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título: barra da saia
data de publicação: 26/08/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #barra
personagens: tânia e dona lucinda

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão e hoje eu não tô sozinha… Só que eu não vou falar “meu publi”, vou dizer: “minha parceria”. [efeito sonoro de palmas] E é com muito orgulho que eu anuncio o Ministério da Justiça e Segurança Pública. — Sim, o MJSP está aqui. — Começa hoje, dia 26 de agosto, e vai até 30 de agosto — estamos em 2024, não sei que dia e que hora você vai ouvir isso —, a Mobilização Nacional de Identificação de Pessoas Desaparecidas, realizada aí pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. — O MJSP. — Serão três etapas e nessa primeira etapa acontecerá uma ação nacional para coleta de amostras de DNA de familiares de pessoas desaparecidas. 

Todos esses materiais genéticos coletados passarão a fazer parte da rede integrada de bancos de perfis genéticos — isso é muito importante, viu, gente? — e só serão usados para esse fim. Esses DNA só serão usados para facilitar a identificação de pessoas desaparecidas. Para participar da mobilização, basta você levar aí no dia da coleta, um documento de identificação — seu, original — e as informações do boletim de ocorrência do desaparecido. Mesmo que seu familiar tenha desaparecido há muito tempo, você pode participar da mobilização, tá? Quanto mais doadores, quanto mais próximos aí da pessoa desaparecida, pais biológicos, filhos ou irmãos de mesmo pai e de mesma mãe, melhor. 

É possível fazer a doação de material genético em qualquer um dos mais de 200 postos de coleta que estão espalhados pelo país. — Eu vou deixar o link com mais informações e também nesse link tem o endereço de todos os postos de coleta, tá? Vai estar aqui na descrição do episódio. Então basta você levar um documento original ou um número do boletim de ocorrência, informações do boletim de ocorrência aí do desaparecimento, tá? — Vale lembrar que essa coleta não dói, ela é feita por meio de saliva, passa um cotonetezinho na bochecha ou por sangue. — Mas esse sangue é tipo aquele examezinho de glicemia, sabe? Punção no dedo… Então, gente, dói nada. — 

É importante ressaltar de novo, que esse DNA coletado não será utilizado para outros fins além da identificação de pessoas desaparecidas, tá? — O link tá aqui na descrição do episódio e você pode acessar também o site do Ministério da Justiça e Segurança Pública em: www.gov.br/MJ para ter mais informações. E, no final do episódio, eu vou contar para vocês uma novidade, então fica aqui comigo até o final. — E hoje uma história revoltante… Eu vou contar para vocês a história da Tânia. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]


A Tânia ela cresceu aí junto com sua mãe, Dona Lucinda, longe do pai. Tânia sempre quis se reconciliar com o pai… Tânia sempre sonhou em se casar… — Sim… — E ela queria completo, assim, casar na igreja, ter uma festa, enfim, ter tudo que uma noiva merece aí na visão da Tânia. Quando Tânia estava com seus 35 anos, ela conheceu um cara e quando ela conheceu esse cara, ela já se achando velha pra casar, mas muito feliz de ter essa oportunidade. Então eles foram namorando ali e, quando eles estavam com dois anos de namoro, o cara fez o pedido… Pediu Tânia em casamento e foi o momento mais feliz da Tânia. Tânia pensou: “Se eu vou me casar, eu preciso me reconciliar de qualquer forma com meu pai, porque eu quero entrar na igreja com ele” e lá foi Tânia atrás do pai. — Que ela tinha um relacionamento conturbado, o pai nunca assumiu a mãe e acho que veio um pouco daí também esse desejo da Tânia de ter aí uma família tradicional, não sei… Estou dizendo aqui que pode ter alguma coisa aí. — 

Tânia foi lá atrás do pai, conversou e nã nã nã e, aos poucos, o pai foi se aproximando aí da família. O pai casado com uma moça mais jovem e com dois filhos. Tânia, muito feliz agora desse convívio com o pai, Dona Lucinda sempre olhando torto porque não é de agora, depois de trinta e tantos anos, que o cara vai mudar, né? Mas um relacionamento ali se estabeleceu e, junto com esse relacionamento com o pai, a Tânia ficou muito amiga da madrasta. — E era uma coisa, assim, sensacional, elas eram muito amigas de verdade. — E aí o tempo foi passando… De quando Tânia foi pedida em casamento, dois anos se passaram até a data do civil. Os seis meses antes de chegar na data do casamento, a Tânia fez tudo, ela tinha economizado, então ela comprou um vestido de noiva — mandou fazer um vestido de noiva —, não ia ter festa porque eles não tinham uma condição financeira tão boa, mas ia ter um almoço ali após o civil e depois do casamento na igreja — que seria depois de uma semana no civil — eles iam se reunir ali na casa da Dona Lucinda, onde a Tânia ia morar com o marido… 

Ela ia continuar morando com a mãe, então deu uma reformada no quarto ali, enfim, era muito importante pra Tânia que a família toda estivesse reunida. Então ela fez os esforços ali, reformou o quarto, comprou o vestido e nã nã nã e quando faltava um dia e meio para o casamento de Tânia no civil, o noivo sumiu. — Sumiu… — Ninguém achava este homem. O pai de Tânia já estava também a procura dele e ninguém achava… Até que um dia depois da data do casamento — ou seja, o casamento não aconteceu —, Tânia ficou num estado que ela foi internada, este homem apareceu para dizer que não ia mais se casar com Tânia, que ele não estava seguro disso e que ele não queria mais casar. Tânia ficou internada dois dias e saiu, aí não teve o casamento religioso e um mês se passou dessa data onde não houve o casamento… Depois de um mês, o pai da Tânia chegou na casa da Tânia desesperado… — Por quê? — A esposa dele, com os dois filhos, tinha saído de casa e tinha ido morar com o ex noivo de Tânia. 

Essa madrasta da Tânia seria a madrinha deles de casamento, seria a testemunha no civil e seria madrinha de casamento no religios… E foi ela, inclusive, que ajudou Tânia a escolher o vestido… Tudo que a Tânia fez pensando no casamento teve dedo dessa madrinha. E aí a Tânia ficou num estado, assim, que ela falou pra mim: “Andréia, eu saí do ar… Porque eu não esperava realmente que a minha madrasta, que era então uma amiga de dois anos, que a gente foi construindo uma amizade, saísse com meu noivo”. E aí, agora, a história tá ruim, né? Vai dar uma piorada… Porque a madrasta mandou mensagem pra Tânia pedindo desculpas, falando que o amor aconteceu entre eles e nã nã nã, que isso, que aquilo e pedindo para Tânia se ela não queria vender o vestido de noiva dela pra madrasta, porque a madrasta ia casar com o cara no civil e no religioso. Ela era juntada com o pai da Tânia, nunca tinha nem pedido união estável, nada, então ela queria casar com o noivo da Tânia. 

A Tânia ficou em choque com o pedido do vestido, mas a Dona Lucinda falou pra ela: “Você vai ficar olhando pra essa caixa desse vestido e chorando? Não é melhor você vender, recuperar o seu dinheiro e se livrar dessa desgraça?”. E aí a Tânia pensou melhor e vendeu o vestido de noiva dela pra madrasta dela casar com o ex noivo dela… E aí eles casaram e, nesse meio tempo, o pai da Tânia botou a culpa na Tânia… Que se a Tânia não tivesse aparecido na vida dele — olha só que pai, hein? Dona Lucinda estava certo o tempo todo — isso nunca teria acontecido. A mulher não ia largar ele, só largou porque conheceu o noivo de Tânia — na época noivo — por meio aí da Tânia. Eles casaram [efeito sonoro de sino soando] somente no religioso, não sei por que não casaram no civil, ela usou o vestido, postou mil fotos e o casamento durou seis meses. Com seis meses de casado, eles se separaram. Ela voltou para o pai da Tânia e ele procurou a Tânia de novo, a Tânia não atendeu, não falou com ele, nada, mas o pai da Tânia — e é por isso que ninguém tem dó de corno [risos] — aceitou aí a moça de volta.

Dona Lucinda, assim que soube que o casamento tinha acabado, ela pegou ali o seu copinho de café e a sua fatiazinha de bolo e estava rindo — feliz assim, levemente sorridente —, e Tânia também ficou feliz, né, gente? — Não vamos negar, todo mundo torceu contra. — E aí Dona Lucinda falou pra Tânia que antes de mandar o vestido para a madrasta, ela fez uma coisa… Ela colocou tudo que ela desejava para o casal em papeizinhos costurados na barra do vestido. Discretamente, ela fez uma barra no vestido com todos os pedidos… [risos] Ela falou o que ela escreveu, a Dona Lucinda: “Eu espero que todo o sofrimento que vocês causaram retorne para vocês, que o casamento de vocês dure somente duas estações” — Ou seja, seis meses. [risos] — e foi escrevendo… Sem nenhum xingamento, mas assim todos os pedidos que ela tinha, a Dona Lucinda, ela fez e botou na barra daquele vestido. [risos] Então, a moça casou com o vestido com a barra cheia de coisa ruim. [risos]

E teve resultado? Não sabemos, né? Porque isso aí, sei lá, como é que chama? Simpatia, né? Simpatia, superstição, sei lá, eu acredito que não funcione, mas mentalmente ali foi prazeroso para Dona Lucinda colocar aí esses papeizinhos na barra do vestido. [risos] E o pai da Tânia nunca mais falou com ela, romperam novamente, e aí Dona Lucinda mandou aquele clássico: “Eu avisei…”. — Se ele não prestou por 30 anos, não era agora que ele ia mudar. Nunca procurou a Tânia, nunca pagou uma pensão, nunca nada… Não era agora que ele ia virar uma boa pessoa e Dona Lucinda aí tinha razão. Mas eu fiquei muito revoltada… Como que pode? Uma dia e meio antes do casamento o cara sumir pra ficar com a madrasta da Tânia? É muito sórdido, né? Tem que ter muita coragem de fazer um negócio desse. Ou melhor, ser muito covarde. — Tânia hoje está bem, ainda tem esse pensamento de que se ela estivesse casada — não com esse cara, mas a instituição do casamento em si —, ela estaria mais feliz. — Eu acho que isso é uma coisa que botam na cabeça da gente… Eu quando eu tinha trinta e poucos eu percebi que essa vontade de casar não era minha, era o que as pessoas queriam para mim, e aí eu virei um pônei selvagem e nunca aceitei isso. A partir desse ponto que eu descobri que não era um desejo meu, como ter filhos também não era um desejo meu, era um desejo de outras pessoas para mim. —

Então, eu acho que é muito libertador também quando a gente consegue se ver como um ser humano, uma mulher pensante, além dessas convenções que a maioria coloca pra gente que: “Olha, se você for assim, você vai ser mais feliz” ou “você precisa ser amada por alguém que vai estar do seu lado e nã nã nã”… O que vocês acham?

[trilha]


Assinante 1: Aqui é a Gabi de Curitiba. Foi realmente muito triste isso que eles fizeram com você, mas você deve considerar isso como uma coisa boa, você se livrou de uma pessoa que não estava se importando com o seu sentimento, em te trair, enfim… Você tem uma mãe que parece maravilhosa, sabe? Esse pai também não te merecia. Aproveita a sua mãe, sabe? Faz novos amigos, tenta cultivar algum hobbie, não precisa ser nada caro… Não sei, sair, passear, conhecer novas pessoas, lugares… Mas aproveita você e sua família, sabe? Não tenta procurar isso em pessoas. Eventualmente alguém pode aparecer, sabe, não estou dizendo para você não aproveitar as chances que a vida te dá, mas para você aproveitar a vida. Beijo e te desejo tudo de melhor. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, nãoInviabilizers, aqui é a Bárbara de São Paulo. Tânia, sinto muito aí por toda a sua história, por tudo que você passou… Estou mandando essa mensagem para dizer sobre essa idealização aí que você tem em torno do casamento, acho que tudo bem esse desejo, cada um tem um desejo, tem uma vontade, a gente idealiza sim… A gente mais imagina do que olha como as coisas são, né? Olha para o casamento que foi a sua mãe com seu pai, olha o casamento do seu pai hoje com essa mulher que ele foi corno… Os casamentos eles são instituições, eu não vou dizer “fracassadas”, mas que demandam muito trabalho, principalmente se você casa com homem, né? Sei lá, às vezes é o momento de pensar assim: Será que não tem mais idealização dessa felicidade do que, sei lá, algo que vai te realmente realizar? Acho que vale essa reflexão que a ideia falou, sabe? Às vezes a gente se fantasia muito e esquece de ver como são as coisas ao nosso redor. Espero que você fique bem e muito feliz, independente de como. Beijo. 

[trilha] 


Déia Freitas: O Ministério da Justiça Segurança Pública inicia hoje, dia 26 de agosto e vai até 30 de agosto, a Mobilização Nacional de Identificação de Pessoas Desaparecidas. Nessa ação vão ser coletadas amostras de DNA de familiares dessas pessoas desaparecidas. Se você tem um familiar desaparecido e quer participar, basta levar no dia da coleta um documento de identificação seu, original, e as informações do boletim de ocorrência do desaparecimento. Mesmo que seu familiar tenha desaparecido há muito tempo, gente, é uma oportunidade a mais de busca por esse seu familiar. Você pode então participar dessa mobilização… Não importa se desapareceu há 30 anos… — Ou mais ou menos. — 

Quanto mais próximo familiar, então pais biológicos, filhos, irmão do mesmo pai, da mesma mãe, enfim, melhor… Quanto maior o número de doadores, melhor. — Então vai você, seu pai, sua mãe, sua tia, enfim, vai todo mundo. — Deixei aqui na descrição desse episódio um link com mais informações na mobilização e também com o endereço dos mais de 200 postos de coleta espalhados pelo Brasil. Eu acredito muito na prestação de serviço que a gente faz aqui no podcast Não Inviabilize… Tem uns dois anos que eu anunciei que eu queria criar um quadro novo contando histórias de pessoas desaparecidas… Esse tempo todo eu venho pensando em como formatar esse quadro, até que o Ministério da Justiça e Segurança Pública me procurou para essa parceria, justamente aí envolvendo essa questão de pessoas desaparecidas. 

E eu falei: “Bom, esse é o momento agora de eu lançar esse quadro”. Eu vou contar histórias de pessoas desaparecidas, como eu conto as outras histórias aqui do podcast… Quem vai me trazer essas histórias além do próprio Ministério da Justiça e Segurança Pública é a ONG Mães da Sé — da minha queridíssima amiga Ivanise Esperidião, que é minha amiga há mais de 15 anos e que é uma pessoa maravilhosa, então a gente vai prestar esse serviço em parceria com a ONG — e no final dos episódios vai entrar alguém do Ministério ou indicado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública prestando um serviço, dando dicas, mostrando pra gente informações sobre esse tema — de pessoas desaparecidas —, explicando, por exemplo, por que é que não precisa esperar 24 horas para você fazer um boletim de ocorrência quando uma pessoa desaparece, isso é importante, porque tem esse mito… 

E a gente vai trazer muito mais coisas, vai ter a história do jeito que vocês gostam — característico do podcast — junto com essa parceria de Mães da Sé — que vai trazer as histórias para a gente, a gente vai fazer os roteiros — e no final vai ter aí o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Então, eu estou muito feliz com essas duas parcerias e com esse quadro e vamos junto, é isso, é prestar serviço e trazer histórias para vocês. Acessa agora o link aqui e, se você conhece alguém que tem uma pessoa desaparecida, manda o link pra essa pessoa, fala pra ela ir em um dos postos de coleta, espalha essa informação, posta nas redes de vocês, enfim, o link aí dessa campanha, dessa mobilização do Ministério da Justiça e Segurança Pública. — Valeu, parceria… Olha, eu tô chique, hein? Ministério da Justiça e Segurança Pública mais ONG Mães da Sé… Só a credibilidade, só o filé… É “nóis”, hein? — Então, gente, valeu, tô muito feliz com essa parceria e espero poder prestar um bom serviço, tô muito orgulhosa. — Um beijo e eu volto em breve.


[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]