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título: boletinhos
data de publicação: 15/11/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #boletinhos
personagens: amanda e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar para vocês a história da Amanda. — Hoje a Amanda tá com 27 anos, essa história dela é quando ela tinha 22. Então já tem aí um tempinho… — Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]

Quando a Amanda completou ali 22 anos, ela que trabalhava numa loja de departamento, que a gente vai chamar de Ponner, ela trabalhava na Ponner, ela foi mandada embora e ela tava fazendo faculdade, enfim, morava com mais duas amigas. E aí ficou desesperada, não ia ter como pagar a faculdade, fazer as coisinhas dela e nã nã nã. Aí já tava meio ferrada mesmo, falou: “ah, vou procurar um gatinho aqui nos aplicativos”. Aí tava ali, navegando nos aplicativos e vendo os caras que interessavam, quando ela viu um perfil ali de um homem que dizia que tava procurando uma namorada — mas o namorado tava entre aspas — e que ele gostaria de bancar essa namorada. E aí a Amanda achou aquilo engraçado, mas achou que não fosse real, porque até então, ela já tinha visto assim, tipo, homens mais velhos que bancam mulheres mais novas, né? Mas ela não tinha dimensão se isso era verdade, se não era, como é que era isso e tal. 

E aí ela deu match com esse cara, eles começaram a conversar. A primeira coisa que ela pediu foi uma chamada de vídeo, e aí ali na chamada de vídeo ela viu que era um senhor bonitão. — Um senhor de mais uns 65 anos, 68, por aí… — E eles ficaram conversando, a Amanda não sabia bem o que falar, mas o cara foi mais direto, né? E falou: “Olha, eu tenho interesse e tal, do que você tá precisando?”, aí ela falou da faculdade, falou do aluguel, [risos] do condomínio. [risos] — Ê, Amanda…Pelo amor de Deus… [risos] Nem se porque tô rindo, como que você vai começar um namoro que seja, entre aspas, assim “ah, o que você está precisando?” [risos] “Olha, minha lista é: meu condomínio”. [risos] Mas foi assim que foi… Amanda passou pra ele toda toda a lista de dívidas mensais que ela tinha, ele perguntou os valores dos boletos nã nã nã e ele pediu a conta dela. Ela não acreditou que ele fosse depositar alguma coisa, porque eles não nem se conheciam ainda, só tinham feito lá um Facetimezinho no WhatsApp.


E aí ela passou a conta, falou: “Isso aí com certeza é K.O., né?”. — Gente, a Tedzinha [risos] bateu na conta da Amanda. — A Tedzinha bateu na conta da Amanda com o valor ali das contas dela do mês. E aí ela falou: “Pronto, agora, né? Comecei aí um romance com este senhor”. E aí eles continuaram conversando ali por uns 20 dias até marcar… Ele levou a Amanda pra jantar, foi super cavalheiro e e nã nã nã… — Mas a gente não pode esquecer que ali tinha um acordo comercial, né? — E aí eles foram pros finalmente e tal. e nã nã nã, a Amanda falou que foi ok, foi bom e a vida seguiu. E aí eles começaram a sair, como esse senhor era um senhor… Um médico meio famoso, assim, desses que vai em programas de TV e, enfim, era uma pessoa, assim, mais conhecida, eles iam sempre em lugares discretos, mas lugares discretos de muito bom gosto, assim. E ele também tinha um apartamento… — Que eu acho que ele só usava para levar as mulheres, sei lá. — E aí eles iam pra esse apartamento também e nã nã nã e as contas da Amanda ali sendo pagas, né? 

Quando ela conheceu ele, ela tava no final do penúltimo ano da faculdade, aí o último ano inteiro ela com ele, ele pagando tudo, perfeito, ela fez viagens, conheceu aí lugares fora do Brasil. E nem todas viagens ele ia. Então, às vezes ele não ia, só mandava Amanda, tipo, viajar… E não viajava de econômica, não, ia de executiva e quando tava com ele ia de primeira classe. — Olha, a Amanda… [risos] Ê, Amanda…— Tudo corria bem, a Amanda se formou, esse cara deu um presente caro pra ela, que ela pediu que eu não falasse e nem substituísse, só dissesse que foi um presente caro. E aí esse cara deu esse presente caro pra ela, ela continuou como ele, né? E aí um dia eles tavam lá nesse apartamento que esse cara tinha, eles transaram, pediram uma comida ali por delivery, um delivery caro, caro, caro… E quando ela desceu para pegar, ele tava sentado na cama, mexendo no celular, sentado, assim, recostado, né? Na cabeceira da cama, mexendo no celular. Quando ela voltou, ele tava do mesmo jeito, mas com o celular caído e ele tava meio estranho. E aí esse senhor mesmo falou pra Amanda: “Chama uma ambulância que eu tô tendo um infarto”.


Foi o tempo dele falar isso e cair de lado na cama. E aí a Amanda ficou desesperada, o único número que ela conseguia lembrar eram 190, ela ligou pra polícia. A polícia, nesses casos, transfere para o Corpo de Bombeiros, mas continua com você na linha. E Amanda falava: “Ele tá morto, ele tá morto” porque ele tava deitado, assim, de lado. — E eu só fico pensando… Uma coisa que eu penso, assim, gente… Quando a pessoa morre em casa é um perereco pra você conseguir liberar aquele corpo… É complicado morrer em casa. Tanto que aqui na minha família, [risos] quando a gente passa mal, assim, agora sou só eu e a Janaína, mas quando todo mundo era vivo, era sempre assim: “Vamos correr para o hospital, porque se morrer aqui é em casa…”. [risos] Ai meu Deus, minha família sempre foi doida. Mas sempre foi assim… “Vamos correr pro hospital, se morrer aqui em casa vai ser um perereco pra tirar. É muita dor de cabeça. Se cair na porta da Santa Casa já é outra coisa, né?” Então era correr pra Santa Casa. [risos] Ai, meu Deus… Quando alguém da família mais distante ligava, a minha tia já falava: “É melhor correr para o hospital, que se passar a noite aí e morrer em casa, complica”. [risos] Então minha família sempre teve esse medo da coisa do morrer em casa. E a Amanda, óbvio, não é uma pessoa da minha família, não teve essa preocupação. —


Mas ela ficou tão paralisada… Por que o que você faria numa situação dessas? Ele tava ali, caído de lado, parecendo morto, você não tem tentaria esticar ele na cama, sei lá, qualquer coisa? A Amanda ela não conseguia fazer nada, assim, ela só ficava pensando que ela ia ser presa. — Mas não tinha porque ser presa se o cara teve um derrame, um infarto, sei lá. — E aí o socorro chegou e ele não tava morto, ele tava desmaiado… E aí ele foi socorrido, foi levado, né? A Amanda não foi junto na ambulância… — Porque até então… — Ela só tinha o contato de uma pessoa, que era uma assistente dele. Então, esse cara falou pra ela: “Olha, se acontecer qualquer coisa com você, — ruim — você liga pra este número e fala com esta mulher”, que a gente vai chamar, sei lá, de dona Vera. “Fala com a dona Vera”. E aí foi isso que a Amanda fez, a Amanda depois de ligar pra polícia e pedir ajuda, ela ligou pra essa dona Vera e essa dona Vera foi bem clara: “Olha, assim, que o socorro chegar você só pergunta pra onde vai a ambulância e não vai junto”. — Porque provavelmente essa dona Vera ia avisar a família dele e nã nã nã, né? E ia ser, obviamente, estranho a Amanda chegando na ambulância. —


E aí, como ele saiu dali já, assim, com olho aberto e tal, a Amanda ficou um pouco mais tranquila, resolveu comer o delivery. [risos] — Ô, Amanda, pelo amor de Deus, Amanda. [risos] — Comeu o delivery caro ali que eles pediram. E aí, depois dali uma semana, ela só ficava pegando as atualizações da saúde dele pela dona Vera, e aí essa dona Vera falou: “Olha, ele não vai mais poder te encontrar. Ele ficou aí com algumas sequelas e tal e eu já falei com ele, ele tá lúcido, ele pediu pra eu te dar isso aqui”, que era tipo uma grana… “E falar que foi legal e nã nã nã e acabou”. E aí foi assim que acabou aí esse acordo que a Amanda e esse senhor tinham. E ela depois não procurou mais esse estilo de relacionamento e seguiu a vida, enfim… E aí, agora tem pouco tempo, ela soube que ele faleceu, né? Não sabe se foi Covid, se foi outra coisa, ela só ficou sabendo que ele morreu.


E aí essa é a história da Amanda, ela não tava procurando aí um sugar daddy, mas acabou achando o sugar daddy dela. E que doideira, né, Amanda? —Que doideira, que você comeu o delivery. [risos] — Ainda bem que ele não morreu, né? Ele ficou… Uma pessoa rica com uma ou outra sequela tem mais recurso aí pra se cuidar do que a maioria dos seres humanos. E que bom que ele não morreu, enfim… Mas essa é a história da Amanda e dessa lista de coisas que ela tinha pra pagar mensais… E ela falou que era um senhor muito agradável, então, assim, que não foi ruim pra ela ter feito isso, mas era uma coisa que ela só contava ali pra amigas dela do apartamento, né? Que ela dividia. Não contou em casa, enfim… Não contou por aí. É uma coisa que ficou mais ali em off. 


[trilha]


Assinante 1: Oi, Déia, oi, pessoal, é a Neyla de Araucária. Amanda, mandou bem demais, guria… Você mandou muito bem. Você aproveitou o que deu pra aproveitar, você viajou, você pagou seus boletos que é o mais importante… E você ainda comeu delivery… [risos] Quando foi a hora de se retirar, você se retirou com elegância e vida que segue. Amiga, eu sou sua fã, não te conheço, mas já te admiro. Um abraço.

Assinante 2: Oi, eu sou Monique do Rio de Janeiro. Preciso admitir que eu amei a história Boletinhos, porque eu acho que é isso, né? Todo relacionamento é um acordo e, desde que ambas as partes entendam esse acordo claramente e se comprometam, enfim, desde que esteja tudo certo pra ambas as partes acho que tá valendo… Como a própria secretária dele no final disse: “Foi tudo ótimo”, o cara ainda deus mais uma grana pra ela mesmo depois de ter terminado, então é isso, assim, foi ótimo pra ela, foi ótimo pra ele e ninguém saiu magoado… Deu tudo certo, assim, apesar de depois ele ter falecido, mas aí é a vida seguindo o curso… E é isso, gente… [risos] É sobre isso, inclusive, é sobre fazer acordos de forma que fique bom pra todo mundo, é isso…

[trilha]  

Déia Freitas: Então, essa é a história da Amanda, deixem seus recados pra Amanda lá no nosso grupo do Telegram. Sejam gentis. E eu volto em breve, um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]