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título: carrão
data de publicação: 13/04/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #carrao
personagens: thaís e flávio

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje vou contar para vocês a história da Thaís e do Flávio. Bom, então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Thaís e o Flávio eles se conheceram no banco que eles trabalhavam. Eles tinham ali mais ou menos o mesmo cargo e eles começaram a se entrosar e tal, nã nã nã e rolou ali uma proximidade e eles começaram a namorar. — Ah, esqueci de dizer, quem me escreve é a Thaís. — E aí para esse namoro ficar mais sério eles não poderiam trabalhar na mesma agência, então o Flávio falou pra Thaís que seria melhor que ela pedisse transferência. — Ih, eu já não gostei aí, hein, Thaís. — E aí Thaís falou: “Bom, tá bom então, eu peço transferência e vou para outra agência”. — E assim foi feito… — A Thaís foi para outra agência e o Flávio ficou nessa agência maior que eles trabalhavam. — E ela foi para uma agência bem menor… —

E aí a vida foi passando, os dois praticamente no mesmo cargo, só que em agências diferentes. E aí eles marcaram um casamento, “ah, vamos casar, vamos casar e nã nã nã”, casaram… Casaram, financiaram pelo banco mesmo ali um apartamento e foram morar no apartamento deles. — Apartamento devidamente decorado, bonitão sabe, assim? — E ambos ali trabalhando muito e vieram da classe C os dois, então aquela batalha e nã nã nã. E tudo lindo… E aí cada promoção… Como o Flávio estava numa agência maior, ele tinha mais chances ali de crescer, né? E aí cada passinho que ele dava rumo a uma promoção ali, a Thaís estava sempre fazendo festa e tudo, comemorando. A Thaís, na agência menor, ela não tinha tanta chance de passinhos, só que se alguém ali que estivesse acima dela fosse transferido, por exemplo, ou sei lá, saísse da agência, ela tinha a chance de subir de cargo mais rápido. 

Só que isso era muito mais remoto de acontecer do que as oportunidades que o Flávio tinha na agência maior. E ela ficou chateada com isso, porque assim, ela só tomou a atitude de trocar de agência porque o Flávio falou que achava melhor ela trocar de agência. — E, assim, Thaís, você podia ter falado: “Não, eu não. Vai você”, sei lá, ter retrucado pelo menos, mas tudo bem, você foi… — E aí gente, a primeira pessoa acima da Thaís foi transferida para uma agência maior e ela subiu, então agora ela estava um cargo acima do Flávio. — Só que em outra agência. — Dali uns sete meses, outra pessoa que estava acima, agora mais acima da Thaís saiu e ela teve essa oportunidade e pegou a vaguinha. Gente, o Flávio, a cada conquista da Thaís, era um desgosto só… 

Sabe cara que te puxa para baixo? — Esse é o Flávio. — Ele não dá importância, assim, para as vitórias da Thaís… — Essa é uma queixa da Thaís, não uma observação minha, tá? É uma queixa dela. — E aí aqui que eu tenho que falar para vocês da dinâmica familiar… Os dois ainda casados, novinhos, sem filhos… E como eles dividem as contas da casa? — Como eles trabalham em banco, eu acho que é mais fácil e, assim, eu adorei o jeito que eles fazem. — Cada um tem a sua conta — corrente — separada, seus investimentos, as coisas que cada um quer fazer e nã nã nã, e eles têm uma conta conjunta que todo mês eles colocam o dinheiro das despesas que são dos dois. — Então, por exemplo, se eles vão fazer o mercado e deu 700 reais, é 350 cada um. Ah, tem a luz? A luz ali deu 200 reais? É 100 cada um. Tem a TV a cabo, é 300 reais? É 150 cada um. É tudo separado, assim… Condomínio assim, parcela do apartamento assim… — Tudo separadinho… 

Então, a Thaís, por exemplo, se ela quer comprar um sapato, uma bolsa ela tem o cartão de crédito dela, que não é o cartão de crédito dessa conta que eles têm em conjunto. Aí ela compra no dela, paga o dela… Se ele quer comprar um relógio, as coisinhas dele, ele faz a mesma coisa. — Eu achei ótimo, gente, esse sistema. E aí quem quer poupar seu dinheiro ali poupa e tal, eles têm uma reservinha nessa conta pra emergência e acabou… — E aí a Thaís começou a crescer muito no banco, né? Ter um destaque maior no banco e ela foi dessa agência pequena, que ela chegou no topo — das promoções — para uma gerência maior que ela entrou onde ela estava e já subiu uma. Então, agora o Flávio estava lá embaixo na questão da escadinha das promoções, né? E a Thaís lá em cima. 

E aí vem a questão maior… — Que foi o grande problema para o Flávio. — Ambos com carros populares. — E, gente, assim… Eu acho já um carro popular caro, porque, assim, carro popular não devia custar 50 pau, né? 50 mil reais um carro popular? O que tem de popular num carro de 50 mil reais? Não tem, né, gente? Não é um carro popular, mas enfim… Um carro mais básico, né? Não gosto de chamar de popular, porque acho isso não é popular. — O sonho da Thaís sempre foi ter um carro… — Vai, X, um carro pônei. — Não vou falar que marca de carro, mas é tipo essas peruonas, que parece uma nave espacial, que não sei marca de nada… — Mas então ela sempre quis o carro pônei, aquele carrão pônei. 

E o Flávio, obviamente, também queria, mas essa coisa do carro também cada um com o seu. E aí ela tinha comentado com o Flávio que ela ia comprar o carro e ele ficou muito puto, [efeito de voz grossa] “Não, porque você vai gastar o seu dinheiro nisso”, e aí ela falou para ele, falou: “Ué, mas a gente nunca teve esse problema, você sempre gastou seu dinheiro no que você quis e eu sempre gastei o meu no que eu quis, por que agora com a coisa do carro vai ser diferente?”, aí ele ficou quieto, porque era um argumento, inclusive, que ele tinha falado pra ela, tipo, “eu acho que cada um tem que ficar com o seu dinheiro, gastar do jeito que bem entender… Contanto que a gente arque com as despesas que são conjuntas, o restante se a pessoa quer aplicar, se você quiser aplicar, se você quiser comprar qualquer coisa é problema seu”, enfim… E aí ele teve que ficar quieto, e aí ela foi comprar o carro. Ele não quis ir junto, ela foi com a mãe dela e ela comprou um puta de um carrão um pônei. — Nossa, vamos chamar de Pôneitiva. [risos] —

Comprou lá a Pôneitiva dela… E enorme, bonito o carro e tal e ele desceu para ver lá na garagem, e falou: “Legal”. — E ela, assim, a garagem ali é um carro do lado do outro, então, assim, o carro… Ela me falando, né? Que o carro dela do lado do carro dele já incomodava ele, ele já ficava muito puto. — E aí um dia no final de semana eles iam encontrar uns amigos… — A gente está falando tudo isso bem antes da quarentena, tá? Tipo, sei lá, uns seis, sete meses antes. — E aí eles iam viajar e iam pra encontrar uns amigos e tal, e aí ele falou: “olha, posso ir dirigindo, né?”, e aí ela animou, né? “Poxa, agora ele vai gostar do carro, porque dirigir um carro assim é diferente e tal”, e aí ele sentou ali na Pôneitiva dela e foi embora. [efeito sonoro de carro dando partida]

E aí chegaram lá, todo mundo elogiou o carro… Como ele estava dirigindo, todo mundo elogiou o carro pra ele, e a Thaís percebeu que, tipo, ele deu a entender que o carro era dele. E a partir daí a vida da Thaís virou um inferno, porque tudo que ele queria fazer, ele queria pegar o carro dela pra fazer. E ela, ao mesmo tempo que não queria ser chata… — Pô, é o carro dela, né? —Teve um dia que ela, tipo, ia sair para trabalhar e ela desceu e ele tinha saído com o carro. Tinha achado, sei lá, a chave reserva e saiu com o carro, porque a chave do carro estava na bolsa dela. E aí ela teve que subir de novo pra pegar a chave reserva do carro dele pra sair com o carro dele. E aí isso foi um problema, veio pandemia e a coisa acalmou um pouco, né? — Porque eles não tinham para onde ir para sair. —  E foi tudo bem… 

Agora que eles voltaram a andar mais com o carro e tal, o cara está de novo nessa de querer ficar com o carro dela. E aí o que ele falou para ela? Que quando ele chega no banco com o carro dela, ele impõe um respeito maior. — E ele tem chance de chamar mais a atenção dos chefes e de, sei lá, passar um certo poder. — E aí ele acha que isso pode ajudar nas promoções dele que nunca vieram… — E aí, assim, não mete essa, né, Flávio? Não mete essa. Agora vai querer ficar com o carro da Thaís “ai, porque o poder, minha promoção”, você não teve promoção ainda porque, né? Sei lá, não mereceu, né? —

E aí agora a Thaís está nesse impasse, porque ela não quer mais deixar o carro com ele… — Porque, além de tudo, ele é descuidado e tal e é o carro dela, que ela comprou e ele não tem condição de comprar um. — E ele não deixa mais quase ela pegar no carro, quando ela vai pegar no carro ele reclama. — Gente, o carro é dela, ela pagou inteiro sozinha… É dela e o cara não deixa mais ela pegar no carro. — Tá indo trabalhar com o carro… E aí se ela reclama ele fala que: “Poxa, você já teve todas as promoções, eu não tive nenhuma e você não me ajuda”. [risos] — “Você não me ajuda”? Ô, meu lindo… — Ai, gente, não sei, não sei… E ele tá com esse discurso que é importante para ele sentir esse poder, né? Que ele acha que ele tem com o carro aí, com esse carrão… 

Não sei, gente, não sei o que dizer… A Thaís está bem chateada, ela gosta dele, mas ela reconhece que ele não está junto dela em nenhuma vitória, assim. Sempre que acontece algo feliz profissionalmente pra ela, ele não dá importância. Eu não sei, olha… Eu não posso meio que falar o que eu gostaria, porque para mim não dá… Tem jeito, não… Eu sei que ela gosta dele, ela frisou muito isso, que ela gosta dele, mas o cara é isso aí… Ele não apoia nada que ela faz, ela teve que começar uma pós graduação na marra aí porque ele chiou que ela fizesse. E aí, tá vendo? Ela fez a pós, foi promovida mais uma vez e o cara tá lá, andando com o carro dela e não quer devolver o carro dela, já botou as coisinhas dele… Detalhe… — Detalhe… — Trocou o chaveiro, que era um chaveiro, tipo, com pom-pom, sei lá, chaveiro feminino assim, de menina e ele trocou o chaveiro, botou um chaveiro lá com o nome dele no carro dela. Ô, gente… — Ô, gente… — Complicado, né? 

Olha, não sei o que dizer. Não sei o que dizer… Ela já está com esse carro há dois anos, dois anos de pouquinho e ela queria trocar por um melhor, porque ela pode e não quer trocar, né? Porque se trocar vai ficar na mão dele. E aí ele vai ficar puto de novo, porque ela vai trocar de carro e ele está com aquele ainda, né? Então, agora, o poder aquisitivo dele está bem, assim, diferente, mas ela está fazendo as coisas dela, sabe? Agora ela vai ter que dar dinheiro para o cara também pro cara ter um carro? Se fosse uma outra coisa, sei lá, mas, ah, porque ele quer um carro igual? Ele não falou isso, ele quer ficar com o carro dela e quer que ela ande com o carrinho dele. Não é justo, né, gente? Eu já peguei ranço… — Desculpa, Thaís, peguei ranço. —

[trilha]

Assinante 1: Oi, Thaís, aqui é a Dani de BH. E eu acho que você já tem bastante elementos aí pra ver o comportamento do Flávio, né? Desde o início corroborou sempre esse lado aí de que ele não tem empatia, ele não se coloca numa condição de oferecer a você algo, ele sempre tá se oferecendo algo primeiro. Isso é muito complicado numa relação de longo prazo. Acho que a primeira coisa que vocês têm que fazer aí é organizar essa questão do carro, você já falar logo para ele: “Olha, aqui é o meu carro. Você vai no seu e eu vou no meu e ponto”, entendeu? E aí, cara, em paralelo, vai pensando… Pensa bastante nessa relação, o que você vai querer pra sua vida. Eu não acho que ele vai mudar, infelizmente, tá? Sendo bem honesta aqui, pensando só em te ajudar mesmo. Eu sei que é difícil, tá? Sei que é muito difícil terminar uma relação, eu não vou dizer que “ai, termina logo a relação, o cara é um traste e tal”, mas me cheira a isso, infelizmente… E, assim, pensa direitinho… Porque, sei lá, não sei se você pensam em ter filhos, mas se é o caso, vai ser mais uma responsabilidade que você precisaria bastante que ele compartilhasse com você, e a tendência dos homens é não fazer isso, e aí vai pesar. Então, é isso, pensa bastante. Um beijão. 

Assinante 2: Oi, gente, meu nome é Luiza, eu falo de Brasília. E o que eu fico me perguntando diante desse caso é: Por que é tão comum as mulheres ficarem nesse dilema que a Thais tá? Um dilema assim: “Ele é péssimo comigo, ele não me apoia, ele não torce por mim, ele usurpa das coisas que eu conquisto, ele me culpa pelas frustrações dele, ele ficava muito mais confortável comigo quando eu estava abaixo dele profissionalmente, mas eu gosto muito dele”. Eu fico assim, pera lá, gosta muito? Mas você gosta de que exatamente, né? Tem que entender o que significa esse gostar muito para você, porque parece que isso significa, na verdade, que você não gosta muito de você mesma, né? Porque daí você aceita abafar suas conquistas para não ferir a suscetibilidades de um cara que é bastante medíocre. Pera lá, né, Thaís? Parabéns pela sua trajetória profissional e espero que a sua vida ande para frente, deixando esse cara pra trás.

[trilha]

Déia Freitas: Então, deixem seus recados lá para Thaís como ela pode mediar esse conflito e, sei lá, sem acabar com o casamento dela, porque não ela não quer acabar com o casamento. Eu acho que você tem que pegar esse carro de volta e falar: “Meu, acabou a palhaçada… Vai você com seu carro e eu vou com o meu, chega… Chegou disso”. Inclusive, ela falou que as amigas dela já estão pesando, assim, na orelha dela, falando: “Meu, é absurdo as coisas que ele faz, né?” Que você acha que ah, é só porque ele ainda não conseguiu se realizar profissionalmente… — Não é culpa sua, Thaís, não é culpa sua… Não pega essa culpa pra você, não é culpa sua se ele é incompetente, se ele é preguiçoso, seja lá o que for… Ou se ele está numa agência que não tem promoção… Não é culpa sua. Ele não falou pra você mudar de agência? Você mudou… Não foi para uma pior, pequena? E você subiu e ele na grande, boa lá não subiu, o problema é dele. — Não dá para mim, gente… Deixem seus recados lá no nosso grupo de Telegram pra nossa amiga Thaís. Um beijo. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.