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título: bonequinha
data de publicação: 14/02/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #bonequinha
personagens: tamires, luana e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje, história de mãe cansada. Vou contar para vocês a história da Tamires e da sua filhinha, Luana. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Tamires conheceu um cara aí tem muitos anos isso, mais de 10… — Quase 15. — E começou a namorar esse cara, e o namoro ia bem, tudo corria muito bem e eles namoraram ali uns três anos e, quando eu estava completando os três anos de namoro, a Tamires engravidou. E aí este cara tinha planos para a vida dele e estes planos, — Segundo ele. — não incluíam aí um bebezinho. — Então ele não estava disposto a ser um pai presente. — Essa foi a conversa que ele teve com a Tamires, ele disse que ele pagaria pensão… Ele terminou o namoro assim que a Tamires falou que estava grávida e falou pra ela: “Olha, depois que nascer a gente faz um DNA”… — O cara namorando com ela há três anos, hein? — “A gente faz um DNA e eu assumo, sem problemas”. [música Aleluia ao fundo] E foi assim que aconteceu… 

Quando o bebezinho nasceu, era uma menininha, a Luana, eles fizeram o DNA. Era filho — Filha, né? Dessa criatura. — e ele assumiu e começou a pagar pensão… Nunca atrasou a pensão, mas ele nunca quis saber da Luana. E por nunca querer saber, até as fotos que a Tamires mandava para ele, ele ignorava. E aí a Tamires estabeleceu até um contato com os pais desse cara, que ela já tinha antes, mas, assim, um contato da Luana com os pais… Mas como eles moravam longe, enfim, não rolou… E o tempo foi passando… — Passando bastante. — E quando a Luana estava ali com seus seis aninhos, ela começou a querer saber mais do pai, a querer falar com o pai. Porque antes ela perguntava e tal, mas ela não tinha tanta… Tanto recurso assim, né? E com seis anos ela já estava na escolinha, então ela via as outras criancinhas falando do pai e ela queria saber mais do pai. 

E aí a Tamires foi fazer o contato — Dessa pessoa. — pra ver se conseguia um vínculo, se ele pelo menos podia visitar a Luana. E, por um milagre da vida, ele falou que sim, que tudo bem, que ele podia visitar a Luana. Então a Luana ficou muito feliz e, a partir dos 6 anos ali, eles se viam às vezes. — Bem às vezes… Não tinha data, nada… — Mas quando ela queria ela pedia para a mãe pra ligar para o pai e ligava e ela falava com o pai. E quando o pai estava disposto ele vinha e visitava. — Mas nunca levou a Luana para dormir na casa dele ou um passeio mais longo, nada disso. — O tempo foi passando… — Mais um pouco. — E agora, no momento que estamos agora, a Luana tem nove anos e ela já questiona mais, ela cobra até um pouco o próprio pai, né? Essa presença. 

E uma coisa aconteceu… As aulas voltaram um pouquinho antes agora. — E na escola dela, por exemplo, já foram suspensas de novo, mas voltaram e tal. — E nessa volta, ela descobriu que o pai dela estava morando perto dela agora. — Coisa que ele nunca nem comentou, que eles estavam morando no mesmo bairro. — E o pai dela agora ele casou de novo, e essa moça com quem ele casou tem uma menina da mesma idade dela, que por uma… — Infeliz coincidência. — esta na mesma sala que ela. E essa menina — De 9 anos também. — ela tem agora mais contato com o pai da Luana do que a Luana. E a Luana às vezes, agora em aula online, mas pessoalmente ela viu duas vezes, o pai dela levar essa garotinha na escola… E ele chama essa garotinha de “bonequinha”. 

Então, é bonequinha pra lá, bonequinha para cá… Às vezes a bonequinha está fazendo aula online e o pai da Luana está do lado e a Luana vê pelo computador ali que o pai dela está do lado da bonequinha. E aí a Luana ficou muito mal, chegou a ficar doente e a Tamires foi falar com ele, né? — Porque ele tem um vínculo com essa garota que ele conheceu faz pouquíssimo tempo, né? E não tem o mesmo vínculo com a Luana. — Daí ele falou que esse vínculo que ele tem com essa garotinha que ele apelidou de bonequinha nasceu naturalmente e que ele não vai forçar o mesmo vínculo com a Luana… — Que é filha dele. — E aí a Tamires, porque assim, a Luana chegou a ficar doente e começou terapia, inclusive, por causa dessa situação. 

E Tamires falou: “Pelo menos chama ela de bonequinha também, né? Porque é uma coisa que ela sente muito”, e ele, gente, ele diz que não… Ele fala: “Eu não vou pegar um apelido que eu dei para a minha enteada e usar pra Luana, não vou fazer isso… Não vou fazer nada forçado”. — Olha o papo desse cara. — E aí está nisso assim… Agora a Luana está indo mal nos estudos e tal, não quer mais ficar nessa escola, talvez a Tamires realmente mude ela de escola, porque é muito sofrimento, né? Ela vê o pai dela com essa outra garotinha… A garotinha não tem culpa de nada, né? — Quem tem culpa é esse cara aí. — Mas pra Luana está muito difícil ali ver o pai dando afeto para essa outra criança e não dando afeto pra ela, e não fazendo questão de dar afeto, não achando que isso está errado em não querer esse vínculo, né? 

E aí a Tamires me escreveu porque ela não sabe o que fazer, né? Se ela deve mudar realmente a Luana de escola. A Luana está pedindo para mudar. Então eu acho que é uma coisa que deve sim ser considerada, se está muito sofrido pra Luana não tem porque ficar forçando isso, né? Então a Tamires queria saber de vocês o que ela deve fazer, já que não adianta pedir para esse pai para que ele pelo menos tente incluir a própria filha na vida dele. É uma coisa que ele não quer de jeito nenhum, assim, não faz questão. Eu não sei assim… Eu só tenho coisas horríveis para falar desse cara, então eu não vou falar nada. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, aqui é Aline de Mogi das Cruzes, eu tô aqui inconformada ouvindo a história Bonequinha e, enquanto psicóloga infantil, a minha orientação seria, de fato, trocar a Luana de escola, ainda mais porque ela quer, né? A gente imagina aí que se ela está pedindo, é porque… Óbvio que trocar de escola não é uma coisa tão simples assim, mas se ela está pedindo eu acho que tem todo um contexto propício para isso acontecer, né? Então eu orientaria a trocar de escola e continuar na terapia trabalhando a ausência desse pai. Então é isso, espero que vocês fiquem bem. Um beijo. 

Assinante 2: Oi, gente, aqui é a Jéssica, falo de Itajaí, Santa Catarina. Sou advogada e, Tamires, juridicamente falando, eu acredito que o que está acontecendo é uma situação de abandono afetivo, que é quando o pai ou a mãe deixa de prestar assistência emocional aos filhos, seja pela ausência de convivência, visitação ou falta de suporte emocional e acolhimento. Mesmo que judicialmente você não pode obrigar um pai ou uma mãe a amar o seu filho, mas existe sim a possibilidade de um pedido de indenização por danos morais em razão do dano que a criança sofre com esse abandono, como é o caso da Luana, que já está sofrendo as consequências da negligência desse genitor. Minha sugestão, Tamires, é buscar uma orientação jurídica de um advogado, seja particular ou através da Defensoria Pública, que possa acompanhar vocês, pra que vocês tenham ao menos uma indenização pelos danos que ele tem causado à Luana e, que isso, de alguma forma, possa reparar um pouco dessa situação e ajudar você a custear as terapias e suporte psicológico que ela precisa nesse momento. Boa sorte para vocês e espero que tudo dê certo. 

Déia Freitas: E é isso, gente, deixem seus recados pra Tamires lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis e eu volto em breve. Um beijo. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.