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título: dona mogra
data de publicação: 05/07/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #mogra
personagens: luana e carlos

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi gente, cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e assim, [risos] eu não quero com essa história fazer apologia de violência, tá? Não concordo [risos] com algumas atitudes da Luana, mas é a história dela, então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Bom, a Luana conheceu o Carlos tem uns oito anos e eles começaram a namorar, o namoro ficou sério, aí chegou naquela parte de conhecer as famílias. Ela foi na casa do Carlos conhecer a mãe do Carlos e as duas de cara se odiaram, mas não foi um se odiar de bater de frente, sabe quando fica nítido que elas não se gostaram, mas as duas mantiveram ali a cordialidade, [risos] os sorrisinhos, — A falsidade — mas elas não se gostaram, tanto que a Luana com o tempo tinha um apelido dela com as amigas, — Que eu vou poder contar aqui porque só quem sabe desse apelido é a Luana e algumas poucas amigas — ela colocou o apelido da sogra dela de Mogra, [risos] — Por que Mogra? — era uma mistura de mocreia com sogra. — Então esse é o nível. [risos] —

Por que que a Luana de cara implicou com a Dona Mogra? Assim que ela chegou e entrou, que o Carlos foi apresentar, Dona Mogra falou assim pra ela: “Ah, que linda de sainha, acho tão legal quando as pessoas cheinhas usam assim a sainha colada”, [risos] mas num tom, assim, querendo dizer, segundo a Luana, — Foi o que a Luana interpretou, né? — que ela era gorda pra usar aquela saia justa e curta, foi o que a Luana interpretou, né? — A gente não sabe aí o que estava na cabeça de Dona Mogra — mas foi o que ela interpretou aí dessa… Dessa… Dessa… Dessa [risos] primeira interação. — Isso tudo no primeiro dia, hein gente? —. Aí eles foram pra mesa pra jantar, né? E aí ela colocou garfo e faca pra todo mundo e, onde a Luana sentou, ela perguntou: “Eu não botei garfo e faca porque eu não sei se você come de garfo e faca, ou você come de colher”. — Gente? — Aí a Luana falou: “Eu como de garfo e faca”. — Assim, já, né? Espumando. — E espumando já de ódio de Dona Mogra.

Aí a noite correu assim, com esse clima tenso, mas muito sorridente, sabe? No final da noite Dona Mogra serviu um cafezinho pra todo mundo e esqueceu de trazer uma xícara pra Luana, aí o Carlos deu a xícara dele pra Luana, então era esse tipo de coisinha, tudo nesse naipezinho. E aí o namoro foi evoluindo, Carlos pediu desculpas pra Luana, disse que a mãe dele realmente era uma pessoa difícil e Luana disse: “Bota difícil nisso”, e aí no primeiro ano ali de namoro, no final do ano, Luana foi passar as festas, né? O Natal. — Era pra passar o Natal e o Ano Novo, mas só passou o Natal e vocês vão saber porquê. — Porque Luana levou um doce, ela fez, passou o dia, fez o doce tal e levou, Dona Mogra pegou o doce dela… — O correto seria: estava tudo lá na mesa, botar na mesa. — Dona Mogra não pôs na mesa, botou na geladeira e aí festa vai, festa vem, Luana falou: “Ah, ô, Dona Mogra… — Ela não chamava de Dona Mogra, né? Mas pelo nome lá, “ô, Fulana” — “Pega lá o meu doce, né? Para o Carlos provar, pessoal provar”, ela falou: “Ai, filha, eu acho que você veio muito no Sol, ele estava azedo, eu tive que jogar no lixo”. — Ela jogou o doce da Luana no lixo. —

Aí Luana que já não é muito calma, já deu um pequeno show ali, primeira treta séria delas foi nesse Natal que a Dona Mogra jogou o doce da Luana no lixo. — Então vai vendo, gente. — Era esse clima sempre. E sempre Dona Mogra com sorriso, sempre: “Ai, filha, nossa, você veio na chuva? Seu cabelo tá tão lambido”. — E não estava nem chovendo, sabe umas coisas assim? — “Ah, mas fica bonita assim você lambida”, [risos] umas coisas bem passiva-agressiva. — Eu diria que mais pra agressiva mesmo. — E sorrindo, sempre sorrindo, sempre querendo abraçar a Luana e Luana assim, querendo explodir. Bom, anos e anos e anos algumas tretas, algumas tretas um pouquinho mais sérias, mas nada assim, tão sérias, chegamos a época do casamento. A família da Luana não era uma família rica e família de Dona Mogra também não, só que família de Dona Mogra tem um pouquinho mais de condição. E aí chega a época do casamento, Dona Mogra e Seu Mogro — Que é o pai do Carlos — [riso] resolveram dar pra eles a festa de casamento.

E assim, do começo ao fim, até essa festa terminar, Dona Mogra jogou na cara de Luana de que o normal seria os pais da noiva pagarem a festa, só que Luana tinha falado que não ia ter festa, porque ela não ia gastar com festa, mas Dona Mogra fez questão e ela pagou. E aí Luana no decorrer dos preparativos tinha escolhido as flores, tudo dentro, porque assim, a Luana falou pra mim: “Déia, eu também não sou uma pessoa folgada, a Dona Mogra me deu três opções pra eu escolher de flores pra colocar nas mesas, os arranjos ali, né? Eu escolhi a que eu mais gostei, não fiz nada além do que Dona Mogra podia pagar e se ofereceu pra pagar. Só que, tipo assim, ela escolheu branca, no dia estava amarela, quando ela chegou [risos] no salão a decoração que ela tinha escolhido toda branca, estava toda amarela e amarelo era uma das opções, tipo, ela apresentou três opções vai, uma que era mais assim champanhezinha, uma branca e uma amarela, e a Luana escolheu a branca e comentou na hora com Dona Mogra: “Ai, Dona Mogra, menos amarelo, odeio amarelo”, chegou no salão: tudo amarelo. [risos] — Que ódio. — Dona Mogra tinha mudado tudo pra amarelo e Luana quase teve um chilique, mas ela falou: “Não, ninguém vai estragar o dia do meu casamento”, e aí ela tentava tirar foto longe da decoração, mas tudo era tudo amarelo, [risos] tudo era amarelo. — Então a gente já viu o naipe de Dona Mogra, né? —

E a Luana, ela tinha ao longo aí de uns dois anos, entrado em vários consórcios de potes, — Eu não vou falar aqui a marca famosa de potes, que vocês já sabem qual é, a gente vai chamar de Pôneiware — e ela tinha entrado em consórcio de Pôneiware pra fazer os conjuntinhos, porque ela só queria Pôneiware na casa dela e ela foi e comprou três conjuntos no consórcio de Pôneiware, então dá, sei lá, uns quinze potes assim, de variados tamanhos, modelos e tal. E era o xodozinho dela, o xodozinho da Luana era os Pôneiware, e aí casou aquele salão amarelo, — Que ela odiou — e eles iam pra lua de mel e a Luana ela tem um gato e aí ela falou, antes dela mudar pra casa nova o gato morava com a mãe e com ela, e ela ia levar o gato pra ela porque o gato era dela, então ela telou o apartamento certinho, mas ela falou: “Bom, eu só pego o gato quando a gente voltar da lua de mel pra não ter que ninguém ficar indo no apartamento” e tudo combinado. Quando eles estavam no aeroporto que eles foram pra uma praia, o Carlos falou assim pra Luana: “Ai, amor, esqueci de te falar, eu deixei a minha chave com a mamãe, porque ela falou que ela vai passar lá pra arejar o apartamento, pra abrir dia sim, dia não”, eles iam passar mais uma semana fora, né? Dez, doze dias.

E [risos] na hora a Luana falou que, se ela pudesse, ela descia do avião e voltava embora, porque ela sabia que Dona Mogra ia fazer alguma coisa no apartamento. E aí ela já deu uma pequena discussão ali com o Carlos, — Porque não era pra deixar a chave do apartamento com a Dona Mogra — beleza. Lua de Mel foi perfeita, maravilhosa, Luana esqueceu completamente de Dona Mogra, apesar de Dona Mogra ligar todos os dias — Na lua de mel — [risos] e voltaram. Voltaram, não tinha nada fora do lugar no apartamento, Luana falou: “Ufa, né? Tá tudo certo”, ela olhou, foi olhando, olhou o quarto, olhou as coisas, nem a colcha da cama Dona Mogra tinha mudado, nada. Beleza. Luana abriu o armário da cozinha pra pegar um copo pra tomar água [risos] ela quase caiu de costas, quase. No lugar dos quinze potes da Pôneiware, — Caríssimos — porque pensa assim, eram três coleções, então digamos, uma coleção era roxa, uma coleção era amarela e a outra coleção era laranja, vai… — As tampas, né? E as estampas, enfim. —

Mas eram três coleções, né? Quem coleciona esse pote aí de marca famosa, compra por coleção, gente, tem gente que tem várias coleções e não empresta, enfim. Pra gente não achar que Dona Mogra não sabia que aqueles potes eram caros, ela sabia, tanto que um dia ela comentou: “Nossa, que chique, só tem Pôneiware”. O quê que Dona Mogra fez durante a viagem, gente? Vocês não vão acreditar, Dona Mogra trocou todos os potes da Luana por potes de vaquinha, sabe um que a tampa é preta? Eles são bonitinhos, a tampa é preta, ele é branco e em volta assim tem uma vaquinha e tipo um laço assim, em volta, é preto, branco e vermelho os potes, trocou por quinze de vaquinhas, desses da loja de 1,99. — Gente…. [gargalhando] — A Luana quando ela viu, ela não entendeu, assim, não entendeu, ela olhou aquele monte de pote de vaquinha e não entendeu.

Aí ela chamou o Carlos, falou: “Carlos, olha aqui e vê se eu tô vendo direito, cadê meus potes, Carlos?” — E o Carlos lá estava sabendo de pote, nem sabia de pote… — falou: “Uai, não estão aí? Não são esses aí seus potes?”, ela falou: “Não, você sabe que não”, ele não sabia, não lembrava também X potes. Na hora ela pegou o telefone, ligou pra Dona Mogra. [efeito sonoro de telefone tocando] Dona Mogra falou assim pra ela: “Ai, é que esses combinam mais com a sua cozinha, ficaram todos da mesma cor, combina com a sua cozinha” e a Luana já quase gritando falou: “Então, eu quero os meus potes de volta, todos, eu tô indo aí buscar”. [risos] E o Carlos, eles tinham acabado de chegar, gente, acabado de chegar com as malas ainda na sala, sabe? E Luana já desligou o telefone tremendo e falou: “Eu vou buscar esses potes, você indo comigo ou não. — Já estava, assim, trêmula. — Porque pra ela os potes realmente ali foram o limite, porque ela não deixou a chave da casa nem com a mãe dela e Dona Mogra foi lá e pegou todos os potes dela e levou?

Bom, Carlos viu que ela estava totalmente fora de si, e falou: “Se eu não for junto vai ser pior”. — Só que Carlos meio mole também, né? Mas também Carlos o quê que ele ia fazer, né? Como que ele ia se meter nisso? Sei lá, ele podia também dar uns “se ligas” na mãe, né? Falar: “Pô, mãe, não se mete”, enfim… — foram. Chegou lá, [risos] cadê os potes? A sorte é que assim, Dona Mogra não tinha colocado pra uso, ela pegou os potes todos e guardou numa caixa lá na cozinha dela. — Não sei o que ela ia fazer com esses potes, já pensou se ela tivesse dado? Porque a Luana falou que uma coleção ainda até tinha pra vender na época, mas as outras duas não, então ia ser uma briga de foice ali, né? — E aí, a Luana chegou brava, — Lógico, né? — entrou na cozinha já falando: “Cadê meus potes? Cadê meus potes?”, e ela tinha colocado todos os potes de vaquinha numa sacola, [risos] dessas grandonas assim, quando você vai nesses lugares grandes que você compra um negócio bem grande e vem numa sacolona, então, uma dessas sacolonas.

E aí ela botou a sacola assim no chão da cozinha, porque não dava nem pra pôr em cima da mesa, porque era uma sacola grande mesmo e falou: “Eu quero meus potes agora”, e aí ela estava meio bufando e Dona Mogra veio perto dela e falou assim: “É, nada que eu faço pra você tá bom”, [trilha demonstrando clima tenso] e aí Luana respondeu: “Eu nunca pedi pra você fazer nada pra mim” só que ela falou num tom mais alto. — O que Dona Mogra fez? — Dona Mogra virou um tapa na cara de Luana. — Gente… — Luana falou que daí pra frente foi teto preto, não viu mais nada na frente dela, a hora que ela voltou a si, — Voltou para o corpo — ela estava no chão com Dona Mogra, as duas de roupa rasgada… — Se pegaram, gente. — Se pegaram, foi unhada, foi tapa, foi soco. O Seu Mogro e o Carlos não conseguiam separar, a Luana me falou: “Déia, pra não achar que ela é uma senhorinha, ela não é uma senhorinha, ela é uma mulher de cinquenta anos, bem atlética, que faz exercícios. Eu tenho vinte e nove, então quer dizer, estava pau a pau ali na briga”. — Segundo Luana, né? —

E aí, gente, se pegaram, se pegaram, se pegaram… Luana recobrou os sentidos, largou Dona Mogra, Dona Mogra xingando ela, foi aquela briga, mesmo assim toda rasgada, Luana falou: “Eu não saio daqui sem meus potes”, e aí o Carlos pegou lá a caixa dos potes, Luana ainda contou pote por pote, tampa por tampa. — Aos gritos… — E saíram, isso no primeiro dia, voltando de lua de mel. Aí Luana pensou, né? “Bom, meu casamento agora tá acabado, né?”, mas o Carlos acabou não falando nada, nada, voltaram mudos. E ele ficou um, dois dias chateados e depois voltaram as boas, e a partir daí a relação dela com Dona Mogra mudou um pouco, porque elas se falavam o essencial, o Seu Mogro fez questão que a Luana continuasse frequentando a casa lá, né? Então a Luana acha que pra ela melhorou. E Luana depois da briga que ela estava contando ali as tampas dos potes, [risos] — Meu Deus do céu, coisa horrível — ela falou que ela gritava assim: “Eu devia ter dado essa surra na senhora naquele primeiro ano que você jogou meu doce de Natal fora, que agora daqui pra frente, se você fizer um desaforo pra mim, se você encostar de novo em mim eu vou te arrebentar. Agora a gente é só no soco”. — Estava totalmente transtornada, né? Ela reforçou isso para o sogro, né? Quando o sogro — Seu Mogro — falou que era pra ela voltar a frequentar a casa, ela falou: “Tudo bem, eu vou voltar a frequentar, mas aquela Luana que engole desaforo acabou, se ela me tratar mal, me destratar, falar das minhas roupas, falar do meu peso, falar do que for, eu vou pra cima dela”.

E aí elas têm agora um relacionamento cordial básico, então é “Bom dia”, “Boa tarde”, estão ali na mesa, comem, não se falam mais que isso, e pra Luana tá ótimo, melhorou 100%, né? A Luana disse que a real é que Dona Mogra ela trata assim não só ela, mas tratava assim as irmãs, que Dona Mogra tem umas irmãs mais novas e umas mais velhas e quando todo mundo ficou sabendo, muita gente riu da surra que Dona Mogra tomou, né? E Luana disse que também apanhou, porque assim, Dona Mogra também bateu nela. — Então foi toma lá dá cá assim, né? — Eu acho tudo muito horrível, porque quando acaba assim em briga e tal, em soco, mas [risos] foi isso que aconteceu, né? Eu estava até cismada de contar essa história porque, né? Poxa, ela bateu numa senhora e tal, né? É mais jovem, mas já é uma senhora… Sei lá, mas a Luana falou que só quem viveu sabe, [risos] que Dona Mogra fez poucas e boas… E, se a gente quiser, a Luana falou que pode fazer mais uns quatro Picolés só de coisas de Dona Mogra, que Dona Mogra fez pra ela, desaforos assim fortes e eu foquei nesse, né? Dos potes, porque que eu recebi algumas histórias sobre potes e talvez a gente faça aí uma semana do pote, mas vamos ver. [risos]

E essa é a história da Luana, por favor não batam aí nas pessoas, né? Tentem resolver as coisas sem sair no soco, né? Mas como diz a Luana, quem bateu primeiro foi Dona Mogra e ela só revidou, e aí a hora que viu, as duas estavam no chão lutando. [risos] Mas Luana recuperou todos os seus potes, devolveu todos os potes de vaquinha, até hoje tem milhares de potes de vaquinha lá na casa de Dona Mogra, porque ela comprou realmente pra substituir, né? E se lascou porque ficou com todos os potes de vaquinha de volta. [risos] Ai, gente, Luana continua com Carlos, o casamento está ótimo, então vamos que vamos.

[trilha]

Assinante 1: Oi, meu nome é Josi. Luana, mulher, tu bateu foi pouco, tu deveria ter batido muito mais e, digo mais: deveria ter dado uma surra de brinde no teu marido de ter feito a Juliana Paes e, desde o começo ficou ali em cima do muro, não se posicionou, não deu limite na mãe dele nessa situação toda, então isso só chegou onde chegou porque o teu marido também não se impôs, então ele merecia uma surrinha de brinde só pra ele entender como é que é o negócio, entende? Sou contra violência? Sou super contra violência. Acho que tem que bater nas pessoas? De forma nenhuma, mas nesse caso, eu te repito: Minha irmã, tu bateu foi pouco.

Assinante 2: Oi, Luana, eu sou a Daniele, sou de São Paulo, mas moro no exterior. Adorei a história só achei que foi tarde, né? E fiquei pensando, nossa, que bom ter umas aulinhas de jiu-jitsu pra não ter que bater na pessoa, né? Mas só dar um mata leãozinho. [risos] Amei.

Déia Freitas: É isso aí, gente, um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.