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título: cachorro-quente
data de publicação: 09/02/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #cachorroquente
personagens: marina e beto

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Vamos dar uma animada. A clássica história de ONG de macho, então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Marina conheceu o Beto numa balada, já nessa balada a história poderia acabar aí, — Na balada — porque olha só o que esse Beto fez. A Marina conheceu o Beto e tal, trocou uns beijos com ele, nã nã nã, — Na balada — aquelas baladas que você tem uma comanda e eles juntos ali ficaram com as comandas juntas e, na hora de pagar o Beto falou: “Vou ao banheiro” [risos] e a Marina estava com as duas comandas na mão e a fila foi andando, foi andando, ele não veio e ela ficou muito sem jeito e resolveu pagar a comanda dele, em vez dela sair da fila, esperar ele voltar, ela resolver pagar a comanda dele, porque ela estava ali na fila e tal, ele gastou noventa e poucos reais e ela pagou, — A dela e a dele — e ela gastou tipo quarenta reais, então ele gastou mais que o dobro, inclusive ele pagou bebida pra ela e, quer dizer, no final quem pagou foi ela, né? — E ali já era um indício, né? Que o cara era um embuste… — Mas enfim, às vezes foi só um mal entendido, né? [risos] Sei lá, vamos dar aí uma oportunidade para Beto. —

Aí eles começaram a ficar e a coisa ficou um pouco mais séria, né? E eles começaram a namorar, Beto e Marina — Beto trabalhava? — Beto estava sem trabalhar no momento, então assim, é complicado, né? Mas ele não trabalhava. Então a Marina começou a bancar ali, a pagar passeio, a pagar motel e tudo ela. Então essa coisa foi durando, com uns oito meses assim a Marina não estava dando conta mais de pagar as coisas pra ele e pra ela, aí ela falou: “Olha, Beto, eu não tenho como mais fazer as coisas, então você precisa arrumar um emprego, alguma coisa”, e o Beto falava o quê? Marina com vinte e seis, Beto com trinta e um… — Gente, trinta e um. — “Ah, porque eu já comecei duas faculdades, eu não sei o que eu quero”. — Eu não sei o que eu quero? Como assim eu não sei o que eu quero, né? — Ah, ele tinha um papinho de que ele era um homem livre, que não gostava de ficar preso dentro de um escritório. — Quem é que gosta, gente? [risos] A gente trabalha porque precisa, porque tem boleto, precisa comer, né? Precisa comprar coisinha, não é assim. — 

Então ele tinha todo esse discurso aí de pessoa livre — [riso] Nas costas dos outros, né? — Mas a Marina foi dura, falou: “Olha, pra mim não dá mais, não consigo”, aí Beto começou a mandar links pra ela, pensa assim, num carrinho de cachorro-quente, mas não era só de cachorro-quente, era um carrinho de lanches e era tipo esses carrinhos gourmet, sabe? Era um carrinho gourmet de fazer lanches, tinha uma geladeirinha pra você vender umas cervejas, nã nã nã e ele mandando link pra ela, só que o negócio custava oito mil reais. — [riso] E ele não tinha obviamente, né? — e parcelava, parcelava em dez vezes, então dez de oitocentos reais. Aí qual foi a de Beto? “Olha, você compra o carrinho pra mim que eu vou vendendo os lanches e assim eu vou te pagando, né? Pago por mês os oitocentos até quitar o carrinho”, a Marina falou: “Bom, é um jeito dele ganhar a própria grana, ele pode parar os carrinhos aí nas faculdades, né? Pode parar…”, não tinha ainda o coronavírus né, a gente está falando de antes do coronavírus, então ele podia parar ali na frente de um teatro, num parque, vários lugares, lanche, cachorro-quente, o carro-chefe dele era um cachorro-quente lá todo cheio de coisa. — Pessoal gosta, né? Pessoal compra. —

Aí tá bom, primeiro mês Beto montou lá os lanches e fez os cardápios, fez as cotações e aí não tinha pra pagar a primeira parcela. — [risos] É lógico que ele não tinha, né, Marina? — Ela falou: “Bom, eu não vou tirar esse incentivo dele, eu não vou falar nada, eu vou pagar a primeira parcela”. E aí tinha uma coisa assim, o Beto, ele queria vender os lanches, mas ele tinha vergonha de ficar no carrinho. — Vê se pode, desde quando trabalhar é vergonha? — Olha só a de Beto, que ele tinha feito as contas e que [risos] ele estava pensando em colocar uma pessoa pra vender com o carrinho no lugar dele… — Ou seja, o Beto sem ter onde cair morto, sem pagar as parcelas, querendo já ser patrão de alguém no próprio carrinho de cachorro-quente que nem dele era, porque quem estava pagando era Marina. —

E aí Marina falou: “Não, de jeito nenhum, você pode fazer o que você quiser com esse carrinho depois que você me pagar as parcelas. Eu já paguei a primeira, você já me deve uma, tá chegando a data da segunda, e aí?”, aí quando estava chegando perto da segunda parcela o Beto teve uma ideia, ele falou que ele tinha um amigo que tinha um carro com esses carrinhos que engata atrás, sabe? Que é caminhonetezinha? E que ele ia pôr o carrinho de cachorro-quente lá na caminhonete, na parte lá do carrinho da caminhonete do cara e ele ia para o litoral pra vender cachorro-quente, que ele achava que ele ia detonar, vender tudo e ia conseguir pagar a primeira parcela e a segunda de uma vez. A ideia não era ruim porque realmente tudo que vende que é de comida na praia, por mais caro que seja, vende. A ideia era boa — E eu acho também que a ideia era boa. —

Aí a Marina falou: “Nossa, vai arrasar, posso ir junto? Porque aí fico na praia”, ele falou: “Não, porque eu vou ficar preocupado com você na praia, tenho que trabalhar”, aquele discurso. E aí lá foi ele pra praia vender cachorro-quente. Chegou na praia… — Supostamente, porque a gente não sabe se ele estava na praia — o Beto [efeito sonoro de celular tocando] liga pra Marina e fala que foi assaltado, que levaram o carrinho de cachorro-quente dele e todo desesperado, e ela ficou desesperada também e ele falou que o amigo tinha ido, deixado ele lá com o carrinho e tinha voltado. Aí ela ficou desesperada e ai, nossa, não levaram o celular, não, só levaram o carrinho, ele estava com a carteira, com tudo, aí ele ia pegar um ônibus pra subir a serra e voltar pra casa sem o carrinho. Aí, nossa, ela ficou arrasada porque ainda tinha [risos] praticamente nove parcelas do carrinho pra pagar, e aí ela conversou com ele, ele falou: “Ah, eu vou ver o que eu vou fazer, se eu arrumo qualquer outro emprego” e não arrumou nada. Venceu a segunda parcela de oitocentos reais e ela teve que pagar também. 

E aí um dia ela estava lá na casa do Beto mexendo no computador, porque o computador dele ficava ali para os dois usarem, nunca teve problema nenhum, ele nunca restringiu nada. E aí ela assim, ó, ela tem o e-mail dela do Gmail e ele tem o e-mail dele do Gmail, pra ela entrar no e-mail dela, ela tinha que entrar lá no Gmail e dar um sair do e-mail dele pra poder entrar no dela. Quando ela entrou pra fazer isso — Pra sair do e-mail dele e entrar no dela — ela viu um e-mail. — Assim, eu vou falar qualquer empresa, mas não é essa empresa tipo lá — é… “O comprador enviou uma mensagem na OLX”. [risos] Ela não sabe porque que assim, ela resolveu clicar nessa mensagem porque não parecia spam, ela achou estranho. Quando ela clicou que ela foi vendo e clicou no link pra responder a mensagem do comprador, este Beto tinha anunciado o carrinho de cachorro-quente na OLX e tinha vendido e o cara estava esperando pra ele entregar o carrinho. — Gente, o cara vendeu o carrinho e o carrinho estava tipo em trânsito. [risos] 

O Beto vendeu o carrinho, — Vendeu o carrinho de cachorro-quente que ele pediu, fez ela gastar pra trabalhar — na hora ela chamou ele e fez um escândalo, fez escândalo, porque também tem uma questão, ele não quis fazer B.O.. — Porque o Beto é esperto, ele sabe que mentir não dá cadeia, mas falsa comunicação de crime pode não dar cadeia, mas dá um B.O. se ele for descoberto, então… [risos] — Ele não tinha feito B.O. e ela já tinha achado estranho, né? Por que que ele não queria fazer B.O.? Mas não fez e falou que estava abalado, [risos] que ah, que não tinha como achar o carrinho, mas tinha porque era um carrinho bem diferente, mas enfim, ele não quis fazer. — E lógico que ele não quis fazer porque ele vendeu o carrinho. —Aí ela, a Marina começou a fazer escândalo e tal, falar, e aí ele falou que agora não tinha como voltar atrás porque ele já tinha feito à venda, né? E o carrinho já estava a caminho, só que como é uma venda desses sites assim tinha como cancelar porque o dinheiro parece que fica preso. — Alguma coisa assim… — E ela queria que ele cancelasse, mas ele não cancelou, gente, ele não cancelou, ele disse que a Marina pressionava muito ele, e aí ele terminou com ela. 

Ele terminou, ficou com o dinheiro do carrinho e ela ficou pagando as prestações. Aí agora em maio ela pagou a última prestação e parece que ele estava acompanhando, [risos] estava acompanhando as parcelas, né? Que ela se enrolou e não tinha conseguido pagar, enfim, ela foi deixando isso rolar no cartão e ela conseguiu pagar a dívida, não é nem a prestação, a dívida em maio. Isso já tinha passado um tempo, tipo, mais de ano e aí ele surgiu. — Brotou, não sei, né? O universo — Que ele estava em dificuldades por conta da pandemia — Mas por conta da pandemia? Não, né? Por conta da pandemia não, ele já não tinha trabalho, não tinha dinheiro, talvez a fonte que ele estava bebendo secou, né? — Daí lógico que ele queria voltar e ela não gostava mais dele. — Ainda bem que não gostava mais desse cretino, desse Beto. — E ela falou pra ele, falou: “Olha, agora não tem a menor possibilidade de eu te ajudar em nada, eu me ferrei até agora com a sua dívida e não tem conversa”. — Não tem conversa. —

E por que ela me escreveu? Porque ela é uma assinante minha, assinante nova e ela ouviu aquela história CLT e o quê que o Beto desde agora de maio, junho, tá ameaçando ela? Que se ela não ajudar ele, ele vai entrar com processo contra ela falando que ela obrigou ele a trabalhar no carrinho de cachorro-quente como funcionário dela. [riso] Gente, eu acho que isso nem é possível, é? E ele fica ameaçando, aí nessa ele tinha uma conta da Vivo de duzentos reais e ele pediu ajuda e ela pagou, então assim, isso pra mim é chantagem. Eu se fosse ela, eu faria B.O., não sei nem se pode, então é por isso que a Marina me escreveu, pra ela ter uma orientação aí de vocês lá no grupo, ou alguma orientação jurídica de como ela pode proceder, porque eu nem sei se pode fazer B.O., mas eu iria na delegacia, falar: “Ó, esse cara tá me chantageando, ele é meu ex, e já me arrancou duzentos reais, ele não foi meu funcionário” e eu falei pra ela se ela tinha provas, ela falou que ia ver nos e-mails, mas não tinha muita coisa assim, né? Mas ele mal vendeu cachorro-quente e se ele fosse um funcionário, ele era um péssimo funcionário, [risos] mas não era um funcionário, né? Então, inspirada na história CLT que eu contei, a Marina gostaria aí de um apoio de vocês e de alguma luz, né? Do que ela pode fazer. Então é isso, gente. Um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.