título: autoescola
data de publicação: 07/12/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #autoescola
personagens: renata e valéria
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi, gente… Voltei pra mais um Picolé de Limão, hoje com dor de garganta, já tem uma semana aí que eu tô meio esquisita, mas vamos que vamos. A história de hoje é a história da Valéria e da Renata, quem me escreveu foi a Renata.
[trilha]A Renata conheceu a Valéria tem cinco anos, em dois mil e quinze, só que aí elas só ficaram, né? E não namoraram, nada. E aí passou ali uns dois anos e elas continuaram conversando pela internet quando dava, né? Instagram… Elas se encontraram novamente e aí resolveram começar a namorar e ótimo. É um namoro incrível, Renata super feliz, Valéria aparentemente super feliz e aí a Valéria perdeu o emprego e ela estava namorando com a Renata, e Renata falou: “Olha, você mora numa república, vem morar aqui”. [risos] — Ê, Renata… — “Vem morar aqui comigo, né? Você perdeu o emprego”… — Então, quer dizer, a Renata já puxou pra ela ali, né? A responsabilidade da namorada de moradia, alimentação e tudo, né? Aí tudo bem. — Valéria foi lá morar na casa da Renata, Renata morava sozinha, um apartamento muito pequeno assim ali no centro de São Paulo e aquela coisa… Convivência é diferente, né? Uma coisa é você namorar, outra coisa é você morar junto, ainda mais num espaço micro, duas pessoas convivendo ali o tempo todo, é complicado.
E aí a Renata foi vendo assim algumas coisas na Valéria que ela não gostava e, provavelmente, a Valéria também foi vendo coisas da Renata que não gostava, e aí as duas tiveram a mesma ideia, que foi assim, uma coisa que realmente a Renata disse que partiu das duas, que a Valéria, óbvio, precisava trabalhar, por que a Valéria não faria um Uber? Porque aí de Uber ela ficava o dia inteiro rodando e tirava uma grana, ajudava em casa e tal, só que, detalhe: Valéria tinha carro? Não. Valéria tinha carteira de motorista? [risos] Não. — Então, assim, gente, é mais complicado, né? Ser Uber se você nem sabe dirigir… — Aí parece que pra ser Uber você precisa ter um tempo de carteira de motorista, alguma coisa assim, aí elas resolveram… Porque a Renata, ela tem um carro, que era um carro popular assim mais antigo, então que também parece que pelo ano não daria pra ser Uber.
Então o quê que elas pensaram? Tem alguns lugares que precisam de Táxi Dog, e pra levar cachorro você não precisa ter tanto tempo de carteira de motorista. — Quer dizer, o cachorro não vai ver isso, [riso] mas enfim… — Então elas bolaram na cabeça delas, né? Que a Valéria tiraria a carteira de motorista, praticaria um tempo e aí ela seria Táxi Dog, e Táxi Dog dá dinheiro, gente, eu uso Táxi Dog porque eu não dirijo, então qualquer coisa que você tem que fazer no Táxi Dog é uma fortuna, e aí você precisa, né? Então você tem que usar… — Eu gasto bastante com Táxi Dog para os meus animais e para os meus resgates, então quem tá aí pensando em uma oportunidade aí, Táxi Dog é uma coisa que dá dinheiro. — E elas pensaram nisso, no Táxi Dog, só que gente, pensa, um projeto, né? — Porque Valéria desempregada, Valéria teria que fazer as aulas, Valéria teria que usar o carro da Renata, eu já acho que já começou errado, mas, quem sou eu, né, Renata? —
E aí a Renata falou: “Bom, então vamos lá. Vamos fazer aí a autoescola. Como é que você está de grana, Valéria?”, Valéria tinha saído da empresa, sido mandado embora e estava ali vivendo com a grana da indenização, ela falou: “Olha, eu tenho um pouco, mas pra fazer as aulas e tirar a carteira de motorista eu não tenho”, Renata falou: “Bom, então vamos fazer o seguinte, eu te empresto”. — Foi combinado que seria um empréstimo. — “Eu te empresto, você faz, quando você tiver trabalhando de Táxi Dog você me devolve”, “ah, tudo bem”. Então ela faria quinze aulas e mais o negócio de carteira lá, era um pacote da autoescola, então a Renata não quer que eu diga o valor, mas vai, vou chutar qualquer valor então, digamos que tenha ficado três mil reais o pacote. E aí ela falou: “Tudo bem, eu vou parcelar ali umas quatro, cinco vezes e você tira a carteira”.
Valéria começou a fazer as aulas, então ela fazia aula de segunda, quarta e sexta, e aí foi lá, então faz as coisas aí, eram quinze aulas, né? Dá cinco semanas de aula. E a aula, chegou na décima quinta aula a Valéria falou: “Olha, eu não tô bem ainda de volante, com quinze aulas não tô conseguindo, eu preciso fazer mais aulas, então eu vou pagar do meu próprio bolso mais quinze aulas”, aí Renata pensou: “Ué, mas se não tinha dinheiro, agora já tem pra pagar mais quinze aulas?”, pensou assim por alto, né? Aí falou: “Bom, deve ter um desconto, né? Não deve ser o mesmo valor do pacote, deve ser aula avulsa”, aí foi ficou naquilo. E Valéria fazendo aula, fazendo aula, fazendo aula e agora ela tinha mudado os dias, então tinha dia que ela fazia aula até dia de sábado, tinha dia que ela fazia aula de domingo, era muita aula gente, muita aula pra aprender dirigir — Mas muita aula. —
E ela estava sempre assim, agora mais feliz, mais animada, aí resolveu cortar o cabelo, tingir o cabelo, e Renata começou a ficar cabreira, falou: “Meu Deus, isso é uma tanta aula, ela sai toda hora e agora tem umas aulas mais longas”. [risos], “tem uma aula ali mais longa, né? Uma coisa mais… Não sei, tá indo bem arrumada…”, cabreira, sabe quando a pessoa cisma? Cismou. Aí um dia ela falou que ela ia trabalhar e ela foi pra ver essa aula da Valéria. A Valéria realmente ela saía da autoescola no carro dirigindo e a Renata ali com o carrinho véio dela mais pra trás assim esperando, só que aí ela foi seguindo o carro e falou: “Bom, nossa, eu sou uma pessoa horrível, né? Tô seguindo a minha namorada desconfiando dela e ela tá tendo aula, eu sou uma pessoa péssima”, conforme ela foi pensando nisso ela viu que o carro estacionou, ela parou meio de longe, né? Falou: “Alá, vai fazer baliza e eu aqui toda chateada, desconfiando dela, eu sou muito horrível”, de repente ela viu um vuco-vuco no carro lá, assim, o carro começou a balançar, [risos] a se mexer muito e ela falou: “Gente, mas… É que baliza, será o carro tá morrendo e está chacoalhando?”
E aí ela parou o carro, estacionou, desceu e foi chegando perto, que ela chegou perto, Valéria estava aos beijos com o moço da autoescola, um rapaz, um moço. A Renata ficou assim em choque porque a Valéria sempre disse pra ela que era lésbica, não bissexual, né? Então ela jamais desconfiou que ia pegar a Valéria com um cara, e aí a Valéria estava lá de beijos, beijos, beijos com o rapaz da autoescola. Renata bateu no vidro e a confusão estava armada, né? Confusão armada, aquela brigaiada, e a Valéria estava ótima de volante porque saiu arrancando com o carro [risos] da autoescola, foi embora, largou a Renata lá no meio da rua. Renata voltou pra casa, aí a Valéria voltou pra casa também, elas brigaram, mas conversaram e a Renata perdoou Valéria do seu pulo de cerca lá com o cara da autoescola e a vida seguiu.
Chegamos agora à pandemia, e a Valéria tirou carta, mas não deu certo o negócio do pet shop, porque aí a Renata não quis, a Valéria tirou a carta, né? Mas a Renata não quis mais emprestar o carro e inventou umas desculpas lá. — Certa Renata, né? Porque ia dar também problema. — E ficou por isso mesmo. Aí, gente, agora chegamos a pandemia, né? Renata tá trabalhando remotamente e Valéria já quase um ano trabalhava como recepcionista de uma clínica, — Clínica de fisioterapia, essas coisas… — então a clínica ficou um mês fechada e depois se readaptou lá pra reabrir porque tinha serviço essencial de saúde, essas coisas. Era o tempo todo em casa Renata e a Valéria o tempo todo trabalhando fora. Eis que um belo dia a Renata recebe um e-mail de um cara aleatório dizendo que ela estava atrapalhando, que ela tinha que deixar a Valéria ser feliz, que isso e que aquilo, e aí a Renata acabou descobrindo por esse cara que a Valéria estava com esse cara já desde o primeiro mês da clínica, então, há um ano. — Há um ano que ela estava com esse cara. —
E esse cara queria que ela largasse a Renata e resolveu contar. Só que Valéria não quer largar Renata, Valéria quer ficar com os dois, porque ela diz que como ele é homem, não conta [falando e rindo ao mesmo tempo] como traição. — Ai, o povo é muito cara de pau, né, ô, Valéria? Sério? Não conta? — Não conta como traição e que aí ela quer que a Renata aceite que ela tem um namorado homem e que elas continuem o namoro, aí falei: “Mas então vocês abriram o namoro?”, a Renata falou que ela até aceita abrir o namoro, só que assim, “só se eu também sair com um cara, só que eu sou lésbica, eu não saio com caras, eu não sou bissexual, eu sou lésbica, então eu não quero sair com nenhum cara. E ela sabe disso, por isso que ela tá propondo esse acordo, porque ela sabe que eu vou ficar só com ela”, e aí a Renata quer saber de vocês… Gente, não precisa nem perguntar isso, né? Ô, Renata. Sério você vai continuar com isso? Ela quer saber de vocês se ela deve aceitar esse acordo da Valéria, de que com mulher a Valéria só sai com a Renata e com homens ela pode sair com quem ela quiser.
Ô, gente, então quer dizer, um homem, namoro aberto só pra um lado? Aí perguntei pra Renata: “Você tá sofrendo? Você quer isso pra você?”, ela: “Ai, eu tô sofrendo, eu queria que ela não ficasse com mais ninguém, só comigo”, e a gente tá vendo que isso não vai acontecer, né? Então se não vai acontecer, por que você vai insistir nisso? Pelo menos essa é a minha opinião. Valéria é cara de pau. Aí eu perguntei pra ela: “Valéria devolveu o dinheiro da autoescola?”, “Até hoje não” [risos], também não devolveu o dinheiro da autoescola, acho que ela nem pagou, né? Por aquelas quinze aulas extras? Será que pagou pra ficar com o cara? Fica aí a questão, né?
Então, gente, na minha opinião a Renata segue a vida, não tá certo isso. Agora, quem sou eu? O quê que vocês acham? Comenta lá no grupo, é só procurar na busca do Telegram por “Não Inviabilize” e achar nosso grupo lá. Um beijo e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]