título: destino
data de publicação: 15/11/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #destino
personagens: marina e um cara
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão, e hoje a história é trágica. — Então já fica aí o aviso que tem tragédia aí no meio da história. — A história que eu vou contar hoje para vocês é a história da Marina. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Marina conheceu um cara — Num aplicativo. — e começou a sair com esse cara. Estava tudo bem assim, eles estavam se curtindo e tal, não era nada muito sério. — Para o cara. — Mas a Marina já estava assim meio apaixonada… E aí eles resolveram fazer um bate volta aí para uma cidade perto, para passear, tomar um sorvete, passar o dia lá e voltar à noite. E aí assim eles fizeram. Foram, chegou lá, o cara já começou a dar defeito… Então, assim, eles tinham combinado que eles iam pra cidade X e fariam determinados passeios e parece que o lugar lá tinha uma comida típica muito bacana que a Marina queria comer e tal, e aí chegou lá o cara não queria passear, não queria fazer nada.
O cara queria parar tipo num motelzinho de estrada e ficar com a Marina lá, passar o dia. — Só que, assim, se fosse para ficar num motel, ela ficava na cidade deles, né? Uma cidade grande, tinham mais opções de motel, e não um motelzinho de beira de estrada. — E aí a Marina falou que não, falou: “Não, a gente vai cumprir a programação que a gente ia cumprir”. E aí, beleza, o cara ficou emburrado, fez tudo, assim, de muita má vontade. A Marina falou que foi um dia péssimo. — Péssimo, péssimo, péssimo… — Eles iam ficar até a noite, mas aí quando foi lá pelas duas e pouco da tarde esse cara falou: “Eu não aguento mais, vamos embora”. — E ele estava azedo, né? —
Aí a Marina achou melhor também, porque não estava curtindo nada… Já sabia que dali para frente eles não teriam relacionamento nenhum. E aí eles foram embora… — Detalhe: a Marina queria comer e tal, e ele não queria parar em lugar nenhum para comer lá nessa cidade que eles foram. — Então ela conseguiu, tipo, comprar um sorvete na rua, — Porque ele não parava de andar. — e ela estava com fome. E aí ele deve ter ficado com fome também, e parou aí num lugar famoso na estrada. — Que a gente foi chamar de “Rancho do Pônei”. — E aí eles ficaram ali no Rancho do Pônei, a Marina comeu um milho e esse cara comeu lá umas outras coisas.
E aí enquanto ela estava lá comendo milho, ele falou: “Olha, eu vou no banheiro e já volto”. E aí ele foi no banheiro e não voltava, não voltava, não voltava… Este cara, gente, foi embora… — Esse cidadão foi embora, largou a Marina no Rancho do Pônei. — E, detalhe: a bolsa da Marina com documento, com tudo, ficou no carro desse idiota e ela estava lá com o milho, com a conta e sem nada, sem dinheiro, sem a bolsa, sem celular, sem nada… — Ela desceu do carro, eles iam pegar só alguma coisa, ela tinha um dinheiro no bolso… No final, esse dinheiro que ela tinha nem dava para pagar as coisas que… Porque ele também comeu, né? —
E aí ela ficou desesperada, ela foi até atendente ali do Rancho do Pônei e falou: “Sabe aquele cara que estava comigo?” — E só tinha eles ali, porque era um horário, né? — Aí ela começou a chorar e falou: “ele foi embora, me largou aqui”, e ela estava nervosa… Estava muito nervosa. — Um detalhe, gente: eu sou como a Marina nesse ponto… Se você me perguntar um telefone, eu só sei o telefone fixo aqui de casa, mais nada. — E a Marina também não sabia nenhum número de celular de cabeça assim, ela estava muito nervosa. Ela sabia o telefone fixo da casa dela, só que não tinha ninguém esse horário na casa dela. Só mais pra noite… E aí ela desesperada, não sabia o que fazer. — Ficou achando que o cara ia voltar. — O cara não voltou…
E ela ficou, gente, até a noite no Rancho do Pônei sentada. — Até quase fechar. — Aí quando estava fechando, — porque o Rancho do Pônei fechou sete horas da noite, então ela estava lá desde às três assim, até às sete. — E aí quando foi fechar tinham dois funcionários lá, aquela moça já não tava, já tinha ido embora, a primeira que ela falou, que viu ela chorando… E aí o rapaz falou pra ela: “moça, não dá pra você ficar aqui, é perigoso, né? A gente vai fechar e não dá pra você ficar aqui”. Assim, ela não sabia o que fazer, ela estava sem nada. E ela, assim, já tinha explicado para o cara, o cara falou: “Olha, tem um posto policial dois quilômetros daqui, só que a gente tem que ir andando pela estrada e a gente vai com você”. — Foi a sorte dela. Porque lá no posto policial ela podia explicar o que aconteceu e tal, e talvez conseguir uma carona, enfim… Ia poder ligar assim lá pelas oitos horas pra para casa dos pais e tal. —
E aí foram, gente, pela estrada… Tudo escuro. Vinha um carro ou outro, e ela com aqueles dois caras sem conhecer, mas deu tudo certo. Chegaram no posto policial, os caras falaram: “Olha, aqui é o Posto Policial”, estava tudo aceso, tinha polícia lá, tinham duas viaturas, tinha a Polícia Rodoviária, enfim… E aí os caras continuaram o trajeto deles e ela ficou lá no Posto Policial. Aí ela chegou lá no Posto Policial e falou: “Olha…”. — Explicou, né? — “Eu estava com um rapaz e tal, e o rapaz me largou lá no Rancho do Pônei e não sei o que…” e o policial falou; “Nossa, né?” — Tipo assim, “que canalha, né? —
E aí ele falou: “Você quer telefonar para alguém e tal? Agora não tem nenhuma viatura que vai para aquela lado da sua cidade, mas se você quiser ligar para alguém…” — E ela não falou o nome dela, não falou nada. — E aí já estava dando o horário, e ela ligou pra casa dos pais… Quando ela ligou, o pai dela atendeu e o pai dela já estava assim, aos prantos ao telefone, gritando e começou a gritar a mãe dela: “A Marina, a Marina, a Marina. A Marina está aqui, a Marina está viva”. — Gente… Olha que loucura. —
O cara saiu lá do Rancho do Pônei e, na estrada, esse cara sofreu um acidente e caiu lá por baixo de um barranco e tiraram o cara. Infelizmente o cara morreu e, como a bolsa da Marina, as coisas da Marina estavam no carro, fizeram até busca para ver se achavam ela no mato ali caída. — Tipo, como se ela tivesse caído do carro, sabe assim? Na hora que o carro capotou. — E ninguém achou… E aí tinham parado as buscas porque começou a escurecer tal, só que tinham achado a bolsa dela, com celular, com os números que ela tinha dentro da carteira… E começaram a ligar, acharam um amigo que avisou… Conseguiu avisar o irmão dela, que avisou a mãe e o pai e assim foi…
Então, enquanto a Marina estava sentada lá no Rancho do Pônei, a família toda dela estava achando que ela estava machucada ou morta no meio do mato nesse acidente. E o cara largou ela, porque o que o cara queria ela não quis, que foi ficar lá no motelzinho. E, gente, não é uma loucura isso? Aí eu fico pensando assim, que é bem coisa de destino, né? Tipo, era o destino do cara, mas era o destino dela? — Esse acidente? — Porque a Marina falou que, assim, por mais que o cara estivesse azedo e tal, não fazia muito sentido ele ter largado ela lá assim… Por mais que ele não tenha tido o que ele queria, né? — Apesar de que tem uns caras que, pelo amor de Deus, eu tenho umas histórias aí para contar de moças que foram deixadas nos lugares… —
Mas não é muito louco isso? Ele capotou o carro e morreu… E as coisas dela tudo no carro. E eles acharam: “ela está junto, né?”, porque ela tinha ido viajar com ele. E ela estava lá sentada no Rancho do Pônei sem nada… Não é doido, gente? Eu fiquei meio em choque com essa história assim, porque a Marina também ficou, assim, traumatizada e ela estava com muita raiva dele e tal… E aí depois do acidente e tudo ela meio que ficou em choque, porque ela podia estar no carro, né? Sei lá… — Ela podia ter morrido também. — Ou sei lá… Eu acredito muito nesse negócio de não era hora, né? De repente não era a hora dela.
Mas não é louco? Ele deixou ela e foi embora… Ele sofreu um acidente e todo mundo achando que ela estava no carro, não acharam ela porque ela estava lá no Rancho do Pônei. — Ela ganhou até uma coxinha no Rancho do Pônei, que a moça viu que ela estava triste e chorando, e a hora foi passando, viu que ela só tinha comido um milho… — Não é doido? Né, sei lá, lamento pelo cara e tal, mas pelo menos não aconteceu nada com a Marina também, né? Podia ser pior. Mas não é uma história trágica? E, que assim, Maria escapou, né? — Escapou, gente. — Achei bem louca.
[trilha]Assinante 1: Oi, gente, aqui é a Jana, eu sou de Salvador, Bahia. Marina, menina… Quem diria, né? Que um toco ia salvar sua vida… Se alguém me contasse eu nunca acreditaria nisso, mas salvou. Infelizmente pro cara, eu sinto muito, foi uma fatalidade, né? Tem gente que acredita nessa coisa aí do karma, mas eu acho que realmente foi um acidente, como Déia disse, talvez fosse a hora dele. Mas isso me traz uma reflexão de como às vezes a gente acha que a situação que a gente está é o pior que pode acontecer, mas na verdade não é, né? Porque com certeza você devia ter ficado muito triste, muito desesperada quando ele te largou lá, sem saber o que fazer… Você deve ter pensado: “Meu Deus, que situação horrível, não tem como isso piorar”, e piorou. Para ele, né? Graças a Deus pra você não. Graças a Deus você está bem e se livrou dessa. Impressionante.
Assinante 2: Oi, pessoal, tudo bem? Aqui é a Bianca de Campos. E, Marina do céu, que história é essa? Eu fiquei toda arrepiada com esse desfecho. Fiquei angustiada com a situação que seus pais passaram, achando que tinha acontecido pior. Já passei por uma coisa parecida um dia que eu estava com um peguete, e ele me deixou numa lanchonete, saiu e bateu com o carro. Eu lembro do meu desespero de pensar que era para eu estar ali também… Ficou tudo bem, não aconteceu nada demais, mas eu lembro que eu fiquei muito desesperada. E eu imagino o seu desespero de saber que o cara veio a óbito. Então, sinto muito pelo cara, né? Só que fico feliz que você ficou bem e espero que você esteja recuperada aí desse baque. E só consigo te desejar agora vida longa. Beijão.
Déia Freitas: E é isso… Um beijo.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]