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título: mãezinha
data de publicação: 24/10/2024
quadro: luz acesa
hashtag: #maezinha
personagens: jamilly e dona vilma

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história da Jamilly. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Jamilly quando ela tinha seus 26 anos, tinha terminado a faculdade, estava num emprego estável, sua mãe — que a gente vai chamar aqui de “Dona Vilma” — teve um infarto fulminante e morreu. Dona Vilma morreu dormindo, o que para muitos pode ser uma coisa: “Ah, que bom e tal”, mas para mim é sempre mais traumático, assim, a pessoa está bem e de repente ela vai dormir e não acorda, assim, sempre achei, sei lá, uma morte horrível. E pra Jamilly foi horrível, porque ela dormiu conversando com a mãe, tipo: “Amanhã cedo vamos fazer isso e aquilo” e de manhã dona Vilma estava morta na cama.

Foi tudo muito traumático, muito triste e Jamilly entrou ali numa depressão profunda. Na época, a Jamilly tinha um namorado… O namorado dela não segurou a onda da depressão da Jamilly e foi embora. Então a coisa aqui estava pior ainda agora com a Jamilly sem o namorado e sem a mãe. — Que era só ela e a mãe. — Com a ajuda ali dos amigos de trabalho, a Jamilly conseguiu uma terapia, começou a tomar medicação e em dois anos ela conseguiu sair dessa depressão que ela estava, foi fazendo o desmame ali do remédio que ela estava tomando e voltou a ficar bem. Agora, já acostumada com a falta de Dona Vilma. Mais dois anos se passaram — então já ali tinha quatro anos do falecimento de Dona Vilma —, até que um dia Jamilly acordou… E agora ela morava sozinha porque a casa era de Dona Vilma, então agora a casa era dela, era uma casa de dois quartos e nesse meio tempo a Jamilly transformou o quarto da mãe num ateliê, que ela sempre gostou de pintar — paralelo ao trabalho que ela tinha, pintar aquarelas, enfim —, ela acordava de manhã, fazia um café ali e ia para aquele cômodo pintar um pouco e depois já sair para trabalhar.

Nesse dia, Jamilly entrou ali no seu ateliê e sentiu um cheiro de flores que não fazia sentido ali e, quando ela olhou para perto da janela, que era onde ela gostava de deixar ali as telas, o cavalete dela com as telas e tal para pintar, ela viu Dona Vilma. Dona Vilma estava com uma aparência muito bonita, com um vestido florido, assim, de viscose, sorrindo para ela. Na hora a Jamilly ficou emocionada, mas ao mesmo tempo assustada… — Se sou eu, vocês já sabem, né? Não quero que nenhum parente venha aparecer pra mim. — E ela deu alguns passos para trás, mas a mãe, Dona Vilma, fez com a mão assim tipo: “Venha para mais perto”. E ali, num momento de coragem, a Jamilly foi mais perto e, a partir daquele dia, sempre que ela estava pintando, Dona Vilma estava ali na sala com ela. Jamilly se sentia inspirada, mas sempre que ela acabava de pintar ali um pouco, porque era tipo, sei lá, meia hora que ela ficava ali, ela se sentia muito cansada, parecia que a mãe tomava alguma energia dela e esse cansaço foi refletindo também no trabalho dela e foi refletindo ali no convívio dela com os amigos. 

E, ao mesmo tempo que era muito bom estar com a mãe todos os dias de manhã, tudo  na vida de Jamilly começava a ficar ruim. Jamilly começou a ter algumas desavenças no trabalho a ponto de tomar uma advertência. Jamilly começou a beber — ela nunca foi de sair à noite, ainda mais sozinha, né? — e, de repente, ela saía à noite e ia pra um boteco… Pensa num buteco onde só tem homem… E ela começou a se colocar em risco. Ela não conseguia entender como a vida dela estava tão boa com a mãe, agora Dona Vilma constantemente na casa e, por outro lado, tudo da vida dela estar assim ruindo mesmo, a ponto dela se colocar em perigo físico várias vezes. Ao mesmo tempo que Jamilly percebia o quanto isso era problemático, parecia que ela estava no automático, que ela não conseguia sair desse modo. E um dia, depois de ela ter se colocado em perigo, onde ela foi num bar e ela foi seguida por um homem e foi atacada e quase sofreu ali uma violência maior, ela chegou em casa e pela primeira vez na vida ela rezou e adormeceu rezando.

Quando Jamilly adormeceu, ela sonhou que ela estava andando por um gramado assim com Dona Vilma, Dona Vilma sempre naqueles vestidos de viscose estampados e ela andava conversando com a mãe — sabe quando você está conversando com alguém que você está olhando para frente? — e uma hora ela olhava para a mãe e ela não via a mãe… Ela via um… — Eu fico até arrepiada… — Como se fosse uma forma escura que não tinha muito forma humana aquilo, parecia uma nuvem, mas não era uma nuvem… Era denso e fazia um barulho, assim, como se fosse um rosnado e ela via ali que Dona Vilma tinha se transformado num completo mal, assim. E aí ela tentava correr e um buraco se abria naquela grama e ela caía naquele buraco e acordava. — Lembrando que todo dia ela acordava e era recebida naquele ateliê pela figura de Dona Vilma. — Quando Jamilly acordou, ela acordou aterrorizada… Era umas quatro horas da manhã e ela escutava barulho das coisas todas caindo dentro do ateliê dela. — Ela nunca tinha escutado. — 

Jamilly não teve coragem de levantar, de fazer nada, cobriu a cabeça e ali ela dormiu de novo. Assim que Jamilly acordou, ela já acordou convicta de que o que ela estava vendo todos os dias dentro da casa dela, como se fosse Dona Vilma, não era a Dona Vilma. — Nunca foi a Dona Vilma. — E era aquilo que estava fazendo com que a vida da Jamilly toda tivesse daquele jeito, ela bebendo muito, ela se colocando em perigo, enfim, quase perdendo o emprego… Algumas vezes ela se sentia doente, fisicamente doente, e quando ela acordou, ela passou direto pelo ateliê, a porta do ateliê estava fechada, foi pro banheiro, tomou um banho e saiu… — Sem entrar naquele ateliê. — Jamilly não sabia bem o que pensar, então ela foi trabalhar como se nada tivesse acontecido. Quando deu ali seis horas, Jamilly saiu do trabalho, voltou para casa e quando ela entrou na casa dela, [efeito sonoro de suspense] estava tudo revirado… — Não parecia que tinha entrado um bandido, nada… — Alguém ou alguma coisa tinha arrancado as gavetas, então as gavetas estavam espalhadas pelo chão, a tv dela estava no meio da sala, no chão, então não estava jogada. — Alguém tirou a TV do lugar e botou no chão, enfim… —

E quando ela teve coragem e entrou no ateliê, as paredes do ateliê, as paredes estavam com tinta… — Não tinha nada escrito, nada, como se alguém pegou o dedo assim e foi passando nas paredes, à mão e passando nas paredes. — Nesse ponto, a Jamilly não sabia se ela estava lúcida, se ela estava enlouquecendo… Ela não conseguiu chegar até o quarto, porque da hora que ela viu o ateliê que ela voltou e saiu, um corredorzinho pequeno ali, ela já viu essa forma que agora parecia um vulto, assim… Ela falou para mim: “Andréia, não era preto, era um cinza, mas era, assim… Não parecia fumaça, parecia que era sólido mesmo”, tapando a porta do meu quarto, assim, eu não podia… Impedindo que eu entrasse no meu quarto. Jamilly correu para fora de casa e começou a gritar [efeito sonoro de pessoa gritando] e veio o vizinho, entrou e chamaram a polícia, parecia que a casa dela tinha sido invadida e vandalizada. E foi assim que foi feito um boletim de ocorrência. — Inclusive o policial pediu para ver se tava faltando alguma coisa, não estava faltando nada, enfim… —

Jamilly aquele dia foi dormir na casa de uma amiga, não teve coragem de contar para essa amiga e, ao mesmo tempo, quando Jamilly tava muito mal em depressão, ela tinha conhecido umas pessoas de um templo budista e tinha feito muito bem a ela, era um lugar muito bonito e tal e ela se lembrou desse grupo e resolveu arriscar. — Assim, ela não conhecia nenhum evangélico, não conhecia ninguém, nenhum padre, nada… — E ela tinha se aproximado desse grupo, mas depois que ela ficou bem ela não voltou a ter contato com eles. Ela contou o que estava acontecendo para esse grupo, ela ficou uns dias na casa da amiga e esse grupo começou a ir na casa da Jamilly e a fazer cânticos e orações todos os dias ali. No começo eles não viam nada e depois eles passaram a ver. E aí nesse grupo, que era um grupo de oito pessoas, somente três continuaram fazendo as coisas na casa da Jamilly e pediram ajuda lá ao templo. — Então veio mais um, uma espécie de um monge, enfim… — E demorou meses…

Jamilly conseguia ficar uns dias em casa e aquela figura voltava, derrubava as coisas dela… Então, às vezes ela estava tomando café e atrás dela a torradeira dela voava na parede. Eles foram fazendo orações e cânticos e fizeram uma espécie de pintura no ateliê da Jamilly e depois de muitos meses, ela conseguiu um pouco de paz e, ainda assim, Jamilly fez o inventário da Dona Vilma e vendeu aquela casa e comprou um apartamento numa cidade vizinha. — Então ela não sabe se aquilo ficou na casa, mas ela lembra que no final, assim, tinha dias de paz, mas tinham dias também que as coisas voavam longe. E ela falou: “Andréia, não me orgulho de ter feito isso, mas, assim, eu ia cair em depressão de novo, eu ia morrer, sei lá”. — E ela não sabe se foi ela que atraiu essa criatura, essa coisa e como que essa criatura aparecia de uma maneira tão calma e parecendo tão amigável na figura da mãe dela. — Que hoje ela tem certeza que não era a mãe dela, ela não sabe o que era e não sabe como aquilo apareceu, mas Deus é mais, né, gente? O que é isso? É um demônio? Que tomou forma de dona Vilma? — E essa é uma história ainda muito difícil para a Jamilly, porque envolve a mãe dela, enfim, e a casa que ela achou que ela fosse passar o resto da vida dela… E não passou.

E como era uma casa antiga, a Jamilly nunca mais teve coragem de passar lá na frente, mas ela ficou sabendo que uma incorporadora acabou comprando depois e provavelmente até já construiu, mas ela não tem certeza porque não é uma coisa que ela quer ir atrás, sabe? Desperta muito gatilho na Jamilly. Então, essa é a história dela, de uma pessoa que nunca teve uma religião, Dona Vilma também nunca teve e foi com a ajuda desse templo budista que ela conseguiu amenizar as coisas, mas não resolver, então ela acabou vendendo essa casa. O que vocês acham?

[trilha]


Assinante 1: Oi, Déia, oi, nãoinviabilizers, aqui é Jamilly, eu sou do Rio de Janeiro. Jamilly, minha xará, é nítido de que existe algo no plano espiritual que tenta desestabilizar você. Não é sobre a casa, é sobre você… Onde você estiver, se você não cuidar da sua espiritualidade, isso pode acabar se repetindo de outras formas, ainda que não seja a visão da sua mãe. Então, o meu conselho seria que você cuidasse da sua espiritualidade. Nós somos feitos de corpo, alma e espírito, não adianta você cuidar do seu físico, cuidar da sua mente se você não cuidar da sua espiritualidade. Então, procure aí a sua religião, a sua fé que você se identifica. Cuide dessa área da sua vida, porque aonde você estiver, isso pode ser um agravante que vai influenciar em outras áreas da sua vida, já que você tem aí essa tendência a depressão. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, nãoinviabilizers, aqui é a Débora do Rio Grande do Norte. Muitos espíritos desencarnam e não conseguem seguir pelo apego a esse plano, seja a pessoas, práticas, bens materiais e ficam aqui adoecidos, né? Não esqueçamos que nós estamos cercados por espíritos, mesmo que não estejamos vendo. Muitas vezes esses espíritos eles assumem uma roupagem de alguém querido nosso que partiu para ganhar uma abertura, uma confiança e terminar se aproximando e roubando nossa energia, nos influenciando. Por isso que é perigoso quando as pessoas evocam quem já partiu… Porque às vezes vai aparecer alguém com essa roupa da mãe, do pai, do irmão, mas realmente não é ele. Que possamos deixar partir quem já partiu e desapegar da matéria, das pessoas, para que quando chegar a nossa hora, possamos seguir em paz. 

[trilha]


Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Jamilly. — Ela tem a consciência que, assim, não era certo ela vender, mas o que ela ia fazer também, gente, né? E enfim, ela não tinha também como ter duas casas, enfim, não tinha dinheiro… Por isso que não é bom ficar parecendo espírito, nem bom, nem ruim. Não é para aparecer ninguém… Que aí você já poupa essa fadiga, né? — Então é isso, gente, um beijo, Deus me livre e eu volto em breve.


[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]