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título: chá revelação
data de publicação: 11/05/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #charevelaçao
personagens: cleide e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar para vocês a história da Cleide. — Ê, Cleide… — Essa história se passa na pandemia. — E ela está acontecendo ainda, até agora.  — Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Cleide — em plena pandemia — com 39 anos começou a pensar seriamente em ter um filho. — Enfim, por questões dela aí de algumas coisas que aconteceram no início da pandemia… — Só que ela não tinha um parceiro, não tinha namorado, não tinha ficante, não tinha ninguém… E o que Cleide resolveu fazer? Resolveu entrar nos aplicativos de relacionamento e resolveu mandar a real. “Olha, eu estou querendo ter um filho, se você quiser ter um filho, me chama e nã nã nã”, desse jeito… E alguns caras conversaram com ela achando que era zoeira e, quando viram que era sério, eles saíram fora, mas teve um cara que não saiu fora, que ele respondeu a Cleide e que eles começaram a conversar e a Cleide falou que realmente era isso que ela estava numa idade já meio que limite… — Eu nem sei se hoje em dia tem mais isso, assim… Eu acho que um pouco mais, talvez? Ela poderia? Enfim, não entendo, mas ela falou que ali aos 39 anos ela já precisava, era agora ou nunca. E ela queria realmente gerar uma criança e nã nã nã, enfim… Todo esse combo aí. — 

O cara meio que não sabia realmente o quanto isso era sério e eles conversaram por vários meses, o cara morava só ele e a mãe dele e ele também tinha o sonho de ser pai e, até então, ele não tinha ninguém firme e tal. — E, assim, meio que casou aí o sonho dos dois, né? — E aí esse ano eles resolveram sair pra botar esse projeto em prática. [risos] E lá foram eles botar o projeto em prática. A Cleide quando ela encontrou com ele pessoalmente ela achou que, tipo, eles não tinham nada a ver assim. — Nada a ver… — Mas pra Cleide tanto fazia, porque era um cara que tinha topado esse projeto dela e que pra ela era meio que um projeto solo. — Só que não era, né, Cleide? Não era… A partir do momento que o cara fala que quer se envolver e que vai se envolver, aí não é só você, né? O bebezinho ali é 50% de cada. — 

E aí lá foram eles tentar aí o projeto bebezinho. — E não é que deu certo, gente? Assim… — Nas primeiras tentativas, Cleide engravidou. Então, na cabeça da Cleide, como ia funcionar? “Beleza, deu certo… Quando nascer te dou um toque”.  [risos] Aí o cara falou: “Não vai ser assim, meu anjo, eu quero acompanhar tudo. Ultrassom… Eu quero fazer enxoval junto com você…” — E tudo isso sem eles terem um relacionamento, porque a Cleide falou que eles não têm absolutamente nada a ver. — “Eu quero isso, eu quero aquilo”… E o cara foi falando, ela falou: “Bom, tá bom, vai… Quer participar, então vamo aí, vamo participar”. E, assim, era muito estranho… — Sabe quando não bate, assim, eles não têm afinidade nenhuma, é estranho… — Mas o tempo foi passando, ele foi ali quando tinha o ultrassom, avisava ele e nã nã nã. E aí o cara cismou que ele queria um chá revelação. E a Cleide falou: “Olha, eu não quero… Eu não quero, eu não quero reforçar certas coisas e, pra mim, isso de chá de revelação não existe e nã nã nã”, e o cara: “Não, não… Eu quero, tenho direito, tenho o direito…” 

E a Cleide não queria saber. — Ali o sexo biológico da criança, não queria saber. — Só que o cara queria… Ela falou: “Bom, aí também não dá. Eu não quero saber, mas se o cara lá que está fazendo ultrassom te falar, você não me conta, não posta em rede social pra eu não ficar sabendo”. A Cleide que não sabia essa coisa de rosa ou azul, resolveu fazer o chá revelação pra ele… Então, o que ele pensou? “Agora ela sabe”. — Meio que eles não se conversaram sobre isso. Porque, assim, se ele sabia que ela não sabia, ele podia ter feito o chá revelação ele com a família dele? Sei lá… Enfim, gente, eu acho tudo muito cafona. — E aí a Cleide falou: “Tá bom, eu vou dar o chá revelação aí pra você”. E aí juntou ali mais gente da família dele… — Do que da família dela [efeito sonoro de várias pessoas falando ao mesmo tempo] E, assim, gente, aqui eu tenho que falar que eu não concordei com o que a Cleide fez, assim… E na hora ela fez aquele que era assim, que você parte o bolo e dentro é rosa azul e tem tipo um canhãozinho de papelzinho que aí sai rosa ou azul. Gente, é cafona demais, né? — 

E aí ela fez… Só que quando ela partiu o bolo, dentro do bolo era prata… — E os papeizinhos também eram prata. [risos] — E aí a Cleide fez um discurso de tudo o que ela pensava e achava e nã nã nã… — Cleide, ó, o barulhinho… [efeito sonoro algo rachando] T sentindo quebrar o tabu daqui. [risos] — E aí o cara ficou puto… — O cara ficou puto… — E ele sabia já, né? O médico já tinha falado pra ele. — Aí ele começou a gritar no meio do chá revelação que era um menino. [efeito sonoro de voz grossa] “Meu filho é homem, é um menino e eu não vou deixar você criar o meu filho dessa maneira esquerdista”, [risos] foi a palavra que ele usou… “E que isso, que aquilo”, e começou a gritar com a Cleide no meio do chá revelação. — E ela quis fazer, assim, uma brincadeira e meio que um textão, assim, sabe? E dar uma militada ali na coisa. Eu achei que não precisava, porque estava muita gente da família dele. A família dele é religiosa, a família dele, enfim… Não tinha porque ela fazer isso, era só ela falar que não ia fazer o chá revelação, ele fazia alguma coisa com a família dele. Não precisava também, né? — 

Só que foi bom também esse chá revelação, por que o que aconteceu? A revelação que rolou nessa festa foi como ele e a família dele eram, porque na hora, eles começaram a falar que depois que o bebezinho nascer, eles iam entrar na Justiça pra tirar o filho da Cleide, que isso, que aquilo… E algumas pessoas da família dele falando que ela estava possuída… — Mas não foi essa palavra que foi usada, eu queria lembrar a palavra. Não consigo lembrar, gente… Mas, assim, tipo nessa vibe da possessão, da coisa do demônio, né? — A Cleide que queria fazer uma brincadeira e, ao mesmo tempo, uma conscientização ali das pessoas, acabou no meio de uma puta guerra, assim, né? — Porque aí também tinha umas amigas a Cleide, já começaram a xingar, né? [risos]. Porque é assim… — Se a galera de lá é a galera que acha que é de Deus e que, sei lá, as pessoas que pensam diferente estão com o demônio e não sei o que sei lá, a galera da Cleide é a galera do barraco. Então, aí aquele chá revelação, cheio de papelzinho prata no chão [risos] virou uma guerra. 

Só que a partir daí o cara mudou com a Cleide. Começou a fazer exigências e ela falou: “Mano, não vou fazer nada que você quer, não. Essa criança tá aqui na minha barriga até a hora que nascer e, depois que nascer, é minha… Quero ver me tirar”. Então, de um relacionamento que estava relativamente harmônico, né? Eles não brigavam, eles não tinham relacionamento amoroso, mas tinham um relacionamento cordial em relação ao bebezinho, agora está essa guerra depois do chá revelação, que revelou aí uma família muito machista, muito antiquada do cara. A Cleide tá na reta final agora da gravidez, né? Então ele está atormentando ela há um tempo já, e ele não para, sabe? Ela está perturbada com isso. E aí como algumas pessoas do círculo de amizade dela ficaram, tipo, “Tá vendo? Você foi querer ter filho com um cara que você não conhece, olha aí a merda que deu… Agora depois vai ter que ficar nisso de advogado porque o cara vai ficar tentando tirar a criança de você, enfim…”. 

E aí ela não se abre tanto com os amigos como ela se abria antes. — Porque sempre ela nota um julgamento assim da galera, né? E aí ela queria, ela me escreveu mais porque ela queria conselhos jurídicos, né? Sobre se ele pode realmente tirar o filho dela. — Eu acho que tentar ele até pode, mas acho muito difícil tirar… Acho muito difícil. Só porque “Ah, você pensa diferente dele na maneira de criar a criança”, mas eu acho que em algumas coisas vocês vão ter que chegar num acordo, né? Porque também é filho dele e ele quer participar, ele quer ser um pai ativo. — Então lá atrás você não pensou nisso, né? Mas agora não tem jeito. Ainda falei isso pra Cleide, falei: “Não tem a chance de ser uma outra pessoa na hora? [risos] Na hora fazer um DNA e ser outro cara?”. [risos] Ela falou: “Olha, Andréia, não tem… É dele mesmo e, infelizmente, eu vou ter que lidar com isso”. Porque, assim, ela está muito feliz com a gravidez porque é o que ela queria e vai acontecer. E, por outro lado, vai agora pro resto da vida ter esse mala do lado, né? A Cleide quer conselhos jurídicos. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Jess, falo de Santa Catarina, sou advogado e, respondendo sua preocupação, Cleide: Não. Nem esse moço e nem a família dele, com base naquilo que foi falado, eles podem tirar o seu direito de guarda do seu filho. Pra que isso aconteça, preciso de algum indício muito grave de incapacidade seja comprovado judicialmente pra que você não possa exercer a guarda do seu filho. Em contrapartida, você também não pode restringir a convivência e poder decisório desse moço com relação ao filho de vocês, porque ele é o genitor dessa criança e ele também tem esse direito. Aí, via de regra, se aplica a guarda compartilhada, onde ambos os genitores precisam conviver em harmonia, na maioria das vezes, focando no bem da criança. Espero que tudo dê certo e que isso tudo se resolva o mais rápido possível.

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Débora de Fortaleza, Ceará. Cleide, fique tranquila, porque a guarda da sua criança provavelmente ficará com você, se você tem faculdades mentais pra cuidar, criar um ser humano e tem condições pra exercer essa maternidade, você vai exercê-la. O que vai acontecer é, caso haja algum crime relacionado a criança, algum dos genitores perder o poder familiar, mas arranje um bom advogado de família pra você logo, porque ele já está te ameaçando e eu desejo a maior sorte pra você na sua vida. E é isso, beijo.

[trilha]

Déia Freitas: Bom, então é isso, sejam gentis com a Cleide. Deixem seus comentários lá no nosso grupo do Telegram. Se você ainda não está no nosso grupo, é só jogar na busca do Telegram “Não Inviabilize” que o nosso grupo aparece. E um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.