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título: desodorante
data de publicação: 28/04/2021
quadro: amor nas redes
hashtag: #desodorante
personagens: karina e daniel

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei para mais uma história e, assim, essa história não é pra criança. Então se você tá aí com uma criancinha na sala, por favor, tire a criancinha, [risos] ou escute em outro horário, ou de fone, tá bom? Não é uma história para crianças. Dito isto, eu quero deixar aqui um aviso apropriado, uma indicação muito boa, que é o podcast da minha amiga Priscila Armani, o podcast dela é o “Sexo Explícito” e lá ela fala de vários assuntos bacanas, traz vários profissionais, inclusive, profissionais da saúde e aborda vários temas referentes aí a sexo, sexualidade e práticas sexuais, fetiches, um monte coisa. Tá bom? Então vou deixar aqui na descrição o link para o podcast da minha amiga querida Priscila Armani, “Sexo Explícito”.

A história que eu vou contar pra vocês hoje é a história da Karina e do Daniel, quem me escreve é a Karina. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Karina e o Daniel se conheceram num aplicativo de relacionamento, então eles conversaram por vários meses assim, super apaixonados e resolveram se encontrar. — A gente está falando de uma história bem antes da pandemia. — E aí nesse primeiro encontro o Daniel levou a Karina para jantar, foi tudo lindo, maravilhoso. O Daniel muito tímido… — Ex garoto de igreja, sabe? — Ex garoto de igreja, os dois se deram muito bem e o namoro foi ali caminhando. Com dois meses de relacionamento, eles resolveram que era hora de dar o próximo passo. Então eles resolveram transar.

Eles não conversavam muito sobre isso, o namoro foi ali esquentando e, de repente, surgiu a ideia de “Ah, vamos para um motel”. Só que assim, eles resolveram planejar — O que é bacana também, né? — Então, ah, escolheram um motel, importante — importante e importante — camisinha… A Karina escolheu uma roupinha legal e clima… Muito clima. Ia rolar lindamente assim. Só que, quando eles chegaram lá, a coisa foi esquentando, esquentando e aí o Daniel pediu pra ir até o banheiro. A Karina levou uma roupa pra se trocar lá, uma lingerie bonita e tal, o Daniel [risos] resolveu levar a própria toalha, porque ele não confia em toalhas de motel. — Sei lá. [risos] —

E aí as coisas estavam todas no banheiro, tantas as coisas que a Karina levou, quanto as coisas que o Daniel levou tava tudo ali no banheiro. E aí, gente, o Daniel não saía mais do banheiro… Não saía. Karina esperou, deu meia hora — Meia hora já tá bom… Por mais que ele tivesse com uma dor de barriga, alguma como coisa assim, já tava bom, né? — E aí esse cara não saía do banheiro de jeito nenhum. E a Karina, com meia hora, meia hora e pouquinho, foi lá e bateu na porta, tipo: “amor, tá tudo bem aí? Posso te ajudar em alguma coisa e tal?” E aí o Daniel começou a chorar, chorar alto… E aí a porta estava trancada, mas a Karina até deu uma forçadinha ali e Daniel abriu. E ele não falava nada, gente, ele só chorava, chorava, chorava e chorava…

E a Karina já desesperada porque ele estava chorando bastante, e aí ele começou a falar que ele estava com dor, com dor, com dor e que ele precisava ir para o Pronto Socorro e a Karina em choque assim, a Karina não dirigia, era o Daniel que dirigia, e aí eles tiveram… O Daniel não conseguia se mexer ali no banheiro, eles tiveram que chamar o SAMU. Chamaram o SAMU, o SAMU veio, o Daniel tava DO MESMO JEITO que ele estava no banheiro, imóvel. E ele não queria sair assim, não deixava ninguém tocar nele, só falava que estava com dor. E aí o cara do atendimento ali do SAMU foi conversando com ele assim com calma e tal, perguntando o que ele sentia… O Daniel foi se abrindo com o cara, a Karina tava mais afastada, mas ela conseguia ouvir tudo…

E aí o choque, gente… O Daniel estava com um tubo de desodorante, desses pequenos, tipo rollon, dentro do ânus… Ele colocou ali o desodorante e o desodorante entrou. E aí a Karina muito em choque, né? Muito em choque mesmo. O cara do SAMU saiu do banheiro, né? Falou: “Bom, já sei o que é, vamos remover. Pega a maca pra ele não se mexer tanto tal”. E aí levaram o Daniel, a Karina foi junto… O carro ficou lá no motel, o gerente tirou lá da vaga, acho que eles iam usar o quarto, sei lá, para outro casal e estacionou lá dentro do motel em outro lugar e ela foi com ele. E, assim, gente, ela não sabia o que pensar, né? Porque ele tava com muita dor, ele tava muito constrangido, assim… Poxa, o cara estava com um tubo de desodorante no ânus, né?

E aí a Karina ficou com ele até onde deu ali, né? depois ele foi pra ver se ia precisar de cirurgia ou não. Não precisou de cirurgia, conseguiram retirar, só que ele ia ficar lá no hospital aquele dia e a Karina foi embora. E aí ela ficou naquelas, né? O que eu faço agora? Porque ela gostava dele, mas era um namoro muito recente. — E vamos combinar que é esquisito mesmo você estar com um cara no motel e, de repente, o cara começa a chorar e aí o cara está com um tubo de desodorante… Sabe? Preso ali. — E aí ela ficou na dela, falou: “não vou mais, não vou mais ligar, nada…” Só que aí deu dois dias, e ela estava preocupada, né? E ela mandou uma mensagem pra ele, ele respondeu no dia seguinte falando que estava com muita vergonha e tal, que queria falar com ela. E ela falou que tudo bem, “vamos conversar, mas vamos conversar por telefone. Eu não quero te ver agora, achei esquisito”. — E tudo bem, né? Ela tem direito também de não quero encontrar. —

E aí o Daniel explicou para Karina que, antes de qualquer relação sexual que ele tenha, ele precisa de uma estimulação anal. E aí ela ficou mais chocada ainda, porque era muito formação, muita intimidade para um namoro de dois meses e aí ela ficou sem saber o que falar no telefone ali. E ele explicou para ela que era isso, que ele não sentia atração por homens, ele não tinha desejo por homens, mas ele precisava de uma estimulação anal, era uma coisa que ele gostava para ter ereção. E a Karina ouviu tudo e ficou naquelas… Era uma coisa que talvez ele tivesse que falar antes, — Mas como ele ia falar isso também, né? “Olha, então, a gente vai para o motel, mas eu preciso de coisinhas… [risos] Não tinha muito clima para falar. —

E aí ela ficou meio em choque, desligou o telefone… No dia seguinte ele ligou pra ela… Por que o que era a ideia do Daniel? De conversar com ela mesmo sobre isso e falar das questões dele. — Olha só, gente, por isso que eu indiquei aqui o podcast da Pri… Muitos caras tem, sei lá, desejos que não são tão convencionais, tão comuns e, por causa de preconceito, acabam se metendo numa dessas de colocar um tubo de refri… Refrigerante não… [risos] Desodorante no fiofó, né? O cara, ele queria comprar um pênis de borracha e não tinha coragem. Sendo que, se você pesquisar, se você jogar na internet “pênis de borracha” você acha mil sex shops ali que vende isso. O cara podia comprar online, sem ninguém ver a cara dele… Mas só o fato dele fazer um cadastro, sabe? Colocar o cartão dele em um site desse para comprar um pênis de borracha, já deixava o cara paranoico. —

Então ele tinha várias questões dele em relação a isso, e aí Karina falou: “Olha, é melhor a gente dar um tempo nesse namoro. É muita informação pra mim, mas vamos continuar amigo, vamos continuar conversando, né?” Ele ficou mal, ela ficou mal, mas era uma coisa que não dava ainda pra Karina absorver, tudo de uma vez. E aí eles continuaram ali o relacionamento deles de amizade, eles tinham se conhecido num site de relacionamento, então eles não tinham nada assim como lugares em comum, mas às vezes eles faziam coisas juntos, tipo, ir no cinema ou “vamos comer uma batata?”, sabe assim? E o Daniel gostando ainda da Karina, mas a Karina já meio desencanada por causa dessa questão.

E aí a Karina acabou se abrindo com uma amiga dela sobre isso, elas acabaram rindo da situação inusitada do desodorante e tal, e aí essa amiga da Karina falou: “Bom, você não é amiga dele agora? Porque você não dá esse presente do sex shop pra ele? Vai lá, compra um pinto de borracha e dá pra ele. Não é o que ele quer?” E aí foi o que a Karina fez. A Karina foi e comprou esse pinto de borracha. Não tinha coragem de dar pessoalmente e mandou pelo correio, fez mil. — Muito bem, Karina, não fez surpresa. Falou: “Olha, vai chegar uma coisa pra você do correio, é uma coisa particular e não abre na frente de ninguém” — E aí ele recebeu o pênis de borracha, não falou nada, não comentou nada — Com ela, de nada. — Mas dali uma semana ele chamou a Karina para ir ao cinema e aí no cinema ele se declarou para ela, eles se beijaram e eles voltaram a namorar. E eles casaram. [risos]

E eles tiveram dois filhinhos e, tudo bem, entendeu? E hoje eles têm vários brinquedos que eles usam ali na hora do sexo e tal, e eles se dão super bem. E a questão do Daniel era mais a estimulação anal mesmo, não a penetração… E ele acabou usando o desodorante ali porque ele não tinha noção, nem queria pesquisar porque achava que “ah, como que homem faz isso?” Tem muito machismo também, um pouco de homofobia, né? Nessas questões aí… E é uma história de amor, gente. É uma história de amor que deu certo e deu muito certo, eles estão bem, eles estão felizes e se acertaram, inclusive, sexualmente ali e tudo rolou. — Agora pensa, né? — Qualquer pessoa ali no lugar da Karina, talvez tivesse cortado contato de vez assim, né? Porque o cara tá ali, sei lá, com um desodorante no ânus…

Não era primeiro encontro, mas era a primeira vez que eles iam fazer sexo, então, sei lá, ela podia ter ficado mais assustada, né? Mas não ficou, encarou, virou amizade e depois voltou a ser um namoro, que virou casamento, que virou filhos e eles estão bem, até hoje super bem… E aí, lógico [risos] que eu escolhi essa história diferente, mas que é uma história de amor com final feliz. Não é lindo? [risos] Eu achei lindo. Inclusive, eu achei muito legal que essa amiga deu a ideia de “ah, compra você então esse pinto de borracha, se esse é problema…” Se o problema é um pinto de borracha, compra o pinto de borracha, sabe? [risos] Eu achei ótimo. E fica aí essa história de amor pra gente pensar, que o amor pode estar aí em todos os lugares e, que por mais que a história parecesse que ia pra um rumo muito ruim, de Picolé de Limão, é um Amor nas Redes. Amor, gente, amor… E é isso, o amor é lindo.

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, Oi, Não Inviabilizers, tudo bem? Eu sou May, falo de Fortaleza e achei bem interessante essa história. As colocações que a Déia fez são bem pertinentes, tem muito envolvido aí em relação à heteronormatividade, machismo… Até mesmo masculinidade tóxica. Mostrando que isso pode causar danos não só às mulheres, mas também aos homens, literalmente. E quero dar parabéns aí pra Karina por ter se permitido viver, se desprendido de alguns tabus e construído essa relação que teve um desfecho aí super bacana, muito lindo e desejo muitas felicidades ao casal. E fica de reflexão pra gente, né, mulheres heterossexuais? De que o amor realmente pode estar aí em vários lugares e de formas não tão convencionais. Um beijo.

Assinante 2: Nayra do Rio falando. Essa história tinha tudo para virar um baita Picolé de Limão, mas o conselho da amiga da Karina foi certeiro e crucial pra que o final fosse feliz. No mais, fica a lição de que a gente super precisa normalizar o uso de brinquedos como outras formas de estimulação sexual e que eles não, necessariamente, precisam ter um formato fálico pra proporcionar prazer a quem tá utilizando. Felicidades ao casal.

Déia Freitas: Um beijo [risos] e eu volto logo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.