título: biscoitinho
data de publicação: 07/12/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #biscoitinho
personagens: marina e gustavo
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra mais um Picolé de Limão. A história de hoje é história da Marina e do Gustavo, e quem me escreve é a Marina. A história da Marina chegou pra mim da seguinte maneira: ela queria que os ouvintes ajudassem com que o namorado dela não fosse mais um cara tão triste e desanimado em relação à ela, aí eu fui lendo e fui achando super estranho assim, o contexto todo, aí nós conversamos, eu falei pra ela o que eu achava, aí eu vou contar a história pra vocês e vocês aí tirem as próprias conclusões. Então, gente, vamos de história.
[trilha]A Marina conheceu o Gustavo numa balada tem quase quatro anos e, desde então, eles vinham namorando, mas o cara estava sempre pra baixo. — Como pra baixo, Andréia? — Se a Marina convidasse ele para uma festa? Ele até ia na festa, mas chegava na festa e falava: “Poxa, ah, mas você me trouxe pra cá, que lugar chato. Ai, não gostei, vamos embora”, ah, se a Marina convidasse ele pra ir ao cinema mesmo que fosse um filme que ela queria muito ver, ele no meio do filme falava: “Ai, que filme chato, eu não tô aguentando. Por que você escolheu esse filme? Vamos embora”, e a Marina ia embora, ai a Marina… — Estou dando exemplos aqui que ela me deu, tá? — A Marina foi promovida no trabalho, “Ai, mas agora a gente vai se ver menos então? Você vai ficar mais focada no trabalho? Poxa, tô triste.” — Então… [risos] — Tudo deixava esse cara triste, tudo deixava esse cara pra baixo, tudo ele ficava chateado.
Então assim, nesse ponto da história da Marina eu já estava nervosa [riso nervoso] porque a gente precisa muito falar desse tipo de cara manipulador, que é o cara que ele não é agressivo. Não dá nada na cara, ele faz birra, ele faz manha, ele se finge aí de chateado pra te manipular, né? Que se a gente for ver aqui, de todas as situações que a Marina contou pra mim, esse cara conseguia tudo que ele queria falando apenas que estava triste e chateado, e que “Ó, vida, ó, dia, ó, azar”. Aí tudo bem, chegamos à pandemia… — Lógico, né? — Marina morando sozinha, ele morando com a mãe, ele não queria colocar a mãe em risco, resolveu o quê? Resolveram os dois, né? Porque a Marina concordou: “Ah, vamos morar junto”. Tudo bem, um relacionamento já de quatro anos, eles conviviam bastante tempo juntos, né? Então menos mal. Pelo menos deveria…
Só que é aquela coisa quando você passa a conviver em baixo do mesmo teto que uma outra pessoa as coisas mudam, né? Então o quê que esse Gustavo começou a fazer? A Marina acordava de manhã, fazia a mesa do café, coisa que ela não teria obrigação, não é um hotel, podia muito bem pegar a mãozinha dele abrir ali o pacotinho de pão de forma, passar uma coisinha e comer, né? Ninguém vai morrer. Aí ela arrumava a mesa de um jeito, ele falava: “Ah, mas assim? Minha mãe faz assado”. — Como assim sua mãe faz assado? Então, vai, volta a morar com a sua mãe, né? — Então ele começou a comparar a Marina com a mãe, nas pequenas coisas até assim coisas grandes como, ah, ela fez um dia lá um almoço completo pra ele baseada nas coisas que ele gostava de comer… — Poxa, o mínimo que você fala: “Ai, que legal, obrigado”. — Ele falou: “Ai, nossa, perto da comida da minha mãe… Ai, que saudade da comida da minha mãe”, passou o tempo todo triste… — Detalhe do triste, né? — Falando da comida da mãezinha dele que ele sentia falta. — Por que a mãe dele não fez marmitex e mandou então? A mãe dele deve tá dando graças a Deus né, que estava longe? Ai, enfim. —
Aí um dia ele cismou, ele acordou e cismou que ele queria um biscoitinho que a mãe dele fazia com goiabada no meio. Gente, você quer um biscoitinho que a sua mãe faz com goiabada no meio, você tem duas opções: você liga pra sua mãe e pede pra ela enviar o biscoitinho ou você entra no YouTube com a receita de biscoitinhos, vê o passo a passo de como tem que fazer, porque com certeza tem uma receita de biscoitinho com goiabada no meio… — Então pra mim as opções seriam essas, né? —Tem também comprar, ou você compra um biscoitinho similar, né? Pede um delivery, manda entregar e come o seu biscoitinho, não é? Não, não é, ele queria que a Marina fizesse o biscoitinho pra ele. — Gente, reparem, namorados, hein? Gente super novinha. —
Daí a Marina começou a tentar fazer esse biscoitinho e fez uma receita e, assim, ela falou pra mim: “Andréia ficou bom o biscoitinho, ficou igual estava na receita da mãe dele lá, mas sei lá se a mãe dele faz outra forma”, ele comeu, comeu tudo, mas falou que: “Ah, não é o biscoitinho da minha mãe”. — Poxa, você vai tentar fazer de novo esse biscoito? Pra mim já deu, né? — Marina foi na outra semana, comprou mais goiabada, fez de novo o biscoitinho, aí ele comeu e falou: “Ah, esse daqui tá pior do que o da semana passada”. — Ô, gente… [riso nervoso] Ai, respirando porque olha, eu já fazia ele olha, engolir tudo. — Aí a Marina ficou super chateada. — E parou de fazer o biscoito Marina? Não… — Marina foi lá, comprou mais goiabada, fez uma terceira fornada de biscoitinho, aí sabe o quê que esse cara falou na terceira fornada de biscoitinho? Que a Marina estava fazendo o biscoitinho errado de propósito, porque ela não queria ver o Gustavo feliz, porque ela não queria que ele tivesse um conforto ali de lembrar da mãe dele, sendo que a mãe dele mora, vai, em outro bairro. Tá com tanta saudade da sua mãe você bota o seu tenizinho e anda, porque dava para ir andando, a Marina falou, na casa da mãe.
Então ele transformou a história do biscoitinho numa coisa absurda que era: a Marina está provocando o Gustavo pra ele não ser feliz errando no biscoitinho. Aí ela se encheu e falou pra ele assim: “Olha, então faça você o biscoito da sua mãe, porque se ele é tão perfeito você deve saber fazer”, “Nossa, pra quê? Porque foi você que se dispôs a fazer o biscoito, eu tô sofrendo”. — Escuta, quem não tá sofrendo da pandemia? Eu tô sofrendo? — “Porque eu tô sofrendo, eu só queria uma alegria” — [riso irônico] Olha, eu vou ser bem sincera pra vocês, esse é o pior tipo de cara pra mim, o cara que tudo ele dá um jeito de fazer a coisa ser sobre ele, para ele e pra felicidade dele. — Então ele conseguiu contornar a história de uma maneira que a Marina acabou pedindo desculpa pra ele. — [risos] Eu não sei nem o que dizer, gente, eu não sei o que dizer, eu não sei o que dizer desse biscoitinho.
Parou a história do biscoitinho? Não. Porque ele falou: “Ah, tudo bem, eu sei que da próxima vez você vai acertar”, só que a Marina ficou meio traumatizada, né? Então ela deu um tempo, ela vinha ali três semanas tentando a fornada do biscoitinho perfeito e aí ela falou: “Ah, eu vou dar um tempo porque não quero mais briga e depois eu faço”, e nesse meio tempo ela falou com a mãe dele, né? E perguntou sobre o biscoito, se tinha alguma dica, alguma coisa, e a mãe dele falou: “Não, eu faço de cabeça assim, né? É aquela receita que eu te passei, mas eu faço de cabeça, qualquer coisa eu faço aqui e mando” e foi isso que a mãe do Gustavo fez, ela fez o biscoito e mandou. Aí ele comeu o biscoito da mãe dele, falou que o biscoito da mãe dele era excepcional e a Marina comeu também e falou: “Gente, tá igual o meu, [risos] tá igual o meu”. Então o quê que a Marina fez? A Marina pegou uns biscoitos da mãe dele e guardou, e aí ela fez uma fornada de biscoito e deu pra ele uns biscoitos da própria mãe dele.
Ele comeu e falou: “Não tá igual, olha, é melhor você não tentar mais”, e aí a Marina pegou o potinho e mostrou falou: “Ó, eu te dei biscoito da sua mãe, como que não tá igual?”, e aí gente este homem, ele se sentiu a pessoa mais traída do mundo, vocês repararam que a gente tá contando uma história sobre biscoito? Sobre um biscoitinho? Só que não é bem sobre o biscoitinho, né? É sobre a manipulação que esse cara faz. E aí ele se sentiu ultrajado porque a Marina enganou ele, que não sei o quê, quando o foco é: Pra mim, você, cretino, você comeu o biscoito da sua mãe e você falou que estava ruim, que não estava perfeito porque você achou que era o meu biscoito. Gente, olha esse cara… Quer dizer, ele comeu o biscoito da mãe dele e por achar que o biscoito era da Marina ele falou que não prestava, quer dizer, o problema tá aí, não tá na Marina ter colocado o biscoitinho… — Eu não acho que isso foi uma traição, que foi uma “Ah, nossa, coitado do Gustavo, foi traído pelo biscoitinho de goiabinha”, me poupe, né? —
E aí agora eles estão juntos ainda, né? — Não sei porque, Marina, mas estão… — Nessa pandemia… E tudo ele joga na cara dela agora que não pode mais confiar nela porque ela deu o biscoito da [falando e rindo ao mesmo tempo] mãe dele pra ele comer. — Ai, eu adorei essa parte, porque assim, ela foi esperta, né? Ela deu o biscoito e era biscoito da mãe, e ela desmascarou ele [risos] — Porque eu não entendo a Marina, você já viu que esse cara não te valoriza, ele não aceita o seu biscoito, você vai ficar com esse cara? Quantas fornadas de biscoito ainda pra você, sabe, se tocar que esse cara… Eu não vou nem falar nada desse cara. E agora tudo ele usa a questão da Marina ter colocado o biscoito da mãe dele ali na fornada dela, né? E ter dado pra ele fingindo que era da fornada dela e ele usa como se fosse uma coisa assim: “Olha, olha o que você fez pra mim, você traiu a minha confiança com o biscoitinho [risos] e eu não sei se a gente vai poder ficar junto”, e como ela gosta muito dele, aí ela pede desculpa, ela se arrepende de ter feito isso do biscoitinho.
Eu, Andréia, achei genial, não me arrependeria e teria inclusive postado “Gente, vou fazer o seguinte experimento” e dado biscoitinho pra ele, anotado que ele falou mal do meu biscoito e postado: “Aqui, ó, falei que era da mãe dele”, eu teria feito, porque foi genial. Agora ela se arrepende, ela gostaria de saber como consertar isso e continuar com o Gustavo, mas a minha opinião é: o biscoitinho aí poderia ser o biscoitinho da sorte, né? E você se livrar desse cara por causa dessa história do biscoito. Então eu não tenho nenhum conselho bom pra dar do tipo, fica com esse cara porque pra mim, Gustavo eu te odeio, entendeu? Não tenho como ficar do lado desse cara que é sommelier de biscoito, o crítico de arte do biscoitinho, não tenho como. Por favor, sejam gentis com a Marina lá no nosso grupo do Telegram, é só você ir na busca do Telegram e jogar “Não Inviabilize” que o grupo aparece. Sejam gentis com a Marina e deem lá o palpite de vocês do que ela tem que fazer pra continuar com o crítico de biscoito, ou se vocês concordam comigo que tá gastando farinha à toa. Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve, até mais.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]