Skip to main content

título: bailarina
data de publicação: 21/08/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #bailarina
personagens: camila e pedro

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: É… Vamos mais uma? História de Camila e Pedro. Essa história é mais curtinha, assim, não é um drama, mas eu achei muito engraçada e eu quero saber as ideias que vocês vão dar pra Camila, que foi a Camila que me escreveu. Eles moram em Minas — escolham aí uma cidade qualquer de Minas porque eu sempre mudo mesmo os estados, né? Então vamos dizer que eles são de Minas — e a Camila tá com aí uma questão que ela tem que devolver uma coisa e ela não sabe como.


[trilha]


O Pedro e a Camila namoram já há dois anos, e só agora que ela veio conhecer a família do Pedro, porque a família do Pedro não morava em Minas e ela nunca tinha ido lá pro estado que a família morava então o relacionamento dela era só com o Pedro. E a família do Pedro é meio chatinha assim, sabe? Meio esnobe, cheia de frescura. Eles são jovens ainda, a Camila tem 23 e o Pedro tem 24, e o Pedro tem uma irmãzinha de 9 anos que, segundo a Camila, é uma criança insuportável. Então assim, não rolou uma química da Camila com a família do Pedro, então quanto menos ela encontra com eles, ela prefere, e ela não vai falar isso pro Pedro, lógico, né? Então ela inventa uma desculpa daqui, outra dali e vai levando. 


Só que teve um final de semana aí prolongado que os pais do Pedro resolveram viajar e deixar uma menininha de 9 anos com o irmão, com o Pedro. E aí o Pedro ficou com ela esses quatro dias. E dois dias ele ficou em casa com a menina, né, e os outros dois dias que seria sábado e domingo ele levou a menina pro apartamento da Camila, que Camila mora sozinha no apartamento que era da avó. Então ela morava, ela e a avó, a avó faleceu e o apartamento ficou para ela. A Camila não modificou quase nada no apartamento desde que a avó morreu, então o quarto da avó foi a única coisa que ela mexeu mais, ela transformou num escritório pra ela, mas ainda tem muita reliquiazinha, muito bibelozinho, muita coisa que era da avó dela que agora virou de estimação pra ela, né? Então tá tudo lá.


Esses dois dias que a menina foi, a menina mexia em tudo, e isso estava deixando a Camila pê da vida, né? E ela deu uma bronca ou outra, mas assim, quem tinha que dar bronca era o Pedro, né? E aí ela parou de dar bronca também porque estava ficando já um puta climão, e a menina mexeu… Em tudo que ela conseguia mexer, a menina mexia. Isso é importante: a Camila não tem diarista e a família do Pedro também não tem diarista, então só as pessoas da casa de cada um tem acesso a casa, ou se você convidar algum amigo, alguém de fora, mas nenhuma das duas famílias tem diarista, todas elas fazem o trabalho de casa. 

Passou um tempinho e a Camila deu falta de uma bailarinazinha de cristal que era da avó dela e que era um xodó, e ela falou: “Meu Deus do céu, aquela menina maldita pegou a minha bailarina” e ficou com isso na cabeça, chorou, queria a bailarina, mas ela não quis falar pro Pedro assim, né? Porque senão ia falar: “Ah, você tá acusando a minha irmã, você já deu um monte de bronca na minha irmã”, mas ela ficou com aquele ódio guardado. O Pedro convidou a Camila pra ir jantar, comer uma pizza lá um sábado na casa dos pais, né, que aí quando os pais vieram pra Minas ele voltou a morar com os pais, e a Camila foi. E eles comendo pizza, conversa vai, conversa vem, a hora que a Camila olhou pra uma estante assim, tipo uma cristaleira na casa do Pedro ela viu a bailarina de cristal, que era da avó dela na cristaleira, pensou: “Meu Deus do céu, não acredito que a menina além de pegar minha bailarina ainda colocou ali exposta”, e ela mal conseguia comer direito, né?


E às vezes, poucas vezes que ela foi lá, ela dormiu na casa, no quarto do Pedro, a família mais liberal, tudo bem. E o que ela pensou? “Eu vou dar um jeito de dormir aqui, de madrugada vou pegar minha bailarina de volta” [risos] E foi exatamente isso que [inicia trilha sonora de filme espião] ela fez, de madrugada ela fingiu que estava dormindo, esperou o Pedro dormir, deu uma sondada pra ver se todo mundo estava dormindo, se estava tudo quieto. O Pedro tem um cachorrinho pequeno desses de raça pequenininho e o cachorrinho onde ela ia, o cachorrinho “tec, tec, tec, tec” ia atrás. O cachorrinho ia atrapalhar, então ela pegou o cachorrinho no colo porque a patinha do cachorrinho naquele silêncio estava fazendo muito barulho, então ela tinha que administrar o cachorrinho, abrir a cristaleira, pegar a bailarina, fechar cristaleira tudo com o cachorrinho na mão e aquela tensão de alguém aparecer, né? Mas ela conseguiu.

Foi lá com cachorrinho no colo, abriu a cristaleira, pegou a bailarina, deu uma ajeitada nos enfeitinhos pra, tipo, não ficar um lugar ali vago, sabe? Onde estava a bailarina… Fechou. E tudo isso no escuro com a luzinha do celular. Pensa que heroína: cachorrinho no braço, na mesma mão que estava o cachorrinho no braço o celular assim com a luzinha, não lanterna, luzinha mesmo da tela e ela com a outra mão abriu e pegou, fechou, colocou o cachorro no chão, “tec, tec, tec, tec” patinha de cachorro, e guardou. Pegou papel toalha, enrolou bem assim a bailarina, guardou na bolsa dela, sucesso. No outro dia de manhã, era um domingo de manhã, a família toda tomando café e aí rolou aquele assunto complicado de rolar assim em família: política. E a Camila acabou se estranhando com o pai do Pedro e, assim, o pai do Pedro ficou nervoso e aí deu uma estressada, o Pedro tomou as dores da Camila… Aquela merda em família.

E a Camila viu que ali já ela não ia ser bem-vinda mais porque o negócio deu uma encrespada feia. O Pedro não dirige e a Camila também não, então aí o Pedro chamou um Uber pra ela, não acompanhou a Camila até em casa, mas ele estava do lado dela, né, ele ficou do lado dela na discussão, então apoiou, foi tudo ótimo. Só que ela viu que ali azedou, né? O pouco relacionamento que ela tinha com os pais do Pedro azedou, ela viu que ela não era mais bem-vinda lá, inclusive, pai de Pedro verbalizou isso, tipo, “Ah, se você tem esses pensamentos então você não é mais bem-vinda aqui”. E aí passou, umas duas semanas ela felizona lá com a bailarina na estante da avó dela lá, tudo certo… Pelo menos ela tinha conseguido pegar a bailarina de volta.

Aí a irmã dela, porque assim, o apartamento ficou pra ela, mas não era só pra ela, né? A irmã dela que estudava fora às vezes dormia lá também, o apartamento ficou para as netas, ela passou lá, foi dormir lá final de semana, e falou: “Ué, você trouxe a bailarina da casa da mamãe?” [efeito sonoro] Ela falou: “Não, a bailarina estava aqui comigo já, faz tempo”, ela falou: “Não, a mamãe passou aqui um dia e pegou a bailarina e levou [falando e rindo ao mesmo tempo] pra casa”. — Gente, a Camila tinha roubado a bailarina da família do Pedro, não era a bailarina dela. — E aí a irmã dela pegou a bailarina na mão e falou: “Ô, Camila essa aqui nem é parecida com a bailarina que era da vovó, a da vovó é daquelas baratinhas, isso aqui é um negócio caro. Onde você pegou? Onde você conseguiu isso aqui?” [risos] A Camila não sabia o que falar pra irmã, aí ela tomou a bailarina da mão da irmã e falou: “Ah, deixa isso aqui, para de se meter na minha vida”, e já tipo puxou uma briguinha de outra coisa pra tirar o foco, sabe?

E aí ela embrulhou aquela bailarina num pano e guardou numa gaveta porque agora como ela ia fazer com aquela bailarina que era cara e que não era dela, que ela pegou da casa do Pedro? Ela resolveu não jogar fora porque, né, poxa vida, não era dela, tinha que dar um jeito de devolver, ela não tem mais contato com a família do Pedro, eles nem gostam mais dela, e como ela ia fazer? Entregar pro Pedro e falar: “Olha, eu peguei da sua casa achando que a sua irmã tinha pegado aqui da minha casa”, assim, era tudo muito complicado porque o Pedro já estava estremecido com a família dele por causa daquela briga com ela, porque ele ficou do lado dela, né? 

E ela não sabia o que fazer com aquela bailarina. E, um belo dia, ela ligou pro Pedro assim, pra nada, né? Pra ver o que eles iam fazer, se eles iam no cinema, ele falou: “Ai, depois eu te ligo aí que a minha mãe tá tendo chilique aqui porque sumiu não sei o quê daqui, e ela tá colocando todo mundo pra procurar”, e ela falou: “O quê? Mas sumiu o que, dinheiro?”, ele falou: “Não, sei lá, uma tranqueira dela lá da estante”. — que ninguém acha onde tá. [risos] — E agora é isso, ela tá com um negócio caro que ela furtou da casa do Pedro, que não é dela, ela não tem como devolver, porque ela quer devolver porque a mãe do Pedro tá muito triste. Como o da avó dela, também era uma relíquia de estimação, mesmo que fosse uma coisa baratinha… A dela além de ser uma peça cara, uma peça de coleção, também é de estimação, que tá na família não sei quantos anos. 

E assim, a sorte, por isso que eu falei das diaristas, nenhuma das duas casas tinha diarista, se não era capaz de sobrar pra diarista ainda, né? Então, aleluia, foi alguém dali. E ninguém pensa na Camila, ninguém pensa que foi aquele dia que ela foi lá comer pizza porque foi muito depois que a mãe percebeu, aí o que é Camila quer saber da gente? Como ela pode devolver essa bailarina se ela não pode mais entrar lá na casa, ela não quer contar isso pro Pedro porque ela acha que vai dar uma azedada no relacionamento. Não é uma opção, pelo menos ela acha que não. 

E como ela vai devolver? Eu falei pra ela que se o Pedro tivesse carro, ela podia colocar lá dentro do carro, né? E aí, sei lá, iam culpar a criança, o que é péssimo, sei lá, mas seria menos pior. Mas agora que ela não tem acesso a mais ninguém, ela não tem como enfiar isso no bolso do Pedro, o Pedro não tem mochila e, mesmo assim, ia pôr na mochila do Pedro? Mas ele não tem mochila, não tem nada, ele sempre vai com a carteira e o celular; não tem onde ela colocar a bailarina, vai mandar pelo correio anônimo? [risos] Capaz da mãe do Pedro pedir as gravações lá do correio pra ver a [falando e rindo ao mesmo tempo] Camila colocando lá no correio.

Então o que vocês acham? Como que a Camila vai devolver essa peça, essa bailarina que é uma relíquia da família do Pedro? E que ela tá sentindo super culpada porque ela roubou mesmo, né? Furtou, né, eu acho que é furto isso. Eu sinceramente acho que a melhor saída é falar a verdade pro Pedro, falar: “Olha, sua irmã foi na minha casa, eu achei que ela tivesse pegado a bailarina da minha avó. Cheguei na sua casa, vi uma bailarina igual, peguei [riso] e trouxe. E aí, agora, eu sei que a minha tá na casa da minha mãe, ela veio aqui, pegou, não me avisou e eu quero devolver a sua, toma”, e aí assim, o Pedro que se vire com a família dele também porque ela não tem mais contato, né?

Agora o medo dela é que ele brigue, que ele fique muito decepcionado, tipo, “Ah, você acordou no meio da noite, abriu as coisas da minha mãe, mexeu nas coisas da minha mãe”, porque é foda isso também, né? Gente, como ela vai devolver esse bibelô sem se comprometer? E assim, sem o Pedro também surtar? E ainda ela tem um medo maior, e se o pai do Pedro quiser dar queixa dela? Nem sei se pode, né, mas pode, deve poder, né? Tipo, ela furtou e se arrependeu, [risos] isso se o Pedro contar em casa, ou ela vai ter que pedir a cumplicidade do Pedro pra mentir e colocar a bailarina lá em algum lugar e depois ele mesmo falar: “Olha, mãe, é isso aqui que você tá procurando? Achei”, porque aí ele vai estar mentindo também, né, pra mãe dele. 

É correto ela colocar o Pedro nessa situação de ter que mentir pra mãe? Entendeu? É complicado. Então eu encerro, foi curtinho. Eu espero que vocês criem soluções para a vida de Camila, como ela pode fazer pra devolver essa bailarina? Por enquanto ela não conta com a opção que eu dei, que seria contar toda a verdade, ela acha que vai dar muito rolo. Então vocês têm alguma sugestão?

[trilha] 

Se você tem uma história para um dos quadros aqui do nosso canal Não Inviabilize, escreva para o e-mail: naoinviabilize@gmail.com. Gente, minha equipe técnica: edição e sonorização, Léo Mogli. Voz das vinhetas, tem uma linda que faz as minhas vinhetas, que é a Priscila Armani, lá no site eu tenho também dois colaboradores, revisão de textos Gabriela Leite e apoio Bruno Bezerra. E, gente, tem o grupo do Telegram, você vai na busca e coloca “Não Inviabilize” e você vai achar o nosso grupo, a gente conversa sobre todas as histórias, lá vocês podem sugerir coisas também. E no grupo eu tenho dois queridos que são voluntários, que são os moderadores, que é a Elizabeth e o Dourado, então vão lá, vão pro grupo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]