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título: crack
data de publicação: 18/05/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #crack
personagens: verena e seu irmão

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar pra vocês a história da Verena. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Verena tem um irmão e os dois foram criados com muito amor e, assim, os pais dedicaram todos os recursos financeiros na educação desse casal de filhos, né? — Então, Verena e o irmão. — Apesar dos pais operários, eles estudaram em escolas particulares, enfim, tudo o que os pais podiam dar ali de estrutura para que eles tivessem uma boa educação os pais deram. Quando eles terminaram o ensino médio ali, uma diferença de um ano, — o irmão da Verena é um ano mais velho que ela — quando eles terminaram o ensino médio, eles prestaram o vestibular, ambos passaram em universidades públicas porque tiveram um bom vestibular, tiveram um professor particular e começaram a cursar.

Ele em uma área financeira, Verena em uma área de humanas. 


Cursaram a faculdade — os quatro anos —, ambos conseguiram bons empregos… O irmão da Verena num banco, a Verena numa instituição de ensino e a vida foi seguindo… Verena conheceu Amilton e eles namoraram e casaram. Amilton professor de inglês, Verena coordenadora… Casal ótimo, o irmão meio afastado, trabalhando no banco e com algumas questões com os pais… — O que aconteceu nesse meio tempo? — O pai dos dois faleceu, a mãe ficou sozinha lá no interior e a Verena falou: “Bom, a gente tem que trazer a mamãe pra mais perto”. Aí, de cara, o filho já falou: [efeito de voz grossa] “Olha, não é problema meu. Eu tenho a minha vida, eu tenho as minhas coisas e eu não vou ter como cuidar da mamãe”, ele já foi, assim, claro. E aí a Verena trouxe a mãe pra morar com ela, eles se mudaram para uma casa maior, de três quartos e o Amilton nunca reclamou de ter a sogra morando junto, enfim, a sogra super na dela e também auxilia… Eles dividem ali as tarefas de casa, então, assim, nunca deu problema… — A gente pode chamar de Dona Neide. — Nunca deu problema a dona Neide morando ali com Amilton e Verena. 


E esse irmão não ajudando a mãe nem financeiramente… — Uma mãe que sempre deu suporte pra ele e tudo, né? — Não visitando a mãe… E a mãe, dona Neide ali um pouco triste porque, né? Poxa, é filho e o cara realmente, assim, nem aí… Até que um dia, no grupo da família que estava Verena, o irmão, dona Neide, algumas tias e alguns primos… O primo ali da Verena soltou uma indireta e ficou na dele, tipo, uma indireta sobre golpe.

E aí a Verena achou estranho porque esse primo nunca nem postava nada no grupo, de repente isso? Chamou o primo em particular e o primo falou: “Olha, seu irmão, que é meu primo também, deu um golpe aí em mim e no Fulano, que é meu sócio, porque ele tá trabalhando no banco, falou pra gente aplicar o dinheiro e depois ele disse que perdeu dinheiro, mas a gente acabou descobrindo que ele nem investiu o dinheiro, que ele pegou o dinheiro para ele”. [efeito sonoro de mensagem no Whatsapp]


E aí a Verena ficou meio ali sem acreditar, conversou com o irmão, o irmão negou tudo… E o primo, apesar do que aconteceu, disse que não ia dar queixa, nada, foi lá e saiu do grupo. E aí meio que ficou por isso mesmo, porque o cara negou, a Verena ficou dividida realmente entre acreditar no irmão e acreditar e deixou essa história pra lá. Mais uns meses se passaram e, de repente, chega a notícia de que o irmão de Verena foi demitido do banco. [efeito sonoro de tensão] Foi demitido do banco, recebeu a indenização e, nessa época, ele já tinha um apartamento dele, — um apartamento próprio — pegou esse dinheiro, vendeu o apartamento e ninguém sabia mais do irmão de Verena. Deram queixa, enfim, né? De desaparecimento e tal… Depois de um ano a polícia entrou em contato que ele estava preso. — Onde ele foi preso? — Ele foi preso numa operação na Cracolândia. O irmão da Verena tinha experimentado crack, estava viciado, tinha virado usuário de crack e foi preso numa operação na Cracolândia com um celular ali que ele não sabia explicar a origem.


Ele foi solto…  — Isso a gente está falando agora, do começo do ano… — A Verena levou o irmão pra morar na casa dela e aí os conflitos começaram. — Porque, assim, gente, a pessoa que ela tá nas drogas ela perde o freio, perde o limite ali das coisas, né? — Então, como ele não tinha dinheiro, ele começava primeiro… Primeiro ele começou a pegar o dinheiro da mãe, pegou o cartão de débito da mãe e começou a fazer saques. E a mãe, com medo de “ah, meu filho vai voltar para a Cracolândia” ficou quieta. Só que aí ele acabou com o dinheiro da mãe… A mãe tinha uma pequena reserva no banco, ele acabou com o dinheiro da mãe. E tinha a questão de quando ele se drogava, ele chegava em casa alterado, e aí o Amilton não deixava ele entrar… — E eu não tiro a razão do Amilton, gente. Não tiro a razão dele. — E aí a convivência foi ficando insustentável, até que o Amilton falou: “Olha, Verena, dona Neide, eu não suporto mais morar nessa casa desse jeito… A gente não sabe que horas ele chega, como ele chega… Ele já quebrou as coisas aqui, ele já roubou a senhora, ele já roubou a Verena e não tem mais como ele ficar aqui”.

E aí as duas choraram, pediram mais uma oportunidade ali para o Amilton e tal, e aí o Amilton falou: “Bom, vamos ver como é que a coisa desenrola”, conversaram com o irmão ali da Verena e ele falou que pelo menos não ia voltar para casa quando tivesse alterado, enfim… E aí mais um tempinho se passou e esse cara um dia simplesmente de manhã saiu e, quando o Amilton acordou, o cara tinha levado o laptop do Amilton, que é o laptop da empresa… Que ele dá aula de inglês no laptop da firma e esse cara levou… Levou e vendeu o laptop. O Amilton primeiro ficou muito, muito bravo, e depois ele tinha que resolver essa questão com a empresa — que cedeu o computador pra ele, que era funcionário — aí ele ligou, ele de nome office ligou para o RH, explicou a situação e disse se poderia não dar queixa porque ele teria que dar queixa do cunhado dele… E ele pagar o computador do bolso dele.


Só que aí o Amilton falou em casa, falou: “Agora chega, ou ele ou eu”. E aí as duas choraram, não decidiram, ficaram quietas e o Amilton pegou as coisas dele e saiu de casa. E agora está nisso. A Verena disse que é insuportável morar com o irmão, porque ele realmente ele rouba as coisas… Agora que o Amilton não está mais lá, ele está ficando violento e ela ama o Amilton ainda e ele disse que não volta se o irmão tiver ali, mas ela não quer botar… Verena não quer botar o irmão pra fora de casa, nem ela e nem dona Neide. Só que a casa ali é alugada pelo Amilton, Amilton nem falou nada assim do tipo “Ah, vamos… Vocês que tem que sair porque a casa está alugada no meu nome”, não. Ele continua, inclusive, bancando parte das despesas, mesmo tendo saído… — Porque ele também gosta da Verena, mas pra ele não dá mais, né? — E aí a Verena escreveu pra gente porque ela tá nessa… Tipo, o marido dela que ela ama saiu de casa. E eu disse pra Verena e digo para vocês que ele tem toda a razão, eu também sairia, né? Eu acho que a gente tem as nossas próprias limitações, uma das minhas limitações é lidar realmente com pessoas que usam drogas, assim, usuários de entorpecente é uma coisa que para mim é o meu limite. Eu não consigo lidar… É muita instabilidade, muitas surpresas diárias, assim, e o meu emocional não aguenta. E o Amilton não aguentou e saiu de casa. —


E aí a Verena fala: “Pô, mas é meu irmão…”. Ele não quer tratamento e eu também sou contra o tratamento compulsório. — Então, eu sou contra você colocar uma pessoa numa clínica sem que ela queira. Então, quem tem que querer sair dessa questão do crack é o próprio irmão da Verena. Agora, como ele vai fazer isso habitando nessa casa e causando esse caos e esse sofrimento na vida de Verena, dona Neide e Amilton, né? — Então a Verena está na dúvida entre falar para o irmão: “Olha, se vira, vai morar em outro lugar” e ter uma vida mais de paz e ter o marido dela de volta, porque daqui a pouco isso vai virar um divórcio, né? Então, de fora é mais fácil falar… Eu entendo que de dentro é muito complicado, mas eu acho que a Verena tem que pensar um pouco nela também, né? Mesmo quando o irmão não estava nas drogas ainda, ele nunca foi uma pessoa que participou da família e que estava ali presente para todo mundo, saca? — Nem financeiramente e nem emocionalmente. — Aí agora que ele está na situação que ele está, ele coloca toda a família nesse caos. 


Então, eu acho que tem uma hora também que a gente pode sim falar “Chega… Eu sei que você tem essa questão e eu não consigo lidar com essa sua questão agora”. Eu estou falando muito na questão da hipótese, porque é aquilo que eu estou falando, a gente não está na situação para saber o que Verena e Dona Neide estão passando, né? — Porque é irmão e filho ali, né? — Mas eu não deixaria na minha casa. Ia falar: “Olha, a hora que você quiser um tratamento…”, ou eu já pegaria uma grana e falar: “Eu pago uma pensão pra você dormir até você se reerguer e tal”, mas isso a pessoa também precisa querer sair das drogas… Mas enfim, mesmo nas drogas falar: “Ó, eu pago pra você dormir no lugar, mas aqui em casa não dá, né?”, enfim… E a Verena falou que já está causando situações no condomínio… — Porque eles moram num prédio, né? — Tem os três quartos? Tem. Um quarto que seria dos futuros filhos de Verena e Amilton quem está ocupando é o irmão, né? Mas, por exemplo, ele já roubou, furtou dois extintores do prédio pra vender, pra trocar por pedras de crack. 


E aí tem câmeras e viram e tal, e isso virou uma multa para Verena. Então, assim, ele não está sendo bem vindo nem no prédio mais… Daqui a pouco a Verena vai ter que devolver esse apartamento, que é alugado, e procurar realmente outro lugar. Então, veja, ele colocou toda a família numa situação de insegurança. — Eu acho que o apoio que a gente tem que dar e, sim, o irmão dela merece apoio, é até onde também a gente consegue ir, o nosso limite, né? — Então, Verena, eu acho que você tem que dar uma priorizada no seu relacionamento com seu marido, que é um cara bacana, que não deu queixa de seu irmão, que está disposto a ajudar seu irmão desde que seu irmão não esteja na casa que ele mora, porque realmente para ele não dá. — E eu acho que é um direito também de seu marido. — Então, agora é pensar o que você quer fazer de seu futuro também, né? Porque daqui a pouco também o Amilton fala: “Bom, vou seguir minha vida então”, né? É uma situação muito, muito, muito complicada. 

[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, olá, Déia, aqui quem fala é Mariana de São Paulo. Eu vim falar sobre a história “Crack”. Verena, na minha família eu tenho dois casos de pessoas que foram usuárias de crack, dois tios meus. Um faleceu devido a droga e o outro se reabilitou e hoje ele está há alguns anos sem usar nenhum entorpecente. O que eu posso te dizer é: Você está colocando em risco a sua segurança física e a da sua mãe deixando esse cara dentro da sua casa. Ele não vai melhorar enquanto ele não quiser melhorar. O meu tio que foi reabilitado, ele passou muitas vezes por internações e só quando o irmão faleceu, ele deu um clique e ele ficou mais de um ano internado para conseguir se livrar disso. E hoje é uma luta diária dele para conseguir se manter sóbrio. Então, meu conselho para você é: Dê uma sentença para seu irmão, do jeito que você puder dar, mas tire ele urgentemente da sua casa. 

Assinante 2: Oi, pessoal, meu nome e Caio, fala de Rio Preto, interior de São Paulo e eu queria deixar um conselho para a Verena. Lógico, respeito as opiniões em contrário com relação a internação compulsória, mas é uma medida drástica permitida por lei nos casos em que a pessoa, em razão da sua extrema adicção em relação a uma substância, não pode mais tomar decisões por si própria. No caso do crack, é uma droga extremamente viciante, é uma droga que destrói famílias e destrói futuros de pessoas. Então, quanto antes for essa atuação mais incisiva, melhor. Nos casos de vício em álcool, por exemplo, o prognóstico é um pouco melhor… Então, no caso do seu irmão, infelizmente, nesse estado em que chegou, é realmente muito interessante você tentar ajuizar uma ação de internação compulsória ou procurar um equipamento de saúde perto da sua casa e tentar internar o seu irmão. Porque, de fato, uma atuação muito permissiva só vai fazer com que ele mergulhe ainda mais nesse vício e isso a tendência, infelizmente, é só piorar cada vez mais. E isso vai com certeza ter reflexos muito indesejáveis na sua vida pessoal. Espero que isso tudo se resolva. Um beijão. 

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no grupo do Telegram, sejam gentis com a Verena. Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]

Pra quem ficou depois da vinheta, a Verena disse que a última do irmão foi vender a TV da sala… Levou e vendeu. Agora, tanto ela quanto a mãe trancam os quartos pra que ele não entre e roube as coisas. E ele já tentou roubar, tirar de casa a geladeira… Ele tirou tudo da geladeira, espalhou na cozinha e tentou tirar pelo elevador de serviço ali, mas ele não conseguiu sozinho. E aí agora a geladeira está danificada porque ele tentou tirar e vender. Então, gente, é muito complicado… É muito complicado conviver com uma pessoa que está do jeito que ele está agora no crack. E eu fico muito preocupada com a segurança mesmo de dona Neide e Verena, porque a Verena falou que às vezes ele fica violento. Então, tem hora que a gente tem que parar e falar: “Não, eu preciso me preservar também. Eu preciso preservar e pensar na minha vida e na vida da minha mãe”. Então, Verena, eu acho que você está numa situação muito difícil, mas eu acho que é a hora de você tomar a decisão. Então, agora eu vou mesmo, gente. Um beijo.

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.