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título: carro de aplicativo
data de publicação: 23/09/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #carro
personagens: nádia, uma moça e sol

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje vou contar pra vocês a história da Nádia. — Ê, Nádia…  — A Nádia escreveu aqui pra gente depois que ela ouviu o episódio “Moto”. Como ela tem uma história muito parecida, mas com outro desfecho, ela resolveu escrever pra gente. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Nádia conheceu uma moça aí, elas se apaixonaram e, com quatro meses de namoro, elas resolveram morar juntas. — E, assim, né? — Aquele clima de romance e nã nã nã, comecinho de relacionamentos, só amores… Só que tinha um detalhe: essa moça ela se mudou pra casa da Nádia — a Nádia morava sozinha já, só ela e o gatinho dela, o Elvis — e essa moça não estava trabalhando… — Então, assim, gente… Aquela primeira coisa: como que você vai construir uma vida junto, começar, se a outra pessoa ainda não está tampando? É mais uma despesa só para você, né? — Então, agora, além de pagar as coisinhas do gatinho Elvis, a Nádia tinha que pagar as coisinhas aí da nova namorada, que agora morava com ela, né? Então já não é mais só um namoro, né? É um casamento… Pra mim é um casamento… Quando você vai morar junto, casou. 

E aí as duas morando juntas, a moça sem emprego começou a falar ali que ela queria trabalhar com carro e trabalhar nesses aplicativos aí, né? De corrida. — Só que você tem um carro pra trabalhar num aplicativo de corrida? Você não tem… — Como que você vai fazer aí corrida se você não tem não tem como levar as pessoas? E aí ela começou a falar todo dia sobre como seria se ela tivesse um carro pra fazer aí as corridinhas e ganhar uma grana. E a Nádia ela ouvia e pensava também: “poxa, ia ser legal mesmo se você pudesse fazer Uber”, mas em nenhum momento ela pensou em ser a financiadora de um carro, assim, não passou isso real pela cabeça dela. Ela não pensou nisso… — Só que eu acho que essa moça já estava falando disso todo dia porque ela estava jogando um verde, né? Pra ver se a Nádia se oferecia. — Como a Nádia não se ofereceu e ficou na ali, dela quietinha e tal, a moça acabou pedindo…

Ela falou: [efeito de voz grossa] “Ai, será que você não consegue tirar para mim um carro financiado e tal? Nã nã nã, para eu poder fazer essas corridas?”. A Nádia sabia que o correto era falar: “Olha, não posso, não tenho limite” ou, sei lá, “meu nome tá sujo”, inventar qualquer coisa… Mas ela estava ali num ponto de, tipo, “poxa, eu quero que esse relacionamento dê certo… O que que tem tirar aí o carro?”. [efeito sonoro de fita rebobinando] “O que que tem tirar aí o carro? Pra pagar em três anos”. — Gente, três anos… Três anos… — E “Ah, que que tem? Ela não vai fazer nada… Mesmo porque o carro vai estar no meu nome e nã nã nã. Ela está confiando em mim pra pagar esse carro no meu nome, eu não vou ficar com o carro e nã nã nã”, passou… A Nádia foi lá, tirou o carro no nome dela, em 36 parcelas e a moça ficou felizinha. Eram 36 sem entrada, então a parcela ficou ainda um pouco mais caro porque era desse jeito aí o financiamento.


Deu a primeira prestação ali, vencendo, a moça foi lá e pagou, deu o dinheiro na mão da Nádia e pagou com as corridinhas dela. — E aí, gente, beleza, né? Tudo certo, tá fazendo direitinho, tá pagando a Nádia. — Chegou ali perto da segunda parcela que ela já estava com um dinheirinho… — E, detalhe, ela já estava com um dinheirinho, mas em nenhum momento ela falou: “Olha, deixa eu pagar aí uma conta de luz. Vamos rachar o condomínio…”. Não falou. — Aí chegando o segundo mês, a Nádia não cobrou nenhuma outra conta, mas cobrou a parcela do carro. Aí ela já falou que não tinha feito corrida suficiente pra pagar a parcela. — Mas a Nádia sabia que ela tinha feito, né? Mais ou menos, assim, por cima de quantas horas ela estava na rua e tal, falou: “Poxa…”. — E, a partir daí, todo mês ela tinha uma desculpa pra não pagar. Aí lá pelo quinto mês a Nádia falou: “Bom… Você não vai me pagar as parcelas do carro? Então esse carro vai ser meu e você vai ficar andando no meu carro, é isso?”, “Ai, não, hahaha, eu vou juntar pra te pagar de uma vez”. — Papinho, né? —


E aí a Nádia falou: “Bom, então metade das contas da casa você tem que me pagar”, e aí já seria o sexto mês depois da compra do carro… — Quando a Nádia chegava, tipo, vai… Digamos que cada uma tinha que dar 1200 reais ali pras contas da casa, do mês, ela vinha e dava 200… Aí depois na outra semana dava, tipo, 56 reais… Sabe assim? — Ela nunca pagou um mês sequer metade das contas da casa certinho. Ao mesmo tempo, a Nádia percebia que ela estava de roupa nova, que ela comprava tênis, porque ela gostava muito de tênis… E, assim, tênis de 700 reais, tênis de 800 reais… E aí a Nádia foi ficando chateada, mas ao mesmo tempo ela disse que o relacionamento das duas era legal tirando isso. — Eu não consigo separar, gente, mas a Nádia disse que tirando isso estava tudo ok. — Aí veio pandemia e realmente as coisas apertaram mais, então a Nádia não ficou tão em cima, mas aí a moça já não pagava nada… Mesmo depois que ela voltou a fazer as corridas…. — Porque, né? No começo da pandemia tudo parou. — Mas mesmo quando ela voltou, ela não pagava nada, não ajudava em nada e continuou não ajudando. 

Até que um dia, as duas estavam ali no sofá assistindo TV, alguma coisinha, [efeito sonoro de notificação no celular] e o telefone da moça toda hora com barulhinho de mensagem, barulhinho de mensagem. E a Nádia deu uma disfarçada, fingiu que tava dormindo e a moça, do sofá mesmo — tipo, uma deitada numa ponta e a outra na outra, sabe? Sofá de três lugares — ela ligou pra alguém e falou: “Ah, oi, amor”… — Chamou de amor… — “Ai, que linda, bota aquela sainha para mim”, tipo, falando sacanagem, assim, com uma outra moça no telefone que ela não sabe quem é. — Porque, assim, a Nádia não achou que fosse, assim, que ela ia pegar um negócio desse fingindo que estava dormindo. — E aí ela continuou fingindo ali que estava dormindo, mas debaixo da coberta ela deu até uma chorada, assim… — E aí era hora de terminar, né? — Ela esperou chegar o dia seguinte e esperou a moça sair com o carro pra fazer as corridas, arrumou todas as coisas da moça e, quando a moça voltou, ela falou que tinha ouvido a conversa e tal e que não queria mais.

Aí foi aquele auê, porque a moça primeiro chorou, depois quis ficar brava… — Aquela coisa, né? — Mas enfim, terminaram, saíram… E a hora que ela estava saindo, a Nádia falou: “Me dá aqui a chave do meu carro”. [efeito sonoro de mulher rindo] Aí a moça começou a rir e falou: “Seu carro?”, ela falou: “É, você só pagou a primeira parcela… Que não dá pra pagar nem o aluguel de um carro. Esse carro é meu”. Aí eles começaram a bater boca e a moça saiu e levou a chave do carro. — Foi embora de carro… Com as coisas dela, de carro. — Aí a Nádia ficou sem saber o que fazer, conversou com as amigas, aí umas falaram pra ela fazer B.O., outras que ela tinha que pedir busca e apreensão e nã nã nã. E aí ela tem uma amiga [risos] que é mais, assim, mais prática, né? E meio, assim, porra louca mesmo, que falou pra ela: “Bom, eu tenho um jeito da gente pegar seu carro de volta”. — A gente vai chamar essa amiga da Nádia de Sol… — 

A Sol falou assim pra ela: “Então, essa mina tá fazendo o Uber tal e eu sei que ela estaciona na rua, ela deixa o carro na rua… Quando ela vai almoçar eu sei onde ela almoça e tal…” A Sol falando… “Porque ela almoça perto do meu trampo e nã nã nã. Quando ela sair do carro e deixar o carro pra almoçar, você não tem aquela chave reserva ainda aí?”, a Nádia falou: “Tenho”, ela falou: “Então, a gente vai e pega o carro, te dou uma carona de moto [risos] e você vai lá e pega o carro”. E aí Nádia ficou morrendo de medo… — Mas, assim, ela não tinha que ter medo, né? Porque o carro está no nome dela, o documento, tudo nome dela… E, até então, ela já pagou dois anos do carro, tem mais um ano… São 36 parcelas, três anos. Então, estava tudo no nome dela, tudo… — E aí ela ficou meio sem coragem de fazer isso, e a Sol botando pilha. Aí a Sol falou: “Ah, é que você não sabe dirigir moto, se você soubesse você ia guiando minha moto e eu dirigia o carro, né?”.

Até que um dia a Nádia criou coragem… — Agora, tem um tempo já, um tempinho… — E falou pra Sol: “Tá bom, vamos fazer”. Aí a Sol, de tão ansiosa, ela falou assim: “Olha eu vou tirar… Eu vou pedir o dia no meu serviço porque eu não sei mais ou menos o horário que ela vem, mas eu sei que ela vem, porque é um lugar que, tipo, dá desconto se você é motorista de carro de aplicativo e tal, você tem desconto para comer lá… E geralmente ela come lá”. — A ex da Nádia. — E aí a Sol tirou o dia pra fazer isso… Só que a moça, nesse dia, não foi comer lá… E a Sol, frustradíssima, Nádia também… Bom, passou, não deu certo. Aí um dia a Sol tá lá no serviço dela e ela saiu pra fazer alguma coisa ali na rua para o trabalho mesmo e ela viu o carro. Na hora ela ligou pra Nádia e falou: “Nádia, é agora, vem. Pega aí um táxi, alguma coisa e vem com a chave que o carro está aqui”. Só que tinha que ser rápido, porque ela não sabia se a moça tinha chegado àquela hora pra almoçar ou se já estava de saída, enfim… A Nádia correu, deu tempo, chegou tremendo, não conseguia nem abrir a porta do carro, mas usou a chave lá, abriu [efeito sonoro de porta batendo e carro dando partida] e saiu com o carro, foi embora. [risos] E a Sol vibrando. [risos]

A Sol… — A Sol é demais, gente. — O que a Sol fez? A Sol ficou um tempo ainda ali, meio que escondida ali perto de um café que tinha ali pra ver a cara da moça quando a moça visse que o carro não estava lá, né? E dito e feito. Passou ainda mais quase meia hora que a Sol teve que ficar esperando e a moça veio… — E primeiro eu acho que é aquela coisa, né? — Ela olhou, olhou e falou: “Puts, será que eu estacionei em outro lugar?”, e aí depois olhou, olhou de novo, não tava nada… Pegou o celular e ligou. A Sol não sabia para quem ela estava ligando, se era pra polícia, pra quem era…. Só que ela estava ligando para a Nádia. — E por que ela ligou pra Nádia? — Porque o seguro do carro, o carro com rastreador e tudo porque o seguro colocou para ficar mais barato alguma coisa assim o rastreador no carro… Ela estava ligando pra Nádia pra Nádia acionar o seguro. — O rastreador. — E aí quando a Nádia que quem estava ligando era essa moça, ela ficou apavorada… Falou: “Meu Deus, agora ela descobriu e, sei lá, né?”. — E, assim, não tinha porque ficar apavorada, porque o carro é seu Nádia, sabe? — 

Ela não atendeu. E aí conforme ela não atendeu, a moça mandou mensagem falando, né? Falando: “Olha, preciso acionar o seguro, eu fui roubada e tal, levaram o carro e nã nã nã”. — E olha o que a moça falou, gente… — A moça teve a coragem de deixar mensagem pra Nádia falando que ela tinha sido assaltada, tipo, à mão armada e os caras tinham levado o carro. — Olha que mentira… — Quer dizer, ela ia mentir no boletim de ocorrência? — Olha, gente… Pra que mentir isso? — E aí a Nádia leu ali e falou: “Ah, foi roubada a mão armada, sei, né?”. E aí ela não tinha coragem de falar pra a moça… E aí entrou a Sol de novo e a Sol mandou mensagem, falou: “Então, fui eu que peguei o carro”, a Sol assumiu isso, né? Mas não foi, foi a Nádia… “Eu que peguei o carro de volta pra Nádia, o carro é dela. Você quer o carro? Entra na Justiça. Ela tem todos os comprovantes, ela que pagou tudo… Vai lá, entra lá, tenta a sorte”. E aí a Nádia ficou na dela. A ex lá ficou P da vida, xingou a Sol de tudo quanto é nome e tal, mas até agora… Isso já tem um tempinho… Ela não fez nada, assim, tinha uma coisinha ou outra no carro, dentro do carro, a Nádia até falou: “Se você quiser eu mando para você”, mas ela não respondeu mais também. E tá assim… Agora a Nádia tem um carro e ela que já pagava seguro, ela que já paga as parcelas.

O financiamento tá no nome dela, é? Mas o carro está no nome da financeira. E agora é isso… A única coisa que ela tem medo é de, de repente, a ex fazer a mesma coisa que ela fez, porque a ex tem uma chave do carro… E aí falaram pra ela que dá para trocar o miolo. Você troca o miolo da ignição, das portas, sei lá, uma coisa assim… Então aí ela vai ter que gastar pra fazer isso se ela quiser ter mais tranquilidade. — Eu faria, já teria feito até. –

[trilha]

Assinante 1: Oi, eu sou Nah a de São Paulo e eu tô apaixonada por essa história. [risos] Você poderia ter feito um boletim de ocorrência? Poderia, mas foi muito mais emocionante do jeito que a Sol propôs [risos] e que vocês realmente fizeram. Achei perfeito. E, sim, troca essas chaves do carro e, se quiser, dá até pra dar uma passadinha na frente da sua ex com o carro, mostrando que você agora usa o que é seu. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, pessoal, meu nome é Lincon, eu sou de Belo Horizonte. E, Nádia, [risos] eu ouvi essa história e eu ri muito, com respeito, pelo rumo que ela tomou, né? Eu acho que a Sol é perfeita. Que bom que você tem a Sol na sua vida. Eu acho que todo mundo devia trabalhar a Sol dentro de si, porque esse fazer justiça com as próprias mãos eu apoio, sabe? Mas eu ia ficar morrendo de medo de andar com o carro sabendo que tem uma outra pessoa com a chave dele e ela pode estar mal intencionada. Então, eu ia ficar com medo sim, eu ia procurar um jeito de trocar esse miolo dessa fechadura, mas antes eu ia olhar com a Sol se ela não tem nenhum plano de roubar essa chave, né? Mas, de todo modo, eu acho que fica aí a lição de que você não pode, não precisa e não deve se endividar… Fazer uma dívida tão grande por causa de outra pessoa, em nome de outra pessoa. Boa sorte aí, espero que tudo dê certo e você consiga ficar com as duas chaves do carro. 

[trilha]

Déia Freitas: Então, tudo acabou meio que bem, mas ela teve que fazer isso com o incentivo da Sol… — Te amo, Sol. [risos] — E pegou o carro dela de volta assim, na mão grande, na rua… Não é louco isso? Eu não sei se eu teria coragem, eu acho que eu ia ficar aí também com medo. Não sei se eu faria, mais ainda bem que a Nádia fez e resolveu… Tá tudo no nome dela, né? Então deixem suas mensagens lá pra nossa amiga Nádia e para a Sol — Te amo, Sol — no nosso grupo do Telegram. Se você ainda não está no nosso grupo, é só jogar na busca “Não Inviabilize” que o nosso grupo aparece. Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.