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título: carona
data de publicação: 17/11/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #carona
personagens: josi, fernanda e ricardo

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Voltei. É mais uma história de firma, eu amo história de firma. Mandem mais histórias de firma. É a história da Josi e da Fernanda, quem me escreve é a Josi e o cenário dessa história será Curitiba.

[trilha]

A Josi e a Fernanda trabalham na mesma empresa, uma financeira, e onde elas trabalham é assim, é um prédio enorme com várias empresas só dessa coisa de ações ou banco, só coisa financeira. Então assim, é um prédio grande que não é uma única firma são várias firmas pequenas e as duas trabalham na mesma firma, e o marido da Josi trabalha no mesmo prédio só que em outra firma. Então trabalha todo mundo junto ali, só que as duas numa empresa e o marido da Josi numa outra empresa no mesmo prédio. A Josi e a Fernanda elas trabalham no mesmo departamento então elas se conhecem, a Josi já é antiga funcionária e a Fernanda tá na empresa há uns oito meses. 

E nesse tempo a Fernanda ia de fretado trabalhar, só que a empresa parou de pagar o fretado e começou a dar o vale-transporte e ela tinha que pegar duas conduções, ficou complicado e ela comentando ali na empresa, a Josi acabou oferecendo pra ela carona, mas uma espécie de carona assim: você me ajuda na gasolina e a gente vem e vai embora juntas, porque a gente sai no mesmo horário. A Fernanda ficou super feliz, topou. Então todo dia de manhã a Josi que ia trabalhar junto com o marido, o Ricardo, passavam na casa da Fernanda, pegavam a Fernanda e os três iam trabalhar, na volta voltava só a Josi e a Fernanda porque o Ricardo não tinha muitos horários, às vezes ele estava fora da empresa fazendo alguma visita, então assim, a ida era sempre os três, a volta só as duas. 

E a carona foi rolando e já tinha uns seis meses que eles estavam de carona assim e tudo dando certo, a Fernanda pagava direitinho o que elas tinham combinado, nunca atrasou, reclamou de nada e a coisa foi rolando. Até que um dia chegou a fatura de cartão da Josi e, na fatura do cartão dela, tinha uma compra que foi feita pessoalmente numa loja de roupa de cama dessas mais chiques, sabe? De mil e cem reais, mil e cem reais, uma compra que a Josi não fez, de jeito nenhum. Então ela ficou doida, né? Ela ficou doida porque assim, não era nada online, então o quê que ela fez? Ela foi até a empresa lá, a loja, só que a loja tinha um circuito de segurança lá, umas câmeras só que só gravava por dez dias, depois gravava por cima, e a compra já tinha quase um mês, tipo tinha vinte e três dias, sei lá alguma coisa assim. 

E não tinha mais imagem e a moça ainda falou: “Olha, eu posso procurar aqui pra você o canhotinho da venda, mas a venda foi feita aqui na loja, e posso te dar uma cópia da nota fiscal, se tiver tipo, quando a pessoa pede pra pôr o CPF na nota fiscal, você vai saber pelo CPF, quem foi”. Só que aí ela puxou lá no sistema e a pessoa não tinha pedido pra colocar o CPF, então não adiantou nada, era só uma compra mesmo no cartão dela que ela teria que contestar lá na coisa de cartão porque na empresa ali, na loja, estava tudo certo. A gerente foi super colaborativa assim, ela chamou a vendedora que tinha feito à venda, só que assim, é uma loja mais chique, mas que vai bastante, gente, então a vendedora não conseguia lembrar, mesmo o valor sendo mil e cem as compras ali naquela loja, tipo, mil e cem era a média, tinham compras muito maiores e outras um pouco menores, então ela não lembrava mesmo quem tinha sido que tinha comprado há vinte dias. 

E numa dessas a Josi mostrou o cartão e falou: “Gente, mas é esse cartão que tá aqui na minha mão, será que ele foi clonado?”, ela falou: “Olha, eu não sei, aí você tem que ver lá na sua operadora de cartão, né? Eu tô aqui com o comprovante e tal, agora a gente tem que ver como isso funciona, né?”, aí a gerente falou assim pra ela: “Não tem a chance de alguém ter furtado esse cartão de você, alguém conhecido, usado e depois colocado novamente na sua bolsa ou no lugar que você deixa?”, isso gerou uma pulga atrás da orelha da Josi. Quando a Josi recebeu a fatura e viu os mil e cem reais ela comentou com o marido, aí ele falou: “Ah, vai checar, né? Ver o quê que é, de repente foi algum erro, sei lá” e passou. E aí depois que ela checou, ela comentou com ele o quê que a gerente tinha falado e ela confessou pra ele que ela estava em dúvida em relação a Fernanda, se poderia ter sido a Fernanda e ele deu a maior força falou: “Ah, não, deve ter sido ela então, porque quando o cartão é clonado é diferente, gera uma compra suspeita, se ninguém te ligou…”, falou um monte lá pra ela, passou, né?

No dia seguinte ela tinha que dar carona pra Fernanda, e como que a Josi pensou? Como poderia ter acontecido? Na volta elas sempre paravam pra colocar gasolina, porque de manhã tem mais trânsito, mais corrido e só estava sempre as duas, então a Josi acha que pode ser numa das vezes que ela entrou lá na loja de conveniência com um dos cartões para pagar e pegar alguma coisa, e aí deixou a bolsa no carro e ela pegou, a Fernanda pegou o cartão e depois no dia seguinte devolveu, alguma coisa nesse sentido. — Isso o que estava pensando a Josi. — Daí no dia seguinte a Josi tinha que dar carona pra Fernanda, né? E ela estava com muita raiva porque ela, na cabeça dela, tinha sido a Fernanda. Ela foi, pegou a Fernanda, o marido também estava no carro, os dois, o marido e a Fernanda foram conversando mais ou menos assim, e a Josi calada. 

Aí chegou lá na empresa, ela chamou a Fernanda e falou: “Ah, Fernanda, eu não vou mais poder te dar carona, eu tô pedindo aqui uma mudança de horário, eu tenho umas coisas pra acertar em casa, vou acabar saindo em horários diferentes… Então como a gente estava pra renovar, você me dar o dinheiro do mês, não precisa me dar, porque aí você vê uma outra forma de você vir”, aquilo pegou a Fernanda assim de surpresa, só que, né? Normal, não dá, não dá. E aí Fernanda falou: “Ah, tudo bem então”. — E a Josi com aquela raivinha, né? Só que isso é uma coisa muito séria. Não tem como você acusar uma pessoa de ter furtado o seu cartão, feito uma compra e devolvido seu cartão sem provas e a Josi sabia disso. Então ela sabia que não ia ter muito o que fazer, né? Já que não tinha câmera, a loja lá já tinha regravado por cima, era um cartão de supermercado desses que tem bandeira Visa ou Credicard, mas é de um mercado. —

Ela pagou a compra porque ela não conseguiu estorno e cancelou o cartão. — Na pior das hipóteses, a pessoa copiou os dados aí, e aí eu tô lascada, né? — E aí ela cancelou o cartão do supermercado, ela tinha dois, ficou só com um cartão de crédito. Só que agora, a Fernanda não descia mais, ela não podia nem olhar para a Fernanda, e a Fernanda sem saber de nada, sem desconfiar que a Josi tinha mudado com ela por causa disso, ela até tentou, perguntou umas vezes para a Josi, a Josi: “Não, nada, tô normal e tal”, mas não estava. E o tempo foi passando, a Josi quando foi até a loja lá pra verificar compra, ela viu que era uma loja chique e era uma loja assim: vendia roupa de cama sofisticada, vendia também uns pijamas assim, umas camisolas e umas lingeries, e… peças masculinas também tipo umas cuecas, tudo muito fino, tudo muito chique assim, e na compra dela na nota fiscal tinha sido um jogo de cama, duas cuecas, uma camisola e um hobby. 

E agora passado um tempo a Josi estava se atentando a um detalhe, o detalhe das cuecas, por que o detalhe das cuecas? Um: a Fernanda era lésbica assumida e atuante, então assim, estava sempre ali pelos direitos dela e não sei o quê, então todo mundo sabia que ela era lésbica e ponto. Então se foi ela que pegou, ela comprou as cuecas pra quem? Pro pai? Ou ela usa cueca? As cuecas eram G e a Fernanda muito magrinha. E ela ficou com isso na cabeça, por que que despertou isso nela? Porque numa das vezes que ela entrou no banheiro da casa dela mesmo e o marido estava terminando de se arrumar, ela teve a impressão de ter visto, a hora que ele pôs a calça, uma cueca parecida com a cueca que ela viu na loja, que ela nunca tinha visto uma cueca daquela pra lavar na casa deles, na hora, sei lá, passou batido, mas despertou um alerta nela. 

E eles foram trabalhar, ela agora pensando nisso na nota fiscal, procurando, ela nem lembrava mais onde estava a nota fiscal, procurando, pra ver se ela voltava na loja pra ver se era aquela mesma cueca, porque ela teve a impressão que o marido estava com a cueca, e ela falou: “Na volta eu vou pegar ele, quando ele chegar em casa eu vou ver que cueca é essa que ele tá”. Na volta a Josi voltou sozinha porque o marido dela não tinha horário, e quando ele chegou, ela ficou o tempo todo com ele falando de outras coisas pra esperar ele tirar a roupa pra ver a cueca. E ele vai pra lá, vai pra cá e ela atrás, quando ele começou a tirar a roupa, ela falou: “Agora é a hora, se for uma cueca daquela loja foi ele que pegou o meu cartão e foi ele que gastou, e ele tem outra, porque comprou camisola, comprou hobby de seda, e cadê esse jogo de cama?”, na hora que o Ricardo tirou a calça a cueca, a cueca que ele estava era uma cueca de sempre, uma cueca branca, e a cueca que ela tinha visto ele de manhã era uma cueca estampada, tipo essas assim, cuequinha meio de seda, não era uma cueca branca de algodão.

Ela falou: “Gente, eu tô louca? Porque eu tô imaginando coisa então, porque a cueca que eu vi não era essa cueca que ele estava”, e ela ficou duvidando de si mesma assim, “nossa, eu tô com a cabeça tão pensando naquilo que eu ia culpar o meu marido de uma coisa que ele não fez”. E a Josi acabou esquecendo essa coisa da cueca, falou: “Bom, já paguei o cartão mesmo, já cancelei aquele cartão, vamos largar esse prejuízo e pronto”, e ainda desconfiando que tivesse sido a Fernanda. Mais um tempo se passou e Josi teve uma puta dor de garganta, daquelas que você não consegue levantar da cama? E ela ficou em casa um dia, no primeiro dia mal, mal, mal, aí foi pro PS tomou injeção. O médico deu pra ela mais um dia… — Então, além daquele dia que ela tomou injeção, o dia seguinte ela poderia ficar em casa que seria uma quinta-feira, e na sexta-feira ela teria que voltar a trabalhar — Então ela ficou em casa na quarta, né? O dia que ela foi no PS e ia ficar na quinta-feira. 

Quinta-feira era o dia que o Ricardo tinha squash, — Squash pra quem não sabe é um joguinho que você joga bola na parede, um tênis que você joga com a parede… — e ele tinha lá o tênis dele com a parede, de quinta-feira, então dia de quinta-feira era um dia que ele chegava bem tarde. A Josi tinha tomado a injeção, já estava bem melhor, falou: “Bom, vou dar uma arrumada nessas gavetas, nessas coisas aqui do quarto, dar uma organizada. O Ricardo acaba misturando coisa dele com as minhas coisas do lado do guarda-roupa”, e começou a mexer, arruma daqui, arruma dali, arrumando caixa, arrumando as coisas, e eles tinham uma caixa de documentos, sabe quando você guarda assim as faturas mesmo, as contas de luz, que falam que a gente tem que guardar por cinco anos? Então eles tinham uma caixa e ela falou: “Bom, a caixa já tá até a boca aqui, já deve ter coisa de mais de dez anos, eu vou dar uma olhada por cima assim e tirar a parte de baixo que deve ser conta mais antiga e já vou jogar fora”, passou de cinco anos você não precisa mais guardar conta de luz, essas coisas, e ela pensando, falando sozinha. 

A ideia dela foi virar a caixa ao contrário, as contas ao contrário e ir pegando as do fundo, porque você vai colocando as contas por cima, né? Quando ela botou a mão por baixo ela sentiu um tecido, o que era este tecido? Uma cueca. De onde era essa cueca? Da loja. Da loja que ela foi verificar o cartão… — Gente, para tudo, o Ricardo. — O Ricardo era o cara que tinha roubado a própria esposa, tinha comprado no cartão dela, ela pagou as cuecas e as coisas da amante? Gente, será? Conforme ela virou a caixa e pegou a cueca assim, ela ficou chocada, ela estava fazendo isso em cima da cama… — Estava meio deitada, meio gripada ainda — Virou as contas ali da caixa em cima da cama mesmo, que ela estava com a cueca na mão, ela olhou pra cama, junto com a cueca tinha caído uma outra coisa, que ela olhou era uma calcinha, que não era dela. E a calcinha estava toda craquelada, [risos] toda branca, craquelada assim, como se ele tivesse se masturbado na calcinha e guardado depois e aí secou. 

E ela chocada, porque era uma calcinha assim, um estilo de calcinha de renda, minúscula e preta assim, que é um tipo de calcinha que ela não usa, não era dela. Então além dela achar a cueca da loja, a calcinha que não tinha marca, nem olhou marca porque a calcinha estava toda grudada… — Toda assim, junta, né? Toda colada? Com uma goma? [risos] — E ela pegou aquilo com nojinho assim, e ali ela teve a certeza que um: tinha sido o Ricardo e não a Fernanda que tinha roubado ela, dois: o Ricardo tinha uma amante. Cabeça da Josi a mil por hora, né? Como que o Ricardo tinha tido coragem de fazer ela gastar dinheiro suado dela pra pagar putaria dele? — Que é putaria… — E quem que era essa pessoa? Desde quando ele traía? A Josi tinha muitas perguntas. E na quinta era um dia que o Ricardo chegava mais tarde porque ele tinha o squash, e ela não queria confrontar o Ricardo sem mais provas, ela queria saber de tudo antes. 

E o quê que ela fez? Ela tomou um remédio lá pra dormir, pra hora que ele chegasse ela estar dormindo já, que ela não queria nem olhar para a cara dele, e de manhã ela deu uma enrolada e falou pra ele: “Ai, chama aí um táxi, um Uber e vai trabalhar, porque eu nem sei se vou”, ela ia, porque ela não tinha atestado pra sexta-feira, mas ela não queria ir com ele. E aí ele foi, depois que ele saiu de casa que aí ela levantou tomou banho e foi também trabalhar. Primeira coisa que ela fez quando ela chegou na empresa foi chamar a Fernanda pra conversar, aí ela começou a falar, falou: “Olha, Fernanda, eu quero pedir desculpas por ter parado de te dar carona”, e antes dela falar o motivo, porque assim, ela ia só falar por cima que tinha ocorrido um mal-entendido, não ia expor o marido dela ainda porque ela não tinha certeza de nada, mas quando ela começou a falar a Fernanda virou pra ela e… — Gente, se segura agora — e falou assim: “Eu entendo Josi que você tenha parado de me dar carona, eu achei que você tivesse realmente sacado, tivesse desconfiado de alguma coisa e eu é que tenho que te pedir desculpas”, nisso o coração da Josi já disparou [efeito sonoro de coração pulsando] por que o quê que ela pensou? “Meu Deus, a amante do Ricardo é a Fernanda, mas a Fernanda é lésbica, gente, como isso?”, e assim mil coisas na cabeça. 

E a Fernanda enrolando, enrolando pra falar que ela tinha reparado nos sentimentos, não sei o quê, quando Fernanda vira e fala: “Desde que a gente começou a vir juntas que eu me apaixonei por você”. — Oi? [risos] Que virada linda. [risos] — A Fernanda não estava falando do Ricardo, estava falando da Josi, que ela tinha sentimentos pela Josi, e que entendia que a Josi por ser casada tivesse sacado e tivesse parado de dar carona. Então, ali enquanto a Josi tinha mil coisas na cabeça pra descobrir quem era amante do marido dela sacana que tinha roubado ela, no meio de tudo aquilo ela descobriu que a Fernanda gostava dela, a Josi fez uma cara de espanto tão grande que a Fernanda falou: “Ai, desculpa, você ia me falar outra coisa, desculpa, deixa eu ir pra minha mesa”, e foi embora e largou a Josi com aquele pepino. 

A Josi ficou chocada de saber que a Fernanda gostava dela, mas ela tinha coisas mais importantes no momento pra resolver que era a traição do Ricardo, e assim, a Josi estava certa de que descobrindo tudo, unindo as pontas soltas, ela ia pedir o divórcio, ela não ia perdoar nada, então ela precisava descobrir quem era essa pessoa, quem era essa amante do Ricardo e ter a certeza que foi ele que roubou ela. Só que a Josi não tinha dinheiro pra pagar um detetive ou coisa do tipo, ela ia ter que ela mesma seguir o Ricardo algum dia, porque como ele tinha os horários malucos, ele podia de repente estar saindo com a amante no meio da tarde. — Né? Podia ser isso — E ela ficou nessas, tipo, ela teria que mudar os horários pra poder seguir ele, só que no trabalho dela não tinha como fazer isso. 

E aí ela pediu férias, só que aí o chefe dela falou: “Olha esse mês e o mês que vem eu não consigo te dar férias, só vou conseguir te dar no outro”, então quer dizer, ela ia ter que passar quase sessenta dias pra começar a seguir o Ricardo. — Seria mais fácil confrontar, né, gente? Mesmo se ele mentisse, alguma coisa você pega ali na hora, mas ela não queria, ela queria ter provas. — E o pior de tudo pra ela era ter que conviver com Ricardo sem a certeza, sem saber quem era a amante, ela já tinha certeza do caso porque não tinha como, só se ele mesmo tivesse vestindo a calcinha, — O que poderia também acontecer, né? — mas ela tinha certeza que aquela calcinha era de alguém e que ele tinha uma amante, só faltava descobrir quem e ela queria ter pelo menos uma foto, alguma coisa, pra poder jogar na cara dele e espalhar, ela queria espalhar que ele era um traidor. 

Bom, mas nada estava ajudando os planos da Josi, né? Porque só quando ela pegasse férias é que ela podia seguir o Ricardo e ver onde ele ia, porque ele fazia muitas visitas, na financeira que ele trabalhava lá ele visitava empresas, ia até os clientes, então podia ser em qualquer lugar, né? Ele podia ir pra um motel ou pra casa da amante no meio da tarde, então só mesmo quando ela tivesse de férias é que ela poderia descobrir. E ela não estava aguentando mais conviver com ele, porque olhava pra ele, primeiro ela já estava certa de que ele tinha roubado, porque a cueca era lá daquela loja chique e pra quê que ele ia esconder a cueca? E a calcinha que ela tinha achado que não era dela, então disso ela já tinha certeza, ela só queria saber quem era pra jogar na cara dele — Pra ter tudo certo, né? Todas as provas — e pedir o divórcio.

E aí ela ficou diferente com ele, mas pra não parecer tanto, ela evitava, então ela começou a sair mais, ia pra casa da mãe dela, pra casa da irmã dela, deixou ele até mais solto, né? Se já estava traindo, ele podia trair mais. E numa dessas que ela foi pra casa da irmã dela ela chegou lá na casa da irmã, a ideia era: ficar lá o dia todo, era um sábado, ela falou: “Ah, eu vou lá ajudar minha irmã a ajeitar lá o quartinho dela da bagunça no fundo, que ela quer fazer um quarto de ginástica, e a gente vai tirar tudo, então eu vou passar o dia lá”. E ela foi e esqueceu o carregador de celular, só que assim, ela lembrou do carregador só a hora que precisou, então ela estava lá, tipo, ela chegou lá umas dez horas da manhã, quando foi lá pra uma e meia da tarde o celular dela já estava apitando porque a bateria estava acabando, e ela lembrou que ela estava sem o carregador e o celular da irmã dela, nem do cunhado era igual ao dela, ela falou: Bom, puts, vou ter que dar uma corrida em casa pra pegar o carregador, já volto”.

[som de carro sendo ligado] E elas moravam tipo bairro um do lado do outro? Jogo rápido, cinco minutos que ela fosse lá pegava o carregador e voltava. Beleza, a Josi estacionou o carro na frente da casa, falando: “Deixar o carro aí na rua, cinco minutinhos”, em vez de abrir o portão da garagem, ela abriu o portão lateral, portãozinho, entrou pelo portãozinho, abriu a porta, a porta não ficava trancada, marido dela estava lá porque o carro dele estava na garagem, que ela entrou, Ricardo não estava na sala, Ricardo não estava na cozinha e, assim, a casa da Josi tinha três quartos, então um quarto era o quarto de hóspedes, no quarto de hóspedes tinha uma cama de casal, no quarto da Josi tinha uma cama king que é aquela cama maior e o outro quarto era um escritório que era usado pelos dois…

A Josi passou pelo escritório pra chegar até o quarto dela e pegar o carregador que estava na tomada do lado da cama. Vamos pensar na casa da Josi: ela passou pelo corredor à esquerda, a primeira porta aberta era o escritório, segunda porta à esquerda aberta o quarto de hóspedes e a porta no fundo no final do corredor era a suíte do casal, então ela teria que passar pelas duas portas. Que ela passa pela porta do quarto de hóspedes, quem está na cama transando? — Adivinhem… — Precisa nem adivinhar, né, gente? Ricardo. O Ricardo teve a audácia de levar a pessoa que estava botando o chifre na Josi junto com ele pra dentro de casa, a Josi assim, ela parou na porta e notou aquela esfregação e uma coisa que ela anotou antes até de entrar mais e pegar o Ricardo mesmo, era que a roupa de cama que estava na cama de hóspedes era um conjunto assim de cetim, de cetim preto assim, uma coisa diferente com uns bordados, tipo chique, e na hora ela sacou: “Gente, é a roupa de cama da nota fiscal, o jogo de cama estava dentro da minha casa e eu não vi?” — Olha o que ela parou pra pensar ainda, assim, antes de pegar o Ricardinho, adentrar o quarto e ver quem era a mina que o Ricardo estava catando lá. —

E tudo isso em questão de segundos, que ela entrou, a Josi quase caiu de costas: o choque. Sabe quem era a mina que o Ricardo estava pegando que era a amante dele? — Vocês nem imaginam quem era essa pessoa… — A mina não era uma mina, era um cara. O cara não era um cara qualquer, era o marido da irmã da Josi… — Gente, eu fiquei passada. Imagina a Josi? — E o cunhado da Josi vestia o que? Uma camisola, a camisola G da nota fiscal tinha sido comprada por Ricardo pra ser usada [risos] pelo marido da irmã da Josi. — Gente, os cunhados se pegando… — E as irmãs tomando chifre. Olha, o barraco foi tão grande que deu até polícia, [som de carro de polícia] a Josi ficou fora de si e gritava, quebrou coisa, jogou coisa neles, rasgou a camisola direto no corpo do cunhado assim arrancando e ligou pra irmã. 

A irmã veio e ainda pegou eles lá no quarto porque a Josi não deixou eles saírem do quarto, chamou a polícia, chamou tudo, a irmã veio, bateu neles também. Olha foi um… Furdunço. E né, dois casamentos que acabaram, o dela e da irmã porque os dois cunhados estavam tendo um caso, sabe lá quanto tempo, porque eles faziam muitas coisas juntos assim, inclusive [risos] jogar squash… [risos] — Vai saber esse squash, né? — E faziam tudo, jogavam squash, faziam passeios juntos, pescavam juntos… — Pescar, vai saber, né? — E elas nem imaginam, porque assim, eles não quiseram nem dar detalhes, nada e elas nem imaginam quando que começou esse caso dos dois, elas jamais imaginavam que eles eram gays ou bi, e aí dois casamentos acabaram, a família toda ficou sabendo e foi aquele auê. 

Isso já tem uns dez anos, hoje a Josi tá casada de novo, na época também acabou não rolando nada com a Fernanda porque a Josi é hétero, não tinha esse tipo de interesse na Fernanda, mas elas são amigas até hoje, depois a Josi acabou contando tudo, a Fernanda entendeu e elas preservaram a amizade. E ela, às vezes, ainda vê o Ricardo por aí lá pelo prédio, porque eles trabalham ainda na mesma empresa, tanto ela quanto ele, e ela sempre tem vontade de dar soco nele, [risos] mas agora não pode mais, né? [risos] Deu soco só lá na hora. E ela falou que realmente ela não sabe nem se é a mesma calcinha que estava lá nos documentos, né? Mas o cunhado dela estava de camisola e quando ela rasgou a camisola, ele estava de calcinha e então, sei lá, acho que na hora que eles estavam transando o Ricardo pôs a calcinha de lado, né? O fetiche seria esse, transar com o cunhado vestido de mulher. Mas não tinha peruca nada, ela falou que era só mesmo as roupas, e tudo de cetim assim, tudo fino, tudo… Nem cetim, seda, né? Eu falo cetim porque eu sou pobre, mas tudo de seda.

Ah, e no divórcio, a Josi fez o Ricardo devolver os mil e cem reais, senão ela ia dar queixa dele, apesar que eu acho que não pode dar queixa de marido em coisa financeira? Alguém tinha me falado isso uma vez aí numa outra história, então, mas ela ameaçou e ele topou, devolveu os mil e cem reais. Então é isso, Josi está bem, Fernanda está bem, Ricardo também deve estar bem. Ela não sabe se o Ricardo ficou com o cunhado, porque assumido mesmo ele não é, inclusive, Ricardo tem uma namorada, que a Josi morre de vontade de avisar que ele é um traidor, mas não é da conta dela mais, né? Então cada um seguiu sua vida aí depois desse episódio [risos], e foi a sorte, né? Carregador abençoado, porque eu sempre prefiro saber. Então foi bom que ela já descobriu logo, ela estava focada numa amante mulher e no final nem era, era o próprio cunhado que ela não ia desconfiar jamais, jamais, nem ela e nem a irmã. E um beijo e é isso, até a próxima.

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Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.