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título: desejo
data de publicação: 31/08/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #desejo
personagens: kelly e marcelo

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Eu tô ficando viciada em contar histórias aqui, mas vamos mais uma então. Hoje a história de Kelly e Marcelo.

[trilha]

A Kelly é professora de inglês numa dessas escolas de inglês bem caras, bem legais, e que você tem a opção de fazer a aula lá na escola ou o professor vai até você, é bem mais caro isso, normalmente são executivos que acabam contratando esse tipo de serviço e a Kelly é uma dessas professoras que atende a domicílio. A Kelly tem 27 anos, é uma moça muito viajada já, muito inteligente, já com uma vida financeira estável apesar de jovem. Ela dá um monte de aula de inglês, tá bem, não tem do que reclamar financeiramente. E ela foi contratada pra dar aula pra um cara aí numa empresa, dentro da empresa, então inicialmente seriam aulas duas vezes por semana e depois aí se formasse mais turma, se mais pessoas da empresa ficassem interessados ela podia ir mais dias, mas inicialmente era só pra esse cara, duas vezes por semana. Então, ia lá de terça e quinta.

Então ela ia aí nessa grande empresa toda terça e quinta dar aula pra esse cara, pra esse executivo aí. E o cara estava lá aprendendo, fazendo aula dele, tudo certo, acabou não formando turma porque ele tinha uns horários complicados, então ela tinha que meio que se adequar aos horários dele. Ele era um chefão lá dentro da empresa então, ficou que ele não quis, ele, o chefe, ter aulas com mais pessoas da empresa, então era só ele. Ela ia, dava aula, ia embora e aí as vezes ele remarcava dia, essas coisas quando a pessoa tem a vida mais corrida, a gente acaba tendo que… Quem presta serviço, né? Eu também sou uma prestadora de serviço, a gente acaba tendo que se adequar aos horários aí das outras pessoas. E era assim a vida da Kelly.

E numa dessas vezes que ela estava saindo, que ela tinha terminado a aula, tinha um cara esperando o elevador ali onde ela ia também esperar o elevador, e esse cara ficou olhando muito, muito pra Kelly, muito… Tipo, ela olhando pra frente esperando o elevador e ele olhando pra ela, do lado dela olhando diretamente pra ela assim, e ela ficou até meio sem jeito, falou: “Meu Deus, vai chegar esse elevador aqui, eu vou entrar com esse cara”, mas o cara era muito bonito, ela achou ele muito interessante e o elevador chegou e tinha mais gente no elevador, então ela entrou, foi lá pro fundo do elevador e ele ficou perto da porta. Ele virou e ficou encarando a Kelly, e aí ela deu umas olhadas pra ele também e ficou naquilo. Isso foi um dia que ela tinha trocado de horário, que ela tinha ido numa sexta-feira. 

Chegou na terça que era o dia normal de aula dela, ela não encontrou o cara no elevador, ela terminou, era o mesmo horário, terminou, até deu uma olhada pelo corredor assim pra ver se via o cara e não viu, foi embora. Na quinta-feira mesma coisa, deu a aula, nada aconteceu, não encontrou o cara, foi embora, então do dia que ela viu esse cara, já tinha passado uma semana. Aí na outra terça-feira ela estava chegando na empresa e ela viu esse cara lá na catraca, e o cara também percebeu que ela estava lá, coração da Kelly disparou, né? Porque assim, ela tinha visto o cara só uma vez. Então você tem aquele primeiro encanto, né? Você olha, você dá uma paquerada, e aí passou muito tempo, você meio que esquece da fisionomia ou da sensação, né? E aí quando ela reencontrou ele de novo ela teve aquele frio na barriga, e falou: “Meu, o cara é lindo mesmo”.

Ela na catraca com o crachá lá de visitante pra entrar e o cara do lado de dentro da catraca, quando ele viu que ela estava ali ele esperou, ele parou, e aí ela ficou naquela “Meu Deus, volto correndo, vou?”, porque ela meio tímida também, ficou sem reação. E aí ela decidiu que ela não ia olhar pra ele e ela ia passar por ele, e seja o que Deus quiser. [risos] — Eu faria a mesma coisa, se é que não teria voltado correndo, porque eu sou muito tímida — E aí ela passou por ele, quando ela passou por ele… Sabe quando a pessoa pega sutilmente assim pela sua mão? Ele pegou assim, bem de leve na mão dela, e aí ela teve que dar uma paradinha, né? Aí ele falou: “Oi, eu te procurei aqui outro dia” — Olha, gente… — aí a Kelly disparou a falar, — totalmente compreensível, né? Eu também sou dessas, dá aquele nervoso. — aí ela falou: “Ah, não, é porque eu não venho aqui todo dia, eu dou aula de inglês, nã nã nã”, falou tanto, tanto, tanto que ele ainda segurando assim bem de leve na mão dela deu uma apertadinha e falou: “Respira” — Gente, que vergonha, [risos] ele ter que mandar a menina respirar? Ô, Kelly. —

E aí ela deu uma risadinha assim, e ele falou: “Ai, então quer dizer que você não trabalha aqui, por isso que eu não te encontrei”, ela não sabia mais o que falar, — Até eu estou tímida agora porque imagina a situação — aí ele soltou a mão dela sorrindo e virou e foi embora, que ele estava saindo. Meu, ele foi embora, não falou mais nada, não deu o telefone, falou nada e foi embora. E ela ainda tinha que subir pra dar aula, pensa a cabeça da pessoa. Kelly subiu, deu aula assim nas nuvens e meio sem entender, porque o cara foi muito assim, sedutor, mas foi embora, não deu o telefone, não falou nada, estranho também, né? E aí ela deu aula, foi embora aquele dia, e na quinta ela voltou pra dar aula de novo, terminou a aula. 

E aí, assim, ela deixava o carro no estacionamento de visitantes e todos os carros ficavam no estacionamento que era tipo embaixo assim, no subsolo. E aí ela desceu direto e, quando ela estava chegando no carro, quem ela encontrou? Encontrou o cara. E assim, parecia que ele estava por ali esperando por ela, depois ela ficou sabendo que realmente ele estava esperando por ela, que ele já tinha sondado a secretária do cara, porque quando ela disparou a falar, ela falou pra quem que ela dava aula, tudo… E ele já tinha sondado os horários dela, então ele estava de propósito lá no estacionamento esperando por ela… Ai, gente. Aí ela foi chegando no carro dela, e ela de novo resolveu fingir que não tinha visto ele. Aí ele veio vindo, aí veio chegando, chegou perto dela, ela já estava na porta do carro e ele falou de novo: “Oi” e pegou na mão dela de novo.

Gente, olha o cara, ele falou “oi”, pegou na mão dela, assim, quando eles conversaram ele já estava com uma puta cara de safado e ela — “sorrizindo”, “sorrizindo” é ótimo, né? — sorrindo e rindo, “sorrizindo”. Ela “sorrizindo” já com aquela carinha também de quem estava gostando. O cara chegou com aquele mesmo sorriso, ela também sorriu e o cara não me tacou um beijo nela? — Falou “oi”, encostou ela no carro e deu um puta beijo nela, gente. Kelly sem ar, né? Nas nuvens. E o cara lá beijando ela que nem louco, sem falar nada, ela não sabia nem o nome do cara, só sabia que ele trabalhava lá. E aí quando ele parava de beijar um pouco ela tentava olhar o crachá dele [risos] no pescoço, ou pelo menos ver o nome, né? — 

E beijando, beijando, aí quando ele meio que desceu a mão assim pra apertar os peitos dela, ela deu meio que um empurrãozinho nele, tipo, “Opa”, aí parece que o cara saiu do transe. E aí ele começou a rir, ela começou a rir, e aí ele falou: “Ai, desculpa, não resisti”. — Eu não sei se, assim, a situação me agrada muito, mas eu não sei se eu gosto dele. Até esse ponto da história que era pra eu gostar dele, eu não sei se eu gosto dele. — Aí ele rindo ainda se apresentou pra ela, falou: “Olha, meu nome é Marcelo, eu trabalho aqui no Marketing e te vi, te achei linda, já sei que você é professora de inglês”, e não deixou ela falar mais nada, beijou ela de novo. 

Aí do mesmo jeito que ele começou a beijar, ele parou de beijar, pegou o telefone dele e falou pra ela: “Me dá seu número” — Não sei, tô achando esse cara muito mandão, já tô com ódio. — Enfim, mas a situação toda ali era muito sensual assim, muito sexy e aí ela falou o número do telefone dela pra ele, ele não deu o telefone pra ela e ele foi embora. Ela não sabe nem se ele entrou num carro, se ele voltou pra empresa porque ela estava sem rumo. E aí ela entrou no carro, ainda deu uma ajeitada, porque ela estava toda descabelada, sabe esses caras que beijam que já puxam seu cabelo? — A coisa pegou ali, foi quente — Aí ela deu uma ajeitada assim e foi embora, foi pra casa, isso era uma quinta-feira.

No sábado de manhã, a Kelly dava aula lá na escolinha de inglês, lá na escola chique de inglês e ela estava na aula, e no telefone dela viu que estava entrando um monte de mensagem, e que ela olhou era de um número desconhecido, já deu aquela palpitação, né? Só podia ser ele. Aí ela terminou a aula assim meio correndinho, deu até uma despensadinha mais cedo nos alunos e foi ver o que era. E era realmente ele perguntando onde ela estava, o que ela estava fazendo e o que ela estava vestindo. Sabe já naquele tom que já vai ali dar o início de uma putaria online? Já estava nessa vibe o cara. E aí ela respondeu só com um “oi” porque ela falou: “Pô, eu já vou entrar nesse clima? Não vou”, e aí ela só mandou um “oi” com uma carinha feliz. E eles começaram a conversar por mensagem e também por mensagem de voz, e ele acabou chamando ela pra tomar uma cerveja naquela tarde. E assim, um detalhe que esqueci de falar: ele não usava aliança, nada, mas ela também não tinha perguntado nada, mas ele não tinha aliança, não tinha nada.

Eu acho que nos tempos de hoje a gente tem que ser direto, tem que perguntar “E aí, você é casado? Você namora?”, porque aí você já sai dessa roubada, entendeu? E aí ela não perguntou nada, ela continuou conversando. Como a Kelly me disse assim, tinha até um instinto sabe, de perguntar? Mas ela achou melhor não porque o cara era muito gato e não sei, eu acho que aí a gente cai também numa coisa de ser meio hipócrita, porque de repente se ele falasse que ele era casado, a Kelly não sabe se ela ia resistir, então ela não perguntou. Então eu acho que é por aí o caminho, a gente meio que sempre sabe, eu acho pelo menos, né? Então, quando a gente decide não fazer as perguntas importantes a gente também tem um pouquinho de responsabilidade nisso, né? Então assim, você podia ter perguntado, o cara podia ter mentido, é uma situação. Mas aí também ele estava sem aliança, ela não perguntou nada.

Eles marcaram de tomar essa cerveja à tarde e, nesse papo que eles trocaram no WhatsApp, ele já foi um pouco mais quente, ela correspondeu e ela já foi preparada pro crime, ela já foi sabendo que dali daquela cerveja provavelmente eles iam parar em algum lugar e eles iam transar. Então ela já foi certa disso, né? Kelly, nossa amiga, foi maravilhosa, colocou um vestido e tem um porquê do vestido… Porque eles trocaram lá umas putarias e ele pediu pra que ela fosse ou de saia ou de vestido, sem calcinha. [risos] — Ai, gente, pensa… E você já sabe, você vai pra um lugar, o cara pediu pra você ir sem calcinha… Você já vai preparada, já dá aquela geral que vai rolar, né? — E aí tomaram a cerveja, o cara muito assim alucinado nela, muito, muito vidrado nela, muito assim pegando, aí tomaram a cerveja que ela nem sentiu o gosto e saíram de lá do bar que eles estavam, isso era, sei lá, umas três horas da tarde.

A Kelly tinha ido com o carro dela e o Marcelo estava com carro dele, então eles tiveram que combinar ali no bar mesmo pra onde eles iriam e ficou decidido que eles iriam pra casa da Kelly. A Kelly mora sozinha, então eles decidiram que eles iam pra lá, pra casa dela. Ela passou por mensagem pra ele o endereço, porque eles podiam se perder ali no trânsito, ele estava seguindo o carro dela, mas podia perder o carro. E aí ela deu aquela aceleradinha mesmo pra chegar antes porque ela tinha que dar uma ajeitada na pia, [risos] tipo, guardar uns copos sujos dentro da lava louça pra não ficar tão zoneada a casa. Então ela foi muito rápido e chegou primeiro na casa dela, deu uma ajeitadinha ali e o cara chegou, ela autorizou que ele subisse… — Aqui eu já faço a minha observação: eu jamais faria. Tudo bem que o cara trabalha lá, ela sabe onde o cara trabalha, mas, sei lá, né? Levar pra casa assim? E se o cara fosse um assaltante? Mas, né, eu já tô dando esse spoiler aqui que ele não é um assaltante. —

Então, lá no bar, o cara já tinha metido a mão por baixo do vestido dela, o negócio já estava pegando fogo. Quando ele chegou no apartamento da Kelly, ele entrou, a Kelly fechou a porta, no que ela foi falar “Fica à vontade”, sabe? Esse papo básico que a gente fala quando alguém chega na casa da gente? Ele encostou a Kelly na parede ali da sala mesmo e ali eles treparam, porque não foi uma transa, eles treparam, foi assim, uma coisa maravilhosa. E ali ele catou a Kelly de tudo quanto é jeito, perguntei para a Kelly: “Usaram preservativo?”, “Simmmm”, Kelly respondeu que sim, então tá ótimo, então dá mesmo. — Dá a vontade. Tá protegida, dá mesmo. — E aí assim, foi uma loucura, a Kelly falou que foi uma loucura, mas ele ficou com ela até umas seis e pouco da tarde e depois falou que tinha que ir embora.

E aí Kelly e Marcelo eles entraram nesse ritmo, então, no domingo de manhã o cara apareceu na casa dela. — Não gosto, se sou eu já não atendo, porque nem combinou, mas… — Ele já apareceu na casa dela, comeu a Kelly de tudo quanto é jeito no domingo e aí, na segunda-feira, ele saiu do trabalho, perguntou o que ela estava fazendo a noite, passou na casa dela, treparam, treparam, treparam e, assim, virou uma loucura. Todo dia esses dois trepavam, todo dia. E por mais que estivesse muito bom, — Porque, gente, quem não gosta, né? — a Kelly, não sei, ela tinha um ali, um feeling que tinha alguma coisa errada, sabe quando você tem ali uma vozinha falando: “Calma lá”, mas aí a hora que ela via ali aquele cara pelado de pau duro na frente esquecia um pouco esse feeling e mandava ver. 

Então eles ficaram nessa de trepar sem parar uns dois meses, e aí que tá o detalhe: eles não saíam. Ele só ficava na casa da Kelly, então às vezes ela queria, sei lá, pegar um cinema ou ir com ele comer fora e ele não queria, ele sempre dava uma desculpa, falava não, que ela era muito gostosa e preferia ficar com ela em casa… — Gente, tem coisa aí, né? — E aí aquela coisa, ela não conseguiu separar ali o sentimento daquela fodelância toda e ela se apaixonou pelo Marcelo. E começou a querer mais, ela continuava dando aula, mas lá na empresa eles só falavam “oi, oi”, e fingiam que nem se conheciam direito, e ela começou a querer mais, então ela queria dormir de conchinha e ele nunca dormia lá, ele nunca passava a noite com ela, ele ia lá e eles trepavam até ele ir embora. 

E ela queria, sei lá, fazer uma viagem curta, ela queria namorar, e o cara queria foder. E aí ela colocou ele na parede e falou: “Então, a gente nunca conversou direito sobre isso, mas você já me falou umas duas vezes que você não tinha ninguém, mas você não sai comigo pra lugar nenhum, a gente só fica aqui, você só fica umas horas comigo e eu quero saber pra onde isso vai. Se a gente vai ficar só nisso, se a gente tem possibilidade de algum futuro?”, ela estava lá na casa dela, eles estavam lá, eles já tinham acabado de transar e ela colocou ele na parede, não do jeito bom, [risos] não encostou ele na parede e trepou com ele, não. Ela colocou ele na parede mesmo de pressionar.

E aí ele virou pra ela e falou: “Olha, então eu vou ser bem sincero com você, eu sou casado”, acho que nesse ponto da história o Brasil já desconfiava disso, né? Que alguma coisa tinha errado ali, que o cara não ficava, não dormia com ela, não saía com ela pra lugar nenhum, não apresentava ela pros amigos e pra ninguém, então alguma coisa tinha. E aí ele falou que ele era casado, que ele gostava muito do que eles tinham, mas que ele não ia largar a esposa. A Kelly na hora ela ficou assim, passada não é a palavra porque ela já desconfiava também, mas ela ficou triste não chorou na frente dele, mas depois que ele foi embora ela chorou, porque ela já estava até o pescoço envolvida, estava carente, se envolveu demais e agora não conseguia sair. Ela foi bem sincera comigo: sabendo que ele era casado, ela não pensou em terminar com ele e romper ali. 

Então ele foi embora, no domingo ele não escreveu, não falou nada. Aí na segunda-feira ele mandou um “bom dia” pra ela e aí ela já ficou toda acesa, né? Falando: “Ai, gente, desculpa, o cara trepa pra caramba, tem um oral maravilhoso, eu vou pensar depois”. E aí nesse rolo, o tempo foi passando e a Kelly já estava nessas com ele há uns seis meses e, nisso lá na firma, ela tinha feito algumas amizades assim, tinha até saído com algumas meninas lá pra uma happy hour e tal. E ela fez amizade com uma menina de lá e ela acabou contando pra menina que estava saindo com o Marcelo, e isso foi muito importante. Ela contou pra essa menina que estava saindo já há seis meses com Marcelo e que ela sabia que ele era casado, que ele não ia assumir o relacionamento deles, mas que ela gostava dele. Ela estava tomando uma cerveja com essa menina e contando. 

E a menina olhando pra cara dela, aí ela terminou de falar, e a menina falou: “Ué, mas o Marcelo? O Marcelo não é casado”. — Oi? Gente, para tudo, o Marcelo mentiu que ele era casado, mas ele não era casado, nunca foi casado… — A menina até contou que ele já tinha saído com umas meninas lá do trabalho, tinha até assumido o namoro com uma, tinha terminado, mas que assim, ele era completamente solteiro. Por que que ele mentiu pra Kelly que ele era casado? Quem que mente que é casado? Porque geralmente é ao contrário, a pessoa mente que tá solteira e é casada. E ele mentiu pra ela, falou que ele era casado e não era. E ainda a Kelly falou: “Mas não, gente, então ele casou e você não sabe”, ela falou: “Não, eu conheço a família do Marcelo, conheço todo mundo, não é casado, ele é solteiro, solteiríssimo, faz balada, tá sempre por aí, tem um Insta. Você já entrou no Insta dele?”, e ele tinha falado pra Kelly que não tinha Insta. 

O insta dele tinha cadeado, mas aí a menina abriu no dela e a Kelly viu, tipo, vida de solteiro, baladeiro, e assim, tudo ao contrário que ele falou pra ela e aí que ela ficou em choque e falou: “Meu Deus do céu, por que que esse cara tá mentindo pra mim?”, no fundo ela tinha uma desconfiança, mas ela não queria acreditar que fosse aquilo, e aí ela resolveu confrontar o Marcelo novamente. — Eu já tinha falado pra vocês que eu não gostava desse Marcelo, né? Então agora eu tenho ódio mortal dele. — Escuta só o que esse infeliz falou… A Kelly chamou ele lá no apartamento dela e já mandou a real de cara, já veio beijando ela, tudo, que ele era sempre muito assim louco por ela. Já veio beijando ela, tudo, e ela falou: “Não, pode parar. Eu quero saber o quê que tá acontecendo? Por que que você mentiu pra mim que você é casado sendo que você nunca casou? Você não é nem divorciado, nada. Você nunca casou, você é solteiro, nem namorada você tem, eu já sei de tudo. Por que você tá fazendo isso comigo?” —

Aí ele enrolou, enrolou, ela pressionou, pressionou e o cara virou pra ela e falou a seguinte coisa: “Kelly, eu sou alucinado por você. Você… Nossa, é uma garota muito legal, mas a gente não combina”. — Como assim? Não combina o quê, o signo? Combina o que, temperamento? — Aí ela falou: “Não combina? Como assim não combina?”, aí ele falou pra ela: “Eu sou um cara atlético, um cara que malho e você, né?” e parou… O que ele não teve coragem de verbalizar, mas que ele estava jogando na cara da Kelly, é que a Kelly era gorda. E aí ela falou pra ele: “Termina a frase, é isso que você quer falar? Que eu sou gorda? Você não me apresenta pra ninguém, você não sai comigo porque eu sou gorda, é isso?”, e aí ele falou que era isso, que ele não se sentia bem porque ele achava que ele ia ser muito cobrado, — Ele ia ser muito cobrado, gente? — que estava bom assim, que eles se curtiam e que ele achou que pra ela esse arranjo estava bom também, e aí sim que ela ficou em choque, né?

Olha, não sei nem o que dizer… — Eu acho que ela já tinha que ter dado uma cadeirada na cara dele, mas não deu. — E ele ainda tentou ficar com ela, hein? Tentou abraçar ela, beijar ela e ela falou: “Não, vai embora”. Então, veja só, Marcelo solteiro, desimpedido, um cara com a situação financeira estável. Ela ficou sabendo lá no dia que ela estava conversando com a menina que ele também morava sozinho e não tinha uma esposa, não tinha família, mas ele não morava, tipo, com o pai, ou com amigos, nada, ele morava sozinho. Então… Poxa, se ele não tivesse mentido, ela podia ter ido também na casa dele, mas nunca foi. E é isso, ele falou na cara dela que não se sente bem pra apresentar ela pros amigos, nem pra ficar andando com ela de mão dada por aí. — Falou desse jeito: “de mão dada por aí” — Só que ele gosta dela, que ele tem muito tesão nela e ela também tem muito tesão nele, tipo, a química deles bate super.

Mas ela quer algo mais e ela merece, toda mulher merece algo mais, né? Só que assim, ela é apaixonada por ele, por esse elemento, esse cidadão de bem — porque isso aí é o cidadão de bem, né? — e ela não sabe como sair disso, porque às vezes ela tem umas recaídas e acaba ficando com ele de novo. A Kelly tem esperanças que com o tempo ele vá se acostumando com a ideia de um namoro, vá se acostumando com a ideia de conviver com ela em sociedade mesmo, apresentar ela pras pessoas, mas ó, só por essa frase, né? Ela tem esperança que ele vá se acostumar com a ideia? Quer dizer, poxa, já não tem cara de que é uma coisa boa, né? Eu não sei, pra mim não dá. Pra mim não dá ficar esperando o cara decidir o que ele vai fazer pra você decidir a sua vida? Você vai se pautar pelo outro? E um canalha, né? Porque se ele tem vergonha de sair com ela na rua, ele não merece nem pisar o chão que ela pisa. 

Mas enfim, essa sou eu, né? E eu sei também que é muito difícil quando a gente tá dentro do relacionamento. Ver de fora é uma coisa, mas quando você tá envolvida, que você tá apaixonada, é complicado sair. Eu entendo essa parte, mas eu acho que tem que dar uma respirada e dar uma pensada no que você quer para sua vida. Porque assim, o que eu falei pra Kelly: “Ele é um pau amigo? Poxa, é um cara bacana pra trepar, e aí você vai ter ele ali um stepzinho pra isso? Se os dois concordam, não vejo problema”, só que não, a Kelly não quer isso, a Kelly quer um companheiro, e ele não vai ser esse companheiro, então aí, né? Ela quer uma coisa que ele não pode dar, o cara já é esse cara aí que, né…

Ai, não sei gente, o que vocês acham? Eu acho que é roubada, acho que ela já tá nessa cilada e que ela tem que sair dessa cilada. Entendo toda a parte do sexo que é boa, mas, ai, não sei. Tem tanto recurso hoje em dia, sei lá, falem aí o que vocês acham. Eu fiquei brava com esse cara aí. Ódio. Morre, Marcelo. Não, mentira, se não daqui a pouco vão achar que eu tô querendo que o cara morra, mas, poxa vida…

Então, o debate tá aberto lá no grupo. Lembrando que a gente tem um grupo pra discutir as histórias, que chama Não Inviabilize, e é isso. Conversem com a Kelly aí, sejam gentis e, ai, vamos falar mal do Marcelo, né? É o que resta.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.