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título: bombinha
data de publicação: 31/05/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #bombinha
personagens: hugo e mateus

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E hoje é a história do Hugo e do Mateus, quem me escreve é o Hugo. Ê, Hugo… Vamos lá. 

[trilha]

Bom, o Hugo conheceu o Mateus já tem mais de um ano e meio, então a gente tá falando aí de uma época pré-pandemia. — Eu aprendi hoje com os jovens do Twitter que eles chamam a pandemia de “pandis”, então essa é uma história pré-pandis. — [risos]. Bom, e como é que o Hugo conheceu o Mateus? Eles têm muitos amigos em comum e eles se conheceram numa festa de amigos de amigos, então o Hugo ficou muito interessado no Mateus e o Mateus fazendo assim aquela linha “Ai, todo mundo gosta de mim, todo mundo me ama”, mas o Hugo gostou muito dele. E aí, poxa, eles tinham vários amigos em comum, então o Hugo começou a ir nas festas, ir assim, nos encontros que tinha ali da galera junto com esse Mateus. Até que um dia eles ficaram, e aí o Hugo teve certeza que ele estava apaixonado pelo Mateus. — Mesmo. —

E o Hugo, ele é um cara assim, ele vai nas festas e tal, conhece a galera, mas ele não é festeiro, sabe? — Ele não é assim baladeiro. — E ele tem asma, então se for lugar muito fechado, tipo, se for uma balada em lugar fechado, pra ele não dá, ele já se sente meio mal e tal, então se for num lugar aberto ele vai de boas. — Mas tem essa questão aí da asma. — Daí Hugo e Mateus começaram a ficar. — Parece até nome de dupla sertaneja, né? Hugo e Mateus. — E aí eles começaram a ficar, o Hugo estava super feliz, mas o Mateus ele sempre assim, queria deixar meio claro para o Hugo que ele era mais descolado, mais bonito, inclusive ele chamava o Hugo de “Prejudicado da Beleza”. — Gente? — E o Hugo falou: “Ah, Déia, eu levava na brincadeira e tal, mas ele me chamava assim de Prejudicado da Beleza”. — Ê, Hugo. — 

Aí eles foram namorando, namorando, — Namorando numas, né? — o Hugo achando que estava namorando e o Mateus ficando com ele. E o Hugo mora sozinho… E o Hugo tem muito medo de passar mal por causa da asma, então ele tinha em casa uma caixa de bombinhas ali do remédio dele, né? E o Mateus frequentava a casa dele e achava a asma do Hugo uma frescura. — Gente, como que asma é frescura? Tem gente que morre de asma. Asma não é frescura. — E aí ele achava uma frescura a asma do Hugo. O tempo foi passando, eles iam ter o primeiro aí Dia dos Namorados de 2019, né? Juntos… E o Hugo foi lá e comprou um presente pra ele muito bonito assim, uma camisa… — Como é que eu vou dizer sem dizer… — Vai, digamos, que era uma coisa muito exclusiva assim, né? De um… De um estilista assim mais conhecido, e que tinha poucas peças, que era quase personalizada o negócio. 

E ele, poxa, ele foi lá pegou o dinheiro dele e comprou para o Mateus e eles tinham combinado de passar o Dia dos Namorados juntos, né? — Ele combinou antes, não foi surpresa. — Ele combinou antes esse jantarzinho de Dia dos Namorados, e aí marcou oito horas da noite, o Mateus falou que até oito e meia no máximo ele chegava. E aí deu oito e meia, nove horas, nove e meia, dez horas… E o Mateus não apareceu, não apareceu, o celular desligado, o Hugo já assim arrasado, quando foi onze e meia da noite, o Mateus apareceu. Apareceu, falou que tinha surgido um problema no trabalho, e que isso que aquilo, mas chegou. Então, assim, o Hugo pra ele estava ótimo, né? Ele chegou, estava lá e aí ele deu o presente, aí o Mateus falou: “Ai, eu não comprei nada pra você porque eu não sabia que era pra gente trocar presente”. — Bom, tudo bem, vai? Vamos deixar passar essa do Mateus aí. —

E aí eles ficaram juntos, né? Continuaram ali… O mês de junho passou… — Às vezes ele dormia lá no Hugo… — Chegou em julho, que estava mais frio, o Hugo começou a sentir que ele ia ter uma crise de asma, que ele correu no armário dele ali pra pegar uma bombinha da caixa que ele tinha… — Ele tinha de uso, né? E ele tinha uma caixa que tinha várias. — Não tinha mais bombinha, gente, nenhuma, nada… E só quem frequentava o apartamento dele nesse ponto assim, de, tipo, mexer no armário que fica embaixo da pia do banheiro dele ali, era só o Mateus. E aí ele passando mal, ele viu que não tinha bombinha, né? Começando a passar mal, ele saiu pra comprar, e já sim, pelo menos ele pensou: “Se eu cair, eu não vou cair dentro de casa, né?”. E aí ele foi comprou, depois que ele comprou que ele já se sentiu melhor assim, aí ele ligou para o Mateus pra perguntar se o Mateus tinha trocado as bombinhas de lugar. Sabe o quê que o Mateus falou? Que jogou as bombinhas fora, porque o Hugo estava muito dependente daquilo e parecia um doente, e aí ele jogou as bombinhas fora… — Gente, eu não sei nem o que dizer sobre esse Mateus, eu não sei nem o que dizer. Aí a gente pergunta para o Hugo quando ele ficava te chamando de “Prejudicado da Beleza”, já não foi um sinal? Aí ele jogou suas bombinhas fora, não foi um sinal? Não foi sinal. —

Aí o Hugo não fez nada, achou que: “Ai, ele tinha o ponto dele”, qual era o ponto dele se você precisa da bombinha? — Qual era o ponto dele? Não sei qual era o ponto dele, mas tudo bem. O Hugo achava que ele tinha um ponto. — Aí eles foram numa das festas de amigos em comum, e ele notou que tinha um cara lá com a mesma camisa que ele tinha dado para o Mateus… E era muita coincidência, porque, assim, não era uma coisa fácil de se comprar, não era uma coisa barata, era muito característico assim, sabe? E aí ele deu um jeito de perguntar pra outro amigo, falou: “Meu, vai lá pergunta pra esse cara onde que ele comprou essa camisa”, e aí o amigo dele foi, e aí ele voltou e falou: “Amigo, olha, não sei nem como te falar isso, mas foi o Mateus que deu pra ele”. — Gente, o Mateus repassou um presente do Dia dos Namorados. —

E aí Hugo ainda sem acreditar, falou: “Volta lá e pergunta por que o Mateus deu pra ele essa camisa, ou vendeu, o quê que foi? Como que foi isso?” — Ele queria detalhes… — Aí o cara deu uma enrolada, foi lá de novo e aí ele acabou descobrindo que o Mateus também namorava o cara. E o cara sabia do Hugo, só que o cara estava com o Mateus num relacionamento aberto e, assim, eu perguntei para o Hugo: “Mas o Mateus falou alguma vez pra você que vocês estavam namorando?”, aí ele falou que não, mas que o Mateus falava coisas do tipo “Ah, você é meu namorado”. — Não sei, eu fiquei na dúvida assim, se o Hugo, de repente, achou que realmente estava namorando, né? E não estava, não sei. — E aí ele resolveu ter uma conversa com o Mateus sobre isso, primeiro sobre o presente, né? E ele ficou tão bravo que ele falou: “Pois você vai lá e eu quero a minha camisa agora. Você vai fazer ele tirar a camisa e me dar”, aí o Mateus falou: “Eu não vou fazer isso”. — E, assim, Hugo, também não dá, né? O outro cara lá ele ganhou de presente, ele não tem culpa, você vai expor o cara na festa, né? —

E aí eles tiveram quebra-pau assim, brigaram feio por causa disso, e aí no dia seguinte assim, uns dois dias depois o Mateus deixou a camisa lá na portaria do prédio do Hugo. E aí eles ficaram sem falar um mês assim. Só que aí o Hugo gostava dele, — Por que, Hugo? Sabe? Por que, Hugo? — E aí o Hugo foi atrás dele, e aí eles conversaram, resolveram que eles seriam exclusivos, então ali a partir daquele momento eles estariam namorando. Namorando, né? — Então tá. — E aí eles resolveram viajar, também com uma turma lá de amigos em comum e eles tinham acabado de voltar, então estava naquele clima bem de romance, né? E o primeiro dia de viagem foi lindo, foi muito bom, foi tipo Ubatuba, sabe assim? Não foi uma coisa longe e foi uma praia bonita tal. Aí no segundo dia, estava todo mundo bebendo e o Mateus foi, tinha várias pessoas, né? Sentou no colo de um cara lá aleatório e beijou o cara, com o Hugo lá, na frente do Hugo.

E aí o Hugo deu um show, brigou com ele lá e essa dinâmica se estabeleceu… Porque parecia que o Mateus gostava de ver o Hugo dando show por causa dele, né? E os amigos falaram isso: “Meu, sai disso, sai disso, larga desse cara”, e nada. Aí chegamos no Natal, Natal eles iam passar o Natal juntos, eles tinham combinado, o Mateus já conhecia a família do Hugo, o Hugo não sabia nada da família do Mateus, nada. Mateus falava que tinha um irmão, mas era só isso que ele falava, e o Mateus falou: “Não, no Natal eu te levo pra casa”, só que aí no Natal ele não apareceu, foi aparecer dia cinco de janeiro… — Na casa do Hugo. — E aí Hugo estava realmente muito puto e terminou com ele, então aí seria o término, término mesmo, tipo, deixa o Mateus pra lá, né, Hugo? Só que não. Só que aí veio a pandemia… O Mateus morava, que ele estudava em São Paulo e estava num apartamento assim, compartilhado… Sabe quando você aluga com mais três pessoas? Era assim. E aí cada pessoa resolveu voltar pra sua casa, pra casa da sua mãe e tal, pra não gastar, né? Porque as aulas também foram interrompidas, e aí o Mateus não tinha pra onde ir. 

Onde que o Mateus foi morar? Na casa do Hugo. Depois de terminar, depois de tudo, o Hugo achou que seria ok que eles morassem juntos como colegas, só que o Hugo gostava dele ainda, por isso que o Hugo deixou, né? E o Mateus falou: “Tudo bem, ótimo, se a gente vai morar aqui como colegas”, e era pandemia, eles foram levando, né? Quando foi em setembro, que já estava mais frouxa, muita gente não cumprindo a pandemia, eis que Mateus leva um cara pra casa. — Além de furar a quarentena, ele estava com um cara lá… — E aí o Hugo falou: “Não, eu não vou fazer escândalo, eu só vou falar pra ele a questão de furar a quarentena, que aí se ele for fazer isso, não dá pra ele ficar aqui”, e aí o cara falou que tudo bem e foi embora, isso aconteceu no mesmo dia e o Mateus ficou chateado porque o Hugo não deixou o cara entrar. 

E aí, gente, final de novembro agora, esse mesmo cara… — Que provavelmente é um cara que o Mateus está ficando desde setembro, ou até antes — o Mateus pediu pra ele pra deixar o cara morar lá. — O cara morar lá junto com ele e o Mateus… — E aí o Hugo falou: “Gente, não, não tem a menor condição”, só que aí o Mateus chorou e falou que o cara estava precisando, que isso, que aquilo… E, resumo: o cara tá morando na casa do Hugo. O Hugo não aguenta mais. — Os dois… — Os dois são um casal na casa do Hugo. E aí eu perguntei: “Hugo, por que, Hugo?” — Por que, Hugo? — E o Hugo diz que gosta do Mateus, e que: “Ai, que acha que se ele se mostrar mais, assim, moderno” — Que eu não sei o que seria isso… — o Mateus vai gostar dele de novo, vai parar de pisar na bola”. Gente, eu não sei o que dizer assim, eu não sei o que dizer para o Hugo, porque agora o Hugo tá lá na casa dele com o casalzinho que não é ele, que é o cara que ele gosta. E aí eu perguntei: “Mas pelo menos todo mundo trabalha? Todo mundo tá te ajudando nas contas?”, ele falou: “Olha, Andréia até que tá, não posso reclamar disso assim, o que me incomoda mais é que eu não queria o cara lá e acabei aceitando, porque eu não consigo falar não pro Mateus”. 

Ele faz terapia, o Hugo, já tem muitos anos e, assim, não começou por causa do Mateus, né? Ele tem outras questões dele e tal, e a terapeuta já falou pra ele, falou: “Por que, mano? Por quê?”, sabe assim? — Até a terapeuta já tá exasperada com a situação… — E é isso, gente. O Hugo queria aí uma luz de vocês, né? Que a única coisa que eu posso dizer é: “Ê, Hugo…” — Não tenho o que dizer. — Por que, Hugo? Por que aceitou o Mateus? Por quê? Por que agora você foi aceitar o namorado do Mateus? Por quê? — É só isso que me vem à cabeça… Por que, Hugo? — 

Então, se você tem alguma coisa para dizer para o Hugo, seja gentil, a gente tem um grupo no Telegram, é só jogar na busca “Não Inviabilize”. E se você tem qualquer outra coisa que não seja “Por que, Hugo?”, porque isso eu já perguntei pra ele mil vezes, por que, Hugo? Escreve pra gente, participa do grupo, o Hugo tá lá. 

[trilha]

Léo Mogli: Fala, Hugo, fala, Não Inviabilizers. Aqui quem fala é o Mogli, editor deste podcast e quarentenado em BH. Eu normalmente não costumo dar depoimentos aqui, mas essa história do Hugo acabou me fazendo querer dar um tostão da minha opinião. Hugo, você sabe que existem pessoas que têm intolerância à lactose, e você sabe que essas pessoas também gostam de brigadeiro e outras coisas derivadas do leite, não significa que o fato delas gostarem, elas têm que, necessariamente, consumir aquilo, elas procuram ou opções mais saudáveis ou elas aprendem a viver sem aquelas coisas que elas tanto gostam. A gente precisa ter essa consciência de querer pra gente aquilo que faz bem e não necessariamente aquilo que a gente gosta muito, mas que faz mal… Dá uma pensada a respeito disso. Valeu? 

Assinante 1: Bom, aqui é Fabiana Murray, Praia Grande, São Paulo. E em um minuto você falar para o Hugo alguma coisa é meio difícil, mas Hugo eu queria entender o porquê que você é tão masoquista, por que você fez isso, sabe? Agora parece aquele meme da barata, sabe? Você joga a barata e a pessoa quer se mudar da casa, é bem isso, sabe? Se eu fosse você, eu me mudava da casa porque não tem como, joga esses dois fora, pelo amor de Deus. Tenha amor próprio, Hugo, não é “por que” é “pra quê” fazer isso, por que se tortura tanto? Se ame, não faça isso. Beijo, meu querido.

Déia Freitas: E eu volto daqui a pouco com mais uma história, um beijo. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.