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título: bacanas
data de publicação: 07/08/2023
quadro: amor nas redes
hashtag: #bacanas
personagens: dona joana e seu valdemar

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história é contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Amor nas Redes. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é o TikTok… Aqui no podcast você encontra vários tipos de histórias, mas se tem um lugar que dá pra encontrar histórias que você nem imagina, é no TikTok. [risos] E hoje eu vou contar para vocês a história dos Senhores Bacanas, um casal muito fofo de 89 anos, que vive um novo capítulo da sua vida no TikTok. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

O ano era 1954 e Dona Joana — na época, a menina Joana — tinha 18 anos e estava ali numa festa de aniversário de uma das amigas. Dança pra lá, dança pra cá, conversando com as amigas, aí fizeram uma brincadeira lá de uma roda dançante, então dança pra lá, dança pra cá, acabam trocando de par, assim, e num canto Joana percebeu ali que tinha um rapazinho alto, assim, bonito e o rapazinho estava olhando pra ela. — Rapazinho era quem? — Valdemar… Assim que Valdemar viu que Joana estava olhando pra ele também, ele foi até ela e tirou a Joana para dançar. [música animada] Joana toda faceira ali aceitou e eles começaram a dançar, dançaram a noite inteira, conversaram e tal e depois daquele dia eles se encontraram mais algumas vezes, assim, né? E Valdemar, completamente encantado — e se encontraram só pra conversar, tá, gente? Só, assim, pra bater um papo mesmo. 

Ele resolveu ir até a casa da Joana e pedir a Joana em namoro… E aí a Joana aceitou — era outra época, a gente está falando aí de 1954 e o namoro era assim, sempre com um familiar presente e um do lado do outro conversando… [risos] Era o que a gente chama hoje de “diálogo”. [risos] — aberto. E aí ficava um ali do ladinho do outro, conversava, não podia pegar nem na mão, hein? Nem na mão… E eles passaram um bom tempo assim e depois de quase um ano que um foi pegar na mão do outro… Lembrando que eles tinham dançado juntos, então já tinha, né? Todo mundo pegou na mão… Mas durante o namoro foi depois de quase um ano aí que eles deram a mão pela primeira vez… Que foi num dia que a Joana estava saindo do ônibus e o Valdemar estendeu a mão pra ajudar a Joana a descer. E aí o coraçãozinho dela já disparou… “Ai meu Deus, ele pegou na minha mão”. [risos] — Amo… — 

Depois desse dia, esse pegar na mão foi um passo, e aí eles passaram a andar de mãos dadas. Então, aí já era um novo patamar do relacionamento, né? Mais sério… Depois das mãos dadas eles deram o primeiro beijo. — Que aconteceu depois de uns seis meses de mão dada, então, assim vamos com calma… [risos] Outros tempos, né? — O namoro corria super bem e agora Joana e Valdemar já andavam de mãos dadas e davam ali umas bitoquinha, já trocavam essa beijocas, sempre com um adulto presente e uma beijoca roubada ali, né? A mãe fingiu que tá lendo ali o jornal e aí rouba uma beijoca. E aí, depois de dois anos desse namoro, o Valdemar foi lá na casa da Joana de novo [efeito sonoro de campainha tocando] e pediu pra conversar com os pais de Joana — Pra quê? — pra pedir para o pai de Joana a mão de Joana em casamento. 

E aí, seu Luís — pai de Joana — ficou olhando ali na pra Valdemar, Valdemar fez aquele discurso: “Então, eu amo sua filha”, Joana suando com medo do pai falar que não, que não podia casar ainda e não sei o que lá, fez todo um discurso e seu Luís ali olhando… Fala: “Ah, tá bom… Tá bom, rapaz, eu autorizo”, passou mais um tempo e chegou o dia do casamento. 14 de abril de 1956… — Então, tinham dois anos que eles tinham se conhecido e agora era o casamento. — [marcha nupcial] O casamento foi um casamento simples, a Joana fez ali seu vestido com a vizinha que era costureira, seu Valdemar alugou um terno… Foi tudo muito simples, assim, na casa dos pais de Joana, na beira do rio, foi muito bonito… Joana estava muito nervosa, uma noiva radiante, assim, eles felizinhos… Não teve lua de mel — porque né, as famílias não tinham grana e tal — e eles foram morar na casa onde a Joana já trabalhava como empregada doméstica, então ela tinha um quarto lá… Só trocaram a cama, que era uma cama de solteiro, por uma cama de casal, e ela foi morar lá. Ela e o seu Valdemar. 

Só que quem casa, quer casa, né? E aí o Seu Valdemar ali trabalhando e tal, na luta, a Joana também, eles conseguiram alugar uma casinha e o pai da Joana tinha dado um pedacinho de terreno para eles… E aí eles começaram a construir e no final de um ano ali de casamento deles, eles já conseguiram mudar para uma casinha deles. — Ó que massa, né? — E aí a Joana ficou nove anos trabalhando de empregada doméstica naquela casa que ela já trabalhava, o Seu Valdemar trabalhava numa cooperativa de cana ali e tal, e eles tiveram seis filhos. — Três meninas e três meninos. — E a vida seguiu, seu Valdemar trabalhando nessa cooperativa, né? — Cooperativa do Noroeste. — Agora já a nossa querida Joana em casa, a vida foi seguindo, seguindo, seguindo… Até que a cooperativa onde o seu Valdemar trabalhava há 26 anos, faliu. [música de tensão]

E quando a cooperativa faliu era, tipo, anos 80, assim… Valdemar se viu sem emprego, com seis filhos pra sustentar e ele resolveu comprar uma moenda de cana pra vender caldo de cana na rua. — Por que, né? Você tem que trampar… Tem que dar o trampo. — A dona Joana fazia salgados e o Seu Valdemar vendia ali caldo de cana… — Delícia ali com limão… Gente, eu amo tanto… Caldo de cana com limão geladinho. Olha… Ai, salivei. E dona Joana fazia um salgado, então um salgado e um caldo de cana, fechou, né? Vende igual a água. — E assim, vendendo salgado e caldo de cana, Dona Joana e seu Valdemar criaram os seis filhos. Todos cresceram, todos casaram, todos saíram de casa, constituíram família… Os netos vieram e chegamos a 2020, pandemia. O seu Valdemar, em 2020, ele ainda vendia caldo de cana, ele era o garapeiro que ficava num ponto de vendas ali no centro de Bauru. — Bauru, São Paulo. — Ele vendia seu caldo de cana e vendia os salgados ainda que Dona Joana fazia, ele já com seus 80 e poucos anos. 

E ele tinha uma rotina, Seu Valdemar, ele acordava às 06h da manhã, arrumava a Kombi ali —uma Kombi dos anos 80 — com o seu moedorzinho de cana, botava os salgados, fazia tudo… Então, ele tinha essa rotina e na pandemia isso acabou. E aí o seu Valdemar ele não queria mais sair da cama, ele comia e dormia porque a vida dele era ir para o centro de Bauru ali vender o seu caldo de cana e seus salgados, conversar com as pessoas… — Um senhor de 80 anos, firmão ali e tal. — E ele foi ficando triste, se definhando ali em isolamento… E aí a dona Joana falou: “Eu tenho que fazer alguma coisa”. Dona Joana conversou com o Neto — o Kelvin — que sempre teve um laço muito forte com seu Valdemar, com o avô e o Kelvin ficou pensando dias e dias como ele podia fazer pra ajudar os avós ali a sair daquela tristeza e ter uma ocupação, não ficar parado na pandemia só com medo, esperando alguma coisa acontecer? E aí o Kelvin teve uma ideia de iniciar um delivery de caldo de cana. 

O seu Valdemar moendo a cana em casa, fazendo ali o caldo de cana, dona Joana os salgados e tal e o Kelvin faria essa parte aí do delivery. — Tomando o cuidado, todos os cuidados e tal… Essa parte de sair na rua seria com o Kelvin. — E aí o Kelvin pensou, falou: “Já que a gente vai fazer, vamos meter uns rótulos mais modernos nessas garrafas? Vamos pensar num nome?”, e aí botou o nome ali do caldo de cana do seu Valdemar de: “Senhor Bacana”. — Sendo o seu Valdemar o Senhor Bacana. — Ele começou a fazer vídeos do avô, vídeos da rotina, vídeos de conversas de como era antigamente, vídeos ali do caldo de cana, do salgado… — Ai, que delícia… [risos] — E, gente, no primeiro mês de vendas no delivery, o Senhor Bacana faturou mais de 1.200% do que faturava no ponto fixo do centro de Bauru ali que o seu Valdemar ficava. — Gente 1.200%… O negócio foi crescendo, né? — 

Uma outra neta do casal, a Carol, começou a pegar os pedidos e ajudar o avô a preparar ali o caldo de cana. Aí veio uma outra neta, a Natália, que saía junto com Kelvin para fazer as entregas. Enquanto isso, a dona Joana organizava ali a bancada de produção dos caldos de cana e tal e ela ficava meio que atrás das câmeras. — Até esse ponto, a estrela era o Seu Valdemar, que era o Seu Bacana, né? E Dona Joana ficava ali com vergonha, meio que nos bastidores. — Kelvin foi falando: “Vó, a senhora tem umas receitas tão deliciosas, umas coisas ótimas… Vamos fazer um livrinho de receita digital assim? Um livrinho, um livrinho digital de receitas”. E então Dona Joana virou a Senhora Bacana. — Seu bacana e Senhora Bacana. — Com isso, ela começou a conversar também ali com os seguidores, a falar do seu dia e contar as receitas… — E, gente… — O casal, Senhor e Senhora Bacana virou um sucesso. 

Eles ficaram famosos em Bauru todo, ficaram famosos na internet, foram aí na televisão, numa grande emissora… Lembrando que tudo começou porque o Seu Valdemar realmente estava entrando em depressão e a coisa viralizou tanto que olha o que aconteceu… O Seu Valdemar — quando ele era criança — ele tinha uma irmã e eles foram separados e ele perdeu contato com a dona Maria Aparecida, que era sua irmã. E, por meio desses vídeos que eles faziam, a irmã dele, que já estava com 90 anos, encontrou o Seu Valdemar. Pensa… Depois de 80 anos você reencontrar um irmão seu? E aí eles tiveram a sorte de se reencontrar. Infelizmente foi só por videochamada, porque dona Maria Aparecida já estava bem velhinha, 90 anos, não tinha condição de viajar, mas eles conseguiram conversar, eles conseguiram se ver… — E ter esse reencontro, né? — Depois de um tempo, dona Maria Aparecida faleceu. — Parece que estava esperando reencontrar o irmão aí para poder partir em paz. — 

Você vê como uma atividade, uma mente ativa, atuante, assim, muda a perspectiva de vida de um idoso. Hoje o Seu Bacana tem 89 anos, a Senhora Bacana tem 86 e eles seguem gravando os videozinhos pro TikTok e eles tem a ajuda dos netos, o Kelvin, a Carol e a Natália. — Eu vou deixar o link aqui pro canal deles no TikTok. — E eu queria deixar essa reflexão pra vocês também… Eu, infelizmente, não tenho meus pais e meus tios vivos mais… Você está olhando para os seus idosos? Como é que tá? Tá ajudando que eles tenham uma cabeça mais arejada, mais fresca? Que eles façam uma atividade física, que eles estejam inteirados com o mundo de hoje? — Se não tiver, dá tempo ainda, gente… O senhor e a senhora bacana estão aí com 89 e 86 anos e tão que tão. — 

[trilha] 

Seu Valdemar: Eu sou o Seu Valdemar, conhecido agora com o Senhor Bacana… Trabalhei na cooperativa, entrei em 50 e em 76 fechou e eu tinha seis crianças pequenas… Pensei: “Eu vou montar um caldo de cana”, aí a partir de 76, sempre trabalhei com caldo de cana. 

Dona Joana: Eu sou a Dona Joana, mais conhecida como a senhora Bacana, trabalho em casa, cuido de tudo, da casa e do meu velho que trabalha na cidade. Quando ele volta, tá tudo em ordem… E assim é minha vida todos os dias. Quando eu saí da escola, eu fui trabalhar na casa de um casal de portugueses para cuidar deles e lá eu fazia de tudo, cozinhava… E desde aquela época para cá que eu só fico na cozinha, cozinhando, cozinhando… 

Seu Valdemar: Eu quando nasci, num tinha nada, não tinha rádio, não tinha televisão, não tinha nada… Mas agora chegou a internet. Se a gente não tiver atualizado com a internet, está fora do mundo. Então eu, com 90 anos de idade, estou procurando aprender a mexer com internet e já tô fazendo “bão”, hein? 

Dona Joana: E a internet me trouxe muitos fãs, muitos netinhos, muitas amiguinhas… Eu, então, agora eu sou famosa, todo mundo me conhece… Eu não conheço ninguém, mas todo mundo me conhece e tenho bastante seguidores. Eu fico feliz com isso, porque todo mundo me manda cada mensagem bonita para mim e eu fico feliz. 

Kelvin: A relação com os meus avós sempre foi de muita proximidade. Eu quando criança morava aqui com eles, praticamente fui criado aqui… Enquanto a minha mãe trabalhava, os meus pais trabalhavam, eu ficava aqui na casa da minha avó e o meu avô eu sabia sempre da história deles, sempre um cara que vendia caldo de cana e empreendia e eu dividia com ele a minha rotina, né? Eu falei: “Pô, vô, tem lá o fornecedor…” e ele falava: “Toma cuidado, tem que ver se vai pagar… Não dependa de um só fornecedor”. Então ele era sempre o meu conselheiro, me dava dica e tudo mais. Quando criança também a vó me ensinava a cozinhar e eu ficava lá na cozinha e o vô falava que eu era o mestre cuca, que eu queria saber de tudo, era muito curioso… E, quando chegou a pandemia, foi onde eu realmente senti obviamente o impacto no mundo, por ser um momento muito triste, mas eu vi isso de certa forma no meu avô, sofrendo bastante com isso, porque um senhor que na época tinha 87 anos, trabalhava todos os dias, ele só estava em casa comendo e dormindo… E a gente sabe que um senhor que trabalha todos os dias do nada parar, não era bom pra cabeça dele. Foi onde eu falei para ele que o mundo estava mudando, que o consumo também estava mudando e ele topou na hora fazer esse negócio comigo. E a gente trouxe o nome para a construção da marca dele como “Senhor. Bacana” e esse nome está relacionado a cana, que é o principal produto que ele vende e de um cara bacana, além de ser endinheirado, é um cara gente boa que todo mundo gosta. 

[trilha] 

Déia Freitas: No TikTok, além da história dos Senhores Bacanas, você encontra outras histórias que nem imagina. Tem gente que faz obra de arte em bolos, que ajuda outras pessoas, que inspira pessoas… São histórias reais que foram transformadas positivamente aí com a comunidade que tem por lá. Eu preciso dizer para vocês que hoje o TikTok é a minha rede social preferida, eu passo muito tempo no TikTok. — Minha prima também… [risos] Janaína faz receitas, vê tudo no TikTok. [risos] — Uma pessoa que eu gosto muito de acompanhar a história e que realmente mudou a história de vida dele no TikTok é o Ramon. — Eu gosto muito do Ramon, queria deixar aqui um beijo para ele, ele é um rapaz muito bacana. — A história de vida dele foi mudando aos poucos e a gente pôde acompanhar no TikTok, é a mesma coisa que aconteceu aí com a história dos Senhores Bacanas, assim. É um impacto grande, principalmente como o Ramon, que vem da mesma classe social que eu… 

A gente acompanha o Ramon conquistando as coisinhas, viajando… Tudo no TikTok dele, assim… Eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio para você baixar aí o TikTok e navegar. Valeu, TikTok, pela parceria… Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.