Skip to main content

título: caminhão
data de publicação: 02/11/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #caminhao
personagens: vandilson

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história do Vandilson. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha] 

O Vandilson ele trabalha há muitos anos numa transportadora e ele é especializado em cargas perigosas. — Então, pensa assim, ó, você precisa transportar um produto químico, alguma coisa… Assim, você precisa ter uma categoria na carteira e esse a mais para você poder transportar esse tipo de carga que o Vandilson transporta. Então ele é bem, bem, bem especializado no que faz. E já deixo aqui o meu “oi” e o meu beijo para todos da transportadora, porque é um pessoal que todo mundo me escuta na transportadora. Então, os entregadores, os motoristas, todo mundo… Um foi falando para o outro e a galera me escuta, então beijo aí, Transportadora Pônei. [efeito sonoro de beijo estalado] — O Vandilson disse que uma das regras dessa transportadora é você não poder dar carona. Então, vai, você vai atravessar o país e na metade do caminho alguém te pede uma carona, sei lá, de uma cidade para outra, você não pode dar. É proibido dar carona. 

Dentro dessas regras, o Vandilson sempre respeitou, ainda mais o tipo de carga que leva, assim, de alta periculosidade… E se acontece alguma coisa… — Que nem ele me falou: “Andréia, por exemplo, um acidente… Alguém vem numa pancada muito forte, um ônibus, um caminhão e bate na minha traseira, tudo vai explodir, eu vou morrer, as pessoas do ônibus vão morrer, quem estiver passando vai morrer, tudo vai morrer”. Ele anda muito devagar, então, ele falou que tem um tipo de caminhoneiro, por exemplo, de frete, que se você chegar mais rápido, você tem carga para voltar, enfim… Trabalha nessa coisa do tempo, da velocidade e tal, e isso é muito ruim para o motorista também, né? — É isso que causa acidentes, isso que causa os motoristas tomarem o tal de “rebite”, que é para você se manter acordado… Para você poder trabalhar mais e gerar fortuna aí pra grandes ricos, né? Porque você não vai ganhar nada ali, só para sobreviver. —

Ele tem a sorte de não precisar, como motorista, passar por isso, porque ele tem que dirigir muito devagar. Então, o cronograma dele ali de entregas de carga é diferente do que um caminhoneiro que precisa bancar os fretes ali, pegar a carga pra ir, pra voltar e rápido e tal, com prazo para chegar, enfim. Então ele vai tranquilo… Então, ah, vai parar… — Não é todo lugar que ele consegue parar, né? Por causa do tipo de carga que ele leva. Então já tem os lugares certos e tal, todos esses caminhões que são enormes são rastreáveis, então todas as paradas que eles fazem é tudo rastreável. Por questões de segurança, né? Se alguém rouba um caminhão desse, a empresa consegue localizar, enfim, tem todo um sistema de segurança. — Então ele parou ali num lugar que ele sempre parava quando ele estava fazendo o caminho. Então vai, digamos, São Paulo—Bahia, então, ah, sei lá, em Minas ali tem um lugar que ele parava para poder comer, dormir, enfim… Dormir ele dormia dentro do caminhão, ele podia ir pra um hotelzinho ali? Podia, mas ele disse que o caminhão era mais confortável, então ele dormia no caminhão, enfim… —Já achei precarizado também, né, Vandilson? —

Tava ali fazendo o trampo dele e foi, comeu e voltou pro caminhão para dormir.  [efeito sonoro de porta de carro batendo] Quando Vandilson entra no caminhão pra se preparar para dormir e tal, tinha uma mulher [efeito sonoro de tensão] sentada ali no banco do passageiro, no caminhão dele. — E aqui Vandilson veio me explicar mais uma coisa: Em determinadas paradas de caminhão, realmente existe ali uma quantidade de prostitutas oferecendo seus serviços. Então utiliza ali dos serviços das mulheres que estão ali quem quer… E elas vão, realmente, elas são assim mais audaciosas… E se a porta do seu caminhão estiver aberta ali, elas vão entrar e te esperar. — E aí ele falou: “Puts, vacilei, deixei a porta aberta do caminhão e a moça entrou”. E aí, conforme ele entrou, ele já falou pra ela, falou: “Moça, pode descer, não estou interessado, nem tenho dinheiro aqui, não quero”. E a moça olhou pra ele assim e ficou olhando pra ele com uma cara que não era uma cara de quem, sei lá, queria fazer um programa, tipo, animada assim, sei lá, simpática, tentando convencer ali um cliente. Não… 

Ela estava com uma cara de quem tava meio brava assim, né? Meio p da vida. Vandilson falou: “Bom, deve ser porque eu falei não, né?” e aí ele falou de novo: “Moça, por favor, desce do meu caminhão. Eu não estou interessado, beleza?”. E já deu assim uma firmada na voz e ela só olhando para ele… Na terceira vez, ele foi passar o braço pela frente dela para abrir a porta do caminhão, tentando ao máximo não encostar nela. Ele foi com o braço pela frente dela, destravou a porta e abriu. Quando ele voltou, o cotovelo dele esbarrou na moça, só que conforme o cotovelo dele dobrou e ele viu que esbarrou na moça, o cotovelo dele entrou na moça. Entrou na moça… A moça que estava ali não era de carne e osso… E aí, pra ele ter certeza, ele botou a mão assim… Ele voltou pro lugar dele e ele botou a mão, assim, no braço dela, na lateral do braço dele e a mão dele entrou, vazou, atravessou a moça… E aí ela já estava com uma cara mais brava. E, quando ele atravessou o braço pela moça, ela avançou nele. 

E aí é que está agora o inexplicável: Quando ele passou o braço por ela, era como se nada estivesse ali, mas ele via que o braço dele atravessou a moça. Agora, quando ela avançou nele, ela conseguiu unhar toda a cara dele… — Toda a cara dele. — E aí ele desceu do caminhão gritando, pedindo socorro… E era uma parada de caminhão ali, né? Então tinha outros caminhoneiros e todo mundo desceu. E pra evitar assalto, era um lugar com câmeras. E aí, naquele dia, não tinha o que fazer, né? Ele ficou por ali conversando com os caras… — Porque tem uns caminhoneiros que passam a noite acordado também. — E aí ficou ali conversando com os caras, não conseguiu dormir mais, a moça sumiu, não tinha ninguém no caminhão dele. E, no dia seguinte, um amigo dele também caminhoneiro da mesma transportadora que estava lá indo pra outro lugar, pediu as imagens. 

E nas imagens o que você vê? — É um lugar que, assim, você deixa seu caminhão num lugar escuro para você dormir, mas geralmente quando você entra no caminhão, você acende a luz de dentro, porque você não vai dormir direito, você vai fazer essas coisas ali, enfim. — Então ele entrou, ele acendeu a luz, não tinha ninguém dentro do caminhão. Ele vira, conversa sozinho, ele abre a porta e depois ele começa a se bater e sai do caminhão… Essa é a cena. Não tinha mulher nenhuma. E aí, muitos caminhoneiros que ficaram sabendo dessa história, acharam que ele estava drogado. Só que o pior não está aí… Ele tinha que sair para levar a carga dele. [efeito sonoro de automóvel dando partida] E ele seguindo ali pela estrada, em determinado momento, a moça apareceu de novo do lado dele. Vandilson com medo de capotar… — Porque é aquilo que eu falei para vocês, a carga que ele estava levando ia explodir se ele capotasse, enfim… — Ele parou o caminhão e a moça permaneceu sentada dentro do caminhão, ele desceu… E como era um caminhão muito grande, passado 15 minutos que ele estava ali parado, a Polícia rodoviária veio para averiguar, ver o que estava acontecendo. Provavelmente alguém passou e avisou, né? — Sei lá, um caminhão suspeito parado com a porta aberta. — E aí ele não sabia bem o que explicar, ele estava com vergonha de falar: “Tem uma mulher, um fantasma dentro do meu caminhão”. 

E aí, como ele não falava direito o que que era, a polícia resolveu levar ele pra averiguação e entrou em contato com a empresa para empresa mandar um outro motorista para retirar o caminhão da estrada. — Então, olha a dor de cabeça… — E aí, chegando lá no posto lá da Polícia Rodoviária, os caras conversaram com ele… — Por que qual que era a suspeita dos policiais? Que ele estivesse drogado. — Mas aí, como ele estava longe do caminhão, longe da mulher, ele ficou mais calmo, e aí ele resolveu contar… Ele falou: “Olha, você pode fazer o teste que for de bebida em mim, de droga, eu até prefiro que faça, porque senão minha empresa vai me mandar embora e eu vi uma mulher no meu carro, aconteceu isso, isso e isso”. E aí um dos policiais falou para ele: “Olha, se eu te falar que você não é a primeira pessoa que fala dessa mulher, você acredita?” e aí ele ficou sabendo de alguns outros homens também que dirigiam caminhão que já tinham encontrado essa mulher naquele trecho da estrada. 

E ele tinha ainda que resolver a questão da carga… Vandilson não queria voltar para aquele caminhão, porque ele falou: “de repente é o caminhão tá amaldiçoado”, mas não era… Porque se a mulher já tinha andado em outros caminhões por ali, né? Então ela curtia aí essa coisa do caminhão. E aí a empresa achou, localizou um motorista, porque é uma empresa muito grande realmente e mandou para pegar a carga ali pra ele voltar pra cidade dele, pra conversar ali, né? O que tinha acontecido… E aí ele voltou, conversou e ficou afastado… Ele foi afastado por 14 dias, passou pela psicóloga, enfim, porque acharam que ele que ele teve, sei lá, um colapso. E isso não é incomum entre os caminhoneiros. Então, passado esse afastamento, ele foi reintegrado à equipe, não perdeu o emprego… — Pesmo porque é aquilo que eu te falei, ele é um motorista muito especializado num certo tipo de carga, então é mais difícil você conseguir encontrar motoristas como o Vandilson… E ele nunca, nunca tinha acontecido nada, ele nunca nem arranhou um caminhão. Então, é óbvio que a empresa, ainda bem, levou isso em consideração e julgou como um fato isolado aquilo que aconteceu e também depois nunca mais aconteceu nada. —

Mas ele ficou realmente apavorado e com muito medo dessa mulher… Então, ele não sabe se, de repente, será que era uma moça que fazia programas ali e foi morta ou morreu e continuou por ali… E por que ela estava tão brava, né? E, enfim, não falava nada, só ia para cima e atacava ele? — Bom, enfim… — Essa história é a do Vandilson, onde mais uma vez um espírito é confundido com uma pessoa viva e isso me deixa muito brava, né? Eu tô aí nessa campanha para que o sobrenatural seja sinalizado. [risos] Pelo menos com uma seta escrita em cima “morto”, já ajuda, já resolve, né? Brincadeiras a parte, foi uma situação muito tensa aí na vida do Vandilson… Ele falou: “Andréia, nem tanto pela assombração, que foi uma coisa assim que eu não imaginava, mas o medo depois de ser mandada embora… Porque eu gosto do que eu faço e, enfim, eu sou um motorista bom, eu nunca tinha feito nada de errado” e continuou não fazendo nada errado, né? Aconteceu que apareceu uma entidade, uma coisa no seu caminhão também, a gente não tem o que fazer, né? Então, ainda bem que deu tudo certo e ele continuou com o emprego que ele queria continuar.

[trilha]

Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, oi, Vandilson… Meu nome é Pedro, eu falo de Minas Gerais e eu também trabalho em uma transportadora. A gente trabalha com coleta de leite e a maioria das nossas rotas é feita em zona rural. É comum alguns motoristas chegarem de algumas rotas e falarem que viram esse tipo de coisa, né? Não dentro dos caminhões, mas fora… Tipo, tá conversando com a pessoa e aí a pessoa se identificar: “Quando eu era vivo também aconteceu isso comigo”, já vi motorista falando dessa maneira, sabe? A maioria dos motoristas de onde eu trabalho são católicos, então todos tem um terço ou um escapulário pendurado no retrovisor e todos lavam a cabine do caminhão com água benta. Não sei qual é a sua religião, a sua fé aí, mas pode ser que para você também funcione. Tá bom? Espero que tudo fique bem, que a moça encontre o caminho dela. Um abraço e até mais. 

Assinante 2: Oi, gente, tudo bom? Sou Carol Rodrigues de Fortaleza, Ceará. Olha, Luz Acesa eu sempre fico com medo e também com pena dessa assombração, por assim dizer, sabe? Pra essa pessoa estar aparecendo assim em caminhões, em estrada, fico pensando se não aconteceu algo com essa moça enquanto ela era uma pessoa viva, enfim… E aí ela está perdida, não tem uma orientação… Talvez ela até esteja aparecendo nesses caminhões assim buscando uma ajuda, né? Mas eu super entendo o Vandilson e fiquei feliz que deu tudo certo com ele também, porque aparecer assim do nada uma assombração dessa, enquanto ele dirigia um caminhão numa estrada distante, com uma carga sensível, nossa… Enfim, mas eu fiquei muito curiosa quando o policial falou que não é a primeira vez que já falavam dessa mulher, né? Muitas coisas pra pensar… 

[trilha]

Déia Freitas: Então, essa é a história do Vandilson, comentem lá no Telegram, sejam gentis com o Vandilson. E um beijo — Deus me livre — e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.