título: biquíni
data de publicação: 24/02/2021
quadro: picolé de limão – especial férias 2021
hashtag: #biquini
personagens: priscila e namorado
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi, gente… Voltei pra mais um Picolé de Limão do nosso especial de férias, história bem desagradável. A história que eu vou contar pra vocês hoje é a história da Priscila e do cara ai que ela namora, e vamos que vamos, vamos de história.
[trilha]A Priscila conheceu esse cara há cinco anos, eles estão juntos há cinco anos. — Vou falar desde o começo do relacionamento deles. — A Priscila uma moça gordo, esse cara um moço gordo, e tudo bem. Eles namorando, feliz da vida e nã nã nã. Até que esse cara resolve fazer a cirurgia bariátrica. É importante dizer aqui, ambos assim com os exames todos ok, até hoje a Priscila com colesterol ok. — É importante falar, porque muita gente acha que só porque a pessoa é gorda ela não é saudável, e isso é um erro, isso é uma mentira, isso é gordofobia. — Então ambas com os exames ok, só que o cara não estava feliz com o corpo dele. — E também é ok fazer cirurgia bariátrica se a pessoa quer e acha que tem que fazer. Ela vai lá e faz. E foi o que esse cara fez. — Ele operou, a Priscila do lado dele o tempo todo, dando força pra ele o tempo todo, cuidando dele no pós operatório que foi punk, ela disse. Cuidando dele o tempo todo. E vida que segue.
Aí o cara começou a emagrecer… Começou a emagrecer, começou a malhar e a Priscila, ela faz ginástica, ela faz dança, mas ela não faz para emagrecer, ela não faz junta uma dieta de restrição calórica, sabe? Ela faz para ter uma vida saudável. — Tipo, muito diferente de mim que não sou gorda e sou sedentária. Já falei aqui outras vezes que, às vezes eu tenho que pausar aqui para respirar, porque eu perco o fôlego, enfim… Condicionamento físico não está atrelado a magreza, né? E falta de condicionamento físico não está atrelado a pessoas gordas. Isso tem que ficar claro, gente. A gente em que começar a falar sobre isso, né? Uma coisa que é muito importante e que a gente tem que começar a falar, mas enfim… —
Aí o cara começou a malhar para emagrecer mais rápido e também para não ficar com muita pele sobrando e tal, e a Priscila sempre dando força pra ele em tudo. E aí quando eles eram só um casal, eles tinham uns amigos ali, ela tinha as amigas dela e eles tinham os amigos dele, a turma e ele saiam com ambas as turmas. E, conforme ele começou a fazer academia, ele criou amigos novos, amigos da academia, amigos magros. E aí tinha algum rolê, algum evento assim alguma festa, — A gente está falando de tudo antes da pandemia. — Ele não levava a Priscila, não levava ela mais… Aí ela começou a ficar triste e tal, e as amigas dela já pegando ódio dele. — O que é normal e necessário até, eu diria, pra proteger a Priscila. — E eles acabaram terminando. .
Ele seguiu a vida dele de pessoa magra que agora era bem gordofóbico e a Pri seguiu a vida dela, mas ali, sem namorar ninguém, muito machucada ainda… Aí agora a gente chegou em dois mil e vinte, início de pandemia, deu um desespero nesse cara e esse cara pediu de novo a Pri em namoro, porque ele não queria passar o tempo sem ela. Porque eles terminaram e a Pri, não sei porque, mesmo machucada, quis assim… Não é que ela quis continuar amiga dele, ele falou: “ah, vamos continuar amigo”, sabe aquela coisa? Ela devia ter falado: “meu, vai…” — Eu até queria falar um palavrão aqui, mas vou porque agora tem algumas crianças na minha audiência. Mas ah, vai catar coquinho, sabe?” — Ah, vai se ferrar. — Se ferrar eu posso falar, né? —
Mas ela fez isso, então eles conversavam por mensagem, ele mandava às vezes foto da balada que ele tava, às vezes ele estava com alguma menina… E ela gostando dele ainda aceitou continuar essa amizade. — Que eu não acho que seja uma amizade, mas tudo bem. — E aí a Priscila ficou feliz e voltou com esse cara, e esse cara falando que tinha mudado. Que tinha mudado, porque nã nã nã aceitação do corpo feminino, porque agora ele entendia e nã nã nã. Aí durante a pandemia, para não ficar indo e voltando e, de repente, colocar os pais da Priscila em risco, ela foi morar com ele. E foi perfeito, gente, perfeito. A pandemia, até o final do ano agora, o período todo, a Priscila falou que foi como uma lua de mel assim. Tudo perfeito, ele é super sensível, ele super querido, ele super amigo… — E, um detalhe que eu levantei pra ela, que ela não tinha pensado e depois que eu falei ela começou a pensar, só que, né? Durante a pandemia, eles estavam confinados dentro de casa só os dois, ele não levou ela para nenhum lugar, ele não apresentou ela para os amigos magros, nada. —
Beleza, passou dezembro, agora no comecinho de janeiro eles resolveram tirar uma semana aí, dez diazinhos… Não é bem uma pousada, um lugar ali com chalés e tal. — Mais uma vez um lugar isolado. — Só que tinha piscina no lugar, tinham poucas pessoas, mas tinham pessoas. E aí a Priscila, um dia ele estava lá na piscina… No segundo dia isso, no primeiro dia eles chegaram no meio da tarde, então não dava para curtir piscina nem nada, no segundo dia ele foi primeiro pra piscina, e a Pri foi depois. E esse cara surtou. Surtou porque a Priscila estava de biquíni e ele falou: “onde já se viu? Como você tem coragem com um corpo desse colocar biquíni? Eu vim pra piscina seis horas da manhã porque eu ia ficar até às oito e voltar enquanto você estava dormindo, porque não tem condição de você ficar na piscina desse jeito”. Nessas palavras… — Palavras desse cara. — No dia seguinte eles chegaram na pousada.
E aí a Priscila chorou, porque assim, no final do relacionamento, mesmo ela continuando amiga desse… — Desse cidadão aí. — Ele foi muito cruel com ela e ele estava sendo cruel igual. E aí ela chorou muito nesse dia. Aí ele saiu, mas não tinha pra onde ir, porque era tudo ali dentro, tipo, do resort, dos chalés ali. — Não tinha pra onde ele ir. — E aí depois ele voltou, pediu desculpa e aí eles passaram os outros oito dias lá, ele ia pra piscina às seis da manhã e ficava até as oito e ela não ia mais na piscina. Ela não foi na piscina nenhuma vez. O dia que ela pôs short, ele falou pra ela colocar uma legging. E aí… — Agora é que vem o pior para mim. Por que eu falo sempre que a gente não pode ser ONG de macho? — Ele diz que ele trata a Priscila assim porque ele tem traumas de quando ele era gordo. — Só que eu vou retomar pra vocês aqui um pensamento que é meu, tá? Sobre ser ONG de macho. Nem sempre a ONG de macho é referente a algo financeiro, sabe? O cara ali tá querendo que ela seja terapeuta dele, que ela seja a mãe dele pra cuidar dele, porque tem isso também… Agora ele tem uma alimentação diferente, nesses oito meses ela fazia comidas, sei lá, saudáveis pra ele e tinha que ser tudo do jeito que ele queria… A empregada dele, porque é ela que limpava a casa e fazia tudo. Ele falando esses absurdos, essas crueldades pra ela, ela tem que entender e tem que acolher o princeso. Então, isso também é ser ONG, é ser suporte de um cara que está te tratando dessa forma. —
É aí é que está, a Priscila ela acha que ele gosta dela. — Vendo de fora, eu acho que não, mas eu estou de fora, entendeu? — E acha que aos poucos ele está mudando, mas eu acho que esse cara não vai mudar. Ele é gentil com ela quando eles estão isolados, quando eles estão, sei lá, com mais três pessoas, que seja, no mesmo ambiente, ele sempre é cruel, ele sempre assim, não deixa ela comer as coisas. Mesmo que seja, tá todo mundo comendo batata, e aí ela não pode comer batata, sabe? E aí agora, como ela foi para um lugar de férias e ela não foi pra piscina nenhum dia e teve que ficar andando de legging porque esse cara “ai, ele tem trauma”, sabe? Não tem a menor condição, não consigo… Então, assim eu nem vou me estender mais assim. Eu conversei muito com a Pri, ela é uma mulher maravilhosa, sabe uma pessoa sensacional? Isso que eu não entendo, sabe? Como mulheres incríveis como a Priscila estão com caras assim, sabe? Esse cara não tem nada de bom, nada de bom…
Mas ela acha que ele pode mudar aos poucos e — Outra coisa que eu acho não é função dela, né? De ser a ONG antigordofobia com esse cara, sabe? Tem que ficar panfletando agora pro seu namorado não te tratar mal. Olha, é muito pra minha cabeça, é muito. Olha, eu entendo a Pri, sei que ela gosta… — Tem a questão do sentimento, né? Quando a gente está do lado de dentro de um relacionamento é uma coisa… Mas também tem uma hora que tem que dar aí um estalo e, sei lá, mandar esse cara pastar, né? — Não posso nem falar o que eu queria fazer. — Mas Pri assim, eu sei que você quer tentar, que você acha que ele vai mudar, mas não estou otimista, não estou. Quero seu bem, quero ver você feliz, se estar com ele te faz feliz… Mas eu fiz essa pergunta e você respondeu para mim que “por enquanto eu não estou feliz, mas eu acho que um dia eu vou ficar”. Assim, falando em relação a ele, né? Que um dia ele vai te fazer feliz. Não dá para gente pensar em ser feliz no futuro com um cara que está deixando infeliz hoje, entendeu?
Deixa ele malhar, — encher o cu dele de Whey. Desculpa, gente, não tem como não falar palavrão, entende? E segue a sua vida. — Não consigo, gente. — Um beijo, você sabe que eu já criei um afeto por você. E sejam gentis com a Priscila no grupo, qualquer palavra mais rude a gente vai banir mesmo, porque não tem porque, a gente tem que entender o lado da Priscila também. Agora, se for falar mal do cara, pode falar. [risos] Sem xingar, sem ofender também, porque o grupo não é para isso, mas tá difícil.
Assinante 1: Olá, meu nome é Deliane, eu sou aqui de Cascavel. E primeiro eu gostaria de falar com a Priscila, se ela acha justo ela ter que se privar de ter experiências bacanas, ser do jeito que ela gostaria de ser por causa do outro. Se ele tem traumas, ele tem que procurar terapia para resolver isso. A gente precisa falar de responsabilidade afetiva, o cara não pode simplesmente projetar as frustrações dele em você, te magoando, achando que pode falar o que quiser. Ter alguém no nosso lado que nos trate bem, nos queira do jeito que a gente é, é o mínimo no relacionamento. Então, Priscila, cuidado minha querida, porque a legging pode ser só o começo. Então, o que mais você tá disposta a se privar por causa do outro? Pensa nisso, você merece muito mais, você merece ser muito feliz. Um abraço.
Assinante 2: Oi, galera, meu nome é Stefany, eu sou de Osasco. Moro em Osasco, sou carioca. Pri, a única coisa que eu tenho pra te falar: se coloca de fora. Eu sei que você está dentro, é muito difícil a gente enxergar o que está acontecendo com a gente, né? Se coloca de fora dessa relação e começa a entender, sabe? Olha com carinho para si mesma. Você não merece passar por isso, nosso namorado, nossa namorada, não importa, não pode tratar a gente mal. É uma coisa básica chamada respeito, sabe? Não importa… Esse cara tá com você, deveria te amar e ele não te ama, desculpa dizer assim, eu sei que é muito duro, mas ele não te ama. Quem ama não fala isso, não trata os outros dessa forma, sabe? Eu sei que dói, coração partido é uma coisa muito ruim, mas não vale a pena você continuar com ele. Olha com carinho pra si mesmo. Beijo pra você.
Déia Freitas: Um beijo e até a próxima história.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]