título: corrida
data de publicação: 16/10/2020
quadro: luz acesa – especial halloween
hashtag: #corrida
personagens: roni
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra mais um Luz Acesa, e pra começar já tenho um recado. Assim, eu tinha combinado que eu ia postar quatro Luz Acesa por semana, mais Um Amor nas Redes, mas acontece que eu esqueci novamente que eu sou pobre, [risos] então, eu fui editando, editando, editando e, assim, já comprometi toda a verba do próximo mês, então [risos] vou ter que diminuir as histórias. a realidade é essa, né? Eu tô editando todas as histórias do Luz Acesa e do Amor nas Redes para as plataformas gratuitas, então tem que ser com o que eu recebo lá dos assinantes, né? Que é da plataforma do apoia-se e, infelizmente, não dá pra tudo, então essa semana mesmo a gente vai ter um ou dois só, talvez só esse que eu tô gravando agora e vai ter, lógico, o Amor nas Redes, né? Que esse mês é uma homenagem às lindas do podcast Afetos. Mas se você gosta do meu trabalho e você quer mais histórias, você gosta de acompanhar, você pode assinar no apoia-se, vai estar tudo aqui escrito como sempre, tem o link, e aí é isso.
[trilha]A história que eu vou contar hoje pra vocês é a história do Roni, é uma história de pandemia, e é uma história de terror. [efeito sonoro assustador de criança gargalhando] Então, assim, o Roni, ele é um cara como eu assim, eu conto aqui as histórias de terror, mas eu dificilmente consigo acreditar nas coisas, mas eu fico cismada, não é porque eu não acredito que não exista, ou que eu realmente ache que não existe, entendeu? Não sei, se acontecer comigo eu vou obviamente acreditar. E o Roni é, ou era, como eu, então vamos de história.
[trilha]
O Roni mora sozinho, tá sem nenhuma namorada, e na pandemia agora, nos primeiros meses ele não saiu pra correr, que é uma coisa que ele gosta de fazer bastante. Agora, nos últimos meses, ele começou a sair pra correr, pra correr sozinho, e como ele não queria ter muita gente em volta, ele começou a correr de madrugada. Então, aí aquela primeira coisa, ele começou andando, porque até acostumar a correr com a máscara é mais complicado, e ele corre no bairro dele, o bairro dele tem um certo grau de segurança e ele começou [som de pessoa correndo] a correr todo dia… E aquilo fez uma diferença muito grande assim na vida do Roni, porque ele estava muito isolado e ele gosta demais de correr, então foi uma coisa que reconectou ele com a natureza, pelo menos ali do entorno, né? As árvores em torno do apartamento dele e do bairro. Então, ele começou a correr um bairro e depois começou a correr por mais um bairro.
E aí um dia ele quase foi atropelado por um cara [som de carro passando em alta velocidade e buzinando] que estava fazendo racha, e aí ele ficou pensando nisso: “Poxa, se eu sou atropelado de madrugada, o cara vai embora, ninguém vai me ver, nada”, aí perto da casa dele tem um conjunto de prédios assim, que é meio chique e tal, e que em volta do condomínio, pelo lado de fora, tem uma pista de corrida, caminhada, que serve para as pessoas de dentro do prédio ou pra quem tá na rua porque ela é do lado de fora dos muros do condomínio e é com árvores, bem chique. Então assim, tem as medições certinhas de quanto você correu, quantos metros, quantos quilômetros, sei lá, essas coisas assim de quem curte. Só que pra ir até lá ele tinha que andar um pouco mais, então o que ele fazia? [som de pessoa correndo] Ele ia se aquecendo correndo até lá, corria nessa pista e voltava, e isso sem levar a carteira, sem levar celular, nada, né? Deixando a chave com o porteiro pra ir sem nada.
E aí num dia desses que ele estava indo correr, ele presenciou um acidente, o que foi esse acidente? Ele chegou depois que tinha acontecido, ele passou, tinha uma certa muvuquinha, só que ele na hora que ele passou, ele foi ver o que era e ele viu o cara lá no chão estirado, morto. E aquilo ficou muito na cabeça dele assim, ele olhou pro cara, ele falou que o cara não estava assim muito machucado, mas ele tinha rolado numa parte lá que estava sujo de lama, né? Então ele estava sujo de lama e, do lado da cabeça dele, tinha sim uma poça de sangue, mas assim, não era uma coisa muito grande, mas as pessoas ali ao entorno estavam falando já que ele estava morto, que ele estava morto. Então o Roni olhou, ficou impressionado e passou, foi correr. E não conseguiu correr, porque ele ficou tão impressionado… E aí pra voltar ele tinha que voltar por lá e, quando ele voltou, ele passou sem olhar, mas o corpo ainda estava lá e passou. Ele voltou pra casa, era de madrugada, tomou banho, não correu… Dormiu.
No outro dia que ele foi correr, e ele corria todo dia ali lá pela uma hora da madrugada, que [som de pessoa correndo] ele foi correr de máscara tudo, mesmo não tendo ninguém na rua, ele corria de máscara pra acostumar já com a máscara na corrida, né? E aquela imagem marcou muito, ele viu o rosto do cara, que ele passou por onde tinha acontecido o acidente, [efeito sonoro assustador] ele viu o cara. E, inicialmente, ele não acreditou assim, né? Porque o cara não estava assim vestido normal, o cara estava todo sujo de barro, e ensanguentado sentado na calçada lá, ele falou: “Não, não é possível”, ele passou reto, ele estava do outro lado da calçada e o cara estava olhando meio que pro chão assim, e aí ele voltou, ele falou: “Não, gente, não pode ser”, ele voltou, ele falou: “Vou voltar, vou falar qualquer coisa, pedir hora, perguntar que horas são, porque não pode ser”. [trilha sonora ficando mais alta] Eu já ficaria com medo que fosse, sei lá, alguém pra me assaltar ou coisa pior, mas ele voltou, quando ele voltou que ele se aproximou do cara assim, o cara levantou a cabeça, olhou pra ele, estava com uma cara assim meio de perdido mesmo, de pânico, e quando ele chegou um pouco mais perto que era o tanto que dava pra chegar perto, pra poder falar de máscara e o cara ouvir, o cara desapareceu.
Aí o Roni tomou um puta susto, e pensou: “Coisa da minha cabeça, eu tô impressionado”, que ele já não tinha corrido no dia anterior, ele foi e ele correu. Quando ele estava voltando da corrida, porque ele voltava correndo, então terminava as voltas que ele tinha que dar e já pegava aquele pique e já voltava correndo, que ele está voltando correndo, um quarteirão antes de chegar no lugar onde aconteceu o acidente e ele tinha visto o cara sentado, ele viu esse cara de novo. E aí agora esse cara já estava em pé na calçada, olhando pra ele, [som de violino] então, vendo, acompanhando ele passar correndo e aí ele falou: “Não, não acredito nisso, isso é palhaçada”, parou de correr, voltou, que ele voltou que ele estava chegando perto do cara o cara sumiu e, assim, sumia na frente dos olhos dele. Aí ele foi pra casa, era quase três horas da manhã, [som de envio de mensagem no celular] mandou mensagem pra um monte de amigo contando, pra ver se alguém estava acordado pra conversar com ele, o pessoal só foi responder de manhã, e aí, né? Os amigos, várias teorias e tal.
Ele falou: “Bom, eu não vou parar de correr por causa disso, eu tenho certeza que isso é coisa da minha da minha cabeça. Eu vou correr”, e ele foi, esse já era o terceiro dia, e aí ele foi correr. E a hora que ele foi correr nada aconteceu, quando ele estava voltando, que ele voltava correndo, que ele olha pro lado dele, muito perto, mas muito perto, o cara. [som de pessoa correndo] Todo sujo de barro, agora ele parecia mais sujo, mas ele não sabe se o cara estava mais sujo porque estava mais perto dele e ele viu melhor e, conforme ele corria, porque ele não parou de correr, porque era humanamente impossível tá tão perto como aquele cara estava, então ele assustou mesmo e não parou de correr. O cara estava junto dele assim, colado, e aí ele parou de olhar, porque se ele olhasse para o lado ele ia dar assim com a cara no cara e ele parou de olhar e correu, correu mais e aí uma hora sumiu. [efeito sonoro assustador] o cara sumiu.
Aí ele ficou uma semana com medo, sem correr e falou: “Bom, então eu não vou correr mais de madrugada, agora também não dá mais”, aí ele foi um dia correr oito horas da noite, foi oito horas da noite, a pista ainda tinha gente, ele correu, mas não conseguia se concentrar também, quando ele estava voltando era quase dez horas da noite, [efeito sonoro assustador] ele viu o cara. E aí dessa vez o cara parece que não viu ele, e o cara estava sentado lá de novo em uma outra parte da calçada, assim, parecia que estava em outro mundo e aí agora ele não foi mais correr. Isso já tem quase dois meses, ele tomou coragem pra escrever porque alguém indicou o podcast pra ele e ele escutou a história “Encosto”, e aí ele falou: “Não, eu vou ver se alguém sabe, né, o quê que é isso?”, e se ele precisa fazer alguma coisa, porque assim, ele não foi mais correr em lugar nenhum.
Esse cara não apareceu na casa dele, nada, mas ele pensa muito nesse cara, ele já tentou encontrar, porque uma amiga dele falou: “Ah, manda rezar uma missa”, mas ele não consegue encontrar os dados do acidente, o que aconteceu, na delegacia também ninguém vai passar nada pra ele, pra ele saber o nome desse cara pra poder mandar rezar missa. E aí uma outra amiga dele falou: “Olha, vai no cemitério e acende vela para as almas”, mas ele está sem coragem. Aí eu fico pensando, tipo, o Roni é como eu, não acredita em nada, mas a gente não tem coragem. E eu não sei, gente, não sei, será que o cara morreu e ficou lá preso no lugar que ele morreu? Eu não sei dizer também, será que é coisa da cabeça do Roni? Assim, a impressão que eu tenho é isso, mas ele garante pra mim que não, que o cara tá lá. E agora ele não sabe também, já faz um tempo, né? Se o cara ainda tá lá, porque ele não vai mais pagar pra ver. Então, gente, o quê que vocês acham? Quê que é isso? Quê que é esse cara? Ele morreu, ficou ali e agora pra tirar ele dali? E o Roni também gostaria de saber se tem alguma possibilidade do cara grudar nele, vir atrás dele, não sei. Respondam para o Roni no nosso grupo do Telegram, o endereço também tá aqui embaixo, tá bom? Eu fiquei cismada, gente. Um beijo e até logo.