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título: contaminados
data de publicação: 09/08/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #contaminados
personagens: rosa e alfredão

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje história de firmaaa. [risos] — Eu amo história de firma. — E quem me escreveu hoje foi a enfermeira Rosa, então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Rosa, ela trabalha numa metalúrgica — Que a gente vai chamar de Metal Pônei — e é uma metalúrgica muito, muito grande. Essas empresas muito, muito grandes, elas têm o seu próprio departamento médico, pra uns Primeiros Socorros, tem um ambulatório com um médico mesmo, alguma coisa de rotina, você resolve ali dentro da firma mesmo, na Metal Pônei. E aí uma coisa começou a acontecer num determinado departamento, no turno da noite, um turno majoritariamente aí de homens, né? Trabalhando. E esses homens começaram a aparecer com Herpes. — Sabe aquelas bolinhas que dão na boca e tal? — Herpes Labial. E aí assim, gente, não era um ou outro, era tipo quase uma sessão toda da Metal Pônei com Herpes Labial. — E assim, tem gente que tem e não tem tanto sintoma, e tem gente que tem que dá até febre, enfim, né? Uma coisa assim, mais séria. 

E aí como era muito funcionário e alguns tiveram que ser afastados e tal, foi feita ali uma reunião pra ver o que eles iam fazer pra investigar, porque que estava todo mundo com Herpes. — O que eles pensaram? Porque assim, essa coisa da Herpes dá, você pode pegar tomando no mesmo copo de alguém. — E aí como ali os utensílios, as coisas, não eram compartilhadas e tinha assim, um refeitório e tudo, primeira coisa que foram investigar é se tinha falha na higienização dos talheres e copos e pratos, enfim, ali do refeitório, né? E aí tudo foi visto e apurado, não era do refeitório. Aí fizeram cartazes e fizeram reuniões informativas para os funcionários dizendo que eles não podiam compartilhar escova de dente, nenhum copo, nenhum tipo de garrafinha, nada dessas coisas. Mais um tempo se passou, ainda aquele surto ali, né? — De Herpes. — Quando decidiram ir voltando nas câmeras pra olhar ali uma área comum, os funcionários tinham uma área comum que tinha assim, tinha coisa de café, uma máquina de café, que não é uma máquina, tipo aqueles que você aperta. — Igual tem… Quando você vai nesses laboratórios médicos, você paga, você põe lá a ficha de um real, aperta e sai o cafezinho, e você toma. —

E os funcionários eles tinham uma área, com uma máquina dessa, umas poltronas e um lugar… Pensa assim, ó, uma geladeira dessas… — Sabe quando você vai numa lanchonete e a geladeira é a porta de vidro? Tinha dessa, que tinha lá assim: “água”, a vontade. — Você podia beber água, então não era bebedouro, você podia pegar a garrafinha d’água se você quisesse. — Não sei como acharam que a contaminação ali e essa proliferação da Herpes na firma podia vir desse departamento e foram olhar as câmeras. — Gente, eu não sei nem o que dizer do que descobriram nessas câmeras… — Um encarregado — Que a gente vai chamar aqui de Seu Alfredo — que todo mundo chamava de Alfredão, que era muito querido, muito querido mesmo. O Alfredão, como que ele tomava água das garrafinhas ali descartável? Porque assim, gente, tinha um negócio lá tipo “Pegue a água, a água é pra você, pegue a água”. — Tipo uma coisa assim, um aviso assim — E o quê que você faz quando você vê uma garrafinha de água descartável? Você pega a garrafinha, você toma e joga a garrafinha no lixo, certo? O que o Alfredão fazia? O Alfredão ele não tinha muita sede, não era um cara com sede, ele às vezes queria um golinho de água e ele achava ruim pegar a garrafa inteira pra tomar um golinho de água, então ele abria a garrafa, ele tomava um golinho e ele voltava a garrafa pra geladeira. 

E muitas vezes, você vai pegar uma garrafa ali de água, né? — Que tinha várias lá, pensa assim, uma geladeira imensa com várias e que eram repostas, enfim… — E você acabava pegando essa água que foi só tomada um golinho, você abre ali, você nem viu se está rompido o lacre, se não está… E ele fazia isso várias vezes ao dia, ele não tomava só a mesma garrafinha assim, ele pegava qualquer uma, abria, tomava um golinho, botava lá de novo. — Não é surreal? — Que todo mundo contraiu Herpes do Alfredão. — Sério… — E que foi preciso colocar lá na área da geladeira, de que quando você pega uma água ali pra tomar, você não pode devolver essa água pra geladeirinha. — Geladeirona, né? — Pra geladeira. Você não pode devolver, você tem que pegar essa água e esta água é sua, ela não pode ser compartilhada e ela não pode ser devolvida pra geladeira. Precisaram fazer todo um plano de comunicação, além de conversar com os encarregados e principalmente com o Alfredão, pra explicar que não podia… — E ninguém contou lá lógico, na firma, não foi… O Alfredão não foi exposto. — A Rosa ficou sabendo porque ela era do departamento médico ali, né? Então eles conseguiram identificar que o foco ali de Herpes, que tinha espalhado, começou depois que colocaram essa geladeira, porque era uma coisa nova nesse lounge aí, dessa sala, dos funcionários, né? 

Depois que colocaram a geladeira, que colocaram as águas, e que o Alfredão ficava com dó de desperdiçar água porque ele só tomava um golinho e deixava lá pra outro colega tomar água de Alfredão. — O cara da Herpes aí. — E aí você vê que coisa louca assim, né? Eles conseguiram fazer essa investigação e descobrir de onde vinham, pra parar, né? Pra coisa parar, mas muita gente já tinha contraído e eles tiveram que lidar com isso e fazer todo uma nova comunicação do que podia e do que não podia ser compartilhado, e vários avisos aí na geladeira da água, de que a água estava ali, que a água era pra eles, mas as garrafinhas eram individuais, né? Você toma e você guarda a sua garrafinha. Porque também tem essa questão, você não pode levar sua garrafinha pro setor, porque lá também tem muita máquina, então você toma a água ali. A Rosa falou que nos setores tem bebedouro, aqueles que você aperta assim, abaixa e toma a água, mas esse era tipo um mimo, era uma água mineral ali que estava no lounge pra você tomar quando você estava no seu intervalo, de folga, porque você não pode levar garrafinha pra sua área de trabalho, porque tem máquinas, né? Tem toda a questão da segurança do trabalho que você não podia levar. No seu setor você tinha como tomar água de outra forma, só que o Alfredão sendo encarregado, ele transitava, então ele podia passar por ali pelo lounge, tomar um golinho de água e ir embora deixando ali a saliva dele numa das garrafas e em várias garrafas durante o dia.

Surreal. E agora eu fiquei cismada com garrafa de água mineral. [risos] Então essa é a história que a Rosa trouxe pra gente, ela ainda trabalha na mesma área, né? Que é essa área médica dentro de grandes firmas, e é isso aí, Metal Pônei, praticamente galera toda com Herpes lá por causa do Alfredão.

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia. Oi, gente. Eu sou Stephanie, eu tô falando de João Pessoa. E fiquei surpresa com essa história, porque eu sou profissional da saúde, né? E eventualmente eu lido com caso de Herpes nos meus pacientes e ainda bem que a maioria costuma ter manifestações leves, mas é muito perigoso. E agora eu falo pelo lado mais pessoal, porque eu tenho Herpes desde criança, não sei como contraí o vírus, é um vírus muito transmissível, também não teria como saber muito bem, e isso teve implicações muito sérias na minha vida, porque no meu caso, o vírus atacou a córnea e afetou definitivamente minha visão. E assim, às vezes um caso desse tipo numa empresa grande pode ser a deixa pra informar as pessoas, claro, sem expor ninguém, a respeito do perigo dessa doença de que ações simples podem evitar problemas maiores, evitar que você contamine outras pessoas; Até mesmo porque uma manifestação simples ainda é muito incômodo, né? Espero que eles tenham conseguido contornar essa situação, que esteja todo mundo bem e sem surpresa na garrafinha de água. 

Assinante 2: Oi gente… Yasmim de Belo Horizonte falando. Então, eu fiquei um pouco revoltada com essa história porque é muita falta de noção da pessoa de usar uma garrafa, não tomar a água toda e voltar com ela pra uma geladeira lotada de garrafa igual? É muito ruim ser contaminado dessa forma, sem saber que você tá sendo contaminado com um vírus que não tem cura, né? Você só pode fazer a manutenção da doença, quando vem as crises é tomar o comprimido, passar a pomada… E eu falo isso porque eu fui contaminada também com Herpes Simples Labial, quando eu era bebê, a cuidadora do berçário da empresa que a minha mãe trabalhava, no último dia dela, ela despediu de todos os bebês beijando os bebês, e ela estava com a boca toda estourada, então eu fui contaminada sem querer ser contaminada e já gastei muito dinheiro fazendo tratamento pra aumentar a imunidade, e, enfim, é super desconfortável, é ruim, é incômodo, e é uma coisa pra vida inteira por enquanto. Então é isso, e a empresa ela vai ajudar os contaminados? O que será que a empresa vai fazer? 

Déia Freitas: [riso] É isso, gente, um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.