Skip to main content

título: cabelo
data de publicação: 05/10/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #cabelo
personagens: márcia e marido

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Eu vou contar pra vocês a história da Márcia. E assim, me deu uma irritação, é uma história curtinha, mas vai tá aberta aí pra conselhos do que fazer.


A Márcia conheceu o marido dela, que eu não vou nem dar nome, — Não quero dar nome pra ele — em 2015, aí eles casaram em 2016 e tudo ia muito bem, casamento tranquilão, tudo certo, ela gostando muito dele, ele… — Não posso falar por ele, né, não sei. — E aí, gente, 2016, eu não sei se vocês acompanham aí aquele “boom” que foi de transição de cabelo. A Márcia resolveu fazer a transição capilar, então ela sempre usou progressiva e ela resolveu agora deixar o cabelo natural, e o cabelo natural da Márcia é um cabelo crespo, então o quê que ela começou a fazer? Aquele básico da transição, que você deixa o cabelo crescer um pouco a raiz, então aí você não vai retocar raiz, quê que você faz? Você vai ter que passar uma chapinha pra igualar um tanto até onde você aguentar ele crescer pra você cortar.


E geralmente não se aguenta muito, né? Aí as pessoas fazem o que eles chamam de BC que é aquele corte curto. E tudo bem, né, gente? Cabelo… Cabelo cresce, cabelo é cabelo. E aí ela começou a deixar crescer e não era todo dia que ela fazia chapinha, fazia chapinha pra sair. Aí o marido dela, gente, começou a implicar, a falar: “Ué, você não vai mais cuidar desse cabelo?”, ela falou: “Ué, estou cuidando, o que eu tô fazendo aqui é justamente cuidar do meu cabelo. Eu tô deixando ele natural, então ele vai crescer natural e eu vou parar de usar química no cabelo”, aí o marido dela virou e falou pra ela assim: “Mas o seu cabelo natural é esse cabelo ruim aí?” — Cabelo ruim, gente… Não existe cabelo ruim, entendeu? Existe cabelo liso, cabelo crespo, cabelo enrolado, nenhum cabelo é ruim. Ruim são as pessoas, então ruim é esse marido, né? —


Aí começou a encher o saco dela em relação a isso… E aí ela ficou preocupada, primeiro com a questão de fazer o BC, que é o corte curto, né? Porque se ele já estava enchendo o saco dela deixar o cabelo natural dela, que é o cabelo crespo, imagina se ela cortasse curtinho, né? Então, essa moça, Márcia, ela fazia chapinha, gente, todo dia. Mesmo no final de semana… Que era para o marido dela não ficar chateado. E aí ela aguentou fazendo chapinha até o cabelo dela crescer mais ou menos na altura do queixo. — Pensa o tempo… — Pensa o tempo que ela já podia ter feito um corte curtinho, sabe, e já resolvido? Não fez por causa dele porque ele falou que ele não ia ficar casado com uma mulher com cabelo “joãozinho” — [tom de irritação] Olha… Sinceramente… —

Aí assim ó, pro cabelo dela crescer até o queixo foi agora em 2019, porque o cabelo dela é crespo, bem crespo, então até crescer… São cachinhos bem miudinhos, né? — Ai, gente, essa história me dá uma irritação — Aí tô conversando com ela, né, pegando as coisas da história, eu falei: “Bom, o seu marido te cobra muito pela aparência. Ele deve ser um Deus, né?”, ela falou: “Então, Déia, deixa eu te mandar a foto, porque tem essa questão também”. Aí ela me mandou a foto, gente, o cara ele é calvo, mas é aquele calvo que só tem o cabelo em volta da orelha assim, pra baixo assim, nuca e orelha? O cara é praticamente um pirulito de cabeça lisa e tá cobrando aparência dela? Gente, mas eu fiquei tão revoltada… Por que a autoestima dos caras, né? Os caras se acham.

E aí, assim, ela gosta do Pirulito, que é esse cara aí, o cabeça de bola. E ela fez tudo isso por ele, cortou o cabelo no queixo… Agora o cara reclama que ele gostava do cabelão dela liso e não gosta, chama o cabelo dela de bombril. — Olha, além de tudo esse cara pra mim é um racista maldito. — Então meu conselho é: mata ele. [risos] — Eu não posso dar esse tipo de conselho, né… [risos] — Larga esse cara, o cara não te respeita, o cara não quer que você tenha o cabelo do jeito que você quer ter o cabelo, sabe? As pessoas podem falar “Ah, mas Déia, é só o cabelo, aí ela não pode fazer uma coisa pra agradar ele?”, não, não pode — Tá? Minha opinião: não pode. — Se a pessoa não te aceita do jeito que você é, e mais, do jeito que você quer ficar, entendeu? Porque tudo bem, se ela quiser ficar de cabelo liso, ela, ela Márcia, se quiser, ótimo, mas ela não quer, ela quer o cabelo dela natural e o cara fica falando todo dia, fazendo piada, falando que ela tá feia, falando que não vai sair com ela na rua.


O dia que ela pôs um tecido no cabelo, fez lá um turbante, falou que não ia sair com ela na rua, sabe? [suspirando irritada] Ai, essa história me pega muito também porque assim, ela é negra, ele é branco, então pra mim ele é um puta de um racista maldito, não tem que ficar com cara desse, sabe? Mas, enfim, o amor, etc., pra mim mesmo essa questão aí do amor, amor pra mim não é tudo, não. Para mim, amor, sei lá, é 3%, amor romântico na minha vida conta 3%. Tem mais, batata pra mim, no momento, é mais importante que amor romântico, né? Porque existem outras formas de amor, existe amizade, compaixão, um monte de coisa, né? Mas o amor romântico… Melhor batata do que esse cara.


Então é isso, gente, ela quer saber como ela pode fazer pra explicar para o marido dela toda a questão dela se gostar… Ela não quer entrar com ele na questão de racismo, porque ela acha que ele não é racista porque ele casou com ela… Eu não vou nem me aprofundar nisso, porque se eu for me aprofundar nisso… Ai, eu vou querer matar, cara. Mas enfim, ela não quer entrar nessas questões, apesar de que eu acho que é sim, que tem sim, que a gente poderia falar muito disso, mas eu vou respeitar a Márcia. 


Ela quer saber como ela pode explicar para ele que o cabelo dela é assim, que ela nasceu com esse cabelo, que ela gosta dele assim, e que ela queria ficar com ele e com o cabelo assim. Então, se vocês tiverem aí alguma coisa pra dizer para ela, digam. Porque a única coisa que eu tenho pra dizer pra Márcia é que eu tô aqui por você. — Por ele eu quero que ele morra, foda-se. — Não sou obrigada, não. Não consigo, gente. 

Então é isso, um beijo e amanhã tem história de novo, beijo. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.