Skip to main content

título: apendicite
data de publicação: 14/10/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #apendicite
personagens: marina e pedro

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… E a história de hoje é a história da Marina e do Pedro.

[trilha]

A história começa em setembro do ano passado, a Marina estava com o Pedro há quatro meses, namoro recente, né? E aí eles foram passar quatro dias no Guarujá ee assim, eles foram com alguns amigos do Pedro, alguns casais, então era coisa assim de casalzinho. — Óbvio que o lugar que eles foram não é Guarujá, mas eu tô falando Guarujá porque é o que me veio na cabeça agora. — Mas lugar com praia, lugar longe de onde eles moram e, geralmente essas praias assim, paradisíacas, esses lugares mais legais não tem uma boa infraestrutura médica, né? E aí eles estavam lá curtindo, quando a Marina começou a sentir uma dor muito forte na barriga… — Isso no segundo dia. — ela falou: “Ai, meu Deus, vai começar a me dar uma diarreia aqui”, e assim, lugar que ela não conhece ninguém, ela só conhecia o Pedro e estava lá com os amigos dele, né?

E aí ela foi, tentou ir no banheiro e não conseguiu, e aquela dor, aquela dor, aquela dor… E assim, a gente conhece nosso corpo, tem coisa que você fala: “Puts, tá dando ruim”, e a Marina falou: “Meu, eu tô com muita dor, isso não é normal, isso não é dor de barriga, tá dando ruim”. Aí ela chamou o Pedro, eles estavam num hotel que era tipo uma pousada assim, e aí ela chamou o Pedro e falou: “Pedro, eu tô muito ruim, eu preciso ir pra um hospital”, e como eles tinham na noite anterior tomado umas cachaças e tal, o Pedro virou pra ela e falou: “Ah, isso aí é ressaca, daqui a pouco você tá boa”, e saiu. E ela não estava conseguindo nem se mexer, nem andar. Aí ela respirou fundo, dor, dor, dor, chamou ele de novo pela mensagem: “Pedro, vem aqui, eu tô passando mal”, ele entrou, voltou de onde ele estava lá, sei lá, onde ele estava lá fora com os amigos, entrou no quarto e falou: “Ah, eu sabia que você ia fazer alguma palhaçadinha dessa porque você não gostou dos meus amigos, quê que é? Eu não vou embora, não adianta você inventar coisa que eu não vou embora”, e ela passando mal de verdade.

E aí ele saiu de novo e ela viu que ele não ia ajudar, ele não estava nem aí assim, ele estava achando que ela estava fazendo alguma frescura, aí ela ligou na recepção da pousada — Vai vendo… Com seu namorado lá, hein? — e pediu ajuda, falou: “Moça, pelo amor de Deus, chama uma ambulância, chama alguém que eu tô passando mal”, aí chamaram, vieram socorrer e ela estava mal mesmo, levaram, só que levaram ela pra um hospital, que assim, não era hospital era tipo uma UPA, e aí não dava, ela ia ter que ser transferida e, detalhe: quando ela saiu de lá na ambulância, onde que estava o Pedro? Estava em lugar nenhum, sei lá onde ele estava, tinha ido com os amigos. Não estava em lugar nenhum.

Então ela saiu, deixou tudo lá e aí ela foi transferida pra um hospital da cidade lá perto de onde eles estavam e, no hospital consertaram a apendicite dela que estava zoada e que ia ter que operar e tirar. Então, assim, do nada ela estava bem, ficou mal e teve que fazer uma cirurgia de urgência, detalhe: Isso quando ela passou mal era tipo, e que ela foi socorrida, umas seis horas da tarde, quando foi onze horas da noite ela já estava esperando porque era algo bem urgente mesmo. E, gente, até então o Pedro não tinha aparecido. — Não apareceu, o cara sumiu… — Então, quer dizer, ele achou que ela estava fazendo uma gracinha e o quê que ele fez? Ele foi embora, foi passear com os amigos, foi tipo pra um luau lá e só voltou, gente, no outro dia de manhã. Quando ele chegou na recepção seis horas da manhã que a moça falou: “Olha, sua namorada foi socorrida, saiu daqui de ambulância”, que aí o bonito foi ver onde ela estava, o que tinha acontecido, ela já tinha sido operada, ela já tinha ligado pra família dela e os pais dela já estavam lá no hospital. — Pensa. —

E aí óbvio, né? Ela terminou com ele, porque o cara foi um cretino, escroto. E aí isso foi setembro, outubro ela ficou sem ele, novembro ela ficou sem ele, dezembro ela ficou sem ele, quando foi janeiro esse cara apareceu atrás dela de novo falando que, ai, que estava apaixonado, que não ia fazer mais o que ele fez, que quando ele ficava junto com aqueles amigos ele meio que perdia um pouco a mão das coisas e nã nã nã, e ela caiu. Ela caiu nessa, aí falou: “Ah, tá bom então, a gente vai voltar de onde a gente parou” e ficou de boa com ele, janeiro… Chegou carnaval, “Ah, carnaval, o que a gente vai fazer? Quê que a gente vai fazer?”, “Ah, vamos viajar”, e assim, gente, vamos falar também que Marina não tá aí numa maré de muita sorte… [risos] 

Foram viajar, foram pra, sei lá, Minas Gerais, agora já não era praia, pra pular carnaval num lugar que tem bastante coisa de carnaval, mas não é praia. E aí estão lá pulando, pulando, pulando, pulando e dançando, dançando, dançando e bêbados, né? Todo mundo bebe, carnaval… Eis que alguém derruba uma garrafa e Marina pisa nessa garrafa… — Porque também, né, Marina? Sorte não estava muito com você… — E Marina pisou nessa garrafa. Doze pontos no pé de Marina porque ela pisou fundo na garrafa. E aí acabou pra ela carnaval, né? Acabou. E eles estavam tipo num hostel, então, não é lá muito agradável. E ela ficou com o pé lá pra cima no hostel, o Pedro que já tinha dado uma mancada, no primeiro dia que ela estava com pé pra cima ficou com ela ali, no segundo falou: “Ah, eu vou ali com os meus amigos”, sumiu e ela ficou mais três dias lá no hostel com o pé pra cima, que não era nada assim tão grave, mas já estava medicada e tudo, mas ele sumiu.

E aí quando ele apareceu, ele falou: “Ai, me desculpa de novo, me empolguei, essa galera…” — Pôs a culpa na galera — Veio embora. Marina quando chegou aqui, pensou bem friamente e terminou, terminou gostando dele, mas terminou. E aí eis que vem coronavírus, quarentena, quarentena, quarentena… Todo mundo fica aí meio carente, com tempo sobrando, né? Pensando demais. E aí o Pedro procurou novamente a Marina — E, assim, você já teve duas, você vai pra terceira pra cantar a música no Fantástico? Vai tomar a terceira mancada, Marina. — e ele começou a falar as groselhas aí pra ela, que gostava, que isso que aquilo e Marina fraquejou. Só que assim, gente, a gente tá em quarentena, né? E agora é o ponto que tá, Marina de novo apaixonado aí por esse cara que eu já nem vou falar nada, e esse cara insistindo pra que ela quebre a quarentena pra ficar com ele.

Eu acho que uma pessoa que faz isso, que tá vendo tudo que tá acontecendo e propõe um negócio desse pra você, primeiro que ela não te ama, né? Então, sei lá, o Pedro quer o que? Vai querer sair com ela, transar com ela e, de repente passar coronavírus pra ela e tchau, entendeu? E aí, assim, a Marina mora com os pais, os pais já tem mais de cinquenta e poucos anos, você vai fazer isso com seus pais Marina? Você está me escrevendo pra perguntar se você deve quebrar a quarentena com esse mané? Nem se o cara fosse um príncipe, se fosse o mais legal do mundo não quebraria, mas com esse mané? Pra colocar sua família em risco? Sério? 

Então, assim, a minha resposta já é: nem sei por que que você me escreveu, sabe? Porque não tem que quebrar quarentena pra ninguém, muito menos pra um cara desse. Agora, você quer que as pessoas te falem aí o que elas acham, então vou postar lá, né? Pra você ouvir lá no grupo o que as pessoas acham, mas, gente, não quebrem quarentena, não é uma brincadeira. Só eu sei o que eu passei essa semana de ouvir os relatos, imagina o que essas pessoas que estão na linha de frente estão passando, e os casos de pacientes que elas me contaram, sabe? Foi tudo muito horrível. E… Não quebrem a quarentena, por ninguém, a não ser que você tenha que ir trabalhar, que você seja obrigado e, mesmo assim, nossa, eu vou ficar muito preocupada. Mas deixem lá no nosso grupo do Telegram, que é só jogar na busca Não Inviabilize que vocês acham lá, quem não tá no grupo ainda. Deixem a mensagem de vocês pra Marina. Minha mensagem é: Marina, pelo amor de Deus, né? Me poupe. Um beijo e até daqui a pouco.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.