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título: demoníaca
data de publicação: 28/10/2024
quadro: luz acesa
hashtag: #demoniaca
personagens: dona ana e dalila

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei aqui para mais uma história do quadro Luz Acesa… — Essa história é uma história que tem crianças, eu já estou avisando aqui de cara. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Dona Ana. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]


A Dona Ana hoje tem 73 anos — essa história aconteceu quando ela era uma criança e morava aí numa cidade do interior —  e na época da Dona Ana criança, as crianças eram muito soltas, assim, elas brincavam na rua, enfim… — Era tudo muito mais livre do que agora. — Era todo mundo pobre, um bairro pobre, as crianças todas brincando na rua e todas as crianças se conheciam. E tinha ali no bairro da Dona Ana, uma menininha chamada “Dalila”… E essa menininha ela sempre foi, assim, mais quieta, mais assim na dela e algumas crianças tinham medo do olhar da Dalila. Como a Dalila era? Eu não sei quanto tem a estatura mais ou menos uma criança entre 7 e 9 anos assim, mas imagina que todas as crianças tivessem, sei lá, um metro e dez — não sei se é maior, se é menor, enfim — ela bem menor, parecia que ela tinha uns cinco anos. E ela tinha uma expressão no rosto, assim, meio sarcástica, sabe assim? Meio irônica. — Pra uma criança é estranho, né? —

Na época as crianças não entendiam aquela expressão facial dela — que parecia uma expressão facial de adulto —, mas depois que dona Ana cresceu, ela entendeu que ali, sei lá, era uma ironia, um sarcasmo… — Ela tinha uma risadinha, sabe? — Mas Dalila ali brincava com todas as crianças também… Estavam todas correndo, estava todas com bola, jogando bola, enfim, estavam todas as crianças lá. Acontece que ninguém podia entrar na casa da Dalila. Era ela, a mãe e a avó e as crianças não tinham autorização para entrar na casa da Dalila. E o tempo foi passando, a Ana foi ficando mais amiga da Dalila e elas combinaram um dia de brincar a noite. Só que, assim, nenhuma criança podia brincar a noite, só que a casa da Dona Ana, a porta era amarrada com barbante, então era só desamarrar a porta e sair. — Não era a primeira vez que ela já tinha saído… Olha que perigo, gente… Olha que perigo. E as crianças saíam, fugiam, saíam pela janela, enfim, outra época… —

E aí foi combinado isso, que elas brincariam no quarto da Dalila. — Porque, assim, na casa de dona Ana tinha mais gente, não dava pra brincar lá dentro. — Na casa da Dalila, a mãe e a avó dormiam em camas de solteiro num quarto e a Dalila tinha uma cama que, até então, a Ana quando viu, não entendeu… Porque a cama da criança Dalila era uma cama de casal. — E era, sei lá, muito raro, uma criança… Nem tinha criança com cama de casal. — Ela notou que nas extremidades, nas pontas, nas quatro pontas da cama, tinham cordas… E aí a primeira coisa que Ana criança perguntou para Dalila é: “Meu Deus, por que tem corda na sua cama?”. — Na cabeça da Dona Ana era alguma coisa do tipo: “Ai, a cama está quebrada e amarraram com corda”. — E aí a Dalila falou pra ela: “Eu vou te mostrar porque “, e pequena Dalila, apenas olhando para a cama, empurrou a cama, tipo assim, um pouco mais pra lá, sem ninguém encostar… Ana, criança, ficou sem entender, tipo, como isso, né? 

E Dalila tinha tipo uma boneca dessas boneca que tem rosto de porcelana, em cima de uma cômoda, trouxe a boneca para cima da cama, sem tocar na boneca, tipo a boneca veio e caiu na cama. E aí a Ana ficou um pouco assustada, mas bem pouco, porque ela não estava entendendo e ela achou legal. E aí a Dalila falou pra ela assim: “Olha, eu consigo fazer um monte de coisa, eu consigo levantar as coisas, eu consigo… — detalhe — “machucar pessoas… Se eu imaginar que eu estou dando um soco numa pessoa, eu consigo dar um soco numa pessoa sem estar perto dela”. E aí a Ana ficou com medo, aí a Ana falou: “Mas você não vai me dar um soco, né, amiga?”, falou: “Não, você não, você eu gosto”. — [risos] Gente, duas crianças conversando… — E, a partir daí, pelo menos duas noites na semana a Ana ia brincar com a Dalila e brincava dessas coisas, mandava a Dalila arrastar as coisas… — Então a Dalila olhava para algum objeto e arrastava, arrastava cadeira, arrastava cama, arrastava o que você pedisse… — Jogava coisa na parede… E era a brincadeira das duas. — E quem ficava mandando ela jogar as coisas era a Ana… —

Até o dia que a Ana falou: “Pronto, agora eu quero brincar de outra coisa, me ensina a jogar as coisas?” e a Dalila olhou para ela, assim, bem séria e falou: “Eu não posso te ensinar porque num sou bem eu que jogo as coisas, tem alguém comigo que joga as coisas”, e aí a Ana falou: “Mentira, você não quer me ensinar o dom que você tem de jogar as coisas” e foi…. Pulou a janela e foi embora. [efeito sonoro de tensão] E aí foi a primeira vez que a Ana sentiu um puxão de cabelo. Ela já estava quase chegando na casa dela, e aí ela voltou até a janela da Dalila e falou: “Tá bom, então você tem que me ensinar”. Só que a Dalila ficou enrolando, porque não tinha como ensinar, né? Então elas ficaram nessa mais umas semanas, até que um dia todo mundo saiu pra brincar e a Dalila não saiu para brincar. — E agora entra na história um novo personagem, que é o padre da cidade, o Padre Rubens. — Nessa época que a Dalila parou de brincar, de sair na rua, o Padre Rubens começou a frequentar a casa dela. 

Passou aí umas duas ou três semanas sem que ela visse a amiga, e ela foi bater na janela… E quando ela viu a Dalila pela janela, ela não conseguiu entender, parecia que a Dalila ela tinha a mesma idade, ela estava menorzinha que as outras crianças, mas parecia que ela estava envelhecida e que ela tava até meio curva. — A Dona Ana hoje pensa que talvez ela tenha criado essa imagem na cabeça dela, mas na época foi como ela enxergou a Dalila: Pequena, criança, mas muito velha assim… Parecia meio doente, estranha. — E aí ela chamou: “Dalila, Dalila” e a Dalila não olhava pra janela… Ela viu a Dalila meio de lado, assim… E aí começou a correr um boato na cidade que tinha uma criança que estava possuída pelo demônio e que o Padre Rubens estava dando assistência, só que por ordem da Igreja Católica, ele não podia, sei lá, fazer um exorcismo, algo a mais… Ele estava só indo pra fazer oração e, nessa época, não estava indo só ele, estavam indo tipo as beatas orar. 

Seja lá o que a Dalila tinha, ninguém conseguiu tirar… O Padre Rubens foi ficando doente, doente, doente e pediu transferência da cidade e, depois de uns oito meses que a Dalila parou de brincar com as crianças na rua, um dia parou um carro lá, um caminhãozinho aberto desses para fazer a mudança e botou todas as coisas lá e elas três foram embora. — Da cidade… — Hoje, Dona Ana pensa que não era um demônio, a Dona Ana pensa que a Dalila era, sei lá, uma espécie de bruxa, alguma coisa assim… Porque a casa dela inteira era estranha e a mãe e a avó dela também eram estranhas. Então, hoje Dona Ana tem assim lembrança da cama arrastando, da cadeira arrastando, da menina olhando estranho para ela, assim, às vezes olhando com um olhar meio maligno, sabe? E aí quando ela sentiu puxando o cabelo, que ela sentiu nela, ela falou: “Sei lá, coisa doida”, e voltou lá… Eu jamais voltaria. Na época ficou, correu esse boato na cidade de que a criança estava possuída. — Pelo demônio. — Tinha vizinha lá que até falava tipo o nome do demônio… Depois que ela cresceu, ela tem quase certeza que a Dalila não era um demônio, era sei lá, uma bruxa, alguma coisa assim. — Mas eu achei com mais cara de demônio, né? —

E as cordas em volta da cama, a Dalila falou pra ela que às vezes ela ficava muito malvada, e aí a mãe e a vó amarravam ela. — Então, aí eu já fiquei pensando no Conselho Tutelar… Nem existia na época, né? Mas como que você amarra uma criança? Criança malvada? Não sei… Mesmo que ela seja demoníaca, você vai amarrar a criança demoníaca? Será que ela era uma criança demoníaca? As crianças tinham muito medo dela, assim, do jeito que ela olhava… E ainda mais ela falando que ela conseguia bater nos outros à distância… “Machucar”, não foi bater que ela falou, ela falou “machucar as pessoas a distância” e tal… E essa coisa de mover objetos, sei lá, poder da mente? Não sei… Dona Ana diz: “Andréia, não foi imaginação minha, porque eu ia na casa dela escondido, mas tinham outras crianças também que ela dava demonstração dessas coisas”, e aí as crianças ficavam mais assustadas, mas eu não me assustava, eu ficava curiosa. Dona Ana era uma criança curiosa, olha que perigo… E hoje a Dona Ana acha que elas eram bruxas. As três… A geração sabe? Vó, mãe e filha. —

Ela perguntava: “Mas cadê seu pai?” e ela falou: “Eu nunca tive pai, eu não nasci de um pai”. — Como que não nasceu de um pai, criança? Menina Dalila… Então não sei, vocês acham que era uma criança demoníaca? Ou era só uma criança, sei lá, com problemas que as pessoas não entendiam na época? Mas como ela arrastava as coisas com a mente? Como que ela puxou o cabelo da Dona Ana criança há, sei lá, quarteirões de distância? Poder da mente? E, ó, detalhe: Depois que apareceu Facebook, essas coisas, [risos] Dona Ana, com a ajuda da neta, tentou encontrar Dalila… Queria encontrar e perguntar, sabe agora? “Você é uma bruxa?”, podia ser uma criança só, sei lá, problemática… Ou uma criança demoníaca? A cidade achava que era demônio, que era uma criança demoníaca, possuída, ruinzinha… Podia ser só uma criança ruinzinha. O que vocês acham?

[trilha]


Assinante 1: Oi, gente, oi, Déia, aqui é a Jéssica do Rio. Dona Ana, a senhora conheceu uma pessoa que precisava de desenvolvimento espiritual pagão e não cristão. Ela poderia realmente ser uma bruxa, poderia estar sendo possuída por alguma entidade pagã, e pessoas das religiões judaico—cristãs não sabem lidar com essas possessões mesmo, né? Por isso que vem o padre, o padre começou a ficar doente e tal… Talvez se tivesse mais entendimento dessa parte, ela não tivesse que ter ido embora e tudo, mas a senhora se deparou com uma pessoa que precisava de um desenvolvimento de uma outra religião. 

Assinante 2: Olá, nãoinviabilizers, aqui é Paula de São Paulo. Conforme a Déia ia contando, me veio na cabeça uma mistura de Annabelle com Megan, [risos] com Invocação do Mal, com a Órfã… Nossa, imagino você criança vivenciando com a Dalila tudo isso. Eu acredito aí que sim, ela poderia ter aí um espírito obsessor, um espírito demoníaco junto com ela… Por isso que ela dormia sozinha, a mãe e vó dormiam no outro quarto… Quando ela estava, assim, fora de controle, elas amarravam… Espero que ela tenha conseguido essa ajuda após essa mudança dessa cidade. 

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo Telegram, sejam gentis com Dona Ana. Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]