amo. Não sei como chama aí na sua região, mas lá na região da Dona Ivonete era angu. —

E aí esse cara fez, e não tinha telefone, não tinha nada na época… O pai da Ivonete não tinha como saber se tinha dado certo ou não. Mas o cara tinha feito… Fez o angu lá e obrigou o cara a comer três pratos… E aí o cara saiu de lá já meio mal assim, com sede e foi pra casa da Ivonete. Chegou lá todo suado assim, a Ivonete pensou: “Poxa, está passando mal, né? O que você tem?”, “Não, não, é o calor”. Aí ficou um pouco lá com Ivonete e a mãe da Ivonete falou: “Hoje você vai comer aqui, vai comer bem… Que eu fiz um negócio pra você, especial”. Quando ele viu que era angu, o rapazinho [risos] ficou verde, e aí o pai da Ivonete chegou, viu que ele tava lá na casa e falou: “opa, agora você vai comer, fizemos especial para você”. E aí pôs no prato, ele ali guerreiro, comeu o primeiro prato… Aí ele tava terminando, o pai da Ivonete foi colocou mais uma leva de angu. [risos]. E aí, gente… Eu até engasguei aqui… [risos].

E aí ele comeu esse angu, esse segundo prato… E quando o pai da Ivonete colocou o terceiro prato, ele já estava quase chorando. E o pai de Ivonete com tom ameaçador falou: “Não, você tem que comer, minha esposa fez pra você, você tem que comer”. E a Ivonete sem entender nada… Aí ele terminou esse terceiro prato, ele não conseguia nem sair da mesa… Aí o pai da Ivonete falou: “eu vou te acompanhar até o portão”. Teve que levantar ele da mesa, ele estava realmente mal… Imagina a pressão dele, estava altíssima. [risos] E aí foi com ele até o portão e falou: “então, você gostou lá do angu na casa do meu compadre?” Já assim, num tom bem assim, falou baixinho… Falou bem pausado, bem de dar medo. E aí o rapaz já estava passando mal, não conseguiu responder nada e foi meio que andando pra casa quase de quatro.

E aí, gente, esse rapaz sumiu… E não sumiu só ali da casa da Ivonete, ele sumiu da cidade. — E como tudo em cidade pequena vira fofoca, né? Quando souberam que ele tinha desaparecido, aí foi aparecendo… “ah, porque fulana namorava com ele”. — Este rapaz ele tinha duas namoradas por dia da semana… De segunda a sábado. Domingo era o dia que ele ficava ali andando sozinho na pracinha e, como as meninas todas, as doze meninas namoravam com ele, ele não deixava mais elas irem para a pracinha de domingo, ele ia sozinho para a pracinha, tipo, sei lá, arranjar mais namorada? O cara tinha doze namoradas… — Imagina a disposição para ficar duas horas na casa da pessoa conversando, porque era só isso, trocavam um beijinho ou outro, mas doze? — Não era já um canalha mirim? — Um canalha jovem. — Doze… E ele saiu, obviamente, fugido da cidade… Porque ele viu que ali dois pais descobriram e os outros dez iriam descobrir na sequência e podia, realmente, acabar muito mal isso. Então ele foi embora da cidade, passou um tempo e o pai dele também pediu transferência e também foi embora.

E esse foi o primeiro namoro [risos] da Dona Ivonete já com um traste, o embuste… Mas depois deu tudo certo, ela conheceu um cara legal, casou, teve filhos, teve netos e é o neto dela que bebeu. Então é isso, gente, a história da dona Ivonete pra gente fechar a semana aí em alto astral. Ainda bem que deu tudo certo.

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, eu sou a Cíntia Pudim e eu moro em Belém, que não, não é a cidade onde Jesus nasceu, é Belém capital do estado do Pará. Eu estou aqui chocada com essa história do angu. Como é que o cara consegue enganar doze mulheres ao mesmo tempo? E como é que ele consegue juntar duas vezes todo dia? Eu não consigo juntar nenhuma vez todo dia… Eu só lanche. Assim, se fosse eu uma das namoradas e depois eu descobrisse isso, ah, eu ia caçar esse maluco até o quinto dos infernos, ia dar só na cara dele. Eu não teria a paciência que o pai da dona Ivonete teve, de só preparar angu… Ainda dar comida para ele? Gente… Acho que eu tinha virado a panela de angu na cabeça desse maluco. Sério, eu tô bestificada com essa história… Mas assim, o interessante é que nenhuma mulher descobriu antes, né? Foi o pai da dona Ivanete. Gostei bastante da história, apesar disso aí ter acontecido. Se fosse eu, tinha metido a porrada. É isso, beijos.

Assinante 2: Oi, gente, aqui é a Nayla do Rio de Janeiro. Olha, vou falar uma coisa para Dona Ivonete: que disposição desse rapaz aí, de namorar doze… Misericórdia. Gente, uma só já dá trabalho, um homem só já dá trabalho, imagina o cara que tinha doze. Olha, essa foi de lascar… Muito boa, essas historinhas são uma graça. Adorei.

[trilha]

Déia Freitas: Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.