Skip to main content

título: bingo
data de publicação: 01/04/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #bingo
personagens: manuela e o cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E olha, história revoltante que eu vou dar o nome de “Bingo”, porque, meu, esse cara é o Bingo do cara mau-caráter, sabe? A história que vou contar pra vocês é a história da Manuela, da Manuela com uma criatura aí, que eu não vou dar nome pra esse cara, então vocês já sabem que não é coisa boa. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Manuela conheceu essa criatura no trabalho, então ela professora, ele professor, ambos professores universitários, e eles se conheceram, começaram a ter um lance aí e a coisa foi caminhando. Aí esse cara, ele… Vai, digamos que ele estava com quarenta e cinco anos e ela com trinta e seis pra trinta e sete, e aí esse cara começou a falar pra ela que ele queria muito ter um filho porque ele já estava numa certa idade e ela também já numa certa idade, né? E aí a Manuela falou: “Bom, é uma coisa que eu pensava em ter, mas assim muito remotamente, talvez não, mas como surgiu esse cara que eu estou apaixonada e ele quer um filho porque não, né?”, e aí ela parou de se cuidar e continuou com esse cara. Eles não moravam juntos, né? Eles só namoravam, mas nunca tinha sido intitulado assim o namoro, ninguém pediu ninguém em namoro, assim, eles estavam juntos… — Pensava Manuela. — Até que Manuela engravidou, Manuela engravidou e foi justamente nas férias da universidade, então tipo assim, ela engravidou no final de novembro vai, aí veio dezembro, veio férias, ela não passou mal, quando foi final de janeiro alguém comentou com ela, tipo assim, “Nossa, você tá com um brilho diferente, tá mais gordinha, né? Tá bonita”, e aí deu um estalo nela, falou: “Gente, será que eu estou grávida?” 

E um detalhe importante, nas férias, este senhor, ele não ficou com a Manuela, — Vai, digamos, que eles davam aula em São Paulo — e ele foi pra casa da família dele no Sul, então dezembro e janeiro ele não esteve com a Manuela. E tudo bem, eles continuavam conversando por WhatsApp, tudo normal e aí ela fez o teste e Manuela grávida. Ah, felicidade, ela ficou super feliz e aí fez um puta áudio pra ele no WhatsApp e uma declaração de amor e, no final, falou que estava grávida. Aí ele visualizou, né? Ouviu, demorou uns quarenta minutos pra responder e quando ele respondeu, o áudio dele foi: — Aí, vamos ao Bingo… — “É meu?” — Gente, como assim “é meu?” — A única coisa que ele perguntou pra ela em áudio é se o filho era dele, como assim é meu? Ele foi viajar de férias, mas tá conversando com ela todo dia, sabe que ela não tem ninguém, que tipo de pergunta é essa quando a mulher te fala que tá grávida? Você pergunta “É meu”? — É meu? —

Então assim, a Manuela já ficou em choque, né? Aí respondeu pra ele: “Como assim é seu? Lógico que é seu”, aí ele respondeu que: “Ah, mas eu tô aqui há dois meses praticamente, como assim você tá grávida?”, aí ela teve que entrar com ele numa conversa de tipo, tem exame pra saber de quantas semanas, de ter que provar pra ele que estava grávida dele, sabe? — Ai, [suspiro] olha… — Aí essa criatura voltou do Sul, lá do Pântano que ele estava pra dar aula e ela também dando aula, aí quando ele voltou, ele não queria mais namorar com ela. — Olha o Bingo aí… — Aí falou pra ela que tinha falado a questão de ter um filho assim de uma maneira mais, palavras dele: “Filosófica”… — [riso sarcástico] Como se tem um filho de maneira filosófica? — Não, filho, você teve um filho de maneira bíblica, né? Você foi lá e “nheco nheco nheco” e criancinha, bebezinho… É, foi essa a história dele, sendo que a Manuela falou que ele sempre enchia o saco pra ela engravidar e ter essa criança aí. —

Aí ela teve que seguir a gravidez sozinha dando aula no mesmo lugar que esta criatura e a criatura ali, falava bom dia pra ela, boa tarde, como se nunca tivesse namorado e as pessoas da universidade ali, os outros professores, funcionários, e até alguns alunos, sabiam que ela namorava com ele, e aí quando perguntavam pra ele se ele ia ser pai, ele falava que não, gente, ele falava que não… Aí surgiu um boato na universidade de que ele tinha terminado com a Manuela porque ela traiu ele e engravidou, e ele tipo dava força pra esse boato, então olha o Bingo aí do cretino mau caráter, né? E aí ela ficou muito mal quando ela descobriu isso, né? Mas foi levando a gravidez, não tinha muito o que fazer. E aí nasceu o bebezinho, [som de bebê chorando] nasceu o bebezinho… Ele não foi na maternidade. — Não foi… — E ela teve que acionar a justiça pedindo uma investigação de paternidade. — Olha o bingo aí… — Aí foi, fez DNA e, obviamente que o bebezinho era dele, né? — Dessa criatura. — E aí ele ficou um pouco chocado, mas… — Mas reparem — Disse pra ela que tinha, quase todo o salário da universidade comprometido, que podia colaborar com umas fraldinhas, umas coisas e ela falou: “Bom, não é assim funciona, né, meu amor? É na justiça. Você vai lá e você fala pro juiz que você só quer dar umas fraldinhas”, e aí ele ficou puto. — Isso porque o cara queria ser pai, hein? Ficou puto. — 

Aí o juiz estipulou lá um valor e ele tinha que dar, e já saiu direto da… — Isso é uma coisa boa, né? Assim, há um tempo atrás eu nem sabia que isso existia, que tipo, já saía da folha de pagamento, tipo, a empresa que pagava a universidade que tirava o dinheiro dele e dava para o bebezinho, eu achei ótimo, achei lindo isso. — Aí na escola, lá na universidade, aquele boato que tinha de que ele tinha sido traído veio tudo por terra, aí Manuela começou a explicar o que tinha acontecido direito e ele começou a ser meio que hostilizado assim na universidade, o que eu acho ótimo. [riso] E todo mundo falando: “Nossa, você foi um canalha, né? Você foi um cretino, nã nã nã”, e aí ele pediu um afastamento, tipo, “Ai, nossa, tô abalado”. Aí ficou um mês afastado e voltou, quando ele voltou, ele voltou namorandinho, namorandinho com uma moça, porque estava namorandinho… — E, assim, voltou todo jovem. [risos] — E aí as coisas que ela precisava da criança fora isso, da pensão, é ir ao pai, então se ela tem uma coisa pra fazer, ele tem que ficar com a criança, né? E ele não ficava, não ficava, ela via as fotos dele no Instagram lá com a mocinha, a mocinha muito nova. 

E a vida foi passando, esse cara sempre dando trabalho, sempre ali no bingo, tipo, às vezes que ele ficava com a criança ele falava pra ela assim: “É, mas eu já te ajudei, já fiquei com o bebê dois dias”. — Gente… — E ele um professor universitário, tá? Não vem falar que ele não sabe das coisas não que ele sabe sim, é cretino mesmo. Aí um belo dia [riso] ele apagou todas as redes sociais, “Ah, o quê que aconteceu? O que aconteceu?”, ninguém sabia, chegou um bagaço pra dar aula, um bagaço, passou assim uns dias um bagaço, aí alguém, algum professor lá mais íntimo dele acabou descobrindo e fofoca de sala de professores espalha também, né? E aí, gente, sabe a novinha que ele estava saindo? Deu um golpe nele. [rindo muito] Ai novinha, olha, essa história é dedicada à você novinha, entendeu? [risos] E a Manuela falou que é uma mocinha bem novinha mesmo, que assim, ficava até feio os dois juntos e não se sabe como, ela deu um golpe nele e conseguiu que ele passasse o documento do carro pra ela, umas coisas assim, ela vendeu o carro dele… — Enfim, depenou. — Depenou a criatura. 

E aí a Manuela em choque, mas assim, super feliz — Porque, gente, eu não vou ser hipócrita e falar que: “Nossa, olha uma golpista”, essa moça fez pelo Brasil… [rindo muito] Ai, o que a justiça não faz, entendeu? E aí tirou tudo dele e ele ficou mal, querendo falar pra Manuela que queria diminuir a pensão, ela falou: “Bom, vai lá no juiz falar então, né? Porque o seu salário continua o mesmo”, porque o dinheiro do bebezinho saía do salário, então ele não tinha como mexer nisso. Aí ele ficou puto, puto, pobre, [risos] mas trabalhando e com salário, né? — Foda-se que ele perdeu as coisas, as coisinhas dele pra mocinha, nossa heroína. [risos] Ai, gente, olha — E aí a vida passou mais um pouco, ele se recuperou aí do baque da mocinha, né? A criancinha já estava maior, né? Já estava ficando mais tempo com o pai, só que quando o menininho ia pra casa do pai, ele sempre queria ficar um dia e voltar, porque falava que o pai não cuidava direito dele, que o pai não dava atenção, aí o menino nunca queria ficar com ele, mas tinha que ficar pelo menos de sábado pra domingo, sabe? Porque antes ele ia na sexta a cada quinze dias e voltava no domingo, quando era domingo de manhã — De manhã — o cara já devolvia a criança. Só que o menino não quis mas ir de sexta, então o menino, pensa, gente, o menino ia no sábado à tarde e voltava no domingo de manhã. 

O menino não queria ficar com ele, ele não queria ficar com o menino — Isso porque ele queria ser pai, “Porque ai, eu quero ser pai”, tá vendo? Acha que ser pai é o quê? Só espermatozoide no óvulo? E aí vem o baque. Manuela tá lá com o filho dela, tranquila em casa e recebe um telefonema. Este homem estava andando na rua, teve um mal súbito, caiu e morreu. Sim, a criatura do Pântano morreu. E agora, eu não sei como funciona isso, mas o salário dele lá da faculdade virou pensão do INSS, eu não sei como funciona isso, e aí agora ela recebe… — O bebezinho, né? A criancinha, né? Não é bebezinho, mas eu chamo de bebezinho — recebe praticamente quase todo o salário dele, até os vinte e um ele vai receber, ou até ele terminar a universidade, sei lá, alguma coisa assim. Então esse cara que não queria pagar pensão, que não queria ficar com o filho, agora depois de morto dá mais assistência para o garoto do que quando estava vivo. E aí fica o questionamento: Tem pai que vale mais morto do que vivo. Fiquei chocada, mas não é o bingo do canalha esse cara?  — É o bingo do canalha. — Mas pelo menos agora a pensão não atrasa, né? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, aqui é a Maya de São Paulo, e eu vim aqui deixar o meu recadinho pra Manu. Eu gostei muito da sua história, fiquei triste, né? Pelo fato dele ter sido seu companheiro, de vocês terem vivido uma história… Nunca é fácil quando a gente perde alguém assim desse jeito, mas é muito pior perder alguém em vida, sabe? Tanto que hoje não falta nada para o teu bebê, nem a pensão e o que ele vai receber sem atraso, sem choro, sem reclamação, sem você ficar exigindo. E a novinha, gente, minha heroína, deusa do Brasil, por mais novinhas dessa pra tá passando esses marmanjão pra trás. Muito obrigado a Manu por ter contemplado a gente com a sua história. Um beijo e se cuida. 

Assinante 2: Essa história prova de que o mundo não gira, o mundo capota, porque tudo o que esse homem fez de mal pra essa mulher e esse bebê inocente ele pagou, pagou sendo golpeado e depois pagou partindo, “puf”, assim do nada, sofrendo autocombustão, né? Mas eu acho que no final a história teve um final feliz, porque essa criança vai crescer com uma mãe que ama ele, tendo todo o suporte que precisa, sem ter traumas de crescer com um pai lixo e vai poder ter uma vida feliz, sem problemas financeiros, tendo todo o auxílio que precisa. Eu acho que no fim o resultado foi bom, olha só que bacana.

[trilha]

Déia Freitas: Bom, é isso gente, um beijo e até daqui a pouco.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.