título: chato
data de publicação: 06/05/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #chato
personagens: regiane e um cara
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar pra vocês a história da Regiane. Bom, então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Regiane mora numa cidade pequena… — Que nós vamos chamar aqui de Pôneilópolis. — E em Pôneilópolis têm pouca diversão… — A gente está falando de uma história pré pandemia. — Então, na cidade ali da Regiane não tinha um shopping, não tinha balada… Tinha alguns bares e algumas pessoas que faziam festas, assim, em chácaras… E as festas bombavam e tal. E aí, de repente, chegou na cidade uma família pra montar a primeira baladinha de Pôneilópolis. — Imagina a cidade como ficou, né? — [efeito sonoro de palmas e pessoas gritando felizes] A cidade ficou, assim, empolgada… Todo mundo querendo saber que baladinha era essa. — De Pôneilópolis. —
Era um lugar um pouquinho mais afastado da cidade. — Era uma balada, basicamente, né? Como a gente tem em todos os lugares, assim, um lugar fechado e tal, com luzes que piscam e nã nã nã. — E, nessa família, era o pai, a mãe, um tio e um rapaz… E esse rapaz, gente, pensa num rapaz lindo… — Um rapaz lindo. — As meninas todas da cidade ficaram ali bem empolgadas, né? Cada vez que ele ia pra a cidade ali pra comprar alguma coisa no mercado, — sei lá, qualquer coisa — a cidade ficava, assim, parecia… [risos] — A cidade ficava em pânico, assim, todo mundo — querendo ver, querendo saber e querendo agradar esse rapaz aí. — Esse bonito que veio da cidade grande. —
Regiane era uma das moças que estava ali, né? Só de olho ali no bonitão dono da balada. — O rapaz devia ter ali os seus 23 anos. — Mas ele era bem, bem, bem arrogante mesmo. Tinha um carro de luxo… Era uma família rica… — E que foi pra lá pra montar essa balada e ficar um tempo. E aí o tio ia ficar cuidando dessa balada e eles iam pra outro lugar, montar outra coisa… Era assim que a família vivia, ia montando negócios assim de balada nas cidades pequenas. E aí até dar tudo certo, até implementar ali a balada esse rapaz estava pela cidade. — Então, às vezes de domingo ele aparecia com o carro dele na praça, mas ele evitava muito contato, assim ,como as pessoas da cidade… E todo mundo ficava “ai, nossa, ele é meio insuportável e nã nã nã, que chato, que isso, que aquilo”. Só que, numa das vezes que ele passou pela praça, ele deu uma olhadinha pra Regiane. E aí a Regiane falou: “Não, imagina… Esse cara aí da cidade grande… Todo bonito… Não tá olhando pra mim”. e passou…
Uma outra vez Regiane estava ali na fila da lotérica [risos] [efeito sonoro de bip de leitor de código de barras] quando ele passou de carro e parou um pouco mais à frente. Ela ficou toda empolgada, tipo, “ai, nossa, ele passou aqui”. Quando ela saiu da lotérica, ela tinha que passar pelo carro dele… E ele chamou a Regiane: “Oi, tudo bem?”, ela falou: “Oi, tudo bem”. — Regiane muito esperta, ela não entrou no carro, não conhecia direito o cara, né? Só sabia que ele tava por ali na cidade. — E aí eles ficaram conversando assim… O cara dentro do carro e a Regiane na janela do carro. Só que isso já gerou uma fofoca, tipo: “Meu Deus, a Regiane está conversando lá com o bonito, né?” [risos] E muita gente da cidade, — principalmente as amigas dela — todo mundo ficou sabendo e queria saber o que eles conversaram.
E aí eles tinham conversado e tinham marcado de se encontrar à noite… Esse cara ia passar na casa da Regiane pegar a Regiane para um encontro mesmo, né? Um datezinho. E Regiane toda empolgada, toda felizinha ficou pensando, né? “Puts, como é que vai ser isso?”, — Na cidade da Regiane, não tem motel… Tem alguns motéis na estrada, mas que quem trabalha nesses motéis, são pessoas de Pôneilópolis, então você ir no motel lá significa que todo mundo meio que vai ficar sabendo. — Regiane pensou: “Bom, se o negócio esquentar, eu tenho a casa da minha avó e a gente vai pra lá”. — Como assim a casa da vó da Regiane? — A Regiane morava com os pais num quarteirão X, e a avó dela, agora já estava mais velhinha, mudou lá pra casa da Regiane, só que a casa dela ficou… Então, às vezes durante o dia ela ia lá… — Ela, a avó… — Mas à noite ela sempre dormia na casa da Regiane. Então meio que todo mundo tinha a chave ali da família, né? A Regiane, a mãe e o pai tinham a chave da casa da avó e, às vezes, a Regiane precisava estudar vai, aí a casa dela tava muito barulhenta, ela ia lá para casa da vó.
Então ela pensou nisso… Falou: “Bom, se a coisa esquentar ele deixa o carro na ali praça e a gente vai a pé pra casa da minha avó”. — Porque também se estacionar o carro do cara na frente da casa da vó dela, no outro dia a fofoca come solta. — [risos] E assim eles fizeram… A coisa foi ficando boa, assim, depois de vários beijos e tal, a Regiane falou: “Ah, eu não vou perder tempo, eu não sei quando eu vou ver esse cara de novo, vou aproveitar tudo que eu tenho que aproveitar”. Ela já tinha colocado ali umas camisinhas na bolsa, né? E aí ela propôs que eles fossem a pé ali pra casa da vó dela, que nem era longe e tal. [efeito sonoro de grilo cantando] E aí eles foram… E, na casa da vó dela, Regiane tinha o próprio quarto dela… — Com uma cama de solteiro. — E era ali que eles iam para o rala e rola. E a questão era: a Regiane tinha que voltar pra casa, né? Até meia noite, já eram umas dez horas… Então eles iam ficar só um pouco na casa da vó e iam embora. Aí rolou, a Regiane [efeito sonoro de pessoa gemendo] frisou: “usamos camisinha, tudo certinho” e, depois que terminou, ele foi até o banheiro ali da casa…
A casa não tinha nenhuma suíte, então eram dois quartos e o banheiro. Ele foi até o banheiro da casa, [efeito sonoro de água caindo] tomou um banho, botou a roupa dele e tal… A Regiane não quis tomar banho lá, ficou de tomar banho em casa e eles foram voltando ali pra praça, né? Pra pegar o carro e ele deixar a Regiane na casa dela. Só que acontece que, nessa volta, a Regiane começou a se sentir um pouco estranha… E, assim, parecia que o corpo dela estava formigando… Ela estava estranha. [música de tensão] E aí ela deu até uma acelerada no passo, porque ela pensou: “Será que ele botou alguma coisa na minha água?”. — Porque ela só tomou uma água lá na vó dela… — “E eu não vi e agora vou desmaiar e esse cara vai me levar, sei lá, pra um canavial aqui perto e me matar?”. Porque estava muito estranho, assim, ela estava sentindo o corpo dela formigar, sei lá… E aí, em vez de chegar na praça e ir de carro, era mais um quarteirão, —tipo, pra direita a casa da Regiane — a Regiane falou: “Ah, vamos a pé”… Porque se ela caísse na rua, era mais difícil dele conseguir carregar. Então ela pensou em tudo, eles foram até a porta ali da casa da Regiane e ela entrou, beleza, foi para o quarto dela.
Quando ela chegou no quarto dela, ela falou: “Meu Deus, o que é isso?” e ela começou a arrancar a roupa, porque agora parecia que ela… Sabe aquela coceira da catapora? — Aquela coceira. — Ela estava com uma blusa, assim, estampada de florzinha, calça jeans… E aí quando ela tirou a calça jeans, assim, que ela foi tomar banho, ela olhou dentro da calça jeans e viu como se fosse, assim, uns piolhinhos. — Uns piolhinhos, gente… — E aí ela olhou, assim, dentro da calcinha dela e tava cheio de piolho… E ela nunca tinha visto daquele piolho. — Porque Regiane teve Piolho na infância… — E aquele era diferente, parecia quase que um carrapatinho. E aí ela começou a ficar desesperada, desesperada, entrou embaixo do chuveiro e aquela calça dela cheia de bichinho também… — Gentes, vocês não vão acreditar… — Esse rapaz bonito, arrogante, esnobe, tinha passado chato… — Um bichinho chamado Chato pra Regiane. —
E, nossa, ela ali embaixo do chuveiro, não conseguia tirar, não conseguia tirar… Teve que raspar todos os pelos pubianos, — ainda ali embaixo do chuveiro — enfiou a calça embaixo do chuveiro… — Até na blusa dela tinha. — E aí ela ficou desesperada, porque eles usaram ali a cama dela na casa da vó, usaram o banheiro e, no dia seguinte, ela acordou cedinho, seis e pouco, foi pra casa da avó e a cama tinha — esses piolhinhos — a toalha do banheiro que ele usou tinham esses piolhinhos e ela teve que tirar tudo e pôr pra lavar e jogou, tipo, inseticida… [efeito sonoro de spray sendo apertado] E aí a Regiane ficou umas duas semanas achando um bichinho aqui e outro ali, matando, jogando inseticida… — Sem contar pra ninguém, né? — Depois ela mandou uma mensagem pro cara e falou: “Mano, o que você me passou? Eu tô aqui cheia de bicho”, ele falou: “Não te passei nada e nã nã nã”. Só que cidade muito pequena, nas outras semanas, esse cara acabou saindo com mais duas, três ali da cidade e uma delas — assim, menos discreta — acabou contando pra todo mundo que esse cara era cheio de bicho. [risos] — Cheio de bicho foi a frase que ela usou. [risos] —
E a fama dele começou a ficar assim, tipo, de imundo, né? Porque estava cheirosinho e tal, mas cheio de bichinho. E aí o cara não aguentou a pressão da cidade pequena e foi embora, tipo, antes da família. E aí a Regiane me escreveu porque falou: “Andréia, quais as chances de uma cidade tão pequena como Pôneilópolis aparecer um cara lindo, como se fosse um príncipe na cidade, e esse cara ter chato? E ter passado chato… E, assim, quando ela foi avisar o cara meio que ficou puto, sabe? Eu fiquei em choque, gente… Só de imaginar… Eu uma vez eu resgatei uns gatos com um ex—namorado e esses gatos estavam com piolho de galinha, e a gente pegou piolho de galinha… Gente, pior tempo da minha vida… — Pior tempo da minha vida. — Mas piolho de galinha não é nada perto de chato, né? Porque o chato ele gruda em tudo, nos seus pelos… Meu Deus do céu.
[trilha]Assinante 1: Oi, gente, aqui é a Ana Clara, sou do Rio de Janeiro. E, nossa, eu tô chocada com essa história… Pra você ver como as aparências enganam, não é mesmo? Como pode uma pessoa tão metida, tão cheia de dinheiro, tão cheia de pose, tão cheia de pompa ser infestada de chato? Ser infestado de carrapato? Então, gente, pelo amor de Deus, o que que é isso? Como esse homem não tava se coçando? É uma coisa que não entra na minha cabeça. Mas ficou aí a dica pra gente prestar mais atenção nas pessoas que a gente tá conhecendo, né? Higiene básica não é uma coisa que todo mundo faz. Então um beijo e até a próxima.
Assinante 2: Oi, pessoal, bom dia, é a Leila aqui de São Paulo. Regiane… Tô passada com essa história, meu Deus. Olha, eu até fiquei pensando que, no final, você ia falar que era alguma coisa da casa da sua vó porque tava abandonada, sabe? Eu pensei nisso, assim… Mas, gente, como é que uma pessoa pode chegar nesse ponto, né? De não sentir um desconforto… O cara não sentia desconforto nenhum pra, tipo, olhar lá embaixo e ver o que que tinha, se cuidar e tirar? É muito desleixo, né? É muito desrespeito também. Mas, gente, olha… Que história… [risos] Assustadora, engraçada e dá até medo de pensar… Beijo pra todo mundo.
[trilha]Déia Freitas: Então essa é a história da Regiane, comentem lá no nosso grupo do Telegram. [risos] Ainda bem que ela conseguiu tirar tudo, não precisou contar em casa, nada… Mas ficou obcecada um tempo. Tipo, ia na vó para olhar se não tinha, sei lá, um surto, né? Um monte de bichinho na cama. Ai, não gosto nem de pensar, gente, tô arrepiada. Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]