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título: cheiro de pônei
data de publicação: 19/07/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #cheiro
personagens: amanda e jefferson

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje a história que eu vou contar pra vocês é a história da Amanda e do Jefferson, quem me escreve é a Amanda. 

[trilha]

Amanda é casada com o Jefferson há quase dez anos e eles tem dois filhos. E assim, a vida corria bem assim, Amanda nunca teve nenhuma preocupação no casamento em relação a fidelidade do Jefferson, nada disso. Até que chegamos à quarentena e o Jefferson sempre trabalhou… — Tipo, saía sete horas da manhã, voltava sete horas da noite. — Passava praticamente doze horas fora de casa e doze em casa. E aí no começo da quarentena, ninguém sabia, — Eu mesma achava que a gente ia ficar um mêszinho, sei lá, três semanas em casa e ia resolver essa questão do vírus e tudo ia dar certo, que dó de mim, e de todo mundo… — E aí a gente foi vendo que não, né? Que a coisa era mais complicada e o Jefferson também pensava como eu: “Ah, vamos ficar em casa tipo home office, de férias, um mêszinho e depois a gente volta”. E conforme ali o Jefferson foi vendo que as coisas seriam diferentes, né? Que ele ficaria mais tempo em casa, ele foi ficando mais insuportável, então, “Ah, porque se ele está trabalhando as crianças não podem fazer barulho”, “Ah, porque isso, porque aquilo”, e a coisa foi caminhando nesse pé, até que o Jeferson teve a ideia — Olha só, gente, a ideia… — de fazer o seguinte. 

A mãe dele mora sozinha num apartamento, a tia dele mora sozinha em outro apartamento, tipo no mesmo bairro e o Jefferson mora com a Amanda e as crianças num outro apartamento. O Jefferson propôs pra mãe dele ir morar com a tia para o apartamento da mãe ficar livre e ele não colocá-la em risco, e ele poder trabalhar lá, então ótimo, né? A mãe dele adorou, a tia adorou, porque uma ia fazer companhia pra outra e tá dando super certo num nível que talvez a mãe do Jefferson alugue o apartamento mais pra frente e fique morando definitivamente com a tia, porque elas se dão muito bem, uma faz companhia pra outra, nã nã nã, e deu super certo. E ele foi trabalhar lá na casa da mãe dele, então funcionou muito bem, a Amanda falou que foi perfeito porque aí ele saía sete horas da manhã como sempre, trabalhava de home office na casa da mãe dele até seis e meia tal e sete horas da noite ele estava de volta e a vida teve paz. Paz para o Jefferson trabalhar e paz pra Amanda em casa com as crianças sem ele tá ali reclamando das coisas e tal. — Funcionou super. —

Aí, gente, ficamos nisso um ano, né? — Estamos nisso um ano. — E aí Amanda também foi ficando entediada e de saco cheio, enfim, e resolveu fazer coisinhas. — O que seriam coisinhas? — Resolveu fazer comidas diferentes, tortas, coisas. E aí a gente vem pra questão da surpresa. Ela resolveu um dia, ela fez uma torta que o marido dela gosta muito, uma torta salgada e resolveu levar lá no apartamento da sogra dela, e ela nunca foi interfonada lá, ela nunca pediu pra subir, o porteiro conhece ela. — Eu acho que dependendo das circunstâncias, o porteiro interfonaria sim, depois falaremos sobre isso, mas no caso… — Ele não interfonou e ela subiu com a torta, tocou a campainha e ele abriu. E ele abriu com um sorriso no rosto. — Mas ele não sabia de nada assim…. — Parecia que ele estava esperando alguém que não era a Amanda, e Amanda a hora que viu a cara dele — Porque mulher tem um sexto sentido, eu acho… — Ela achou muito estranho, porque ele abriu a porta assim com aquele sorriso, tipo “oi”, e aí que ele viu que era a Amanda, a cara dele fechou. — Então quer dizer, não era Amanda que ele estava esperando, né? —

E aí Amanda entrou com a torta e ela falou: “Bom, a ideia era entregar a torta pra ele almoçar, né? E ir embora”, ela falou: “Eu vou ficar”. — Não sou boba, vou ficar. — E aí ela via que ele tentava pegar o celular e ela ficava bem pertinho, ficava abraçando ele pra ele não ter como pegar o celular e escrever nada, só que não dava pra ela ficar tão perto assim, mas ela ficou um tempo bem perto, mas ele acabou pegando o celular, e falou: “Eu preciso responder uns negócios aqui, me desculpa, nã nã nã”, e respondeu. E aí ela pensou: “Bom, agora que ele já respondeu alguma coisa no celular, se ele estava esperando alguém, ele já avisou”, beleza. Aí ela deu tchau pra ele e falou: “Bom, vou voltar, as crianças estão lá em casa, nã nã nã”, que ela sai no corredor, ela sentiu um cheiro de perfume muito forte e um perfume assim… Muito diferente, um cheiro bom, ela falou, um cheiro de gente rica assim, de mulher rica. — Né? Deve ser… Vamos chamar aí de fragrância Pônei. — Ela identificou o perfume, sabe aqueles perfumes que a gente cheira e tipo sabe que custa quatrocentos reais, porque já cheirou ali no balcão da loja assim. — Eu ia falar o nome da loja onde cheira perfume, mas não vou. [risos] — 

Então ela falou: “Meu Deus, esse perfume aqui é o Pônei com certeza” e estava no corredor, e o corredor ali só tem dois apartamentos, então ou a pessoa entrou no apartamento da frente, né? Cheirando ali com cheirão de Pônei, ou ela estava indo no apartamento da sogra dela. — Né? Da sogra da Amanda. — Quando ela entrou no elevador, cheirão de Pônei. — Cheirão de Pônei. — Ela chegou na portaria e o porteiro é um porteiro que tá ali faz tempo, já conhece ela também e ela deu uma perguntada, ela falou: “Nossa, tá um cheiro de perfume lá no elevador, né? Chegou aí alguma celebridade, alguma mulher rica?”, e rindo ali com o porteiro, o porteiro falou: “Não, aqui não passou ninguém”. — A Amanda, gente, ela é muito esperta, é uma mulher muito esperta. — O que ela deduziu ali na cabeça dela? Que com certeza o marido dela estava vendo alguma mulher do prédio e a mulher usa a fragrância Pônei. Bom, passou… — Ela me disse assim: “Déia, eu não consegui ficar triste, eu fiquei brava, fiquei puta e fiquei curiosa de saber o que estava acontecendo, porque na pior das hipóteses eu gostaria de saber o que tá acontecendo”. —

E aí ela foi pra casa, ele chegou em casa o horário de sempre e ele não estava cheirando fragrância Pônei, então ela ficou na dúvida, de repente, a pessoa com fragrância Pônei estava no outro apartamento, e aí ela começou a fazer isso: torta, sopa… Tudo pra levar lá para o marido, só que agora, a partir do momento que ela foi de novo, o porteiro que nunca interfonou, começou a interfonar, então ela via que ele não fazia na frente dela, quando ela chegava ali no elevador, é um prédio pequeno assim, então ela conseguia ver o porteiro da mesinha ali dele interfonando. Por quê? Com certeza o Jefferson pediu, né? Pra interfonar. E aí ela puta da vida, e aí não tinha como mais falar com o porteiro porque já estava desconfiada, ela não sentiu mais o cheiro da fragrância Pônei no apartamento, também desistiu de levar comida pra ele porque ela já estava com ódio e desistiu. Mas ali uns dez dias, ela precisou ir na farmácia e, assim, era um sábado e ele tinha saído de manhã pra correr e tinha voltado pra casa tipo umas onze horas, e aí era tipo onze e quinze, ele tinha acabado de voltar, estava sentado descansando. — Da corridinha dele. — E ela falou: “Eu preciso ir na farmácia”, ele deu um pulo assim, ele falou: “Não, me dá aqui as coisas que eu vou”, ela falou: “Não, eu quero ir na farmácia, eu quero pegar umas outras coisas também, quero escolher um esmalte”, aí ele falou: “Ah, então vai”, só que ela não dirige, né? Ela falou: “Não, me leva na farmácia”, aí ele começou: “Não, porque eu acabei de chegar, nã nã nã”, ela falou: “Ué, mas você estava se oferecendo pra ir na farmácia e agora você não quer me levar na farmácia? Me leva na farmácia”. — E ela foi tipo firme. —

E aí eles desceram no elevador assim bem… Ela puta e ele super preocupado, quando ela entrou no carro, gente, fragrância Pônei, o perfume, o carro dele estava impregnado de fragrância Pônei. E aí eles nem saíram dali do estacionamento porque ela já começou a gritar, já começou a xingar ele e ele negando, negando, negando, falando que é coisa da cabeça dela… — Mas é um perfume famoso, um perfume conhecido. — Não tem porque ele tá com aquele perfume extremamente feminino no carro dele, o mesmo perfume que ela sentiu no corredor ali da sogra dela. — Do apartamento da sogra dela. — Enquanto ela estava lá no apartamento e ele estava super esquisito, bem esquisito mesmo. — E ela falou que nesse dia aí da farmácia ele também estava esquisito. — Só que ele negou — Negou, negou, negou. — E estava muito cheiro de Pônei dentro do carro, ele não soube explicar, disse que era coisa da cabeça dela, chamou ela de louca, falou que não estava cheiro nenhum, ela quase quebrou tudo. 

E aí agora tá nessa, ele nega, ela tem certeza que ele tem uma amante que usa fragrância Pônei, e ela quer pegar. — Eu falei: “Ué, mas se você tá tão desconfiada assim, se você acha que não dá mais, não é melhor terminar?”, ela falou: “Não, é um casamento longo, eu quero pegar, eu quero saber quem é, eu quero saber desde quando, eu quero saber tudo”, só que ele tá falando que não, né? — Aí ela tinha ouvido já uma história minha que tinha detetive e tal, e ela ficou na dúvida de chamar, de não chamar, ela acha que é alguém do prédio lá da sogra e ela quer saber quem é, tem a questão do porteiro, o porteiro sempre interfona, então ela não vai ter como pegar, como que ela vai pegar, né? Então ela tá com coisas do tipo assim na cabeça: tem o porteiro da noite, dela mentir que vai dormir, que vai, sei lá, pra cidade da mãe dela e ficar dormindo no apartamento que ela tem a chave, né? Do apartamento da sogra e se esconder lá dentro até segunda-feira de manhã pra ver se ele leva alguém. Ele vai trabalhar, ele não vai achar ela lá dentro do apartamento, porque ela falou que dá pra se esconder no quarto da sogra, sei lá, qualquer lugar, embaixo da cama, pra ver se ele leva alguém. — Eu acho isso muito humilhante assim, você ficar embaixo da cama esperando o seu marido te trair com outra. — E se ele não levar ninguém, sabe? Você vai ficar lá embaixo da cama, você tem que ficar até sete horas da noite, porque ele está lá dentro trabalhando. Tudo bem, ela falou: “Ah, mas aí eu tô com o celular ali eu mando uma mensagem falando pra ele que eu tô chegando em casa, pra ele ir pra casa”, mas aí eu falei pra ela: “Se você vai viajar, você vai ter que levar as crianças pra algum lugar e depois fingir que viajou?”, é muito complicado, gente, vocês não acham? Eu tô achando tudo muito complicado assim. 

A Amanda quer fazer mil coisas mirabolantes, inclusive, quer dicas aí pra ela do que fazer pra flagrar. — Ela quer flagrar, essa é a questão. — Ela quer saber quem é a mulher da fragrância Pônei, ela quer saber tudo. Eu não sei, gente, eu sou contra assim, essa coisa de flagra, sabe? Não é minha praia, ela quer, quer tirar foto pra fazer exposed na internet, sabe? Enfim, ela tá puta, essa é a verdade, ela tá muito, muito assim com raiva. Tudo bem, eu entendo, né? Tem dois filhos e sempre se dedicou ao marido e aí agora o cara faz isso. — Mas a gente não tem prova nenhuma também que ele tá traindo, tem só o cheiro da fragrância Pônei de perfume no carro dele e no corredor. — Pode ser outra coisa, gente? Eu assim, não me vem nada na cabeça. Então é isso, vamos ajudar a Amanda, sei lá, dar uma luz assim, eu acho que quando chega nesse nível já de desconfiança que você quer ficar embaixo da cama pra flagrar seu marido, é melhor romper, melhor terminar, ou sei lá. 

Ele já falou que não, né? Já chamou ela de louca e falou que não tem amante, então confessar provavelmente ele não vai, e esse cheiro de Pônei que é muito característico, é um perfume famoso que ela conhece o cheiro, mas ela não conhece também ninguém que use, então provavelmente não é ninguém que ela conheça, né? Se for… — Se for, porque não existe provas, né? — Se for isso, deve ser alguém lá do prédio, porque senão o porteiro com certeza na primeira vez que ela foi lá levar a torta ia interfonar, né? E ele não interfonou, então eu acho que é tudo muito circunstancial, sabe? Vocês acham que ela deve continuar com esse plano de querer flagrar? — Eu sou muito da área do crime, assisto muito crime, já pensou se ela tá lá no apartamento e ela flagra, e aí os dois, sei lá, dão um fim na Amanda? Eu penso nessas coisas, gente, sabe, essas coisas acontecem. — Eu não sei, eu acho perigoso isso, acho que não tem que ir lá no apartamento mais, não gosto, sabe? Não gosto, mesmo, falando sérião assim, não gosto, nada dessa coisa de flagrar, de barraco, não gosto. 

Mas ela quer, quer fazer alguma coisa pra tipo pegar ele no flagra e falar: “Aí, seu maldito. Eu sabia”, sabe? Mas aí se o casamento chegou nesse ponto, né? — E a gente conversou bastante — ela não tá triste assim, arrasada, porque o casamento tá terminando, ela tá puta, gente, tá puta. Então é isso, sejam gentis. E ela quer ideias e pedir conselhos.

[trilha]

Assinante 1: Oi, pessoal. Me chamo Juliana, sou do estado de Roraima. E, Amanda, mulher, o melhor que tu pode fazer é terminar esse relacionamento, esse casamento, né? Não fica pensando nessa de: “Ah, que ele teve com outra ou não”, porque isso pode só te atrapalhar. Mas assim, como tu quer uma dica pra pegar, talvez você podia comprar aquelas câmerazinhas que você fica olhando ao mesmo tempo no celular o que está acontecendo na gravação, colocar lá, já que tu tem a chave do apartamento, colocar lá a câmera em um lugar estratégico e ficar acompanhando pelo celular, você pode fazer isso. Tirando isso, melhoraria terminar esse casamento. Boa sorte. 

Assinante 2: Oi, Amanda, aqui é Isabel de Ouro Branco, Minas Gerais. É difícil essa situação, porque eu também, eu sou muito ciumenta, muito ciumenta, então se fosse comigo eu também queria saber tudo, saber tudo, sobre quando começou, o quê que tá acontecendo, eu ia estar, inclusive, muito sem paciência, te acho muito paciente. Mas ao mesmo tempo, eu fico pensando se isso não é uma característica nossa pra gente querer sair por cima e depois a gente acabar se machucando, sabe? Então, não sei, talvez tratar isso. Mas por outro lado quem está te embaçando é esse porteiro, então, se você tem a chave tinha que dar um jeito de sair com esse porteiro da portaria pra você poder entrar lá a hora que você quisesse, ir mais ou menos nesse horário aí um pouco mais tarde, que você já foi, que ele estava esperando, dar uns perdido, umas surpresinhas aí, desculpa Déia, mas tem que tirar esse porteiro aí do posto. Ai, Deus abençoe, que fique tudo bem com você. Beijo. 

Déia Freitas: Um beijo, gente. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.