título: copo
data de publicação: 05/09/2024
quadro: luz acesa
hashtag: #copo
personagens: henrique e paulinha
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje vou contar para vocês a história do Henrique. — O Henrique na época dessa história ele tinha 24 anos. —Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]
Ele era um jovem, escriturário, prestou concurso, então com 24 anos já estava estabilizado, ele tinha alugado um apartamento, morava sozinho, então as coisas que tinham naquele apartamento foi a mãe dele — Dona Sônia — que ajudou ele a colocar. Então muita coisa ele trouxe da casa dele, algumas coisas ele comprou e uma coisa que ele trouxe da casa dele foi a mesa de jantar, que era uma mesa de madeira, uma madeira maciça, pesada, uma mesa muito bonita que a vó dele tinha deixado na casa de Dona Sônia, da mãe… Dona Sônia não queria mais aquela mesa, enfim, a mesa tinha muitos riscos e quando o Henrique e os irmãos eles eram crianças, eles riscavam a mesa até com estilete e tal, mas ainda assim é uma mesa muito bonita, rústica. E o Henrique, óbvio que quis aquela mesa e levou aquela mesa para casa, então era uma coisa que ele gostava muito, que foi da avó dele, enfim… E o Henrique, na época, tinha umas namoradinhas assim, nada sério, mas eles se reuniam de vez em quando lá na casa dele.
Então juntava uma galerinha, cinco, seis… Não era uma festa, mas assim juntava os amigos ali, a gente ficava ouvindo música, fumava… — Cigarro normal. [risos] Era uma época que, assim, fumar era ok, sabe? Fumavam que nem umas chaminés e ficavam conversando. Enfim, era a resenha da época. — E aí o Henrique tinha algumas amizades do departamento lá que ele trabalhava, tinha alguns amigos da faculdade que ele estava começando naquela época, então assim, eram turmas diferentes, né? Então você chama um, você chama outro e sempre um acaba levando o outro e assim vai, né? Lembrando aqui que convidado não convida, [risos] mas às vezes as pessoas elas nem perguntam se podem levar alguém e já levam, enfim… E, numa dessas, o Henrique conheceu uma moça… A gente vai chamar essa moça de “Paulinha”. E a Paulinha era, assim, toda alternativa, toda misteriosa, assim. — Sabe aquela pessoa diferente que você quer estar junto, assim? Você fala: “Pô, sei lá, essa mina vai ser uma artista, alguma coisa assim… — Paulinha tinha essa vibe. O Henrique falou: “Nossa, tá me dando mole, enfim” e ficou um dia com Paulinha e, assim, você está interessado na garota, a garota veio convidada de um convidado de um convidado e você acaba chamando aquela turma de novo para que a garota volte.
E nessa segunda vez que a garota voltou, a Paulinha trouxe com ela vários papéis dobradinhos, que eles iam fazer uma brincadeira… — Que brincadeira com papelzinho? Pêra, uva, maçã, salada mista? — Henrique ficou ali olhando, o pessoal começou a se reunir e, naquela mesa pesada, maciça do Henrique, Paulinha colocou os papeizinhos. Eram as letras do alfabeto e os números, de zero a nove. E aí Paulinha arrumou tudo, pegou um copo e aí algumas pessoas já sabiam o que ia acontecer… — Henrique… Aquilo pra ele era coisa de criança. — Ele nunca tinha feito, mas pra ele era coisa de criança. Paulinha falou que eles iam ali fazer a brincadeira do copo, iam chamar algum espírito para aquele copo e perguntar as coisas. Paulinha falou que todas as pessoas que estavam na festa — total ali de oito pessoas, incluindo Paulinha e Henrique — tinham que estar na mesa. — Todo mundo tinha que estar ali, não podia estar ninguém fora da mesa. —
Henrique sentou, pegou ali a cerveja dele e Paulinha falou: “Olha, agora a gente vai dar as mãos, a gente vai fazer uma oração e depois duas pessoas vão colocar o dedo junto no copo, que é pra ver que não tem manipulação”, e aí eles fizeram uma oração, Henrique meio rindo, meio incrédulo, e aí colocaram o dedo no copo uma moça lá, amiga e um outro cara que tinha ido… — Nem Paulinha e nem Henrique botou o dedo no copo. —
Aquele copo realmente começou a andar na mesa… Aquele copo realmente estava se mexendo sozinho, porque o dedo deles estava um pouco mais alto que o copo, tinha um vão entre o copo e o dedo, que foi o que Paulinha tinha instruído eles a fazer, a não apertar o dedo no copo. o Henrique tinha tomado duas cervejas — duas cervejas de latinha — e Henrique vendo aquilo, mas você fala: “Ah isso aí deve ser algum truque, alguma coisa”, tinha todas as letras do alfabeto, os números e “sim” e “não” em papéis. E eles começaram a fazer as perguntas, o Henrique diz que não lembra bem as perguntas, assim, mas cada um foi fazendo as perguntas que queria de sim e não…
Perguntaram o nome ali do espírito e ele foi para a letra “J”, depois ele foi para a letra “U”, depois ele foi para a letra “L”, depois ele foi para a letra “I”, depois ele foi para a letra “O”. Julio. Bom, ficaram ali conversando com esse Julio por quase uma hora, até que a Paulinha fez uma pergunta, perguntou: “Você gostaria de sair desse copo e se juntar a gente?”, Julio foi para o “sim”, arrastando ali o copo e o copo rachou… — Sabe quando você tá com uma coisa muito… O copo, um vidro muito quente e você bota ele no gelado e ele simplesmente solta um pedaço assim… Não é que ele espatifou, voou o pedaço longe, ele trincou sozinho e partiu. — E aí uns riram, sei lá, virou uma zoeira e a Paulinha ficou muito pensativa… E aí ela resolveu não encostar naquele copo, ela pegou os pedaços de copo com o jornal, o Henrique falou: “Bom, ela deve ter feito isso pra não se cortar”, botou ali numa sacolinha de mercado e jogou no lixo da cozinha. Acabou ali resenha deles, cada um foi para sua casa, Paulinha não quis ficar lá… — Paulinha foi embora com a galera. —
O Henrique deu uma ajeitada ali nas coisas, falou: “Amanhã eu limpo melhor” e foi dormir. Isso era uma hora da manhã mais ou menos quando ele deitou… E vira para um lado, vira para o outro, não consegue dormir, tem alguma coisa que está incomodando… Uma sensação ruim no Henrique e ele resolveu sentar na cama, “Ah, vou sentar, se pá vou levantar e fumar um cigarro”, foi o pensamento dele… Assim que ele sentou na cama, tinha um vulto — no absoluto escuro — na frente da cama dele e ele só conseguia ver o vulto porque ali pela janela, por mais escuro que que esteja, se tem uma frestinha, entra uma luz… E ele viu que tinha um vulto na cama, tinha alguém na beirada da cama dele… E sentado ele estava, sentado ele ficou… Porque, assim, ele não conseguia se mexer o Henrique, ele fechou os olhos de medo, pavor, porque tinha alguém em pé na beirada da cama dele. [efeito sonoro de sussuros] E aí ele começou a rezar — mentalmente só — sem emitir ali nenhum som e ele ouviu esse vulto dando a volta na cama dele… Então ele estava ali na beirada, foi para o lado que não era o lado que o que o Henrique estava e ele sentiu o colchão dele abaixar o lado dele…
Ele sentiu ali o colchão dele mexer, como se alguém tivesse deitando, abaixando e ele sentado… — O Henrique não conseguia se mexer. — Reunindo toda a força que ele conseguia, Henrique fechou a mão e deu um murro na cama para acertar quem estava do lado dele. Se fosse uma brincadeira, por exemplo, de Paulinha ou alguma coisa, ela tinha tomado um soco que, sei lá, acho que ela tinha morrido, mas o soco atravessou e foi até o colchão, mas ele sentiu que a hora que lhe deu o soco, o colchão obviamente mexeu de novo e ele viu que o vulto levantou com a porta aberta e foi para a cozinha. — Só tinha um quarto o apartamento que o Henrique alugou. — Em frente já era a cozinha, para o lado era a sala e mais aqui perto do quarto, o banheiro. Então, ele viu que o negócio foi direto para a cozinha e o Henrique continuou rezando, rezando, rezando… De repente, [efeito sonoro de tensão] ele ouviu um barulho, mas foi um barulho tão alto e tão forte que acordou pessoas de outros apartamentos e o interfone dele tocou. [efeito sonoro de interfone tocando]
O interfone lá na cozinha, do lado da porta, tocando… Henrique teve que levantar, já acendeu a luz do quarto, passou, acendeu a luz do corredor — a cozinha já estava um pouco iluminada — e, mesmo naquele sombra que tinha ainda na cozinha, que ele ia acender a luz, mas antes de acender ele já viu o que tinha acontecido… Ele tinha um jogo dessa mesa e seis cadeiras e, quando ele estavam ali brincando, na brincadeira do copo tinha mais dois puffs que ele colocou pra dar de todo mundo sentar, as cadeiras todas estavam viradas, com os pés, assim, dois pra cima e dois encostado no chão, sabe? As cadeiras estavam todas assim e a mesa de madeira maciça estava virada. — Sabe quando você vira a mesa de cabeça para baixo assim? Que ela fica com os quatros pés para cima? Ela estava, assim, toda rachada… — Toda rachada. Henrique atendeu aquele interfone e quem estava falando era o zelador que morava lá no térreo e o zelador falou que o barulho foi tão alto que ele recebeu várias reclamações… E aí o Henrique só falou pra ele: “Me ajuda”, e aí o zelador, Seu Zé, subiu, o Henrique conseguiu destrancar a porta… A hora que ele viu a mesa… O que o zelador pensou? “Fizeram uma festa, se excederam”, mas estava tudo em silêncio… — Não tinha, não tinha como… Ele teria que ter passado por alguém ali se fosse uma festa, não tinha ninguém, só tinha o Henrique. —
E o Henrique não conseguia falar e o zelador começou a pegar aqueles pedaços de mesa do chão, assim, madeira, madeira mesmo, mais pesada e ele foi juntando ali na ponta e tentando saber com Henrique o que tinha acontecido. — O Henrique não conseguia falar. — E quando o zelador estava pegando as coisas ali daquela mesa para deixar num canto, enfim, uma das cadeiras voou lá na parede da sala, tipo, a janela que dava para frente para a rua e trincou um vidro da janela. — A cadeira espatifou… — Isso o zelador viu junto com Henrique. Na hora o zelador pegou o Henrique pelo braço e falou: “Vamos sair daqui que a sua casa está endemoniada, tem alguma coisa na sua casa” e o Henrique passou o restante, até clarear o dia, lá na casa do zelador. E o zelador, assim, chocado, totalmente chocado. E aí o zelador, também fifi, já espalhou no prédio e, antes mesmo do Henrique procurar uma ajuda, alguma coisa, ele pediu ajuda para os amigos ali de repartição e ele se mudou. — E como o Henrique se mudou? — Ele pegou as roupas, os documentos, objetos pessoais e só, não levou nenhum dos móveis, nada… Deixou tudo para trás, devolveu o apartamento com os móveis, pagou multa, pagou a mais por isso, por deixar os móveis lá, o zelador ficou de dar, de jogar fora, enfim, consertou o vidro da janela que quebrou, enfim, fez o que tinha que fazer e se mudou daquele apartamento.
O Henrique falou que nunca mais aconteceu nada com ele, sobrenatural, que ele passou um tempo tenso achando que o tal de “Julio” — se é que chamava “Julio” — mesmo viesse atrás dele… Mas seja o que for que aconteceu, ficou lá naquele apartamento, naquela mesa, sei lá, né? Mas era um vulto. Ele falou: “Andréia, eu vi uma pessoa, eu vi, era um vulto e deitou comigo do lado ali, na cama… E depois, quando eu dei o soco na cama, esse vulto correu e fez o que fez… Como destruiu a minha mesa, porque assim teve que virar a mesa ao contrário, com os pés para cima e ela, acho que do alto, se espatifou quando bateu ali naquele aquele chão”. — Inclusive, ele falou isso, que acho que teve duas ou três cerâmicas do chão também que ele teve que pagar porque quebrou, né? — Além do prejuízo, um susto e uma coisa surreal, que ele nunca imaginou. Depois que ele mudou de lá — que isso aconteceu e já na mesma semana ele já mudou, assim —, ele foi procurar a Paulinha e a Paulinha nunca mais falou com ele. Nunca mais… — Porque ele contou essa história para todo mundo e foi a Paulinha que levou as coisas e tal e nunca mais ela falou com ele. —
E aí o Henrique falou para mim: “Andréia, eu que sempre duvidei dessa brincadeira do copo, nunca achei que a gente pudesse atrair um espírito, aconteceu comigo… E eu não era uma criança, porque geralmente é criança que faz esse tipo de jogo, né? Eu era um adulto, todo mundo que estava lá era adulto. Então, né?”. E esse Júlio, gente, quem que era? O que ele queria? Queria dormir de conchinha com o Henrique? Aí tomou um soco, correu, destruiu as coisas… E para onde ele foi? Ele ficou no apartamento será? A próxima pessoa que alugou tinha um vulto lá com ela? Questões… — O que vocês acham? —
[trilha]Assinante 1: Oi, Déia, oi, nãoinviabilizers, aqui é a Nicole de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Henrique, que história tensa essa tua, hein? Nossa… Desde que eu comecei a gostar dessas coisas de terror e filme, esses desafios, a minha mãe sempre me alertou… Porque quando ela era jovem, ela fez o jogo do copo e o espírito baixou nela. Não sei se é esse o termo, mas enfim, ela sempre me contou essa história, que foi uma experiência terrível, que os amigos dela ficaram muito assustados, tiveram que chamar uma pessoa para ajudar. Então, eu sempre fiquei bem alerta, tive medo e até hoje não tenho vontade nenhuma de testar essas forças estranhas. Ainda bem que esse espírito não foi atrás de ti, ficou lá, mas assim, sacanagem dessa Paulinha levar o espírito e depois nunca mais, né? Porque na minha opinião, ela sabia que deixou alguma coisa no teu apartamento. Fica bem, Henrique. Beijo.
Assinante 2: Fala, nãoinviabilizers, meu nome é Elise, falo de Oakland na Califórnia. Gente, tô até tremendo um pouquinho com essa história Copo, pesadíssimo. Henrique, que fase… Meu Deus, gente, não brinquem disso… Acho perigosíssimo, não se mexe com essas coisas. E vou falar: Eu desvendei o mistério… Voltem na história “Apartamento”. É Júlio que estava morando lá, que deu soco em Valentina e tudo… E digo mais, porque quando Valentina pediu ajuda, o zelador lá, “Sirlei” se não me engano, falou: “Se você precisar de alguma coisa, me chama”, ele já estava ligado no negócio todo… Por quê? Porque era o apartamento de Henrique do passado, gente, socorro… Tô surtada com essa história, meu Deus… Não façam isso em casa. Um beijo, tchau.
[trilha]Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com o Henrique. Um beijo e eu volto em breve.
[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]