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título: caminhada
data de publicação: 07/12/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #caminhada
personagens: ronaldo e marcelo

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi gente… Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e o nosso Picolé de Limão de hoje é a história do Ronaldo e do Marcelo, e tem a ver agora com a pandemia.

O Ronaldo e o Marcelo eles se conhecem já e namoram há quase quatro anos, — Bastante tempo, né? — nunca tinham pensado ainda em morar juntos até que veio a pandemia. Ronaldo morando sozinho chamou o Marcelo pra morar com ele, e perfeito, né? Assim, eles já super entrosados, se amando muito, convivência excelente, tudo perfeito. Primeiro mês de quarentena os dois confinados, acho que todo mundo ficou mais confinado nos primeiros dois meses e eles também, a partir do terceiro mês, então a gente conta lá: março e abril, a partir dali de maio, final de maio, o Marcelo começou a dar uma surtada. Ele queria porque queria fazer caminhada, pelo menos caminhada, e ainda não estava liberado, mas assim em bairro não tinha porque ele não ir, ou melhor, tinha porque não ir, mas ele falou que ele ia.

Aí o Marcelo começou a caminhar todos os dias, ele saía à noite pra não ter circulação, então quando era aí umas dez horas da noite ele saía do prédio, quando era umas onze e dez, onze e quinze, no máximo onze e meia, ele voltava. — Então pensa, é bastante, né? Caminhava bastante, pra caminhar em bairro assim uma hora, você marca o tempo, sei lá, meia hora indo, meia hora voltando e vai longe, dá pra ir longe, né? E aí Marcelo ficou bem mais feliz caminhando, o Marcelo não é gordo, mas ele estava com uns pneuzinhos tal, então assim, caminhada a gente sabe que é uma coisa que você pega firme realmente você consegue perder um pouco de peso, né? E o Ronaldo pensou, ele falou: “Bom, acho que ele vai dar uma emagrecida até, porque tá caminhando de segunda a segunda”. Gente, não tinha um dia que Marcelo não saía pra caminhar, e aí do nada assim, o Ronaldo achou que ele estava até um pouco mais gordinho, mas, sei lá, metabolismo, né? 

E caminha, caminha, caminha, Marcelo caminha daqui, caminha de lá, e o Ronaldo começou a ficar com vontade de caminhar também, né? Porque incentiva. E aí a quarentena agora foi dando uma relaxada, falou: “Bom, então agora também eu vou, vou caminhar junto com o Marcelo”. Os dois estão em home office, então eles trabalham em casa, mas cada um em um cômodo. — Porque atrapalha realmente, não dá pra trabalhar junto, eu entendo muito bem isso, porque eu tô fazendo quarentena junto com a minha prima, ela também tá em home office, então assim, a gente tem que ficar distante uma da outra porque tem hora que não dá. Então ele avisou, né? Falou: “Olha, Marcelo, eu vou começar a andar com você, me empolguei”, aí o Marcelo já de cara falou: “Escuta, mas não é assim, você sabe se você pode caminhar?” [risos] — E assim, gente, pra caminhar… Não sei, não precisa você fazer exame do cardiologista, né? Se fosse pra correr tudo bem, mas pra caminhar será que precisa? Eu não vou falar aqui que não porque eu posso tá falando besteira, mas não sei, dá uma caminhadinha leve? Será? Não sei. —

E aí o Marcelo começou a falar pra ele que ele tinha que fazer exame antes, que ele não tinha um tênis adequado, e aí o Ronaldo falou: “Tudo bem então, eu vou marcar aí uma consulta online e vou comprar um tênis”, — Online também… — E aí o Marcelo arrumou mais empecilho, falou: “Então, mas eu gosto de andar sozinho, é o momento que eu tenho paz, que eu coloco meu fone e que eu fico na minha”, e aí assim era tanta coisa que o Ronaldo começou a ficar desconfiado, ficar cabreiro, sabe? Falou: “Poxa, por que ele não quer de jeito nenhum que eu vá andar com ele, né? Porque eu não posso andar com ele um dia ou outro, não queria ir todos os dias”, porque ele estava indo todos os dias. Aí o Ronaldo ficou cabreiro e falou: “Bom, então a próxima vez agora que ele for correr, eu vou atrás dele”. E aí ele esperou, deu ali uns quinze minutinhos que o cara desceu e ele falou que ele fazia uma certa rota. — Eu achei que esperar quinze minutos foi demais, porque em quinze minutos você anda bastante, né? —

E ele desceu, saiu, ele falou assim, ó, pra me explicar e eu explicar pra vocês, o prédio deles fica numa rua sem saída, pra direita não tem nada, não tem pra onde ele caminhar, então ele teria que ir para a esquerda e é uma rua bem comprida, cheia de árvores e tal, e aí ele podia ou na bifurcação descer ou subir, então o que ele pensou na cabeça dele? “Bom, acho que ele subiu” e foi andando rapidinho, mas não encontrou o Marcelo, mas com quinze minutos esperando não tem como, né, gente? Não tem como alcançar. E aí ele voltou meio frustrado, não comentou nada, né? Falou: “Bom, amanhã eu vou sair logo atrás dele, assim que ele descer o elevador eu já chamo o outro elevador e já desço, meio que atrás dele”. Chegou no outro dia ele desceu, tipo coisa de minutos assim, saiu no segundo prédio, ele falou: “Ué”, não tinha como assim, ele ia ficar meio escondido atrás ali da parte onde tem o elevador de serviço até o Marcelo sair lá pelo portão que dava pra ver o porteiro abrir, ele sair e assim que ele saísse aí ele ia andando e ia atrás.

Mas ele olhou e falou: “Ué, cadê? Pra onde que ele foi que foi tão rápido?”, e aí como ele não estava por aí, ele falou: “Bom, eu vou até o porteiro, se o Marcelo tiver ali com o porteiro eu falo “Ah, meu Deus, você esqueceu tal coisa, invento na hora”, ele falou que ia pensar na hora o que ele ia falar. Ele chegou no porteiro e perguntou, falou: “Oi, Seu Geraldo, o Marcelo já saiu aqui?”, ele falou: “Não, aqui não saiu, não”, [risos] “Ué, como não saiu? Ele saiu lá do prédio”, ele falou: “Então, mas aqui ele não saiu, não”. Aí o Ronaldo à primeira vista não conseguiu entender, né? Falou: “Ué, será que ele pegou o carro?”, falou: “Seu Geraldo, pela garagem ele saiu?”, Seu Geraldo já meio branco, meio pálido, pela garagem ele também não saiu, não. E assim, o prédio todo cheio de câmeras, né? E bem monitorado o prédio, um prédio novo, bonito e bem monitorado. Aí o Ronaldo falou: “Olha, ele saiu do meu apartamento, ele não desceu aqui? Tô preocupado agora, né? Olha aí nas câmeras pra mim onde ele tá” e Seu Geraldo suando.

Aí Seu Geraldo virou pra ele e falou: “Olha, eu não posso olhar aqui nas câmeras, voltar nada nas câmeras sem autorização do síndico”, e assim, o quê que o Ronaldo falou pra mim? Seu Geraldo, às vezes alguém perde um cachorro lá dentro do condomínio, Seu Geraldo vasculha aquelas câmeras sozinho pra procurar o cachorro, por que que agora ele estava falando que não podia fazer sem autorização do síndico? Aí o Ronaldo já estava bravo e falou: “Então interfona aí pro síndico que eu preciso saber onde está o meu marido aqui no prédio, ele tá perdido aqui no prédio, vai ver passou mal, caiu em algum lugar”. Ronaldo pê da vida, Seu Geraldo ali suando e interfonaram para o síndico, o síndico nem desceu e falou: “Pode mostrar, pode mostrar as câmeras, qualquer coisa você me fala aqui”. E aí, gente, o Marcelo ele saía do prédio e no prédio ele ficava, ele não descia no térreo, ele descia no terceiro andar. — Sim, ele descia no terceiro andar. —

Aí o Ronaldo foi ficando bravo, bravo, bravo, porque ele não conhecia todo mundo prédio, né? “Então, Seu Geraldo, quem que mora no terceiro andar?” — Quem que mora no terceiro andar? — Aí Seu Geraldo também falou “Ah, eu não vou ficar aqui segurando a onda do cara, né?”, aí Seu Geraldo falou: “Ah, é o Fulano lá, tem um cara que mora lá no terceiro andar e é isso aí”, e aí ele começou a questionar o Seu Geraldo se era isso sempre, ele falou: “Ah, tem uns dois meses aí, tem uns dois meses que ele para lá, eu não tenho nada a ver com isso”. — Ele não falou, mas já sabendo, né? — Ronaldo que é assim, uma pessoa mega elegante, não foi fazer barraco. Ele subiu, voltou para o apartamento dele, ele estava fazendo uma comida lá que ele tinha parado pra descer, voltou a fazer comida tremendo, tremendo, tremendo. Esperou, deu uma hora e pouco, Marcelo entrou, Marcelo suado, que agora ele acha que aquilo não é suor, né? — Devia jogar água na roupa. —

E aí perguntou pra ele: “Foi boa a sua corrida, deu tudo certo na sua corrida? Você correu bem?”, e ele tinha tirado uma foto da TV lá da câmera, sabe? Com o cara descendo no negócio do elevador lá que você vê onde desce, que andar que desce e tal. Ronaldo mostrou a tela do celular para o Marcelo, o Marcelo ficou roxo, falou: “Não, eu posso te explicar” — Eu posso te explicar… E agora, gente, [risos] senta que a explicação é complicada, lembrando que Marcelo saiu pra correr de segunda a segunda — A explicação do Marcelo foi que ele não estava fazendo caminhada, não estava fazendo exercício, ele vai aí nesse apartamento desse cara solteiro que mora sozinho porque ele tá querendo ser maçom, [risos] ele quer ser maçom, esse cara é maçom, e aí o cara tá tipo ajudando ele a ser maçom. E aí o Ronaldo ficou assim, né? Sem saber se acredita, por que ele esconderia que ele quer ser maçom? Aí ele falou que: “Ah, porque os maçons não contam nada pra ninguém”. — Mas que eu saiba, o maçom não fala o que ele faz lá, sei lá onde, lá no templo deles, sei lá se é templo que fala, mas eles, quem é maçom fala que é maçom, não é tipo segredo. Não sei, [risos] o que eu achei disso. —

E agora tá nesse pé, porque aí o Ronaldo esperava mil coisas, inclusive eu já contei aqui, eu acho que umas três histórias de gente traindo na quarentena e acho que até uma antes da quarentena, não lembro, de gente que traía no mesmo prédio, isso é relativamente comum, eu tenho mais histórias dessas pra contar e são todas de traição. E então, eu não sei muito o que dizer assim, se eu acredito nisso da questão do maçom, porque o Ronaldo foi pego meio de surpresa e ele ficou desarmado, e aí o Marcelo já reverteu a coisa falando: “Você não confia em mim, você ia me seguir, porque isso, porque aquilo. Eu quero ser maçom, não sei que lá”, e aí Ronaldo ficou sem saber o que falar e agora tá um clima estranho assim, mas ele não sabe se acredita ou não. Eu dei a sugestão para o Ronaldo falar que então agora você também quer ser maçom, você quer ir junto na reunião, porque o cara tá furando a quarentena pra ser maçom? Então tá, eu quero ser maçom também, eu vou junto, toda reunião que você for eu vou. 

E o cara continua, agora ele não põe mais a roupinha de caminhada, agora ele vai normal para o apartamento lá do maçonzão lá. Olha, não sei se eu acredito, sinceramente? Eu não sei, se alguém souber falar para o Ronaldo, que ele deu uma pesquisada também de “Ah, o quê que precisa pra virar maçom?”, ainda existe mesmo essa coisa de você ter um, sei lá, um monitor maçom? [risos] — Um coach maçom.  [risos] — Então, gente, vai lá, deixa uma mensagem para o Ronaldo no nosso grupo do Telegram, que é só jogar lá na busca “Não Inviabilize” que você acha o grupo e… Se alguém souber aí, se isso é possível, ele estar há dois meses indo na casa do cara de segunda a segunda pra fazer, sei lá, curso de maçom? [risos] Não seria lá no templo, sei lá, na casinha lá do maçom? Sei lá.

Eu não entendo nada, não sei. A gente não pode afirmar que o Marcelo está mentindo, mas, poxa, por que ele escondeu isso aí? Sendo que o Ronaldo nunca falou nada de “Ah, não pode ser maçom, não pode ter uma religião”, nem sei se isso é religião, ou é uma seita, o quê que é maçonaria? Eu sei que é uma coisa só de caras, né? Não tem mulher na maçonaria, então já nem me interessa. Então é isso, gente, deixa seus recados lá para o Ronaldo, sejam gentis com ele, ele já está lá no grupo e é isso. Um beijo e até amanhã.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.